Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 | Review
Quem gostava de jogar videogames no final dos anos 90 e início dos 2000 certamente se lembra do quão grandiosa a franquia Tony Hawk’s Pro Skater era na época. A jogabilidade rápida e satisfatória, trilha sonora lendária e mapas bem construídos atraiu até quem não se interessava muito por esportes e jamais tinha prestado atenção em skate, meu caso, aliás.
Houve algumas tentativas de criar continuações depois dessa era dourada, mas as reações do público nunca foram as mesmas – estou olhando para você, Pro Skater 5. Então, investindo em recriar o que dava certo, Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 chegou em 2020 como um pacote fenomenal, que capitalizou na nostalgia e agradou quem tinha tanto carinho por esses clássicos. Agora, com uma nova desenvolvedora, a Iron Galaxy Studios, chegamos à outra metade da quadrilogia original e, apesar de vários acertos, acredito eu, com um resultado que menos unânime do que o do último remake.
Nostalgia a todo vapor, mas portas abertas para quem chega agora
Quem gosta dos jogos originais pode respirar aliviado, pois sua essência simples e efetiva está intacta. Começar a jogar ativa instantaneamente a memória mecânica de quem passou horas dominando combinações de flips, grabs, lips e manuais em combos de pontuação gigantes. Todas as manobras retornam, com comandos idênticos. O controle é perfeitamente responsivo, o que deixa a jogabilidade ainda mais satisfatória.
Se você nunca jogou, não se desanime. Apesar de Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 provavelmente estar apontado aos veteranos, foi feito um esforço admirável para receber novos jogadores. Além de modificações de acessibilidade que facilitam o jogo, como equilíbrio automático e ajuste de limite de tempo, existe um tutorial robusto explicando todas as mecânicas, que são fáceis de aprender a um nível básico.
A variedade do que se pode fazer é grande, mas tudo se encaixa de forma didática, recomendo passar por essa parte até a quem tem intimidade com a franquia, para refrescar a memória e até aprender algum detalhe que passou batido por décadas. Algumas lições até me ensinaram umas coisas, sendo que eu passei muitas e muitas horas nos originais.
Entre figuras marcantes da franquia e rostos inéditos, a seleção de skatistas é enorme. São 35 para escolher, cada qual com suas manobras especiais e status que refletem habilidades de desempenho em rampas, corrimões, equilíbrio, entre outros. Destaque para a inclusão da nossa medalhista Rayssa Leal pela primeira vez e o retorno de Bam Margera após 18 anos, como um personagem secreto. Motivos extras para minha alegria ao conferir o elenco.
Mas claramente o que vai agradar tanto novatos quanto antigos skatistas virtuais são as pistas. Totalmente refeitas e atualizadas graficamente, mas mantendo, pela maior parte, a genialidade do design original. Desde as aberturas fantásticas de cada jogo, com “Foundry” em THPS3 – o cenário absurdo de andar de skate em uma fundição cheia de magma e “College” em THPS4 – mapa enorme, cheio de partes completamente distintas e ótimo de se explorar, até cenários adorados como “Airport” , o paraíso para quem gosta de fazer grind em corrimão e “Alcatraz”, com a sensação de recompensa em alcançar os pontos mais altos do cenário.
Comparado com os jogos originais, não retornam as pistas “Carnival” e “Chicago” , mas sinceramente, ouso dizer que cenários inéditos que ocupam seu lugar – “Movie Studio” , “Waterpark” e “Pinball”, são até melhores e capazes de agradar a comunidade exigente.
A empolgação em explorar cada local está intacta. Grande parte do sucesso original de THPS está em dominar as pistas e escolher sua favorita: encontrar bons pontos para criar combos, identificar “gaps”, que são bônus de se fazer manobras em locais específicos e passar por teleportadores secretos que te levam para outro ponto da pista instantaneamente. Tudo isso ainda aparece de maneira bem destacada no remake.
Conteúdo de sobra… à moda antiga!
Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 possui vários modos de jogo, tanto para jogar sozinho quanto em companhia real ou virtual. O multiplayer tem uma variedade decente de atividades, algumas já conhecidas na franquia, como competir pela maior pontuação até “grafite”, onde ganha quem toca mais objetos no mapa com combos mais valiosos e deixa sua marca.
A novidade mais marcante, certamente, é o modo HAWK. Aqui, os jogadores devem se revezar em rodadas de “esconder” e “procurar”. Nas primeiras, cada um esconde uma das letras no lugar que quiser no mapa, enquanto na segunda, devem procurar as dos oponentes. A parte de esconder é particularmente genial. É maravilhoso se esforçar para chegar em um ponto de difícil acesso de cada cenário onde você acha que ninguém nunca vai conseguir chegar, ou pensar num lugar bizarro que não vão sequer considerar. Essa modalidade aumenta ainda mais o estímulo de conhecer cada cenário nos mínimos detalhes.
Se competir não for a ideia no momento, também é possível andar livremente pelos mapas, sozinho ou acompanhado, apenas explorando ou treinando manobras.
De forma online, podem estar na mesma sessão até oito jogadores, com crossplay disponível para todas as plataformas, e o desempenho da conexão também é bem estável. Em resumo, tudo o que se espera de um competitivo atual de qualidade. Cada sessão cumprida em qualquer modo nos presenteia com dinheiro virtual, que pode ser gasto na loja para destravar novos personagens, roupas e customizações no skate.
Falando em customizar, outra marca da série está presente – a habilidade de criar nossos próprios skatistas e pistas. A criação de personagem é limitada, apesar do grande número de acessórios desbloqueáveis. São pouquíssimas características editáveis e é possível ter apenas quatro personagens originais ao mesmo tempo. Em comparação, até jogos menos bem recebidos da série nos davam mais para brincar neste sentido. Sempre vou sentir falta da capacidade de criar manobras.
Em contrapartida, a criação de pistas está extremamente robusta, sem dever nada para nenhuma outra encarnação desse modo de jogo pela franquia. Além de todo tipo de objeto e controle sobre a nivelação do solo, é possível criar objetivos específicos para serem cumpridos por quem jogar sua criação, que pode ser disponibilizada online.
A variedade de conteúdo tem um bom balanço entre o que já vem disponível e o que precisa ser desbloqueado. “Desbloqueado” aqui sendo a palavra-chave. É revigorante começar um jogo com conteúdo progressivamente disponível baseado no nosso desempenho e não fechado atrás de DLC ou microtransações.
Além da loja (para dinheiro virtual, lógico) , o título traz dezenas de desafios e recompensas que vão desde efeitos especiais para manobras até os clássicos vídeos reais que misturam manobras e quedas dos skatistas famosos que compõem o elenco.
Alguns objetivos são ligados a pistas e outros pessoais de cada personagem jogável, o que estimula os complecionistas de plantão a experimentar todos.
Crise de identidade
Como esperado, o modo de um jogador principal em Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 é o clássico “carreira”, que coloca todas as pistas dos dois jogos em sequência, com vários objetivos para completar e destravar o próximo cenário. As missões são clássicas, desde atingir pontuações altas até procurar as letras “SKATE” espalhadas pelo mapa e fitas escondidas em locais de difícil acesso.
Aqui, vemos uma primeira questão problemática, que deve desagradar fãs de THPS4. A jogabilidade da carreira é totalmente modelada a partir dos três primeiros jogos, preferindo o cronômetro de 2 minutos para cumprir desafios do que a ideia de exploração livre e missões vindas de NPCs espalhados pelo mapa. Isso acabou impactando diretamente a experiência das pistas do quarto jogo no remake, que foram reformuladas para atender esse modelo.
Agora, temos menos missões e limite de tempo para andar por cenários que foram originalmente pensados para exploração mais demorada. Além disso, para também se padronizar com as carreiras dos jogos iniciais, algumas pistas de THPS4 foram convertidas em “níveis de competição”, rompendo com os objetivos e fazendo alterações de design. O maior choque aqui é “Zoo”, que não tem nem animais nessa versão.
O menu de modificações permite, de fato, aumentar bastante a duração de cada sessão, e novas missões “pro” são liberadas quando cumprimos todas as iniciais, o que remedia, em alguma medida, algumas dessas questões. Mas a sensação de perder parte da experiência continua, aumentada ainda mais pela falta de músicas clássicas.
Muitas das lembranças de se jogar Tony Hawk estão diretamente ligadas à trilha sonora, com a maioria das músicas substituídas. Apenas 10 das mais de 50 que compunham as playlists dos dois jogos retornaram.
Obviamente, direito musical é um assunto complexo, que pode estar acima da alçada da desenvolvedora, e as faixas novas são genuinamente boas. Mas não dá para deixar de ressaltar a estranheza em perambular pelos corrimões de “College” sem ouvir TNT do AC/DC.
Infelizmente, se prender a uma forma de jogabilidade que, de fato, fez sucesso acaba por inibir outra fonte forte de nostalgia que também agradava. Ganha quem gosta mais do terceiro jogo, perde quem gosta mais do quarto. O certo, se tratando de um remake feito mais de 20 anos após os originais, era todo mundo ganhar.
Vale a pena comprar Tony Hawk ‘s Pro Skater 3 + 4?
Apesar de algumas questões incômodas, minha experiência, em geral, com Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 foi incrível. O jogo é capaz de agradar velhos e novos fãs, é divertidíssimo sozinho ou em grupo e resgata perfeitamente o que tornou a franquia apaixonante. Sem dúvida, é o que existe de definitivo para o quase extinto gênero do skate nos videogames. Se você já gostou desse tipo de jogo no passado, não precisa pensar duas vezes. Caso nunca tenha jogado, eu recomendo fortemente experimentar.
Tony Hawk ‘s Pro Skater 3 + 4 fez sua estreia no dia 11 de julho de 2025 e está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch 1, Nintendo Switch 2, Xbox One, Xbox Series X|S, PC, via Steam e Battle.net.
*Review feita em um PlayStation 5, com código fornecido pela Activision.
Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4
BRL 269,90
Prós
- Jogabilidade responsiva e divertidíssima, com todas as mecânicas clássicas.
- Grande variedade de personagens
- Ótimo desempenho em partidas online
- Muitos modos de jogo
Contras
- Perda de conteúdo e mudança de jogabilidade no modo carreira de THPS4
- Criação de personagens limitada
