Mafia: The Old Country | Review
Lançado em 8 de agosto de 2025, Mafia: The Old Country marca o retorno da franquia a um território que, até então, era apenas citado em conversas e memórias na franquia: a Sicília do início do século XX. Depois de aventuras americanas, tramas em grandes cidades e até flertes com o mundo aberto no último (e criticado Mafia III), a Hangar 13 resolveu revisitar o berço da máfia para contar uma história de ascensão, lealdade e, claro, traição.
Quer saber o que eu achei desse retorno às origens de Mafia? Trago todas as minhas impressões agora, em mais uma análise do Pizza Fria!
Uma história que poderia estar no cinema, ou na televisão
Em The Old Country, assumimos o papel de Enzo Favara, um jovem minerador que acaba se envolvendo com a família criminosa Torrisi. É o típico ponto de partida de um drama mafioso: um protagonista com pouca opção de futuro, um chefe que o acolhe (e cobra caro por isso) e uma rede de intrigas familiares. Dito isso, é importante salientar aqui o enredo segue o manual do gênero. Há o mentor sábio, o sobrinho impulsivo, a filha do Don que desperta sentimentos e uma sucessão de conflitos com famílias rivais. Quem já viu obras cinematográficas do gênero vai reconhecer boa parte das viradas e, até mesmo, prever alguns destinos.
Ainda assim, a execução é eficiente. O ritmo é constante e se passa em um intervalo de três anos, sem missões de enchimento, e as 12 horas de campanha entregam uma narrativa coesa. A Hangar 13 ainda amarra fatos históricos reais da Sicília no início do século XX à trama, como o papel das minas de enxofre e as tensões sociais da época, o que dá mais credibilidade ao mundo.
O destaque vai para o elenco. Enzo começa como um personagem contido e vai ganhando camadas; Don Torrisi começa impondo respeito com a calma de quem não precisa levantar a voz; e Luca, seu braço direito e mentor, se revela mais do que apenas o brutamontes de serviço. Até Cesare, o sobrinho problemático, e Isabella, a herdeira do Don, contam com um desenvolvimento suficiente importante para entender o que aconteceu quando os créditos sobem.

Negócios de família
Se a história é direta, a jogabilidade acompanha. The Old Country é uma experiência linear, missão após missão, sem mundo aberto lotado de atividades paralelas. Apesar de isso ajuda a manter o foco, como nos dois primeiros títulos da franquia, também deixa claro que a Sicília aqui é mais cenário do que playground.
Dentro das missões, há um equilíbrio entre furtividade, tiroteios e perseguições. É possível eliminar inimigos de forma silenciosa, usando facas de diferentes tipos, ou partir para o confronto aberto. O stealth funciona, mas é básico e punitivo: em momentos onde a missão aparece “evite ser visto” em branco, um deslize pode significar falha imediata e volta ao checkpoint.
Nos tiroteios, o arsenal respeita a época: pistolas, rifles de ferrolho, espingardas e granadas rudimentares. Mas isso têm um impacto importante para quem gosta de títulos mais dinâmicos. As armas são lentas, pesadas, com uma péssima mira e fazem barulho suficiente para acordar o quarteirão. Isso até dá uma impressão de que o gunplay do game é falho, mas talvez seja uma representação real do que realmente eram armas antigas. De lado positivo, fica a sensação de impacto (acertar um headshot é visualmente impactante), e a IA dos inimigos é agressiva o bastante para exigir movimentação e troca constante de cobertura, mesmo na dificuldade padrão.

O elemento mais “diferente” de Mafia: The Old Country é a presença de duelos de faca contra inimigos importantes, quase uma boss battle. No começo, são empolgantes pela encenação, mas rapidamente se tornam previsíveis, com um padrão de esquiva, defesa e ataque que resolve absolutamente todos. Apesar da repetição, quebram um pouco o ritmo entre um tiroteio e outro.
O que pode frustrar é a limitação de explorar. Sair do caminho determinado pela missão geralmente resulta em aviso para voltar e, se ignorado, falha automática. É o tipo de design que contrasta com a beleza do cenário e tamanho do mundo criado, reforçando uma sensação de que boa parte da cidade está ali apenas para ser observada.
Claro, há alguns momentos “livres”, que você pode aproveitar antes de iniciar uma missão para conhecer o mundo e ir em busca de colecionáveis e documentos. Mas é isso. Não há nenhuma recompensa real, ou missão secundária aguardando à espreita de uma esquina. No fim, é mais um conteúdo disponibilizado para prolongar o tempo de gameplay para caçadores de conquista e só.

Uma Sicília de cartão-postal
Visualmente, The Old Country é realmente impressionante. A recriação da Sicília de 1900 é detalhada ao extremo, desde as ruelas estreitas de pedra até os campos de vinhedos com o Monte Etna ao fundo, como já vimos em filmes e fotos da época. Há momentos em que o jogo claramente quer que você ande devagar para apreciar o cenário.
Isso é somado à direção de arte minuciosa, com figurinos, veículos e objetos condizentes com o período. Essa fidelidade histórica cria um senso de lugar muito forte, a ponto de a Sicília se tornar quase um personagem do jogo. É fácil parar no meio de uma missão apenas para observar a luz do pôr do sol batendo nas paredes das construções.

Os modelos de personagens e a animação facial são bem feitos, contam com pequenas expressões que destacam os jogadores: um olhar de canto, um sorriso contido, um suspiro, sempre acrescentando nuances às atuações e ajudam a sustentar o clima cinematográfico. Algumas cutscenes são longas, mas tão bem dirigidas que não cansam.
No som, a trilha mistura orquestra e instrumentos típicos italianos, variando de temas dramáticos em tiroteios a melodias folclóricas em momentos de calma. Os efeitos sonoros são igualmente detalhados: motores de carros antigos, vento cortando durante uma cavalgada e tiros ecoando em ambientes fechados.

Siciliano legítimo, com legenda para todos
Um dos maiores acertos de Mafia: The Old Country é a decisão de gravar toda a dublagem também em siciliano. Apesar de existir a opção de jogar em outras línguas, a imersão do idioma dá mais autenticidade à ambientação e reforça essa sensação, especialmente nas cenas mais intensas. Os diálogos ganham um peso interessante que se perderia em outra língua.
Obviamente, o game conta com legendas em diversos idiomas, incluindo o português do Brasil, que está muito bem localizada. Expressões regionais e gírias são adaptadas de forma clara, sem perder o tom original. Além disso, menus e interface também estão localizados, garantindo acessibilidade total.
O resultado é um jogo que respeita sua ambientação e, ao mesmo tempo, acolhe jogadores de qualquer parte do mundo. É raro ver um título de grande orçamento assumir esse risco linguístico e acertar tão bem.

Um negócio quase estável
No PlayStation 5 Pro, The Old Country oferece modos de Qualidade e Desempenho. No primeiro, a prioridade é resolução e detalhes visuais, rodando a 30 quadros por segundo. No segundo, o alvo é 60fps, e o console aguenta muito bem, mesmo em tiroteios e perseguições intensas.
Mas como conta com suporte a 120Hz e VRR, a experiência no Pro é mais fluida, pois esses limites acabam sendo superados, com quedas na taxa de quadros raras, mas presentes, especialmente em momentos onde há muitas informações na tela. Em uma corrida, por exemplo, houve muita queda na minha sala. Os tempos de carregamento são aceitáveis, mas já vi jogos muito mais rápidos rodando nesta geração. As transições entre cutscenes e gameplay são suaves e funcionam muito bem, passando também a experiência de ser um jogo cinematográfico.

Por fim, preciso ressaltar que, durante meu tempo de gameplay, os problemas técnicos foram pontuais: alguns pop-in de texturas no chão, ou ao atravessar áreas rapidamente e a necessidade de se posicionar com precisão para interagir com alguns objetos, como ao enfiar a cabeça para dentro da parede. Nada grave ou que afete a progressão, mas são quebras de uma expectativa dentro da proposta do game. Ainda assim, é um lançamento polido, algo que nem sempre aconteceu na série. E para quem joga no Pro, fica claro que houve um cuidado extra para aproveitar o hardware.
Vale a pena comprar Mafia: The Old Country?
Mafia: The Old Country é, sem dúvida, um retorno às origens da franquia. E isso pode ser tanto sua maior força quanto sua maior limitação. A Hangar 13 entrega uma experiência focada na narrativa, com um elenco bem construído, ambientação riquíssima e uma apresentação audiovisual de altíssimo nível. A decisão de incluir a dublagem em siciliano, aliada a uma localização em português do Brasil caprichada, é um acerto raro e que realmente aumenta a imersão.
Por outro lado, a jogabilidade joga seguro. O design linear mantém o foco, mas também restringe demais a exploração, transformando a belíssima Sicília em um cenário mais para se observar do que para interagir. O combate, apesar de funcional e condizente com o período histórico, pode frustrar quem busca algo mais ágil, e os duelos de faca, inicialmente interessantes, acabam caindo na repetição.
Tecnicamente, o jogo chega bem polido no PlayStation 5 Pro, com bons modos de desempenho e qualidade, além de suporte a 120Hz e VRR, ainda que com quedas pontuais e alguns pequenos deslizes técnicos. Nada que comprometa a experiência, mas que destoam de um pacote que se propõe tão cinematográfico.
Se você é fã da série e sente falta de uma história de máfia bem contada, sem distrações, The Old Country cumpre o que promete. Não reinventa a fórmula, mas respeita a essência, oferecendo uma jornada imersiva e bem produzida. Para quem aceita abrir mão de liberdade em troca de narrativa e ambientação, essa é uma viagem de volta à velha terra que vale a passagem.
Mafia: The Old Country já está disponível globalmente para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Steam, e NVIDIA GeForce NOW.
*Review elaborada em um PlayStation 5 `Pro, com código fornecido pela 2K.
Mafia: The Old Country
BRL 289,90Prós
- Narrativa coesa e bem executada
- Ambientação fiel e rica em detalhes históricos
- Dublagem em siciliano com localização em PT-BR de qualidade
- Apresentação audiovisual cinematográfica
Contras
- Liberdade de exploração muito limitada
- Gameplay pouco ousado e repetitivo
- Armas lentas e pouco precisas podem frustrar


