The Talos Principle: Reawakened | Review
No final de 2014, quando The Talos Principle chegou ao mercado, os jogos envolvendo quebra-cabeças foram impactados por uma proposta diferente: reflexiva, existencialista e absolutamente desafiadora. Pouco mais de dez anos depois, essa mesma obra retorna sob uma nova roupagem com The Talos Principle: Reawakened, edição definitiva que chega para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S, com melhorias visuais significativas, loadings mais rápidos e duas expansões integradas ao pacote. Mais do que um simples remaster, trata-se de um relançamento que respeita a essência da obra original, ao mesmo tempo em que a moderniza e a enriquece com conteúdo inédito.
Nesta análise, pretendo revisitar os fundamentos que tornaram The Talos Principle um “clássico moderno”. Falarei sobre seus puzzles engenhosos, a narrativa filosófica profunda, as melhorias técnicas e o impacto das expansões Road to Gehenna e In the Beginning, todas acessíveis desde o início nesta nova versão. Vem comigo em mais uma review antecipada do Pizza Fria!
Uma jornada solitária e reflexiva
The Talos Principle: Reawakened coloca o jogador no controle de uma entidade artificial que desperta em um mundo simulado. Uma voz poderosa — em uma excelente dublagem para o português do Brasi — se identificando como Elohim, passa a guiá-lo, oferecendo direções, mas também impondo limites claros: você pode resolver os enigmas espalhados por aquele mundo, mas não deve, em hipótese alguma, subir a torre misteriosa que se ergue no horizonte.
É nesse ponto que The Talos Principle se destaca, apresentando um dilema moral que atravessa toda a experiência: obedecer às ordens divinas ou questioná-las em busca da verdade? A narrativa, conduzida por textos em terminais de computador, mensagens criptografadas e gravações deixadas por cientistas, vai revelando aos poucos que o mundo do jogo é, na verdade, uma simulação criada para testar inteligências artificiais após o colapso da civilização humana.
O grande trunfo do game é fazer com que o jogador se sinta parte desse experimento. Com o tempo, questionamos quem somos, por que estamos ali e se nossas escolhas são realmente livres. The Talos Principle apresenta, inclusive, um assistente virtual chamado Milton que confronta o jogador com questões filosóficas sobre existência, consciência e humanidade. Em vez de oferecer respostas, o game provoca reflexões. É um convite à introspecção que vai muito além dos puzzles.

Desafios inteligentes que respeitam o jogador
Mas é no centro do gameplay que estão os quebra-cabeças, que podem ser jogados em primeira ou terceira pessoa – a transição entre os modos é rápida, bastando apertar o botão triângulo. Distribuídos em três grandes mundos interconectados, cada mundo apresenta uma temática visual distinta, que varia entre ruínas gregas, desertos egípcios e castelos europeus, e oferece uma série de salas com enigmas lógicos a serem resolvidos. A cada puzzle concluído, o jogador coleta um sigilo — peças semelhantes a tetris — que desbloqueiam novas áreas e funcionalidades.
As ferramentas para resolver esses desafios incluem inibidores que desativam barreiras e dispositivos, conectores de laser, ventiladores, caixas, interruptores e um gravador temporal que permite gravar e repetir ações. The Talos Principle: Reawakened introduz essas mecânicas aos poucos, aumentando gradualmente a complexidade dos enigmas. Alguns exigem soluções criativas e fora do comum, mas a curva de aprendizado é bem balanceada. Cheguei a ficar mais de 40 minutos “quebrando a cabeça” em alguns puzzles, e a solução estava ali, literalmente no título da fase.
Dito isso, diferente de muitos jogos do gênero, The Talos Principle não penaliza o jogador por errar. A qualquer momento, é possível reiniciar o puzzle ou, nesta nova versão, usar o sistema de “retroceder” para rebobinar uma ação específica, o que evita retrabalhos desnecessários. Resolvi grande parte dos desafios sem ajuda, mas confesso que em alguns momentos precisei ser salvo pelo fato de o jogo já ter quase uma década e buscar uma ou outra solução no YouTube. Mesmo que isso tenha representado uma quebra na imersão, acredito que uma melhor exploração do sistema de dicas dentro do jogo funcionaria melhor. Confesso: fiquei perdido para entender como ele realmente funciona.

Filosofia e ambientação de mãos dadas
Ambientado em um mundo virtual que remete a diferentes civilizações humanas, The Talos Principle brilha ao combinar seu forte apelo filosófico com uma direção de arte inspirada. A escolha de cenários abandonados e em ruínas reforça o sentimento de melancolia, ao mesmo tempo que traz uma sensação contemplativa. Tudo está impregnado por uma atmosfera de serenidade, com poucos sons ambientes, uma trilha sonora minimalista e nenhum tipo de pressão ou urgência.
Essa ambientação é um dos grandes destaques da experiência. Caminhar por ruínas silenciosas, sob o olhar onipresente de Elohim, faz com que cada momento se torne significativo. Os detalhes arquitetônicos e os efeitos climáticos foram renovados com esmero na Unreal Engine 5, garantindo cenários mais vivos e críveis.
A trilha sonora merece um destaque especial. Ela oscila entre tons de serenidade e melancolia, alternando entre piano suave, sintetizadores e vozes etéreas. É uma daquelas trilhas que são marcantes e auxiliam na jornada de gameplay, ajudando a transformar a resolução de um puzzle em algo quase transcendental.

Um upgrade visual digno da nova geração
Falando em melhorias, Reawakened foi completamente reconstruído na Unreal Engine 5 e apresenta um salto visual notável em relação ao original. Texturas em alta definição, iluminação global realista, reflexos aprimorados e animações mais suaves tornam cada ambiente ainda mais imersivo. A vegetação é mais densa, os detalhes arquitetônicos são mais nítidos e a atmosfera ganhou camadas de profundidade que antes não estavam presentes.
No PlayStation 5 Pro, o jogo roda incrivelmente bem. Mesmo tendo apenas os tradicionais modos de Qualidade e Desempenho, onde o primeiro prioriza os visuais, enquanto o segundo o desempenho, este foi um jogo que preferi jogar no modo Qualidade. Com a ausência de combate e cutscenes, por ser uma experiência mais contemplativa, decidi apreciar no modo Qualidade. Os carregamentos são realmente rápidos, seja na mudança de fases, seja ao retroceder ou reiniciar uma fase.
Não notei, por outro lado, grandes recursos ou uso do áudio 3D e do DualSense. Seria interessante se eles tivessem sido melhor implementados, já que auxiliariam a dar uma camada sensorial maior ao título.

Expansões integradas: mais conteúdo, mais reflexão
Dois grandes diferenciais desta edição são as expansões Road to Gehenna e In the Beginning, ambas inclusas no pacote. A primeira, lançada originalmente em 2015, apresenta uma nova campanha em que jogamos como Uriel, o mensageiro de Elohim. Nessa jornada, somos incumbidos de libertar inteligências artificiais aprisionadas em uma parte esquecida da simulação. Os quebra-cabeças aqui são ainda mais desafiadores, e a narrativa mergulha em temas como liderança, arte e redenção.
Já In the Beginning é uma novidade exclusiva de Reawakened e funciona como um prólogo narrativo. Ele nos coloca em contato direto com Alexandra Drennan, cientista responsável pela criação do experimento, e nos leva aos primeiros testes da simulação. É uma oportunidade de conhecer melhor o pano de fundo do jogo e entender as emoções humanas por trás de toda aquela estrutura digital – e recomenda-se jogá-la apenas após concluir os dois primeiros conteúdos.
Para quem jogar no PC, The Talos Principle: Reawakened ainda traz um Editor de quebra-cabeças, que promete oferecer aos jogadores mods e desafios criados pela própria comunidade. Uma pena que o recurso não esteja disponível na versão testada.

Vale a pena comprar The Talos Principle: Reawakened?
The Talos Principle: Reawakened não é apenas um remaster bonito. Trata-se de uma edição definitiva de um dos jogos que mais respeita a inteligência do jogador, provocando reflexões filosóficas e oferecendo uma experiência de gameplay desafiadora, mas gratificante. As melhorias gráficas e o conteúdo adicional tornam esta a melhor forma de vivenciar essa obra-prima dos puzzles.
Para quem nunca jogou, é uma oportunidade imperdível. Para quem jogou há uma década, é como revisitar um velho templo — agora mais iluminado, mais amplo e com novas câmaras a serem descobertas. Uma experiência atemporal, renascida com elegância para uma nova geração de jogadores.
The Talos Principle: Reawakened, versão reformulada e definitiva do jogo de quebra-cabeça, chega nesta quinta-feira, 10 de abril, para PC, via Steam, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
*Review elaborada em um PlayStation 5 Pro, com código fornecido pela Devolver Digital.
The Talos Principle: Reawakened
Prós
- Narrativa filosófica profunda e instigante
- Puzzles desafiadores e variados
- Melhorias técnicas significativas na nova geração
- Conteúdo adicional robusto e bem integrado
Contras
- Sistema de dicas pouco intuitivo
- Uso tímido de recursos do DualSense e áudio 3D
- Falta de acesso ao editor de puzzles nos consoles
- Pouca inovação para quem já jogou o original