O Senhor dos Anéis: Gollum | Review

Eu sou apaixonado pela saga d’O Senhor dos Anéis. Filmes, séries e jogos, já consumi praticamente tudo, sempre me encantando e aprendendo cada vez mais sobre este universo criado pelo lendário J. R. R. Tolkien. E logo quando O Senhor dos Anéis: Gollum foi anunciado, fiquei extremamente animado, e cito dois motivos para isso: primeiro, é mais um jogo ambientado na Terra Média, o que por si só já dá grandes chances de ser uma experiência única; e também o fato de abordar Gollum/Smeagle, personagem de extrema complexidade não só de origem, mas também de personalidade, sendo sempre narrado como um ser completamente perdido entre suas duas personalidades.

Então, de trailer a trailer, pude ir acompanhando toda a saga do jogo até finalmente chegarmos próximo ao seu lançamento. E, mesmo jogando no PlayStation 5, eu preciso dizer que os jogadores de PC suarão frio para conseguir jogar O Senhor dos Anéis: Gollum, já que o game está dando um baita trabalho até para as GeForce RTX 4090. Mas, deixando de lado as notícias, vamos ao que interessa, que é a análise deste jogo. Será uma bomba, ou mais uma bela criação que nos levará aos confins de Mordor? Confira!

Antes de encontrar os heróis da Terra Média

Uma coisa me chamou a atenção logo de início: O Senhor dos Anéis: Gollum acontece durante os eventos de ‎‎A Sociedade do Anel‎‎, logo após perder seu anel para, o “precioso”, para Bilbo Baggins, o levando a abandonar as Montanhas Misty e ir rumo a uma jornada totalmente perigosa pela Terra Média, onde encontra uma série de personagens conhecidos da franquia, bem como novos aliados e inimigos. E, o mais legal de tudo isso, é que a história começa a ser narrada em um encontro entre o mítico Gandalf e a estranha criatura, que é interrogada pelo mago, que busca entender sua trajetória e suas motivações. E esse é um ponto que eu sempre quis ver mais aprofundado neste personagem.

Porém… É, o jogo até tem um pano de fundo inicialmente sedutor, mas a história se embola em uma jogabilidade ruim e, além disso, exageradamente repleta de puzzles, que também foram muito mal programados. E eu falarei mais disso a seguir. Mas, voltando ao quesito narrativo, em O Senhor dos Anéis: Gollum, somos convidados a entrar na doentia mente deste ser, que ao mesmo tempo que nos dá pena quando está sendo controlado por Smeagle, acaba sendo terrivelmente violento quando se deixa assumir por Gollum. E essas brigas mentais acontecem, nos colocando para escolher um lado e, mais ainda, convencer o outro. Este é um excelente ponto para a narrativa, mas o jogo vai além. E aí está o problema.

O Senhor dos Anéis Gollum
Sim, ele está presente! (Imagem: Reprodução)

Pula pra lá, resolve um puzzle de cá…

Em O Senhor dos Anéis: Gollum, o problema maior nem são os puzzles, aspecto este que, se mal utilizado, pode tirar toda a fluidez da narrativa, levando tudo para as cucuias, tornando o jogo em algo maçante e cansativo. Aqui, além deste problema, brincamos de plataforma, tendo que escalar o tempo todo dali, pra lá e, não só isso, ter que se esgueirar em diversas ocasiões. É claro, não dá pra esperar que nossa criaturinha bizarra consiga matar enormes “ocses”, ainda que vez ou outra isso ocorra. Se fossem apenas essas as questões, o jogo estaria tranquilo e até daria para curtir sem problemas, só pra tentar acompanhar a história.

O problema maior é que a jogabilidade não é polida. Os pulos e movimentos são extremamente avacalhados, pra não dizer sofríveis, e os controles parecem ter problemas pra responder em alguns momentos. Confesso ter até utilizado cabos com receio de estar com latência, mas o problema era realmente do jogo. Soma-se isso a um level design muito ruim, que nos confunde mais do que ajuda, e uma IA meio lerda para nos detectar, mas que, quando age, logo chama a tela de “game over”, que soa como um jogo feito por um estúdio simples, o que não é o caso aqui.

O Senhor dos Anéis Gollum
A criatura se esgueira por todos os cantos. (Imagem: Reprodução)

Eu entendo que a proposta de O Senhor dos Anéis: Gollum é justamente mostrar as fraquezas e as fragilidades de Gollum e Smeagle. Adorei o fato de você poder estar na mente de ambos, tomando decisões e escolhendo com qual personalidade responder aos questionamentos que os personagens e a própria narrativa nos propõe. O problema é que a jogabilidade é muito mal polida, e isso tira a vontade de qualquer jogador de seguir. Em dados momentos, confesso que foi um martírio prosseguir, perdendo mais a minha paciência do que em qualquer um dos soulslike que já joguei.

Portanto, aqui está definido o maior problema do jogo: sua jogabilidade. O estilo meio plataforma, as tarefas que você faz, diálogos, etc., tudo isso passaria de boa, mas é uma coisa simplesmente desanimadora ter que lidar com problemas de level desing e de jogabilidade, que parecem tornar uma tarefa de ultrapassar inimigos em uma enorme odisseia logo no início do jogo. Isso sem contar quando comandos de correr na parede ou de se agarrar em pontos específicos falha, nos levando a uma terrível tela de “reiniciar do último checkpoint”, que acaba sendo bem longe em algumas ocasiões.

O Senhor dos Anéis Gollum
Nosso Gollum encontra amigos e inimigos pelo caminho. (Imagem: Divulgação)

Se uma RTX 4090 sofre, imagine os consoles…

Outro problema grave de O Senhor dos Anéis: Gollum reside na questão gráfica. O jogo não é de todo feio. Contudo, está longe, mas muito longe mesmo de ser algo surpreendente para a atual geração. Tá, tudo bem que o game também será lançado para a geração anterior, mas nem por isso precisava de gráficos tão sem sal assim. E o que mais me deixa apavorado é que entre os modos de “desempenho” e “qualidade”, no PlayStation 5, a diferença só ocorre nas quedas de quadros por segundo, pois praticamente a qualidade segue a mesma. É difícil de entender…

E outra, o nível de detalhamento gráfico dos personagens é dolorido: até mesmo nosso protagonista não passou por uma encorpada estética. Pior ainda é ver os orcs e até mesmo o senhorzinho frágil que nos ajuda nos primeiros momentos do game, que tem a barba dura feito pedra, bem como traços totalmente genéricos. Nossa…

O Senhor dos Anéis Gollum
Este é o tal homem frágil que falei… (Imagem: Reprodução)

E daí eu fico pensando aqui com meus botões, indo até mais além do próprio escopo da minha crítica: como que um jogo de gráficos simplórios como O Senhor dos Anéis: Gollum passa sufoco para rodar em uma GeForce RTX 4090, só conseguindo ter resultado satisfatório com o DLSS 3? Pois é. Quem vai jogar, já vá preparado ou para ter um PC absurdo, ou não ligar muito para gráficos de última geração, pois o jogo deixa sim a desejar neste quesito, sendo mais um ponto negativo percebido.

Ambientação e diálogos

Neste ponto, O Senhor dos Anéis: Gollum acerta. Mas daí já não nos sobra muito a fazer, né? Os aspectos de áudio do jogo são muito bons, embora os lábios dos personagens não tenham sincronização com as falas. Porém, ao lidarmos com as conversas entre Gollum e Smeagle, dentre outros personagens, temos um bom trabalho de dublagem, que é complementada para nós com legendas em português brasileiro.

Na ambientação, mesmo com o problema de level design citado, O Senhor dos Anéis: Gollum tem aquele “quê” de Terra Média. Mordor causa calafrios, tal como quando estamos vendo o filme. A sensação sombria é constante, e isso é complementado justamente pela parte que mais gostei do game, que é lidar com as perturbações da mente do protagonista, que é constantemente humilhado e sofre em toda a jornada, embora também apronte várias vezes da sua, mostrando seu lado mais cruel, tal como nos filmes. Tudo por conta do Um Anel, o seu “precioso”. Assim, O Senhor dos Anéis: Gollum acerta ao trazer essas questões psicológicas de Gollum. E é isso.

O Senhor dos Anéis Gollum
Nazgûls, Montarias Aladas, e o grande olho te espreitam em Mordor. (Imagem: Reprodução)

Vale a pena comprar O Senhor dos Anéis: Gollum?

Sinceramente, para o que eu esperava de O Senhor dos Anéis: Gollum, eu estou totalmente decepcionado. Se este jogo fosse feito de maneira casual por fãs, era capaz de ter saído com um melhor nível de qualidade. E olha que nem sou muito exigente. A questão é que o jogo tem um bom pano de fundo, apresenta um protagonista que eu particularmente acho incrível, cria boas dinâmicas com ele e tal, mas erra demais em aspectos como jogabilidade e gráficos. Se o jogo ao menos tivesse diversão, a parte estética poderia ficar totalmente de lado, sendo apenas um complemento. Mas parece que tudo se junta e, bem, não posso deixar de falar disso.

Estou extremamente frustrado, embora reconheça certos acertos que já mencionei acima e, portanto, acho que quem realmente tem paciência e é fã, pode dar uma chance para o jogo um dia. Mas, por enquanto, não indico. Acho que O Senhor dos Anéis: Gollum precisa de uma atualização bem boa de Day One, pra corrigir um bocado de probleminhas que podem ser ajustados, demandando mais updates ao longo do tempo. E tem outro detalhe, R$ 299,00, preço cheio num game deste em lançamento nos consoles não é uma boa. Não mesmo.

Peço desculpa aos fãs, mas por enquanto, O Senhor dos Anéis: Gollum não está legal, não está nos envolvendo e, talvez, muuuito talvez, o jogo possa ser salvo um dia. Mas até agora, infelizmente não deu pra mim, sendo a maior frustração dos últimos 5 anos, ultrapassando até mesmo Cyberpunk 2077. E que J. R. R. Tolkien abençoe quem decidir jogar….

Por fim, vale lembrar que o game da Daedalic Entertainment e da NACON já está disponível para The Lord of the Rings: Gollum para PC, via Steam e Epic Games StorePlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X|S. E eu quero ver como ele rodará na geração anterior…

*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela NACON.

O Senhor dos Anéis: Gollum

R$ 149,90+
4.5

História

6.5/10

Jogabilidade

3.0/10

Gráficos e sons

7.0/10

Extras

1.5/10

Prós

  • Jogo é legendado em português brasileiro
  • As questões internas de Gollum são um ponto interessante

Contras

  • A jogabilidade é extremamente truncada
  • A física nos pontos de plataforma são frustrantes
  • O jogo é muito mal polido
  • Os gráficos não fazem jus à nova geração

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.