SETTRIS | Review
SETTRIS esboça a mais primordial ideia de um quebra-cabeças e, ao mesmo tempo, testa a noção espacial dos jogadores: um puzzle de blocos cujo desafio é encaixar as peças dentro de tabuleiros. Se pra você o nome deste jogo soa muito parecido ao de um famoso jogo chamado Tetris, saiba que não foi por acaso, já que o título conta com pecinhas similares aos tetraminós. Er, mais ou menos – se quiser entender, explico nesta curtíssima análise para o Pizza Fria!
Mas antes, o protocolar lembrete de que SETTRIS, desenvolvido pela ZOO Corporation e publicado pela eastasiasoft, existe nas vitrines das lojinhas digitais para Xbox One, Xbox Series X|S, Nintendo Switch, PlayStation 4 e PlayStation 5.
Dois conceitos em um
Vamos falar francamente: SETTRIS não é um grande jogo. Não estamos diante de algo que redefine a capacidade interativa e audiovisual do meio dos jogos eletrônicos. Contudo, apesar de não ter nem mesmo o capricho gráfico e/ou sonoro minimamente esperado, SETTRIS consegue ser uma fusão entretida para o que um jogo de quebra-cabeças tem a oferecer.
Veja bem… Quando muito criança, meu avô teve um bar e restaurante com mesa de bilhar e duas máquinas de fliperama. Sinuca sempre chamava a atenção, mas era impossível jogar sem dar altura. Já as máquinas, uma tinha o jogo que hoje – se a capacidade de associação da minha memória não for ruim – imagino ser Contra (ou algo muito parecido) e a outra… Tetris. Pense que estamos no final dos anos 1980, talvez no começo dos 90.
Desde então, acabei desenvolvendo uma predileção por jogos de puzzle com suas repetitivas peças angustiantemente mais rápido em vez dos repetitivos tiros e inimigos cada vez mais rápidos de um side-scroller. Pouco depois, num dos primeiros natais no Brasil, ganhei de um casal de tios aquele brinquedo Cilada, que traz dentro de seu estojo verde um monte de pecinhas brancas perfuradas com círculos, quadrados e cruzes. Da Estrela, sabe qual?
Além dessas pecinhas brancas virem em forma de trave ou de letra L, elas ainda por cima apresentam variações nos furos. A ideia do brinquedo é separar as peças listadas numa das muitas combinações gravadas na contracapa para preencher por completo as ranhuras da tampa. Muito básico, né? E qual seria a fusão que define SETTRIS?
Esses dois, o jogo Tetris e o brinquedo Cilada, combinados em um novo jogo para remover os tensores de estresse. Por um lado, lembra Cilada porque devemos preencher 80 tabuleiros encaixando as peças predefinidas que vemos na tela. Essas peças são feitas por blocos, tal qual as de Tetris, e, além de girá-las, um botão as espelha. Mas, ao contrário de Tetris, as peças não caem aleatoriamente nem sentenciam jogadores ao inescapável “game over”. Tampouco são sempre formadas por quatro blocos: elas têm de um a cinco quadradinhos em arranjos variados.
Ou seja, temos muitas peças para além dos sete tetraminós. Somente considerando os pentaminós, caso você não seja iniciado na beleza dos puzzles de bloquinhos, saiba que as peças levam nomes de letras, portanto temos as simétricas I, T, U, V, W, X, e as quirais (aquelas com pares espelhados), como F, Z, L, Y, N e P. Isso apenas contando os pentaminós! Já são 18 variações. Imagine que resta somar monominó, dominós, triminós e tetraminós.
Com estas ferramentas vamos organizar peças sobre os espaços possíveis de um papel quadriculado. Algumas casinhas estão bloqueadas, portanto é hora de encaixar uma peça na outra. Essa variedade possibilita soluções múltiplas em todos os tabuleiros.
Outro detalhe é a ausência de cronômetro, ao menos no modo principal. No máximo, SETTRIS informa o recorde daquele tabuleiro. Mas há, sim, o modo ataque de tempo, que exige uma resolução antes do limite e é um pouco mais “estressante”.
E isso é meio que tudo que o jogo tem para oferecer. A ideia de organizar e encaixar as diferentes peças será tão cativante quanto o jogador conseguir imaginar – na minha experiência, a ausência de atrito e de dificuldade acabou retirando a satisfação para completar mais e mais tabuleiros, transformando SETTRIS em uma repetição limitada.
Gráficos, sons e jogabilidade
Julgar gráficos e sons num jogo como este é como tentar ponderar a qualidade gráfica do pacote de jogos de cartas que vinha no Windows XP, aquelas cartas de Paciência e Free Cell com verso personalizável.
SETTRIS tem uma interface básica, ambientada exclusivamente no fundo do mar, sem muito capricho no polimento e de escolha tipográfica duvidosa. Porém, o menu é tão passageiro que nem sei quanto há para comentar. É funcional, sem dúvidas. Ao menos para selecionar os tabuleiros, já que mudar o idioma para espanhol (o jogo não conta com português), muda poucas ou nenhuma palavra na tela.
Aposto que a trilha sonora vem de um pacote livre de royalties. Para ser sincero, deixei no mudo em poucos minutos, alternando para o Spotify ou jogando sem compromisso, em silêncio.
Contudo, o jogo é direto: a jogabilidade é definida por mover as peças e conseguir encaixá-las onde estiver vazio. Para isto, usamos os botões para movê-las, girá-las e espelhá-las. E, assim, a proposta está entregue e, mais uma vez, funcional o suficiente para passar o tempo enquanto durar a empolgação.
Vale a pena jogar SETTRIS?
Ao pesar preço e conteúdo, é difícil recomendar o jogo para alguém que já não seja fascinado por quebra-cabeças. Os 80 níveis existem em dois modos – normal e com limite de tempo –, insuficientes para exaltar a longevidade de SETTRIS, principalmente quando muitos deles são resolvidos em questão de segundos.
E, se brincar de organizar sem riscos é divertido por um lado, por outro, remove o ímpeto do jogador em sobreviver. Afinal, não há uma lógica por trás das soluções, como acontece ao resolver um Sudoku ou conciliar habilidade cognitiva com motora, presente em Tetris e tantos outros. Isso risca da equação aquele momento de descoberta, que faz o jogador de um quebra-cabeças se sentir esperto.
No fim, SETTRIS é, sim, um “tantico” divertido, relaxante, mas repetitivo, que infelizmente tem alternativas muito mais interessantes tanto no meio eletrônico quanto em brinquedos e jogos físicos. Que tal jogar Cilada, Tetris (99, Effect) ou mesmo montar um enorme quebra-cabeças?
*Preview elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela eastasiasoft.