Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl | Review
Por que você joga Pokémon?
Parece que, passados 28 anos, fica fácil apontar as falhas e as defasagens naquela que é a maior franquia do mundo enquanto nós queremos a experiência definitiva.
Jogadores veteranos querem, imploram, gritam na internet sempre por uma nova jornada, com novas emoções, mas que reviva exatamente o mesmíssimo sentimento de quem escolheu um inicial das mãos do Professor Carvalho.
Inevitavelmente a série principal acaba nessa espécie de limbo – cada iteração é recebida sem grandes revoluções, criticada antes e depois do lançamento, ,mas acaba vendendo milhões de cópias e de merchandising.
Por que jogo Pokémon?
Tenho hoje a tarefa de escrever esta análise de Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl. Entre terminar o jogo e escrever, vivo um tipo de crise pessoal sobre como devo comunicar minhas impressões de um jogo. Tenho uma fila de análises pendentes por causa disso.
Por ironia, meus primeiros passos na escrita de análises foi justo de Pokémon Diamond e de Pokémon Pearl, jogos que originaram as atuais. Isso foi lá pelos idos de 2007, para o finado site NGMOnline, um fórum do acrônimo “Nós, gamers, merecemos”, numa época que a palavra gamer não estava em crise semântica e identitária. Fui até ao site Internet Machine para encontrá-la, relê-la e traçar paralelos com hoje. Oh, boy!
Esse primeiro ensaio foi bem cartesiano, falando de gráficos, jogabilidade, história. Atualmente fico pensando se faz sentido mergulhar em assuntos muito técnicos, às vezes incompreensíveis para novatos na área, ou se devo falar da sensação boa (ou ruim) que tive enquanto jogava.
Pra você não se perder, confesso que a vida adulta me impõe a segunda opção. Como alguém que joga Pokémon desde Red, Brilliant Diamond e Shining Pearl trouxeram uma rara sensação de nostalgia, como se me aventurasse por Kanto ou Johto pela primeira vez. Caso você nunca tenha jogado Pokémon na vida, esta é a melhor descrição que posso oferecer:
E eu vou explicar! Deixe-me costurar um último ponto; uma espécie de fundamentação. Já, já tudo fará sentido.
Por falar em crise, Pokémon também vive sua crise pessoal. Mais além de nossas críticas e da recusa em evoluir (hihihi 🥲), a ILCA foi a desenvolvedora desta releitura de Sinnoh. Logo, esta é primeira aventura da série principal, seja inédita, seja remake, sem as mãos diretas da Game Freak. (Ei, são mais de 28 anos!)
Bom, você já teve seu tempo pra pensar numa resposta para a pergunta que fiz lá no começo.
Por que você joga Pokémon? Como você joga Pokémon?
Hoje, já não tenho certeza. Comecei jogando Pokémon Red com meu irmão, que jogava Pokémon Blue, lado a lado. Meses depois, ainda conheceríamos e formaríamos um grupo de melhores amigos tudo por buscar mais trocas e batalhas de Pokémon.
Eu joguei Pokémon porque a aventura me entretinha de forma descomunal. E aí apareceu o componente do multijogador que, além de me ajudar a colecionar todos os monstrinhos, instigava a criação constante de times e de estratégias.
Caso você não se lembre, caminhar era lento e andar de bicicleta era… Bem, menos lento. Mesmo quando comparado com jogos similares no próprio Game Boy, tal qual The Legend of Zelda: Link’s Awakening. A perspectiva aérea, o refinamento do mapa, a animação dos personagens era melhor, tanto que o jogo envelheceu melhor.
Isso tudo numa época em que internet era uma coisa incipiente e privilegiada. Os jogos não tiravam proveito dela ainda. Uma vez que o Nintendo DS tinha WiFi, tanto para conexão local quanto global, Pokémon Diamond e Pokémon Pearl foram os primeiros Pokémon com a tecnologia que eventualmente banalizaria a interatividade face a face. Uma de muitas mudanças na quarta geração.
A fórmula começou a ficar (ainda mais) complexa, pois golpes passaram ter tipos também. Fazem contato? São especiais? Afetam mais de um adversário?
Continuei jogando, geração a geração, da história ao pós-jogo. Completando e recompletando a Pokédex. Nesse meio tempo, os remakes de gerações passadas viraram uma certa tradição, jogos antigos refeitos com a base dos jogos novos.
Eu gostava do todo, até do metajogo, principalmente em Pokémon Y e Pokémon Alpha Sapphire.
E para não me alargar mais, meu irmão e eu compramos nossos Switches (o plural é Switches, né?) com o lançamento de Pokémon Sword e Pokémon Shield. E… Oh, boy! Foi um momento de ruptura pra mim, não para abandonar, mas para entender o que espero de Pokémon. Corta para o presente: esta é a análise de Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl!
Quebrando paradigmas ao dar um passo atrás
Como disse, Pokémon costumeiramente fez ajustes e adicionou pequenas mecânicas geração a geração.
Algumas mudanças são pontuais e vieram pra ficar – como os Effort Points, breeding elaborado, os tipos de golpes, as novas espécies e bichinhos shinies; outras, bugigangas estranhas que afetam batalhas ou as atividades no jogo– como Mega Evoluções, Dynamax, os concursos de beleza, Pokémon Amie e acampamento.
Eu sei que, dependendo da sua resposta, você pode gostar mais de algumas e menos de outras. Tudo certo! A forma como listei as novidades reflete um pouco o quanto gosto delas e, na minha opinião, a segunda categoria, essa de apetrechos desnecessários, sempre ganha mais publicidade do que deveria.
Prometeu-se um mundo expansível para Galar, você lembra? Parecia uma revolução até para a forma como conhecemos as expansões nos videogames.
Daí, no aniversário de 25 anos de Pokémon, em plena sexta-feira, o Pokémon Presents revela os remakes da quarta geração, Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl.
A recepção não foi das melhores. A reinterpretação da quarta geração, com mecânicas e visuais atualizados, não veio como a maioria imaginava.
Acho que fui uma das poucas pessoas felizes com a ideia de poder jogar um remake mais atrelado às proporções da experiência original. Concessões aconteceriam– e aconteceram!
Assim como em Diamond e Pearl, os personagens têm visuais fofinhos, deixando de lado os corpos alargados de anime. A vista aérea (de cima para baixo, top-down) também voltou, e os Pokémon não perambulam mais por aí. Isso significa que todas as batalhas voltaram a ser encontros aleatórios. Ora, ora. Onde está o problema?
Ah! Vale a pena lembrar que as espécies são as mesmas 493 inclusas nos primeiros jogos de Nintendo DS. Nenhum novo Pokémon descoberto depois. Pokédex incompleta? Superei essa história na oitava geração. Há suficientes espécies diferentes para curtir Sinnoh.
Mas Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl vai além de uma transposição e traz características tanto da versão aprimorada de sua geração (Platinum) quanto das gerações seguintes.
Todos os jogos desde Platinum, por exemplo, revivem os monstrinhos de eventos ao superar a Liga Pokémon, tornando impossível perder aquele lendário para sempre. Mais: a Pokedéx tem registros em todos os idiomas, o jogador pode comprar 10 jarras de mel de uma única vez e existem as formas alternativas para Rotom, Giratina e Shaymin.
O tipo Fairy não existia nessa época, e os Pokémon que o receberam retroativamente seguem sendo Fada. Steel perdeu a resistência para Ghost e Dark. Esses fundamentos modernos foram mantidos.
Eu gosto muito das Critical Captures, aquelas em que a pokébola faz somente uma checagem em vez de balançar três vezes, e elas estão presentes. É um detalhe bobo, eu sei, mas um desses detalhes que deixa o jogo mais gostoso graças à mera sensação de ter a sorte do seu lado.
Hidden abilities, Hyper Training, Shiny e Catch Charms, os bônus de afeto durante batalhas por alta amizade, ver a eficácia do golpe em relação ao adversário… tudo isso já está instituído a esta altura para facilitar nossas vidas de treinador.
Assim como nos segundos remakes da primeira geração – isso mesmo, tivemos dois remakes da primeira geração, composta por Red & Blue –, Let’s Go, um monstrinho de bolso anda ao lado do treinador. Deixando o deboche das mídias sociais de lado, a firula visual não acrescenta nada prático, mas é bem divertida, já que toda espécie tem um jeito peculiar de andar e te aproxima das criaturas, te lembrando constantemente que são elas a razão de nos encantarmos com esse universo.
Contudo, outras alterações são mais notáveis. Em Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl, jogadores têm a opção de usar o salvamento automático. Sem sofrimento! O poder da escolha nos permite moldar o jogo ao nosso bel-prazer. O que não escolhemos é o uso do Exp. Share, cuja função é distribuir a experiência com todos os seis monstrinhos do time, participem eles da batalha ou não.
Na minha jornada, feita com um conjunto próprio de regras para o Desafio Nuzlocke que tenho combinado com meu irmão, a impossibilidade de desligar o item afetou em muito pouco (para não dizer em nada).
Aliás, revisitar Sinnoh me fez perceber o quanto a Game Freak tornou Pokémon mais fácil e acessível com o tempo – como veterano, digo que a dificuldade foi ideal e que o Exp. Share foi fundamental para evitar desequilíbrio de níveis. Para novatos, a ferramenta deve estimular a experimentação com novas espécies encontradas pelo caminho em vez engessar o time.
Vale ressaltar que os controles e a movimentação foram levemente atualizados – não andamos quadrado a quadrado, numa grade. Se movimentado pelo analógico, o personagem é livre para girar 360º e para dar passos a qualquer distância. A diferença é ínfima, mas mais atrapalha do que ajuda, especialmente com a bicicleta e para navegar corredores estreitos.
Entre melhorias, o reinventado sistema de HM (iniciantes, digamos que são habilidades que permitem explorar mais do mundo ao remover obstáculos, incluindo cortar árvores, surfar e voar) libera um espaço no time, pois criaturas depositadas podem usá-las quando for necessário. Geração Netflix, HM on demand!
Outro aspecto que acho extremamente importante, já foi mais completo em Pokémon e deveria melhorar: personalização. As opções disponíveis são irrisórias, pois os dois protagonistas são Lucas e Dawn e cada um tem quatro tons de pele. Além disso, a Metronome Style Shop substitui o antigo cassino Veilstone Game Corner trazendo roupas para mudar a aparência.
O Copperajah Gigantamax na sala
A obrigatoriedade do Exp. Share favorece o ritmo. Entretanto, o divisor de águas é a direção de arte escolhida – do início ao fim e no pós-jogo.
Visualmente, os jogos não são os mais bonitos do mercado. Não são os mais bonitos do Switch. Não são nem mesmos os jogos Pokémon mais bonitos do Switch.
Assim como comparei Pokémon e The Legend of Zelda no Game Boy, a comparação no Switch (outra ironia do destino) é possível: o remake de Link’s Awakening é um esculacho de polidez quando comparamos com o mundão (overworld) feito em Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl. Um é incrivelmente lindo; o outro, o protocolar arroz com feijão.
Mas sei lá. Um prato de arroz e feijão feito no capricho é bom pra caramba. No geral, a arte é consistente, salvo a estranheza causada pela mudança entre estilos chibi e anime dos treinadores entre o mundo e o campo de batalha, respectivamente.
A animação das criaturas e dos golpes nas batalhas é, como de costume, o ponto de interesse mais comum, afinal, é aí que boa parte da emoção acontece. Na minha cabeça, agora se misturam várias coisas das quais falei: a sensação de ser transportado para outro mundo, sabe?
Pois saiba que Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl te levará a esse mundo, um lugar pelo qual você viaja tentando encontrar um Pokémon e com seu poder tudo transformar.
Uma visita a Sinnoh antes de voltar no tempo com Pokémon Legends: Arceus
Eu atrasei esta análise tanto que Pokémon Legends: Arceus foi lançado. Acabei forçando e rejogando Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl enquanto começava Arceus.
Você já deve ter entendido que a estrutura geral é a mesma e que eu gostei de revisitar o jogo nessa estrutura quase inalterada – um garoto viajando de cidade em cidade na busca por insígnias.
A crítica que eu tinha às versões do Nintendo DS e não sabia externalizar era que ali, em Diamond e Pearl, Pokémon começou a levar a própria trama a sério demais (spoiler alert: essa crítica se aplica a Legends: Arceus).
A quantidade de texto ainda não era (é?) obscena como em Sword e Shield ou em Sun e Moon. Ainda assim, tudo gira ao redor dos mestres do tempo e do espaço, da criação e de um time que quer dominar a galáxia. A premissa de um garoto de 10 anos partindo de encontro ao desconhecido com sua mascote estava quase esquecida.
Voltamos à pergunta do começo: jogadores querendo uma história entretida ou revolucionária em Pokémon talvez devam reconsiderar.
Quando comparado com os originais, a maior mudança é o Grand Underground, uma ampliação dos túneis subterrâneos para o modo multijogador. Treinadores têm a chance de explorar as cavernas imensas sozinhos, mas é com atividades em grupo que a funcionalidade brilha. Aumentem chances de encontrar os cobiçados shinies (espécimes raros com cores diferentes) e garimpem fósseis e pedras evolutivas raras.
Além disso, todo o subterrâneo do continente tem biomas com bichos andando livremente, adicionando Pokémon da Platinum. Dependendo do seu estilo de jogo, abusar do Grand Underground no começo pode desbancar aquilo que falei mais cedo sobre o Exp. Share. (E, sim, não disse antes, mas Nuzlocke é uma forma artificial de manipular a dificuldade. Não acredito que seja uma falha da franquia – acredito que seja fruto inevitável de ser veterano de uma franquia que mudou paulatinamente.)
Vale a pena jogar Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl?
Depende… Por que você joga Pokémon? Por que jogava e por que quer jogar? Algo nestes remakes colocaram lentes de nostalgia para as duas primeiras gerações, algo que nem faz tanto sentido, pois joguei Diamond quando já estava na faculdade, longe do contexto social que me motivava.
A vida do meta-jogo é curta, para não dizer inexistente – as maravilhas de Platinum não estão aqui e, Pokémon Sword e Shield, apesar dos pesares, segue como principal campo de batalha entre treinadores. A jornada durará de acordo com o estilo do jogador, abrindo um intervalo enorme entre 15 e 40 horas.
Mas existe algo, uma sensação de que jogava uma espécie de jogo em extinção, esses jogos pocket de uma era esquecida. O ritmo, os visuais, a inconsistência entre as mecânicas antigas e o transplante das modernas… Nada parece combinar por completo e ainda assim tive uma experiência surpreendente.
Joguei sozinho, sem interagir com irmão e amigos como era antes; joguei no avião, no carro, na TV, e Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl roda igualmente bem; descobri que jogo Pokémon para não esquentar a cabeça com táticas ou com treinar counters para a batalhas na próxima semana, mas para ter uma aventura leve e colecionar espécies, para descobrir onde encontrá-las.
Eu acredito que jogo Pokémon para reviver aquela sensação do trechinho de Ratatouille, e os remakes, meio que anacronicamente, me proporcionaram isso. Se você for das antigas e acredita nessa visão, jogue os remakes.
*Review elaborada com código fornecido pela Nintendo.
Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl
R$ 299,00Prós
- Nostalgia forte
- Melhorias modernas
- Grand Underground é divertido!
- Leveza da aventura principal e do tom
- Consistência visual
Contras
- Falta de inovação, especialmente quando olhamos para remakes anteriores
- Exp. Share obrigatório
- Escolhas artísticas controversas para o Switch
- Personalização limitada
- Metajogo natimorto