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Until Dawn | Review

Until Dawn, lançado originalmente em 2015, foi um marco na evolução dos jogos de horror narrativo. Desenvolvido pela Supermassive Games, o título surpreendeu pela sua abordagem cinematográfica, oferecendo uma experiência interativa onde cada decisão influenciava o desfecho da história, marcando época e sendo considerado um dos melhores do gênero até hoje.

Quase uma década depois, a Sony e a Ballistic Moon nos entregam um remake para PlayStation 5 e PC, prometendo melhorias gráficas, novas cenas e uma gameplay aprimorada. Mas a grande pergunta é: alguém realmente pediu por esse remake? E pior, ele se justifica? A resposta eu trago agora, em mais uma análise do Pizza Fria!

Ninguém pediu, e o resultado não convence

Desde o anúncio de Until Dawn Remake, a reação dos jogadores foi, no mínimo, cética. A versão original PlayStation 4 envelheceu muito bem, mantendo seu status de cult e sendo uma experiência imersiva até nos dias atuais – a versão original, inclusive, recebeu um patch para rodar ainda melhor no PlayStation 5, mirando os 60 FPS. Então, qual é a justificativa para lançar uma nova versão de um jogo que já estava em boa forma?

A resposta, ao que tudo indica, foi um desejo de modernização técnica. Mas, ironicamente, essa tentativa de “modernizar” o jogo resultou em problemas que não existiam no original. Para começar, Until Dawn Remake está travado em 30 FPS no PS5, enquanto a versão original para PS4 rodava a 60 FPS. Um passo para trás assim beira o inacreditável. Não há uma opção de alternar entre modos de desempenho e qualidade — algo que já se tornou padrão na maioria dos títulos lançados para a nova geração — deixando o remake travado em uma taxa de quadros que, embora não prejudique a experiência de jogo, me deixou realmente sem entender as razões.

Until Dawn
De volta ao chalé na Montanha Blackwood (Imagem: Divulgação)

Um visual que não compensa

Uma das grandes promessas desse remake era o aprimoramento gráfico, e de fato, há uma clara melhoria nas texturas e animações faciais dos personagens, algo que a Unreal Engine 5 faz muito bem. No entanto, esses aprimoramentos visuais vêm com um preço que muitos fãs do original não estavam dispostos a pagar: a perda da atmosfera assombrosa que definia Until Dawn.

A versão original do título, com seu tom sombrio e filtros de luz azulados, transmitia uma sensação de tensão contínua, como se o perigo estivesse sempre à espreita. Infelizmente, no remake, essa paleta de cores foi completamente abandonada. Agora, temos um visual mais “realista”, mas que falha em capturar o mesmo clima de terror. A iluminação mais clara e natural tira a sensação de isolamento e claustrofobia que o tom azulado proporcionava, removendo uma parte fundamental do design atmosférico do game.

Until Dawn
O filtro que ninguém pediu (Imagem: Divulgação)

A escolha de remover esse filtro parece uma tentativa de destacar ainda mais os detalhes dos personagens e dos ambientes, mas o resultado é um jogo visualmente bonito que, paradoxalmente, perde muito de seu impacto emocional. E, considerando que Until Dawn é um game focado no horror, isso é um grande retrocesso.

Além disso, as quedas de FPS são constantes, especialmente em cenas mais intensas. Isso torna o gameplay não só menos fluido, mas também frustrante, já que a imersão em momentos-chave se perde devido a esses problemas de desempenho.

Until Dawn
Momentos de tensão (Imagem: Divulgação)

Câmera nova, problemas velhos

Outra mudança significativa no remake é a troca da câmera fixa por uma perspectiva em terceira pessoa, sobre o ombro, que é uma tentativa clara de modernizar o gameplay. No papel, essa mudança faz sentido — afinal, títulos modernos como Resident Evil 2 Remake e The Last of Us utilizam esse estilo de câmera com grande sucesso.

No entanto, em Until Dawn, essa mudança parece mal implementada. A movimentação dos personagens continua lenta e isso é bastante frustrante em um jogo que depende de momentos de tensão e urgência. E o que agrava tudo isso? A falta de uma simples corrida para os personagens. Mesmo com toda a tentativa de modernização, os personagens ainda se movem em um ritmo lento durante a exploração, o que torna a experiência cansativa. Em 2024, com o poder do PS5, esperava-se um ritmo muito mais ágil e responsivo, mas Until Dawn Remake falha em proporcionar isso.

Until Dawn
A problemática mudança de câmera (Imagem: Divulgação)

A história continua boa, mas é o suficiente?

Apesar dos problemas técnicos e das decisões duvidosas no design, a história de Until Dawn continua sendo seu ponto mais forte. O enredo, inspirado em filmes dos anos 80, ainda oferece aquela dose certa de drama adolescente misturado com horror, e o sistema de escolhas, conhecido como efeito borboleta, permanece tão impactante quanto antes.

Para quem não conhece o enredo, Until Dawn segue um grupo de amigos que, após um trágico acidente, decide retornar à cabana nas montanhas onde tudo começou, apenas para descobrir que há algo sombrio os perseguindo. A grande sacada do jogo é a capacidade de decidir o destino de cada personagem, com múltiplos finais possíveis dependendo das escolhas feitas ao longo do game. É possível deixar todo o grupo vivo ou morto, ou mesmo escolher o destino de alguns personagens, de acordo com suas escolhas;

Until Dawn
A história e o plot de Until Dawn são excelentes (Imagem: Divulgação)

A nova versão traz algumas novidades, como cenas extras e um final inédito, que deixam margem para uma possível sequência. No entanto, essas adições são pequenas e não alteram significativamente a experiência como um todo. Apesar dos diálogos adicionais e os novos colecionáveis serem interessantes, eles também não justificam os R$ 299,90 cobrados no remake, especialmente considerando o fato de que o original, de quase 10 anos, ainda entrega tudo isso de forma satisfatória.

Um áudio problemático

Outro aspecto que sofreu mudanças no remake foi a trilha sonora, e, infelizmente, não foi para melhor. O trabalho original contribuía imensamente para a atmosfera tensa e sombria de Until Dawn, e acabou substituído por uma trilha sonora mais moderna. Embora as novas músicas não sejam ruins, elas simplesmente não se encaixam no tom do game da mesma maneira que a original. A música contribui muito para a imersão em um título de horror, e aqui, a nova trilha sonora tira parte do peso emocional das cenas, transformando o que deveria ser um momento de pavor em algo bem menos memorável.

Until Dawn
Dr. Hill está de volta pronto para analisar suas escolhas (Imagem: Divulgação)

Além disso, a dublagem em português, embora competente, sofre com problemas de sincronia labial. É frustrante ver um personagem abrindo a boca e as falas saírem completamente fora de tempo, especialmente em um jogo tão dependente de suas cutscenes e diálogos para contar a história. Essas falhas técnicas, combinadas com os já mencionados problemas de FPS, resultam em uma experiência que deixa a desejar.

Acessibilidade aprimorada e uso do DualSense

Uma das grandes melhorias presentes no Until Dawn Remake é o conjunto de opções de acessibilidade. O game agora permite que os jogadores ajustem a dificuldade de eventos de QTE (Quick Time Events), além de oferecer a opção de auto-conclusão das seções de “não se mexa”, que eram bem desafiadoras no original. Há também um leitor de tela para menus, fonte adaptada para dislexia, além de controles ajustáveis para visibilidade e contraste das legendas. Esses aprimoramentos tornam o título muito mais acessível para diferentes tipos de jogadores, especialmente aqueles que enfrentam dificuldades motoras ou visuais.

Until Dawn
Agora é possível pular momentos de tensão extrema (Imagem: Divulgação)

Outro ponto que merece destaque é o uso do DualSense no PlayStation 5. A Ballistic Moon aproveitou bem as funcionalidades do controle, utilizando o feedback tátil e os gatilhos adaptáveis para aumentar a imersão. Durante as escolhas cruciais, por exemplo, os gatilhos podem oferecer resistência, acrescentando peso às decisões. Já o feedback tátil reflete cada movimento do personagem, fazendo o jogador sentir os ambientes em suas mãos. Até a luz do controle muda de cor de acordo com o personagem, um detalhe que, embora simples, adiciona um toque de imersão.

Vale a pena comprar o remake de Until Dawn?

Então, chegamos à pergunta mais importante: Until Dawn Remake vale o seu dinheiro? Para quem já experimentou a versão original de 2015, a resposta é um retumbante “não”! Apesar das melhorias visuais e das adições narrativas, o remake falha em justificar sua existência, especialmente quando o título original ainda é perfeitamente jogável e, em muitos aspectos, superior.

Com bugs constantes, taxa de quadros instável, mudanças inexplicáveis na atmosfera e uma trilha sonora inferior, o remake parece mais um retrocesso do que uma evolução. Mesmo as novas cenas e um final inédito não fazem o suficiente para transformar Until Dawn em uma experiência melhor ou mais atraente do que já era há quase uma década.

Para quem nunca jogou o original, Until Dawn Remake pode oferecer uma experiência interessante, mas mesmo assim, seria melhor considerar jogar a versão original, que roda de forma mais fluida e oferece a mesma história sem os problemas técnicos – e ainda é mais barato no ecossistema PlayStation, estando, inclusive, disponível sem custos adicionais para assinantes PlayStation Plus Extra.

Com tantas opções melhores disponíveis para PlayStation 5 e PC, fica difícil recomendar Until Dawn Remake a qualquer pessoa que já tenha jogado o original. É um título que não precisava de um remake, e, francamente, não deveria ter recebido um.

Until Dawn Remake, lançado originalmente em 2015 para PlayStation 4, chegou no dia 4 de outubro, para PlayStation 5 e PC, via Nuuvem.

*Review realizada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Sony.

Until Dawn

BRL 299,90
6.4

HIstória

8.5/10

Gráficos e Sons

6.5/10

Gameplay

5.5/10

Extras

5.0/10

Prós

  • História envolvente
  • Melhorias nas texturas e animações faciais
  • Uso do DualSense
  • Cenas e final inéditos

Contras

  • Travado a 30 FPS no PS5
  • Remoção do filtro de luz original
  • Movimentação lenta
  • Trilha sonora inferior

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.