Metal Gear Solid Δ: Snake Eater | Review
Poucos jogos mexeram tanto comigo quanto Metal Gear Solid 3: Snake Eater, já que o título moldou meu gosto por narrativas neste apaixonante universo. Hoje, provavelmente quase 20 anos depois de ter vivido aquelas primeiras horas na selva soviética no meu PS2, tive o privilégio de revisitar esse clássico sob uma nova roupagem. Metal Gear Solid Δ: Snake Eater é um remake fiel, respeitoso e, ao mesmo tempo, cheio de sutis melhorias que tornam a jornada de Naked Snake ainda mais prazerosa. Terminei essa nova versão com a sensação de que havia reencontrado um amigo que envelheceu muito bem.
E nesta análise, quero não apenas compartilhar minhas impressões sobre o remake, mas também revisitar o legado do jogo original, suas mecânicas ousadas, segredos brilhantes e os pequenos detalhes que fazem dele, para mim, um dos melhores jogos de todos os tempos (sim, tá na minha bio desde que fundei o site!). Prepare-se: vamos mergulhar fundo na selva em mais uma review antecipada do Pizza Fria!
O peso de voltar para 1964
Para contextualizar: Snake Eater é o primeiro capítulo cronológico da saga Metal Gear. Ambientado em plena Guerra Fria, em 1964, acompanhamos a missão de Naked Snake, enviado para resgatar o cientista Sokolov e deter o avanço da União Soviética em um projeto de arma nuclear: o temido Shagohod. No começo da jornada, Snake é traído por sua mentora, The Boss, e precisa encarar a lendária unidade Cobra, composta por alguns dos chefes mais criativos e memoráveis da história dos videogames.
O que torna essa narrativa tão especial é a mistura única de espionagem militar realista com absurdos típicos da mente de Hideo Kojima. Uma trama séria sobre lealdade, sacrifício e ideais políticos, temperada com toques de humor, bizarrices e segredos que só existem em Metal Gear. É um equilíbrio delicado, mas que funciona magistralmente. E em Delta, cada cutscene foi recriada com fidelidade absoluta, preservando as atuações de voz originais e apenas reimaginando os visuais em Unreal Engine 5. A cereja no bolo? Textos em português, o que vai te fazer não perder nenhum detalhe da história.
Confesso que, ao ouvir novamente o discurso de The Boss quase que nos créditos finais, senti o mesmo nó na garganta que senti na adolescência. É impressionante como a história continua atual e tocante.

A selva nunca esteve tão viva
Se havia algo que eu mais esperava ver no remake, era a recriação da selva russa. No jogo original, aqueles cenários já pareciam imensos e imersivos; agora, em 2025, eles impressionam de verdade. A iluminação dinâmica entre as copas das árvores, o brilho úmido da vegetação, a textura do musgo e a densidade da floresta transmitem a sensação de estar realmente perdido em um ambiente hostil. Jogando no PS5 Pro, pude sentir a selva quase “respirar” – folhas grudando no uniforme de Snake, lama sujando sua roupa, cicatrizes marcando seu corpo após ferimentos.
E não foi apenas o cenário que ganhou vida. Os personagens também foram reinventados visualmente, e o destaque vai para as expressões faciais. Snake, por exemplo, transmite emoções de forma muito mais intensa: o olhar de concentração ao mirar, o cansaço estampado após uma batalha ou a vulnerabilidade em momentos-chave da narrativa. The Boss está ainda mais imponente, com cada ruga e olhar transmitindo a dualidade entre ternura e frieza. Já Ocelot, mais jovem e impetuoso, tem uma gama de expressões que ressaltam sua arrogância e imaturidade. Até personagens secundários, como EVA e Volgin, parecem ganhar uma nova dimensão graças às animações faciais realistas.

Essas expressões dão peso dramático às cutscenes. O jogo que já era cinematográfico em 2004 agora se aproxima ainda mais de um filme interativo, sem jamais perder a identidade de videogame. É como se cada diálogo tivesse ganhado uma nova camada de emoção, o que torna a jornada mais envolvente do que nunca. É um espetáculo técnico que honra o design original. E ainda há o detalhe carinhoso: a possibilidade de ativar o filtro esverdeado característico da versão de PS2. Eu experimentei ativá-lo algumas vezes, mas acabei preferindo a paleta mais natural do remake. Ainda assim, é um mimo que mostra o cuidado com a nostalgia dos fãs.
Modos extras exclusivos
Além da campanha principal, Metal Gear Solid Δ: Snake Eater traz de volta (ou reimagina) alguns modos adicionais que variam conforme a plataforma. No PlayStation 5 e no Steam, os jogadores podem se divertir com o clássico e hilário Snake vs. Monkey, minigame em que Snake precisa capturar macaquinhos do universo Ape Escape em fases curtas e desafiadoras. Já no Xbox Series X|S, esse conteúdo foi substituído por Snake vs. Bomberman, um crossover igualmente curioso, adaptado por questões de licenciamento. Não pude testar esse último, visto que tive acesso somente à versão de PS5, mas o modo que trouxe é uma experiência bem-humorada, que funciona como um contraponto divertido à densidade da campanha principal.
Jogabilidade: o velho com gosto de novo
A grande questão que todos tinham era: como trazer a jogabilidade de 2004 para os padrões atuais sem descaracterizar o jogo? A resposta da Konami foi simples e genial: oferecer dois estilos de controle.
- Estilo Legado: câmera fixa e comandos idênticos ao PS2.
- Estilo Novo: câmera livre nas costas de Snake, mira sobre o ombro e movimentação moderna.
Eu testei os dois, mas rapidamente me rendi ao Estilo Novo. A possibilidade de mirar e andar ao mesmo tempo muda tudo. No original, atirar exigia ficar parado em primeira pessoa – algo que funcionava na época, mas que hoje soa muito engessado. Agora, andar agachado e mirar com fluidez deixa a ação muito mais natural. Outra novidade essencial é a movimentação agachada, herdada de MGS4 e Peace Walker. Não precisar escolher entre rastejar lentamente ou andar em pé faz toda diferença.

Mas não se engane: as mecânicas de sobrevivência continuam intactas. Snake ainda precisa se alimentar para recuperar stamina, curar ferimentos manualmente com talas, antissépticos e suturas, e trocar de uniforme e pintura facial para se camuflar. E o melhor: agora há um atalho rápido para alternar camuflagens favoritas (bastando apertar pra cima no controle), poupando idas ao menu. É um detalhe pequeno, mas que melhora o ritmo sem eliminar a profundidade.
O peso das escolhas e a criatividade do jogador
O que sempre me fascinou em Snake Eater é como ele te dá liberdade para ser criativo. Esse remake mantém cada uma dessas possibilidades. Quer um exemplo? Você pode derrotar inimigos sem disparar uma bala: apenas rendendo-os com a arma apontada nas costas. E se mirar em regiões “sensíveis”, eles começam a tremer e derrubam itens no chão. Pode também atirar em colmeias para jogar enxames de abelhas em patrulhas inimigas. Ou ainda capturar uma cobra venenosa e largá-la aos pés de um soldado desavisado.
Essas pequenas possibilidades fazem cada “run” ser única. Em uma das minhas sessões, decidi testar algo que sempre adorei no original: atirar nas cordas da ponte suspensa em Dolinovodno. Sim, ela ainda desaba, tornando o caminho inutilizável tanto para você quanto para os inimigos. São detalhes assim que mostram o quanto Kojima e sua equipe eram visionários – e o remake apenas potencializa isso com física mais realista.

Os chefes lendários e seus segredos
Falar de Snake Eater sem citar os chefes seria imperdoável. A unidade Cobra é, para mim, um dos melhores grupos de vilões já criados em um jogo. The Pain, com seu enxame de vespas; The Fury, com seu traje de cosmonauta incendiário; The Fear, com sua língua animalesca e flechas venenosas. Todos estão de volta, idênticos em design e mecânicas.
Mas é claro que o destaque vai para The End, o sniper centenário. Sua batalha continua sendo um dos momentos mais brilhantes da história dos games. Um duelo de paciência que pode durar horas, em uma floresta imensa, com cada movimentação errónea entregar sua posição. E sim: as famosas alternativas para derrotá-lo continuam funcionando.
- Você ainda pode matá-lo antecipadamente, quando aparece em uma cadeira de rodas.
- Pode enganar o relógio do console: no PS2, bastava adiantar sete dias; em Delta, é preciso adiantar cerca de um mês para que The End morra de velhice.
- Pode usar o Konami code para que a posição dele apareça no mapa.
- Ou, claro, pode encarar a luta do jeito “certo”, testando sua habilidade em uma batalha épica.

Testei matá-lo na cadeira de rodas, ganhei uma conquista. Voltei o save, avancei e testei o método original do relógio. Não deu certo. Fui fazendo tentativas até que descobri que seria um mês. Ver aquela cutscene de The End morrendo sozinho ainda hoje é uma das coisas mais geniais que já vi em um videogame.
E como não citar The Sorrow? O fantasma que te faz encarar cada alma que você matou na jornada. Se você passou o jogo inteiro sem matar ninguém, o rio da morte fica praticamente vazio. Se exagerou no gatilho, prepare-se para uma travessia assombrada. Uma mecânica tão simples, mas que dá peso às suas ações de um jeito que poucos jogos ousaram fazer. Fora a sacada genial para superar aquela fase. Genialidade absurda.
Kerotans e… patinhos?
Outra marca registrada de MGS3 eram os Kerotan Frogs, pequenas estátuas de sapos escondidas em 64 locais do jogo. Atirar em todos desbloqueava recompensas. Eles continuam presentes no remake – e agora ganharam companhia: os patinhos GA-KO. Espalhados e escondidos nos mapas do jogo, eles fazem um som quando atingidos e trazem novas recompensas para os colecionistas. É um incentivo extra para explorar cada cantinho, mesmo para veteranos que já sabiam de cor onde estavam os Kerotans originais.

Easter eggs que continuam brilhando
Uma das coisas que mais amo em Snake Eater são os Easter eggs que parecem ter sido feitos só para os fãs mais curiosos. E em Delta, todos continuam lá. Você ainda pode tentar matar Ocelot no prólogo e receber um “Time Paradox” com game over. Ainda pode ouvir as reações hilárias de Snake ao comer diferentes animais – desde elogios genuínos a certos peixes até a expressão de nojo ao comer a ração russa. Ainda pode usar cigarros para revelar lasers invisíveis. E sim, o misterioso Tsuchinoko, a cobra gordinha lendária, pode ser capturado e mantido vivo para desbloquear recompensas.
Cada um desses detalhes é um convite à experimentação. O minigame Guy Savage, por exemplo, é um estranho hack de survival horror jogável que surge se você salva em determinado ponto da história e recarrega o save. Ele, inclusive, vira um modo separado ao término do jogo. Outros segredos igualmente divertidos continuam firmes. Se você insistir em ligar para Para-Medic e perguntar repetidas vezes sobre os filmes que ela cita, vai ouvir referências a clássicos do cinema dos anos 60 e até discussões sobre Godzilla. No codec, dá até para irritar Major Zero mudando de assunto constantemente. O jogo responde a essas pequenas teimosias do jogador com diálogos extras, mostrando o quanto a equipe pensava em cada detalhe.

Um lembrete de que Snake Eater sempre foi mais do que seguir de ponto A a ponto B – é um jogo que te convida a brincar com suas regras. Tem muitos segredos e eu fiquei realmente impressionado com a fidelidade com que eles foram tratados pela Konami.
E a trilha sonora?
Seria impossível terminar sem falar da música. A canção tema, “Snake Eater”, continua sendo uma das melhores aberturas da história dos videogames, digna de um filme de espionagem dos anos 60. A trilha incidental também permanece fiel, recriada com mais clareza, mas sem perder o peso das composições originais. Cada acorde ainda carrega aquela aura cinematográfica que Kojima tanto amava.
Por fim, vale lembrar que a Konami usou o áudio original de todas as cenas do jogo, ou seja, com os mesmos dubladores originais. Uma jogada de mestre para agradar fãs, já que todo o jogo segue exatamente como era, apenas com um gráfico absurdamente competente e uma nova opção de gameplay, que agrada os jogadores atuais.
Nem tudo é perfeito
Apesar do brilho de Delta, há pontos que podem incomodar alguns jogadores. Por ser um remake tão fiel, o jogo mantém sistemas que hoje podem soar datados. O tratamento de ferimentos, por exemplo, continua exigindo abrir menus em meio a combates tensos, o que pode quebrar o ritmo em batalhas mais agitadas. Da mesma forma, os loadings curtos entre áreas ainda estão lá, lembrando que este não é um jogo de mundo aberto nos moldes de Metal Gear Solid V.
Outro detalhe é que, embora os gráficos estejam incríveis, a escolha de manter as vozes originais pode gerar um leve estranhamento: o contraste entre modelos ultrarrealistas e dublagens gravadas em 2004 às vezes causa aquele efeito de uncanny valley. E para alguns, a extrema fidelidade pode soar como falta de ousadia, já que, tirando melhorias de controle e visuais, não há grandes novidades na campanha.
Nada disso, porém, compromete a experiência. São pequenos sinais de que estamos diante de uma obra preservada, quase intocada, e que aposta justamente na nostalgia como sua maior força.

Vale a pena comprar Metal Gear Solid Δ: Snake Eater?
Ao terminar Metal Gear Solid Δ: Snake Eater, tive a mesma sensação antes: a de ter vivido algo grandioso. Esse remake não tenta reinventar a roda, e ainda bem que não tenta. Ele sabe exatamente o que é: uma carta de amor ao passado, que preserva cada detalhe que fez do original um marco, ao mesmo tempo em que suaviza as arestas com controles modernos, visuais de ponta e pequenas conveniências.
Não é um jogo para quem espera novidades radicais. É, sim, um jogo para quem valoriza fidelidade, respeito e a chance de revisitar um dos maiores clássicos da história com dignidade – já que minhas últimas tentativas com o original me mostraram que, infelizmente, o jogo havia envelhecido mal. Para quem nunca jogou, essa é a versão definitiva. Para quem já jogou dezenas de vezes, é como reencontrar um velho amigo – e perceber que, no fundo, ele continua o mesmo, só que muito mais agradável.
Para mim, que sempre considerei Snake Eater um dos melhores jogos de todos os tempos, esse remake é a confirmação de que certos títulos são, de fato, eternos. A selva pode ter mudado de textura, mas o coração da experiência continua batendo forte. E é por isso que digo sem medo: Snake Eater ainda é, em 2025, um dos jogos mais brilhantes já feitos.
Metal Gear Solid Δ: Snake Eater chega no dia 28 de agosto para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Steam.
*Review elaborada em um PlayStation 5 Pro, com código fornecido pela Konami.



