Victoria 3 | Review
Victoria 3 é o jogo de estratégia mais difícil que já joguei em minha vida gamer. O título da Paradox Development Studio traz com muita (mas muita mesmo) profundidade o período entre 1836 a 1936, abordando as principais modificações do mundo do século XIX para o século XX. A ideia central do game, disponível para PC, via Steam, é a de nos colocar na liderança de diversos povos e nações do mundo, em um período complexo e cheio de nuances, riscos e questões. Ironicamente, decidi seguir os passos do Brasil do período, adentrando em uma longa campanha para transformar o território do século XIX no que conhecemos na atualidade.
Confira todos os detalhes deste jogo extremamente profundo e difícil em mais uma review do Pizza Fria!
Bem-vindo ao mundo da virada do século XIX para o XX
Victoria 3, como dito acima, é um jogo que se passa entre 1836 a 1936, trazendo consigo a consolidação de novas nações e a destruição de tantas outras. Como líder de uma variedade de povos, você poderá escolher diferentes caminhos e possibilidades, tendo a sua dificuldade cada vez maior ao escolher povos menores. De qualquer forma, como um novo líder, você poderá escolher uma série de coisas, como tornar sua nação agrária ou industrial, tradicional ou radical, pacifista ou expansionista. Tudo está em nossas mãos – inclusive o rumo da história do jogo.
Um aspecto interessante de Victoria 3 é o cuidado em recriar questões de povos e localidades do mundo todo. No meu caso, me furtei a jogar com nações da América do Sul, tentando uma campanha com o Chile e depois com o Brasil, que é meu objeto de estudo desde 2014. Desta forma, é possível perceber que, mesmo pra um jogo, diversos aspectos foram recriados da melhor maneira possível. É claro, não há como cobrar 100% de precisão histórica e tudo mais, mas a equipe de Victoria 3 fez um bom trabalho por aqui, com os nomes das regiões, figuras importantes e outros aspectos sendo levados em consideração.
Na história do Brasil, sabe-se que o Império prezava muito pela tradição como forma de manter o Estado nacional unido. No entanto, podemos mudar as necessidades econômicas e políticas do país, mas tudo tem seu preço. No caso do Brasil, me foi apresentada a proibição da entrada de negros em estabelecimentos na região Sul, que anexei durante o evento que foi chamado de “Revolução Farroupilha”, ocorrido logo que comecei a partida. Desta forma, permiti a entrada e mudei boa parte da política da região, causando instabilidade. Mas esse é o preço que se paga pela revolução…
Em outros momentos, busquei transformar o enorme território do Brasil, que já tinha anexado a região Sul toda e o Estado do Grão-Pará, em algo além do que conhecemos contemporaneamente, fortalecendo a indústria e o levando para além da questão da agricultura. Isso é possível através de construções e da pesquisa de novas tecnologias, apresentadas em três ramificações: Produção, Militares e Sociedade. Em cada uma delas, podemos melhorar a situação do território controlado. Mas tem muito mais em jogo…
Cultura, militares, diplomacia… Há tanto para se dominar!
Há tanta coisa para resolver em Victoria 3! Rotas comerciais, suas importações e exportações, todo o caos dos conflitos nas fronteiras, diplomacia com diversas nações do mundo… É realmente uma miríade de coisas e, por isso, o game pode não ser lá tão divertido para boa parte do público que está habituado com um maior dinamismo observado em outros jogos. Assim, se torna bastante nichado, o que não é necessariamente um problema. Muito pelo contrário, pode cativar ainda mais os fãs de estratégia pesada. Particularmente, tomo um pau para aprender todos os aspectos, mas pelo menos tento ir pela lógica das coisas e pelos pequenos tutoriais.
Victoria 3 tem menus bem explicados, é verdade. Isso ajuda demais no entendimento das ações que devem ser tomadas. Problemas em rotas, improdutividade, etc., tudo pode ser ajeitado, mas requer paciência, pois mesmo com tudo detalhado, ainda assim a experiência não é nada fácil. Requer paciência, tempo, leitura das próprias explicações que o jogo propõe e… ver no que descambam as ações tomadas. É, tem coisa que a gente só aprende fazendo mesmo e, no caso de Victoria 3, mesmo sendo em boa parte um jogo intuitivo, precisamos botar a cara a tapa e, sei lá, apertar algum botão só pra ver o que poderá acontecer. Afinal de contas, é errando que se aprende!
Sistema econômico profundo e um mundo inteiro para se explorar
Victoria 3 é um daqueles títulos em que precisamos controlar uma série de fatores, mas a economia é um dos que mais se destaca. Expandir a indústria e o comércio são pontos essenciais para ter sucesso e, assim, conseguir expandir. É possível vender mercadorias lucrativas, conseguir taxar lucros e reinvestir todo o dinheiro na nação. Não só isso, podemos também importar matérias-primas básicas para sanarem necessidades básicas do mercado e do povo. E tudo isso pode ser negociado! Neste aspecto, o jogo é bem complexo e requer um bocado de paciência. São muitos detalhezinhos! Imagine controlar uma Grã-Bretanha do século XIX colocando terror no mundo todo!?
Outra coisa bacana é que Victoria 3 pensa muito no aspecto diplomático. Assim que comecei minha partida com o Brasil, logo tentei recuperar um território do Mato Grosso do Sul, que estava sob o controle dos paraguaios. Porém, eles logo se aliaram aos ingleses e, pra minha tristeza, fui derrotado, perdendo ainda mais partes importantes. Porém, podemos fazer o mesmo, criando pactos, alianças e outras relações (nem sempre tão amistosas) com outras variadas nações. Tudo isso tem papel importante nas ações que tomamos, sobretudo em tempos de guerra.
O jogo político de Victoria 3 é forte e muito interessante. No entanto, assim como todas as ações que tomamos, sobretudo depois de dominar os conceitos básicos do game, nossos movimentos devem ser previamente pensados. Ao enganar os rivais ou em simplesmente atacar com toda a força possível, tudo é questão de estratégia e, diferentemente de jogos 4X ou RTS, Victoria 3 é bem mais imprevisível, mesmo com menus mostrando o que está acontecendo. Portanto, o que posso dizer da jogabilidade de Victoria 3 é que estamos diante de um War (jogo de tabuleiro) cheio de novidades em que podemos (ou não) expandir nossa nação. Mas a tarefa não será nada fácil…
Vale a pena comprar Victoria 3?
Victoria 3 é um jogo bonito, sobretudo se analisarmos sua preocupação em recriar um cenário histórico em escala global. Este é o aspecto mais brilhante do game, juntamente com sua jogabilidade robusta e desafiadora. Contudo, este mesmo aspecto pode afastar muitos dos jogadores, pois exige muito tempo para gestão de milhares de coisas ao mesmo tempo. Não chega perto das tarefas que um líder deve assumir na vida real, mas já dá pra sentir um pouquinho da sensação caótica que é viver em um dos períodos em que a geopolítica global mais sofreu modificações. Aliás, não só a questão espacial, mas a questão histórica desta época é muito forte, algo bem recriado em Victoria 3.
Porém, ainda me sinto agarrado para citar as questões de jogabilidade, justamente para alertar ao leitor ou leitora que Victoria 3 não é um RTS ou um jogo de estratégia 4X. É algo muito além, em que alguns fatores são menos controláveis que os outros, algo que também pode afastar alguns jogadores. Todavia, quem conseguir dominar as mecânicas e tantos outros detalhes de Victoria 3, verá uma beleza em poder mudar todo o mundo deste período através de um grande (e difícil) jogo.
Portanto, para concluir, Victoria 3 é mais que um jogo; é um desafio. Sendo assim, se você quiser desbravar o “longo século XIX”, esse jogo é a melhor coisa que apareceu nos últimos tempos, sobretudo por estar localizado para o português. Agora, se você quer mais ação e menos gestão, sugiro procurar outro título. Talvez Humankind ou Civilization V.
*Review elaborado em um PC equipado com uma Geforce RTX, com código fornecido pela Paradox.