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Decarnation | Review

Decarnation é um jogo de terror atmosférico pixelizado, com um gameplay focado em minigames, desenvolvido pela Atelier QDB e publicado pela Shiro Unlimited junto da East2West Games(Greater China). O título nos coloca no controle de Gloria, uma dançarina que se encontra em situações que a fazem questionar se o que está vivendo é real, sonho, ou uma mistura bizarra dos dois.

E aí, será que ele vale nosso tão sonhado dinheirinho? É o que veremos agora, em mais uma análise do Pizza Fria.

Pesadelos, pesadelos

Olá, leitores e leitoras! Como vão vocês? E, mais importante, como conseguiram entrar em minha casa novamente? Será que encontraram a chave que escondo embaixo da pedra falsa? Ora, não importa. Aproveitando que chegaram, vamos falar um pouco sobre o assunto em comum que nos une: videojogos. Mais especificamente, uma belezinha chamada Decarnation.

Antes de tudo, fiquem confortáveis. Podem se sentar ao lado do elefante rosa no sofá, ele não morde. E tenho quase certeza que é real. Vejam bem, tenho dormido muito pouco recentemente, e a falta de sono somada ao consumo cavalar de açúcar tem me feito alucinar intensamente. Partindo do pressuposto que Decarnation não seja produto de minha mente avariada, posso dizer que ele foi uma das experiências mais singulares que tive em tempos recentes.

Inspirado por obras como Perfect Blue, de Satoshi Kon (filme pesado, de fato, porém facilmente recomendável) e Cidade dos Sonhos, de David Lynch, o título promete entregar uma experiência surreal para ninguém colocar defeito. Não podemos esquecer, ainda, da participação de Akira Yamaoka, o renomado compositor de uma série de jogos mágicos e felizes chamada Silent Hill. Que time, não é mesmo?

Decarnation
Que onda. (Imagem: Divulgação)

Decarnation conta a história de Gloria, Glo-Glo para os mais íntimos, uma mulher que se encontra em um momento muito delicado da vida. Daqueles que todos nós, invariavelmente, iremos passar. Problemas com a namorada, uma carreira estagnada, cobranças familiares e uma zona de conforto da qual se torna cada vez mais difícil escapar. Nem o clima parisiense de 1990, vulgo melhor década, é suficiente para dar um pouco de brilho para a vida de nossa dançarina favorita.

Eis que, então, surge um benfeitor misterioso com uma proposta irrecusável. Promessas de mundos e fundos, sucesso e fama. Tudo que Glo-Glo precisa e, talvez, o empurrão necessário para que ela quebre a barreira e coloque a vida de volta nos trilhos. Mas, será que isso é tão bom quanto parece? Ou é algo mais, ofertado por pessoas com segundas e terceiras intenções? Afinal, como diziam os antigos, quando a esmola é muita o santo deve desconfiar.

Estou deixando, de propósito, muitos pontos soltos para aguçar a curiosidade de vocês. Decarnation possui uma trama singular, muito bem pensada e contada, que nos prende da primeira linha de texto até a última. Seja pelas representações surreais do psicológico de Gloria, seja por seus medos que todo adulto já teve alguma vez na vida, motivos não faltam para apreciar a jornada (desagradável) de nossa heroína com toda atenção do mundo. Posso dizer, tranquilo, que em se tratando de plot, Decarnation é uma das melhores ofertas do ano até o momento.

Decarnation
Simbolismos, caras. (Imagem: Divulgação)

Decarnation oferece dois tipos de jogabilidade, a grosso modo. No primeiro, andamos por cenários explorando e observando tanto o desenrolar da história quanto as manifestações da mente traumatizada de Gloria. Além disso, também podemos jogar uma série de minigames que se encaixam muito bem com o momento específico no qual são inseridos.

Por exemplo, se Glo-Glo estiver se apresentando em seu trabalho de dançarina, temos um minigame ritmico de apertar botões de acordo com as batidas da música. Em outro, precisamos brincar de pique-esconde com uma criança. Em outros, gritar para espantar monstros ou resolver puzzles criativos, ainda que simples.

Todos eles possuem um sentido dentro do momento que a protagonista passa, seja ele real ou em sonhos, e um mesmo minigame passa por diversas iterações ao longo da jornada. Assim como Gloria evolui e se fortalece, eles também se adaptam ao se tornam mais fáceis ou difíceis, de acordo com o momento. Além disso, todos são bem feitos, e não me senti frustrado com nenhum deles.

Um único ponto negativo, talvez, é que achei que alguns momentos mais densos da trama seriam melhores sem a adição de minigames, apenas pelo fato de eles quebrarem, em certa medida, a tensão do momento. Contudo, não foi nada que estragasse a experiência e, sendo sincero, foi a única coisa que consegui pensar para reclamar nessa seção. Que absurdo.

Decarnation
Alguns minigames se integram bem com a história e a mente da Glo-Glo. (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais

Decarnation entrega visuais pixelizados ma-ra-vi-lho-sos, com personalidade e impacto suficiente para representar o peso de sua trama. Sério, não é um trabalho fácil expressar determinados sentimentos, ou criar atmosferas, apenas com esse visual. Alguns jogos tiram de letra, como Darkest Dungeon 2, mas não é um feito tão simples quanto parece. Por exemplo, todo segmento que se passa nos sonhos ou alucinações da Gloria é um deleite, seja pela beleza do que vemos ou do cuidado na representação de seus simbolismos.

Eu poderia apenas citar Akira Yamaoka, deixar o microfone cair no chão e meter um 10 no departamento audiovisual. De fato, as trilhas compostas pelo maestro da cidade enevoada são chiquérrimas, mas Decarnation oferece muito mais. Também temos músicas com vocais, cortesia da banda Fleur & Bleue. Não acreditam em mim? Pois ouçam agora e me digam se não é um mimo.

Vale a pena comprar Decarnation?

Bem, leitores, leitoras e seres antropomórficos que dançam no teto, é chegada a hora de darmos o veredito de Decarnation para que eu possa dormir e descobrir se tudo isso foi um sonho febril ou realidade. Bem, eu realmente sinto certa dificuldade em reclamar do jogo. Tudo que ele se propõe é feito com maestria e zelo, funcionando bem e entregando mais do que o esperado. O único negativo maior, talvez, é que a trama só pode ser experimentada uma vez. Mas, e daí? Posso dizer com tranquilidade que me vejo repetindo a dose regularmente pelos anos que virão.

Do lado positivo, temos uma história feita com carinho, imaginação e habilidade. Um protagonista forte e frágil, com várias facetas, com a qual podemos nos identificar facilmente. Qual adulto nunca passou pelas inseguranças dela? E qual jovem não irá? Somado aos minigames divertidos, e a trilha sonora sensacional, temos um jogo que não desaponta.

Decarnation foi uma das experiências mais agradáveis que tive esse ano e, em se tratando de imersão e trama, será um jogo que não esquecerei tão cedo. É difícil vermos um título com tanta personalidade, apresentando tantas facetas e simbolismos, minigames e puzzles, que o faça sem se tornar uma bagunça. Devo tirar meu chapéu para os criadores, e posso indicar tranquilo para qualquer pessoa.

Decarnation foi lançado no dia 31 de maio e está disponível para PC, via Steam, e Nintendo Switch.

*Review elaborada no Nintendo Switch, com código fornecido pela Shiro Unlimited.

Decarnation

R$ 46,99
10

História

10.0/10

Jogabilidade

10.0/10

Sons e Visuais

10.0/10

Extras

10.0/10

Prós

  • História sensacional
  • Minigames bem integrados na trama
  • Visuais e simbolismos muito bem elaborados
  • Trilha sonora fenomenal
  • Gloria é uma protagonista excelente

Contras

  • Não posso apagar a trama da minha mente para jogar, novamente, como se fosse a primeira vez

Matheus Jenevain

    Redator de idade não especificada e habilidade excepcional (segundo o próprio, acredite se quiser). Curte Metroidvanias, RPGs e jogos de luta. Reza toda noite, intensamente, para receber um remake de God Hand. Nunca foi atendido.