The Last of Us Part I | Review
Em 2013, The Last of Us foi lançado pela Naughty Dog e pela Sony para PlayStation 3 e alcançou um estrondoso sucesso. Foram mais de 200 prêmios de jogo do ano, tanto pela escolha da mídia especializada, tanto pelo voto popular. A aventura narrativa de Joel e Ellie marcou uma geração de jogadores no console, e é facilmente apontado como um dos melhores jogos de todos os tempos.
Diante de tamanho sucesso, o game, que foi lançado no fim da geração PS3, acabou sendo relançado para PlayStation 4 algum tempo depois, com uma versão remasterizada. O resultado foi óbvio: mais sucesso, mais vendas e mais jogadores alcançados. É raro encontrar um jogador da base da Sony que não conheça o título e que não tenha sequer dado uma chance para o game.
Tanto que foi com alguma surpresa e ceticismo que a notícia de um remake total do jogo estava em produção foi recebida. Revelado em junho deste ano, na abertura da Summer Game Fest, The Last of Us Part I chegaria em 2 de setembro para PlayStation 5 e, em data posterior, para PC. A surpresa não foi porque o título não merecesse, mas a comunidade entendia que os esforços poderiam ter ido para um novo jogo ou o modo multiplayer da Part II, já que boa parte dos jogadores consideram a versão de PS4, disponível via retrocompatibilidade no PS5, é atualizada o suficiente.
Gostem os fãs ou não, The Last of Us Part I está entre nós. Nas últimas semanas, pude jogá-lo para trazer minhas impressões antecipadas e meu veredito se o game era mesmo necessário, ou se foi uma tentativa da Sony de ganhar um dinheiro extra em cima de fãs. Atenção, vaga-lume! Vai começar mais uma review do Pizza Fria!
“The Valley of the Shadow of Death”
Antes de mais nada, é importante ressaltar: The Last of Us Part I é uma cópia fiel do original. Isso significa que tanto elementos narrativos quanto elementos audiovisuais são fidedignos. Mas o game não é um remaster, como a edição de PS4. A Sony ressaltou que o título foi reconstruído do zero, com gráficos compatíveis com o que se espera da geração atual do seu hardware, além de uma atualização de gameplay, para deixar o game mais próximo do que se viu na Part II. Falarei mais sobre isso abaixo.
E comecei explicando esse detalhe para afirmar que a premiada narrativa do jogo está praticamente intacta. Há uma mudança bem sútil, no modelo de um personagem que aparece na sequência final, que foi necessária para a ligação direta com a Part II. É algo que quem já jogou os dois jogos, vai identificar. De resto, temos exatamente o mesmo jogo. A mesma história, as mesmas cenas, os mesmos cenários. Afinal, em time que está ganhando não se mexe, não é mesmo?
Na história, The Last of Us Part I nos leva por uma emocionante viagem pelos Estados Unidos apocalítico. Após os fungos do gênero cordyceps dizimarem boa parte da população, a luta agora passou a ser pela sobrevivência com outros humanos. Matar ou morrer, correr ou lutar. Decisões morais a todo instante. Mas em The Last of Us o jogador não as toma. Elas são tomadas por Joel, o protagonista do primeiro jogo, e às vezes por Ellie, a “garotinha” que ele precisa levar para o outro lado do país.
Nossa função é jogar, e acompanhar essas decisões, concordando ou não. Logo, a sensação que a narrativa nos oferece é um constante soco na boca do estômago, praticamente cena após cena. Não há rodeios na história, que aborda temas tão absurdos quanto cotidianos, mas que na correria de um dia-a-dia no século XXI, nós, como sociedade, damos aquela passada de pano e relevamos.
“And I believe, ‘cause I can see”
A nossa memória é algo incrível, não é mesmo? Eu terminei a história de The Last of Us quatro vezes entre 2013 e 2020, antes de jogar a Part II. A minha impressão, assim como a de milhares jogadores, era de que o jogo apresentava gráficos suficientemente bons para oferecer uma experiência muito agradável. E, mesmo assim, fui bastante surpreendido com a versão que chega ao PlayStation 5.
Isso porque The Last of Us Part I é um jogo incrivelmente mais vivo do que o original, e bastante superior a versão remasterizada de PS4. O fato de ter sido refeito com um motor gráfico atualizado, oferecendo aquilo que há de melhor em tecnologia para o console atualmente, torna o jogo facilmente aquele com o visual mais bonito do PlayStation 5 até aqui. E olha que a concorrência é pesada!
E quando eu falo de visual, eu não me refiro somente à sua ambientação. A Naughty Dog deu um show em expressões faciais, tanto dos personagens principais, quanto dos NPCs. Até mesmo os detalhes menores, como as animações ao fazer upgrade de armas em bancadas, ganhou uma atenção especial, assim como na Part II. A qualidade é tanta que as cutscenes são renderizadas com motor in-game, oferecendo a mesma qualidade que vemos ao jogar. Na prática, a sensação é que muitas vezes que, se você não pegar o ritmo da câmera, o jogador não saberá quando a cena acabou e que agora você está em uma parte jogável. Incrível!
“It’s no better to be safe than sorry?”
Além de entregar gráficos espetaculares, The Last of Us Part I traz mudanças precisas no gameplay, que se aproximam muito mais da Part II, que foi uma evolução em comparação ao original. Se as críticas que pairavam sobre o fato de Joel ser travado, isso se foi completamente na nova versão. Não que o protagonista vá sair pulando por aí, mas sua movimentação está bem mais leve e fluída do que costumava ser.
Além disso, a “trocação” com infectados e humanos é muito mais palatável com o DualSense, que é incrivelmente responsivo durante as batalhas e cutscenes. Os momentos em que temos que socar inimigos são muito imersivos, por conta das vibrações do controle. É como se sentíssemos cada golpe aplicado. Já explosões também são refletidas no controle de uma maneira singular, passando ao jogador uma real sensação de estar no mundo do jogo. Isso sem contar o feedback háptico nos gatilhos, presente ao puxar o arco ou atirar.
Ainda falando de imersão, o Audio 3D é outro recurso bem usado. Jogando com um headset Pulse 3D, The Last of Us Part I brilha com a qualidade dos detalhes sonoros, que auxiliam a localizar posição dos inimigos e detalhes sonoros no ambiente. No fim, são recursos como estes que me passam a certeza de que o game merecia, sim, uma nova versão. Apesar de ser a mesma história, ao terminar The Last of Us pela quinta vez na vida, tive a sensação de estar jogando um título completamente novo.
“You’re all the things I’ve got to remember”
Eu me lembrava de The Last of Us como um jogo bem a frente do seu tempo em termos gráficos. Até hoje, a Part II é um dos jogos mais bonitos que já foram feitos, mesmo sendo de uma geração passada de consoles. Mas faltavam opções de configurações gráficas, como manda o figurino da geração atual, como resoluções maiores ou taxas de quadros maiores. Problemas que foram resolvidos na versão de PS5. The Last of Us Part I chega com três modos gráficos:
- Fidelidade, que prioriza a resolução 4K, visando 40 FPS;
- Desempenho: 60 FPS em 4K dinâmico ou 1440p;
- Taxa de quadros ilimitada, disponível apenas em televisões/monitores compatíveis, e compatível com ambos os modos acima.
Eu variei o meu gameplay entre Fidelidade e Desempenho, mas sempre jogando em uma TV que oferece 120hz para PlayStation 5. Na prática, confesso que senti pouca diferença entre eles, com o desempenho puxando mais para a fluidez, enquanto a fidelidade oferecia gráficos com mais brilho. Mas ambos com muita qualidade, mas ressalto que meus olhos não são tão treinados assim, e não tenho equipamentos para uma análise precisa. Eu estou realmente curioso para conferir uma análise técnica do desempenho!
“Ever closer became us”
Uma das principais novidades de The Last of Us Part I é o foco maior na acessibilidade. E não somente para pessoas cegas, surdas ou com deficiências motoras. O título deixa claro, em diversas opções, que é voltado para todos os jogadores.
Os jogadores podem utilizar opções pré-configuradas de acessibilidade visual, auditiva e motora. Mas, mais do que isso, é possível personalizar todo o gameplay. Assim como em The Last of Us Part II, dá para alterar elementos do jogo, personalizando cada experiência de acordo com o tipo de jogador. Pode-se alterar a função dos botões, ou podemos habilitar o “modo escuta” para localizar inimigos, itens e colecionáveis mais facilmente, com avisos sonoros totalmente responsivos ao Pulse 3D.
Também temos um auxilio de navegação, com sinais visuais que auxiliam aqueles que ficarem perdidos. O combate pode ser facilitado para o jogador ficar invisível enquanto estiver agachado, ou mesmo mirar em câmera lenta. Explorações aquáticas podem ter fôlego ilimitado. E, pra fechar o tópico, são vários níveis de dificuldade, voltadas literalmente para todo o tipo de jogador. A Naughty Dog entende que acessibilidade não é tornar um jogo fácil, mas sim, permitir que todos aqueles que queiram curtir sua história, consigam. Se você não gosta de determinado recurso, basta não usar. A escolha é sua. Ponto para a desenvolvedora!
“I’ll be coming for you anyway”
The Last of Us Part I conta com diversos extras, que são atrativos, seja para novos jogadores, seja para veteranos. Após terminar o jogo pela primeira vez, é possível habilitar skins para Ellie e Joel, modificadores de jogo (ao melhor estilo Resident Evil), modos de renderização e até uma galeria de artes e modelos, que compara o conteúdo original (2013) com o que chega em 2022.
Entre as atrações, por exemplo, há uma opção para utilizar o modelo de personagem de Joel em The Last of Us Part II, com cabelo maior e outra vestimenta. As camisetas de Ellie podem carregar logos de franquias clássicas da Sony, como Ratchet & Clank, God of War, Gran Turismo, ou mesmo usar a mesma roupa que a personagem utiliza na Part II, entre outras opções. Também é possível alterar os modelos de mochilas e armas de ambos.
Já nos modificadores, há opções como jogar o jogo com gráficos invertidos, munição e fabricação infinita de armas, one-hit kill, e tantos outros. Dá até pra jogar o game com um visual retrô de 8-bits, tanto em gráficos, quanto no áudio. São experiências diferentes, que funcionam como um atrativo extra para os jogadores revisitarem o game.
O lado negativo destes extras é que eles só estão disponíveis após você terminar a história principal pela primeira vez. Eu até entendo a Naughty Dog, que quer mostrar logo de cara todo o seu árduo trabalho com esse remake, mas pensando nos jogadores que já jogaram, e podem se sentir atraídos por estes extras, algumas opções bem poderia estar disponíveis desde o começo.
Vale a pena comprar The Last of Us Part I?
Definitivamente, The Last of Us é uma obra “obrigatória” para os proprietários de um PlayStation 3 pra frente. É aquele jogo que é uma “compra certa”, quase que com a garantia que a experiência que o jogador tiver será incrível e inesquecível. Então, não poderia esperar nada de diferente de The Last of Us Part I no PlayStation 5.
O jogo pega aquilo que era excelente e melhora de uma forma que é incrível. Eu cheguei a olhar com desconfiança quando o game foi anunciado, porque achava que era apenas uma melhora visual e nada mais. Só que, depois de jogar, ficou claro que o trabalho da Naughty Dog foi completo, abordando e realmente aprimorando diversos elementos do jogo que estavam um pouco datados.
Pode-se questionar a necessidade de se refazer totalmente um jogo lançado há nove anos, que tem gráficos bem aceitáveis para o padrão de hoje, mas não a qualidade final do que foi entregue. The Last of Us Part I é uma obra-prima e consolida, mais uma vez, a franquia como uma das mais importantes da história dos videogames.
The Last of Us Part I chega na próxima sexta-feira, 2 de setembro, para PlayStation 5 por R$ 349,90.
*Review elaborada no PlayStation 5, com código fornecido pela Sony.