Starfield | Review

Antes de começar esta review, eu preciso deixar clara uma coisa: eu entrei totalmente no hype de Starfield. Desde que o jogo da Bethesda foi anunciado lá em 2018, na extinta E3, eu fiquei pensando remotamente na possibilidade de jogar um “Skyrim espacial”. Aliás, talvez a Bethesda tenha sido a empresa que mais me consumiu tempo com seus jogos singleplayer ao longo da vida. A título de curiosidade, só no The Elder Scrolls V: Skyrim, eu devo ter tido mais de 1800 horas, fácil, fácil. Eu amo jogos de mundo aberto. E quando Starfield apareceu, pensei no quão incrível seria explorar uma galáxia. Sim! Uma galáxia inteira, cheia de planetas, seres e biomas.

E bem, o jogo está finalmente entre nós, já dividindo muitas opiniões. Para elaborar esta crítica, busquei jogar o máximo da aventura e suas infinitas missões primárias e secundárias, tudo para entender a variedade de coisas a serem feitas em um jogo com uma proposta tão grande. A partir disso, será possível responder diversos questionamentos que cercam o jogo: ele é tudo o que prometeram? Como é essa navegação dentro da galáxia? Há muita ação? Enfim… perguntas que todo jogador ou jogadora pensa antes de adquirir um título.

Pois bem, esta review tem um gostinho especial, pois finalmente pude visitar um jogo que esperei por tanto tempo, e num setup que aguente. Contudo, se engana você, caro leitor, que pensa que o hype conseguiu deixar meu senso crítico turvo. Não, não! Muito pelo contrário, ele me abriu os olhos para uma série de questões não só do próprio Starfield, mas da forma como o mundo dos jogos se aproveita dessas situações para lançar um título. Enfim, há muita coisa a ser dita sobre o exclusivo do Xbox Series X|S, que também está disponível para PC. Sendo assim, prepare-se para uma grande viagem interplanetária nesta crítica de outro mundo aqui, no Pizza Fria!

A galáxia em 2330

Após anos tentando alcançar outros planetas, a humanidade finalmente conseguiu ir para além do sistema solar, colonizando diversos planetas. Desta forma, o sonho de muitos se tornou realidade. Bem, pelo menos é essa a ideia de Starfield. Contudo, o jogo traz um certo alerta para essa busca desenfreada. Nele, a Terra virou um planeta inabitável, por motivos que vocês saberão ao jogar. Não, não darei spoilers. Porém, preciso falar de algumas das reflexões que o game traz, sendo este um ponto bem interessante.

Mas retornando ao quesito narrativa, em Starfield, somos integrantes da Constelação, que é o último grupo de exploradores do espaço que fica caçando loucamente artefatos e poderes em todos os cantos, vasculhando assim a vastidão dos chamados Sistemas Colonizados. Em suma, você está num grupo repleto de figuras únicas e que podem surpreender você ao apresentar diversas perspectivas sobre os temas que surgem. E se tem algo diferenciado em Starfield, é que o jogo aborda a questão da religiosidade de uma maneira bem interessante, sendo ela parte integrante da narrativa.

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Saltos são ótimos para fugas e viagens rápidas. (Imagem: Divulgação)

Para não estragar as surpresas de Starfield, gostaria apenas de enfatizar que trazer discussões como ganancia, criminalidade, religiosidade, ciência e a própria sobrevivência da humanidade para serem debatidas em um jogo, ainda que de forma simples, é uma boa maneira de entreter e dar sentido ao que fazemos durante a jogatina. É claro, existem sim momentos de pura ação, mas vale a pena entender as histórias por trás de cada missão, seja ela primária ou não. Aliás, em alguns pontos narrativos, Starfield até me deu lampejos da história de Cyberpunk 2077! Mas essa foi uma conexão que minha cabeça fez ao misturar distopias, a humanidade em sua pior forma, muita desordem e… desigualdade.

Enfim… Starfield tem muitas histórias para contar, e confesso que estou longe de concluir todas elas. Contudo, a considerável parte do que vi é intrigante e inteligente, sobretudo se compararmos com alguns jogos lançados atualmente, que começam e terminam sem pé, nem cabeça. É claro, a narrativa aqui não é a coisa mais extraordinária de todas, mas convenhamos que a Bethesda é excelente em contar histórias. Eu gostei muito do que vi, tenho minhas ressalvas, claro, mas acho que já posso passar para o outro tema. Concluindo então, no quesito narrativo, o jogo entrega uma experiência extremamente positiva, que nos faz refletir antes da ação, que geralmente te dá lá duas escolhas possíveis.

Seja quem você quiser (ou algo próximo a isso)

Criar o personagem em Starfield já nos dá uma ideia do RPG que podemos esperar. Desde características físicas, gênero e outros detalhes, também podemos escolher traços narrativos específicos do personagem, como ter nascido na “quebrada” ou ter simplesmente um fã maluco andando atrás de você, seja lá aonde for. Tudo tem um bônus e um ônus, e essa é uma maneira bem interessante de se complementar a trilha de quests disponíveis. Aliás, elas são infinitas! Em uma das escolhas, por exemplo, você pode trazer mais emoção para a jogatina, se tornando um fugitivo. Ou seja, escolhendo esse traço narrativo, você será caçado constantemente. Imagine a loucura que não deve ser…

Esses possíveis traços do personagem estão divididos entre Histórico e Atributos. O primeiro representa a classe que você deseja escolher: Clínico Militar, Diplomata, Explorador, Malandro, Ronin, e por aí vai. Confesso que, tal como fiz em Cyberpunk 2077, preferi ir para o lado da malandragem. Com isso, você tem conhecimento sobre o que rola nas ruas e, mais do que isso, tem uma malícia diferenciada que influencia em alguns momentos nas linhas de resposta, que fica sinalizada com o Histórico escolhido.

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Você pode sair entrando em templos pela galáxia, conseguindo diversos poderes. Confesso que não usei quase nenhum deles em batalha…(Imagem: Divulgação)

Já os Atributos dão bônus e ônus adicionais, e podemos escolher até três deles. Por exemplo, o atributo Família Unida te fornece uma base segura. Todavia, isso tem um gasto financeiro cobrado diariamente, e por aí vai. O que importa e é realmente interessante são as vantagens e desvantagens, que trazem algo a mais ao seu jogo.

E, por último, mas não menos importante, tal como em qualquer RPG, Starfield nos apresenta um sistema de experiência que, por sua vez, geram pontos que podem ser usados em uma árvore de habilidades bem interessante. A árvore é dividida nas seguintes categorias: físico, combate, ciência, tecnologia e social. Dentro de cada uma delas existem 16 habilidades, sendo que algumas delas contam com até 4 níveis. Porém, para conseguir colocar os pontos em cada uma delas, você precisará estabelecer objetivos. Por exemplo, caso você precise ganhar mais força para carregar itens, você terá que andar um bom tempo com sobrepeso. Ou seja, não é algo simples de se atingir.

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O sistema de rotação simula as horas nos variados planetas que você explora. (Imagem: Divulgação)

Por fim, há também como conseguirmos atributos e características extras através de nossas vestimentas e armas. Aliás, elas são extremamente variadas e, portanto, precisamos adequá-las ao nosso estilo. E neste ponto, confesso que acho que Starfield deixou a desejar. Temos que escolher uma arma por vez, não sendo possível manter um arsenal de acesso rápido. Portanto, você terá que entrar no menu se quiser usar uma outra arma. E isso é chato. Isso poderia ser repensado para uma atualização futura. Ou, quem sabe, para um modder ousado. Afinal de contas, Starfield tem é potencial para render ótimos mods. O robô VASCO que o diga…

Questões de jogabilidade

Starfield conta com ideias geniais até então, mas talvez aqui encontremos alguns entraves interessantes de serem debatidos. Não por apenas serem bons ou ruins, mas por refletirem escolhas que os próprios desenvolvedores tomaram. A primeira delas é a ideia de se viajar para um determinado planeta e, diferentemente de No Man’s Sky, você ter que ir para o menu para conseguir pousar. Isso é um baita corta clima. A situação piora após notarmos que os mundos contam com limitações (vulgo parede invisível). Ou seja, não há nem uma criação procedural do final de cada planeta ou algo do gênero. Aí é complicado… Desta forma, já percebemos que nem tudo são flores aqui.

Mas vamos falar de coisas boas também. Por exemplo, a movimentação do personagem é ótima. Porém, quando tentamos observar o corpo do avatar durante a visão em primeira pessoa, somos brindados com um grande nada, parecendo que não temos um corpo. Mas pelo menos a Bethesda nos deu a oportunidade de jogar em terceira pessoa. E bem, não curti muito jogar assim, mas dá uma variedade e, em certos momentos, como ao andar pela cidade, pode calhar muito bem. Outra coisa legal em Starfield é levar em consideração a formação dos diferentes planetas e, assim, tornar a gravidade em cada um deles bem variada. Na Lua, ela é de um jeito e, na Terra, ela muda totalmente.

Starfield tem muitos detalhes, itens e variedade de coisas a serem feitas. As batalhas entre naves, por exemplo, são muito bacanas, embora ocorram com menos frequência do que eu imaginava. Aliás, sair explorando o espaço em voos é algo relaxante e até mesmo contemplativo, já que o jogo apresenta gráficos muito sólidos e condizentes com um título de nova geração. E é isso, as viagens não são glamourosas e, felizmente, contam com a praticidade de um mapa de viagem rápida. Ninguém merece ter que ficar cruzando a galáxia por horas a fio. Ia ser um porre, convenhamos.

Agora, retornando para o solo, preciso comentar algo. Starfield conta com alguns bugs que arrancam boas risadolas da gente. É muito comum estarmos conversando com um NPC e, do nada, nosso companheiro para na frente dele, como se nada estivesse acontecendo. Ou melhor, quando você acelera na cidade e vai para um determinado lugar, e o danado aparece correndo igual uma bala indo em sua direção. Isso quando ele não agarra na parede tremendo loucamente. Essa é meio que a marca da Bethesda, né? Contudo, esses erros, que são meio pontuais, não destroem a experiência do jogo. Eles devem ser corrijidos em algum momento, mas não são o fim do mundo.

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As batalhas espaciais são interessantes. Mais interessante ainda é poder customizar a sua própria nave, com cores, armas e tudo mais! (Imagem: Divulgação)

Ah, outra coisa que não passará batida aos jogadores é o excesso de telas de carregamento apresentadas. Em alguns lugares, precisamos entrar em ambientes específicos que nos remetem a uma tela de loading. Sinceramente, no meu caso, elas passavam em 5-8 segundos, não sendo lá uma quebra muito grande do ritmo. Porém, imagino para quem não use SSDs de alta velocidade o caos que nisso não deve ser. Essas escolhas dos desenvolvedores me fazem pensar que els tiveram que tomar essa escolha por algum motivo, mas quem sou eu para jugar. Me proporcionando um pouco de inocência, creio que tenham feito isso para nos ajudar…

Ao falar de um jogo da proporção de Starfield, muitas coisas sobre a jogabilidade surgem. Tentei citar parte delas acima, mas sempre há algo a mais para dizer. Mas para concluir esta parte, digo que o hype já me preparou para esses problemas.Conhecendo bem o histórico da Bethesda, isso era mais do que natural. Mas convenhamos que a situação aqui é muito, mas muito diferente do que Cyberpunk 2077 fez com o público. De fato, Starfield não entregou 100% do esperado, mas pelo menos não iludiu ninguém como o jogo da CD Projekt RED fez. Ele é muito bom nas propostas de jogatina, mas ainda conta com alguns erros.

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As cidades de Starfield são legais, mas bem vazias. Ainda bem… os PCs mais modestos agradecem. (Imagem: Divulgação)

Aspectos audiovisuais

Starfield é um jogo bonito e apresenta todas as características exigidas pelos jogadores e jogadoras da nova geração. Isso significa que o jogo estabeleceu a primazia da perfeição gráfica? De forma alguma. Aliás, as expressões dos personagens estão um bocadinho aquém da qualidade visual e de dublagem apresentadas pelos desenvolvedores. Esse detalhe não tem tanta influência na jogabilidade, é verdade, mas é algo perceptível. Esses dias mesmo, ao jogar Immortals of Aveum, achei bem bacana as expressões dos personagens, que eram bem realistas. Isto não torna um jogo em uma obra-prima, mas é um detalhes bom de se ter, trazendo mais imersão e até um pouco de realismo.

É claro, a proposta dos jogos não é a de necessariamente reproduzir a vida real tal como a observamos, mas as expressões enrijecidas dos personagens dão uma impressão estranha, sobretudo quando vamos dialogar com eles e a tela foca bem no rosto. Talvez eu esteja sendo muito crítico ou divagando nas minhas concepções, mas é bem isso o que eu sinto aqui, e entendo se você pouco se importar com esta opinião. De uma maneira geral, Starfield entrega uma ótima qualidade gráfica, uma dublagem em inglês bacana que, felizmente, é legendada para nossa língua materna.

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Sarah é uma das companheiras que podemos levar pelo caminho. Aliás, olha só esses gráficos! (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Starfield?

Starfield é um jogo enorme, cheio de excelentes ideias, mas com alguns problemas de execução. Certamente o título estará figurando entre os principais do ano. Porém, eu fiquei com uma impressão de que o game poderia lá ser um pouco melhor. Ainda vejo que a IA dos inimigos é muito pouco desafiadora, que o jogo apresenta crashes em alguns momentos de carregamento, que ele ainda não conta com DLSS 3.5 original, me fazendo usar um mod que deu um baita boost no jogo, percebo questões repetitivas similares às vistas nos MMORPGs, onde temos de ir para lá e para cá, um sistema de navegação muito aquém para um jogo dessa magnitude… Enfim, vejo muitos problemas.

Estes problemas podem ser resolvidos, tal como aconteceu com Skyrim ou o até mesmo o Falout 76. No entanto, tratando o jogo atualmente, ele não é digno de receber uma nota 100, mesmo tendo todo o potencial possível para isso. Ele é um baita jogo, com uma narrativa que me chamou a atenção, mesmo tendo lá seus clichês, com um sólido menu de criação de personagens, que conta com variáveis que podem mudar um bocadinho da narrativa e muitas, mas muuuitas quests a serem feitas em um universo enorme para ser explorado. São muitas coisas em um jogo, que acabamos ficando perdidos. No entanto, ele consegue nos direcionar bem, e é isso que vale.

Olha… eu poderia escrever por horas e horas sobre Starfield e todas as sensações que tive com o jogo (como uma irritação com os mapas fechados, por exemplo), mas preciso também ser mais direto e, assim, dar o meu veredito. Desta forma, eu indico Starfield para todos os jogadores e jogadoras interessados em jogar por horas e horas e, ainda assim, não ter terminado nem 10% do jogo. E esse é um baita desafio para quem gosta de completar tudo. Mas felizmente Starfield é um ambiente amigável, por assim dizer, com menus simples e intuitivos.

Ah, e mesmo que você não seja fã de FPS, este é um jogo que vai além desse tipo de definição. É um RPG, é um jogo de aventura… é muita coisa junta. E isso é simplesmente incrível, pois mescla diferentes estilos em um único lugar, nos permitindo fazer uma variedade de coisas. Tudo bem, elas podem até ficar repetidas depois de um tempo, mas isso é o de menos. O que importa em Starfield é conseguir resolver os mistérios da galáxia, ser bandido, mocinho, explorador, malandro ou qualquer coisa que você quiser. É tudo do seu jeito e no seu tempo, não sendo totalmente obrigatório seguir a linha narrativa das quests primárias.

Portanto, minha indicação é: mergulhe de cabeça em Starfield e veja no que dá. Mas vá sem a questão do hype. Ou vá com ela, mas levando em consideração que nem tudo é perfeito. Enfim, divirta-se! Jogos são feitos para isso. Ah, e sorria com os bugs engraçados. Isso é um show a parte. Ah, e sobre o preço, Starfield está disponível para os assinantes do Xbox Game Pass para PC e console. Mas caso você não utilize o serviço, o game vale muito os R$ 299,00 cobrados no Steam.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Bethesda.

Starfield

R$ 299,00
8.9

História

8.8/10

Jogabilidade

8.4/10

Gráficos e sons

9.6/10

Extras

8.8/10

Prós

  • História bem interessante, com muitas quests primárias e secundárias
  • Legendado em português brasileiro
  • Qualidade gráfica é um ponto forte do jogo
  • Criação de personagem é ótima e variada
  • Variedade de coisas para serem feitas

Contras

  • Alguns bugs e crashes ainda incomodam
  • IA ainda é muito fraca
  • Algumas missões acabam ficando repetitivas
  • Ausência de DLSS 3.5 nativo

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.