Scorn | Review

Scorn é um game que desde o seu anúncio em 2020 intrigou vários jogadores. Eu mesmo fui um dos fisgados pelo mundo cheio de horror, mas intrigante do jogo. Pois, com um estilo visual inspirado nas obras de terror dos escritores Franz Kafka e Jorge Luis Borge, o projeto tem a premissa de levar os players em uma aventura enigmática e com muita exploração.

Além disso, um dos fortes aspectos que logo me interessou é que o game se define como uma aventura de horror em primeira pessoa, mas que não é um shooter. Ou seja, embora tenhamos algumas armas na obra, o foco não seria a ação e sim a imersão em um mundo cheio de horrores, mas com uma história para contar por meio da ambientação.

Por ser um grande fã de terror e survival horror no geral, embora este não seja necessariamente o gênero aqui, me senti intrigado para explorar tudo que Scorn tem a oferecer. Portanto, será que o título mais recente do estúdio Ebb Software conseguiu entregar uma obra de horror única e marcante? Para descobrir, me acompanhe em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Em Scorn, o mundo é a história

Scorn é um game que desde a sua premissa consegue deixar o jogador intrigado. Assumimos uma criatura que se assemelha a um ser humano, mas com uma aparência meio monstruosa. Não sabemos o local no qual estamos e nem o nosso objetivo ali. Assim, nossa única opção é explorarmos uma ambientação cheia de puzzles bizarros que misturam máquinas de ferro, peles e até mesmo criaturas. Durante a exploração inicial, fica claro que pelo cenário teremos vários enigmas para resolvermos. Entretanto, o grande destaque é que os enigmas não são apenas para avançarmos para outros lugares. Pois, o maior quebra cabeça de Scorn é a história oculta que os jogadores terão que interpretar durante toda a jornada.

Inicialmente, o game faz um excelente trabalho em instigar os players com criaturas pelos cenários, máquinas com pele e ossos, itens e equipamentos feitos com carnes de criaturas medonhas e o principal, um grande puzzle que deverá ser solucionado. A premissa parece ser algo maravilhoso e interessante não é? Bom, infelizmente Scorn não consegue se manter tão cativante assim durante todo o jogo. Após está fascinação inicial pelo mundo apresentando, fica claro que além de criaturas e mecanismos bizarros, o título não tem exatamente uma linha narrativa a contar. E sim, eu sei que isso é algo interpretativo e a ideia é que cada jogador tenha a sua própria visão sobre aquele mundo.

Por sinal, tenho certeza que após o lançamento de Scorn, teremos vários players falando as suas diferentes visões e isso realmente será um debate interessante sobre o mundo do game. Entretanto, eu defendo a ideia que para a criação de um bom mistério, mesmo que seja interpretativo, a obra precisa fornecer peças suficientes para que os jogadores tenham o mínimo para tentar solucionar os mistérios. Scorn infelizmente falha neste aspecto, pois, na maior parte do tempo, foi difícil tentar entender a história do jogo, simplesmente porque eu não era incentivado a isso. No fim, apenas cenários cheios de horror corporal e puzzles não fazem uma boa história.

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Scorn tem a premissa de entregar uma narrativa interpretativa. Embora a ideia seja boa, ela poderia ter sido melhor executada. (Imagem: Divulgação)

Apenas um walking simulator? Felizmente, não!

Uma das grandes questões em relação ao lançamento do game, era o que a obra entregaria de diferente. Embora a ideia de um título focado em puzzles e com vários cenários cheios de horror corporal seja algo interessante, de certa forma, existia um certo receio que isso não seria o suficiente. E bom, felizmente acaba sendo. Pois, Scorn consegue sempre encontrar maneiras de tornar a jornada pelos cenários algo novo. Pois, embora tenhamos vários ambientes interconectados, existirão locais fechados que só conseguiremos acessar após obtermos um item ou resolvermos um quebra cabeça. Dessa forma, sempre teremos que visitar localidades novas ou até mesmo revisitar ambientes com uma nova perspectiva.

Este elemento consegue sempre dar uma sobrevida para a jornada durante o título. De certa forma, Scorn me lembrou bastante SOMA, um jogo de terror que também tem um grande foco em vermos ambientes com uma nova perspectiva para resolvermos um grande quebra cabeça. Embora o título da Ebb Software tenha alguns tropeços pelo caminho, os acertos acabam sendo maiores.

Outro aspecto que preciso citar, é que o título apresenta elementos de shooter. Teremos uma espécie de arma em determinado momento da história, mas não espere que o game se torne DOOM de uma hora para outra. De forma geral, esta arma serve apenas para resolvermos alguns enigmas que envolvem pegarmos objetos e no máximo, afastarmos algumas criaturas hostis.

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Durante a exploração dos cenários, visitaremos ambientes já conhecidos, entretanto, com uma nova interpretação após solucionarmos um puzzle ou encontrarmos um item chave. (Imagem: Divulgação)

Puzzles inteligentes e ambientes interconectados

O grande destaque de Scorn com certeza são os quebra-cabeças. Embora a ambientação seja cativante, na reta final do título tive o sentimento que já tinha visto tudo que aqueles locais cheios de horror tinham a oferecer. Entretanto, o mesmo não pode ser dito sobre os puzzles. O jogo faz um excelente trabalho em sempre apresentar desafios únicos e que farão os jogadores pensarem.

Para exemplificar, quando o game começa chegamos a uma grande área, na qual devemos conectar algumas pontes para abrirmos uma porta. Isto levará para um outro quebra cabeça mais complexo, em que devemos organizar uma série de organismos vivos em uma ordem para que eles sejam pegos por uma garra e levados para outra parte do enigma.

Assim funciona a progressão em Scorn. Vamos resolvendo puzzles que vão se conectando uns aos outros e se tornando cada vez mais complexos ao decorrer da campanha. Durante a minha aventura, fiquei preso em alguns deles, entretanto, isto foi sensacional. Pois, uma das minhas maiores reclamações em jogos de terror, é que os quebra-cabeças costumam ser muito fáceis e entregam tudo sem esforço. Isto não acontece aqui. O game não tem hud, não tem dicas e não irá facilitar. Logo, será preciso pensar, explorar e encaixar as peças para que o progresso seja feito.

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Os quebra-cabeças em Scorn são interconectados e se tornarão cada vez mais desafiadores ao decorrer da campanha. (Imagem: Divulgação)

Gráficos e trilha sonora

Além dos puzzles, outro elemento que se destaca em Scorn é a ambientação. Temos visuais focados em horror corporal, como pedaços de carne para todos os lados, equipamentos feitos de ossos e até mesmo criaturas que parecem ter vindo diretamente de Agony, game este que era ambientado no inferno. Embora seja uma pena que a obra não se aprofunde tão bem quanto poderia no sentido do lore, em relação ao visual o título impressiona com os locais viscerais e até mesmo nojentos que adentraremos. O título não pegará leve e teremos segmentos que realmente serão de embrulhar o estomago, o que foi excelente durante a campanha, pois, conseguiu me deixar totalmente imerso.

A trilha sonora se mantém ausente na maior parte do tempo. O grande foco são os sons ambientes, que são muito bem feitos. Temos um ar de mistério e sons de metais e maquinas se movendo, criaturas fazendo barulhos estranhos e até mesmo a respiração do nosso protagonista. Estes elementos conseguem causar constantemente um sentimento de aflição durante a exploração.

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A ambientação é belíssima e consegue entregar algo marcante na maior parte do tempo. Infelizmente, o game acaba deixando a desejar neste aspecto na reta final. (Imagem: Divulgação)

Desempenho

Minha experiência foi no PC, com uma GTX 1650. O game rodou com os gráficos no médio a 60 FPS, sendo que não tive problemas envolvendo travamentos ou quedas de frames. Além disso, não presenciei bugs e os loadings foram rápidos.

Vale a pena jogar Scorn?

Scorn é um game que entrega a premissa básica que ele promete. Temos aqui um game focado em exploração, horror corporal e muitos puzzles desafiadores para que os jogadores possam colocar a mente para funcionar. Entretanto, o jogo acaba tropeçando no aspecto de história interpretativa, em que temos uma suposta narrativa que deve ser decifrada por meio dos cenários e isto acaba não funcionando tão bem quanto poderia. Assim sendo, Scorn é um jogo interessante, mas não espere nada inovador ou que mudará totalmente o gênero horror.

Scorn foi desenvolvido pela EbbSoftware e chega hoje, 14 de outubro, para Xbox Series X|S e PC, via Steam. Além disso, o game estará disponível de forma gratuita para assinantes Game Pass, tanto no console, quanto no PC.

*Review elaborado em um PC equipado com uma Geforce GTX, com código fornecido pela Ebb Software.

Scorn

+R$ 68,39
7.8

História

6.0/10

Gameplay

8.0/10

Gráficos e Sons

10.0/10

Inovação

7.0/10

Prós

  • A ambientação se mantém intrigante na maior parte do tempo.
  • Os puzzles são desafiadores e fornecem uma verdadeira experiencia de imersão aos jogadores.
  • A jogabilidade do game acerta ao não apresentar huds e nem dicas. Pois, isto incentiva que os players explorem cada canto do ambiente em busca de respostas.
  • Legendas em PT-BR

Contras

  • O game deixa a desejar na premissa de contar uma história por meio da sua ambientação. Embora o visual seja interessante e promissor, ele acaba sendo apenas isto, não atingindo todo o potencial que poderia.
  • A ambientação se torna maçante na reta final.

Leandro Paiva

Um estudante de jornalismo e o primeiro estagiário do site. Degustador nato de coxinha e pizza fria com ketchup. Amante de RPG, principalmente aqueles em que é possível pescar em vez de fazer a missão principal. Piadista em tempo integral e um grande degustador de café. Defensor de Birds of Prey e da DC em geral nas horas vagas.