Donkey Kong Bananza | Review
Donkey Kong Bananza é a revolta dos macacos – ou melhor, o retorno triunfante de um ícone que passou tempo demais nas sombras. O game surge no Nintendo Switch 2 após um sono profundo do gorila mais famoso da Nintendo. Lançado no dia 17 de julho de 2025, discutir se o game deveria ter chegado com o lançamento do console ou se deveria ter saído no Nintendo Switch é, no mínimo, infrutífero: Donkey Kong Bananza é a melhor adição a um acervo recente – e a ele pertence.
A história de Donkey Kong como um super mascote é algo curiosa: antagonista lá nos arcades primórdios, até reapareceu nas continuações para o Nintendinho, mas depois ficou esquecido por um tempão – quase 11 anos –, antes de reaparecer no icônico Donkey Kong Country. E a japonesa só cedeu a franquia para a então novata Rareware justamente por considerá-la apagada e o risco de sucesso ou de fracasso valia a pena.
Após suas sequências no Super Nintendo e um contestado Donkey Kong 64, como jogadores, vimos o gorila repetir mais vezes o papel de coadjuvante em multiplayers e em jogos experimentais do que como ator principal de grandes produções. Duas exceções pelo caminho foram os jogos de plataforma 2D, com Donkey Kong Country Returns e o impecável Donkey Kong Country: Tropical Freeze, desenvolvido pela desenvolvedora americana Retro Studios. Mas o hiato de game de plataforma 3D do gorila mais abobalhado dos jogos se prolongou… até agora.
E o melhor de tudo é que, desta vez, a Nintendo tomou de volta todo o processo criativo, deixando o game na mão de seu principal time, o pessoal da Nintendo EPD (Divisão de Planejamento e Desenvolvimento de Entretenimento da Nintendo). Para se ter uma ideia, foi dele que saíram títulos como Super Mario Odyssey, The Legend of Zelda: Breath of the Wild e sua continuação, The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom.

Nem vou deixar o gancho “descubra se Donkey Kong Bananza vale a pena nesta análise” para o Pizza Fria. É óbvio que vale. Afinal, Donkey Kong Bananza é hoje para DK o que Super Mario 64 e Ocarina of Time foram em seu tempo para Mario e Zelda: a verdadeira e fantástica adaptação a mundos tridimensionais de suas séries. E com uma personalidade particular, distintamente clara do que já vimos, e ainda assim é a síntese de todo o aprendizado da Nintendo até aqui.
Em vez disso, vou reunir minhas impressões gerais e, por elas, tentar justificar o óbvio: Donkey Kong Bananza é um jogo nota 10.
– “Ei, DK! Tá acordado?”

Donkey Kong Bananza
Em 2017, no Switch, vimos Mario e Zelda se reinventarem como jogos tridimensionais. Primeiro, The Legend of Zelda: Breath of the Wild retratou a natureza em um mundo enorme, sem barreiras, completamente coeso e reativo – quimicamente reativo –, no qual brincar com as possibilidades significava entendê-lo melhor.
Meses depois, Super Mario Odyssey energizou as plataformas com cursos de obstáculos numa espécie de “jogo sem qualquer filtro” – pule, corra, nade, possua outros personagens, incluindo inimigos, e, de repente, Mario podia driblar todos os problemas… Nem sempre como Mario, mas empoderando o jogador com um repertório enorme de habilidades.
Agora, entre as lições aprendidas (e/ou habilidades desenvolvidas) pela Nintendo, dá para sentir em Donkey Kong Bananza essa “zeldificação” e “super marização”. Faz parte do DNA da Nintendo. Contudo, Donkey Kong Bananza aposta em DK como uma força imparável da natureza para ter a destruição de terrenos como principal caminho para avançar no jogo.
Está empacado e não sabe pra onde ir? DK esmurra montes de terra, minérios, rocha, gelo e todas as variedades de solo possíveis para abrir passagem. Destruir é abrir passagem. Pelo caminho, muitas vezes escavado, cabe a você procurar por cristais de banândio e fósseis.

História
Ué, mas por quê? Bom, DK e outros macacos já estavam trabalhando como mineiros na Ilha Lingote em busca desses cristais de banândio – que nada mais são do que bananas gigantes cristalizadas. Pelo visto, essas pedras preciosas em forma de banana são extremamente deliciosas e deram começo a uma corrida do ouro.
No meio da empolgação, algo inesperado acontece: um meteoro afunda a Ilha Lingote com DK e muitos outros primatas. Os cristais de banândio desaparecem e, para piorar, a catástrofe também espalha um metal roxo esquisito, indestrutível aos socos do gorila, sobre o terreno. E agora?
Ao vasculhar os escombros, em pouco tempo DK encontra uma pedrinha estranha e falante, com a voz muito afinada. Por incrível que pareça, são as melodias dessa pedrinha que removem o metal esquisito. O primata tá de volta aos trilhos!
Avançando um pouquinho, fica óbvia a necessidade da parceria entre gorila e pedra para que o jogador avance. Aliás, você descobre que o tal meteoro foi um ataque da empresa Void, dirigida por três corporativos “en-macacados” e gananciosos.

Em poucos passos, a rocha se quebra e revela uma Pauline adolescente, antes aprisionada. Assim a rocha era sua prisão, seu arco é um bloqueio psicológico: ela ama cantar, mas tem vergonha de fazê-lo em público. E de onde será que ela veio?
E esse é um resumo dos 20 minutos de abertura. Ao alcance dos dedos de jogadores, estão igualmente os violentos braços de Donkey Kong e a voz sublime de Pauline. Lance mão desses artifícios para remover o metal invasor e para abrir passagem.
Se você que está lendo a análise quiser entender melhor como a história começa, deixo a minha primeira hora de gameplay em português do Brasil.
Jogabilidade
Se todos os escombros viram degraus e se todas as crateras viram atalhos, para onde ir? Donkey Kong Bananza ignora a lógica de um mundo aberto em favor de fases imensas dispostas de forma linear, rumo às profundezas do planeta – afinal, você quer rever os valiosos cristais de banândio, né? Pois é pra lá que eles foram levados pelos vilões.
Para chegar lá, “basta” destruir o chão, socar paredes, pedir para Donkey Kong arrancar um bloco de basalto com as próprias mãos e arremessá-lo contra os inimigos. Ou usá-lo para surfar pelo morro lamacento abaixo.
Pelo caminho, as bananas estão perdidas por aí. Muitas vezes, estão enterradas em covas; outras tantas, guardadas em salas de desafios diversos. Tais desafios atuam como minijogos – um labirinto para encontrar três bananas e a saída, um desafio de demolição, ou ainda “30 segundos para derrotar 5 inimigos blindados em um terreno ardiloso (e argiloso)”, ou “surfe até a chegada em menos de tanto tempo”… São muitos e variados, trazendo um tempero a mais para a dificuldade do game.

Por falar em dificuldade, Donkey Kong Bananza não é verdadeiramente difícil e nem de longe carrega a essência da série Country – na qual o desafio cresce e impera. Donkey Kong Bananza é um collect-a-thon, o gênero tão amado por quem teve a infância nos anos 90.
O principal tempero do jogo é o superpoder chamado… Bananza! Ao longo da aventura, DK encontrará alguns animais ancestrais, gigantes velhinhos e aposentados, que querem curtir a aposentadoria sendo DJs… São eles quem ensinam superpoderes específicos das espécies, como as zebras, que podem andar sobre finas pontes de neve sem cair; ou os avestruzes, que voam e destroem espinhos.
Usar a Bananza é viciante e simples: com segurar os botões L e R, Donkey Kong vai bater com as mãos no peito e se transformar numa versão gigante do animal escolhido. Pronto! Basta sair por aí causando mais caos do que o normal. Como ancestral gorila, por exemplo, um soco carregado esvazia toneladas e metros cúbicos de terra em segundos, e até metais que o nosso amigo gorila não conseguiria em sua forma normal.

É muito fácil notar que Donkey Kong Bananza é evolução do estilo: destruir é deliciosamente caótico e imprescindível, mas por quê? DK quer bananas, mas ele não quer só bananas – DK quer bananas, pepitas de ouro e moedas.
No meio dessa bagunça que é cavucar pela terra, ainda encontramos baús gerados aleatoriamente – para mim, esses baús foram o trunfo. Explico: soque um baú para abri-lo e receba talvez mais pepitas de ouro, talvez mais moedas. Com um bocadinho de sorte, o baú tem um mapa com um fóssil ou mesmo um mapa para um cristal de banândio.
Limpar a fase de colecionáveis fica organicamente fácil e intuitivo. Você jamais ficará perdido e, para completar tudo, basta passar mais tempo naquele mundo!
Tudo isso se encontra à medida que se perfura o solo. Por sua vez, pepitas de ouro e rodelas (as moedas) servem para comprar itens nas muitas vilas espalhadas pelos mundos subterrâneos. Dá pra comprar os mapas, mas as lojas também oferecem sucos de melão e de maçã. Porém, não vou estragar a surpresa contando seus atributos. Digamos que são vitaminados.

Os fósseis servem como moedas para os modelitos tanto de DK e quanto de Pauline. Acredite, todos têm uma função: aplique mais fósseis em upgrades dos modelitos e progressivamente DK vai patinar menos ao andar sobre gelo, por exemplo, ou vai encontrar mais baús com menos destruição.
Por último e, sim, o mais importante, o cristal de banândio. Donkey Kong Bananza tem mil, MIL UNIDADES do colecionável mais precioso. Além de salvar o mundo, as bananas se convertem em pontos de habilidades que aumentam a força de DK, assim o terreno é destruído mais facilmente; ou aplique os pontos em troca de mais corações de vida (olha aí a tal da “zeldificação”). Cinco bananas, um ponto de habilidade.
É difícil sintetizar a beleza brutal e a diversão em seu estado mais cru propiciadas por Donkey Kong Bananza. Demolir é uma parte imensa do jogo, é intuitivamente divertido e algo inconsequente.

Contudo, não deixe a noção de mundos subterrâneos desenhar uma imagem escura e que é só apertar botões: as subcamadas são cenários surreais enterrados, mas são florestas inteiras, mundos brancos de neve, lagoas ensolaradas com cores vivas.
Além disso, as fases apresentam verticalidade e desafiam o jogador a buscar cantinhos altos, quase inalcançáveis, os quais nem sempre um gorila consegue escalar. Use e abuse de arrancar pedaços de terra para saltar duas vezes. Ou melhor, abuse de como se atravessa um jogo de plataforma ao combinar salto com surfe sobre um bloco de pedra e emende logo um salto duplo no final. Cortar caminho vai além de abrir buracos no chão.
E, para coroar, se transportar pelas camadas é fácil. São dois sistemas muito bem integrados: um funciona como uma viagem rápida dentro da camada, acessível pela tela do mapa e leva a pontos de interesse, o outro te obriga ir a um personagem que te movimenta entre camadas.
O mapa tridimensional, aliás, deve servir como referência para futuros jogos. Acaba de se transformar em marco obrigatório dos platformers 3D.

Visuais e sons
Donkey Kong, Pauline, amigos e inimigos estão animados com uma rara beleza para um jogo. Tudo bem que nem sempre você os veja de frente, ou que muitas vezes a bagunça e o agito nos impeçam de apreciar tudo com mais calma. Ainda assim, a execução dos criadores em Donkey Kong Bananza faz jus ao conceito da palavra “animação” – os movimentos dos personagens lhes confere um sopro de vida para toda e qualquer ação.
Basta reparar quando DK chega perto de uma banana, arregala seus olhos e move as bochechas para ficar com a língua de fora. Ou quando fazemos Pauline cantarolar para remover metais do terreno… Ela começa com um “ôôÔÔ… ô, uh, ôô…” para o qual girei a câmera quase sempre para vê-los de frente e na primeira fila.
Os inimigos então, apesar de serem um tanto reaproveitados em suas classes, também carregam essa vivacidade. Assim como os mundos, do balançar da (farta) grama até o escorrer de lama e de neve das encostas.

Talvez, o meu reclame principal com Donkey Kong Bananza exista única e exclusivamente dentro do aspecto visual. Aliás, são dois pontos – e ambos justificáveis.
O primeiro deles é a câmera, que herda a caoticidade da destruição. Isso significa bloqueios visuais ao cavar um poço fundo ou ao mudar de direção dentro de uma montanha do que quer que seja. É inevitável a câmera ficar pra trás e, portanto, obstruída pelo terreno. Contudo, a destruição é tão alucinante e rápida que logo DK aparece de volta. Em desafios mais verticais e menos claustrofóbicos, ela funciona de forma invisível, sem atrapalhar.
Em seguida – e muito, mas muito no detalhe mesmo – estão as batalhas contra os chefes, que sofrem um pouco com o excesso de partículas geradas. Não se engane: fora isso, as lutas são cenários fantásticos e variados, mantendo o excelente ritmo de Donkey Kong Bananza.
Quanto ao tratamento sonoro do título, queria dominar mais as habilidades musicais para poder comentar a fundo, mas Bananza tem em suas faixas algo que só posso chamar de samba-funk-salsa, pois trilhas variadas entram e saem rapidamente, deixando a pessoa no controle com uma palpitação incessante.
O ritmo não cai. Não cai mesmo. Você pode ficar parado e algo estará acontecendo para instigar seus ouvidos. Acione o modo Bananza então e trilhas dedicadas para os animais entram em ação. Trato fino.

Bom, e temos o trunfo: você já percebeu e já sabe, mas Donkey Kong Bananza está todo, todinho em português do Brasil, dos textos às falas de Pauline. Pois é, só a Pauline mesmo, já que DK e outros animais não falam, apenas emitem breves grunhidos. A dublagem me surpreendeu, pois Pauline passa carisma e fofura pela voz.
Um exemplo disso é dormir nos vários abrigos, umas alcovas encontradas pelas fases. Todos têm uma cama para recuperar as energias. O primeiro descanso em cada um dispara um diálogo quando DK está prestes a fechar os olhos… Quase sempre Pauline diz algo como… “Ei, DK… Tá dormindo?” e continua com um brevíssimo monólogo bobo, porém divertido. Num deles, ela diz ter sonhado que virava uma banana e fugia com medo para não ser devorada.

Vale a pena jogar Donkey Kong Bananza?
Você já sabe a minha resposta.
Serão pelo menos umas 15 ou 20 horas para ver os créditos e muitas mais para colecionar tudo que ele tem. O jogo ainda conta com um multiplayer cooperativo daquele estilo “para pais com filhos pequenos”, no qual o segundo jogador usa Pauline e miras na tela para recolher pepitas de ouro.
Donkey Kong Bananza é caótico, brutal, ancestral, hipnótico. É a “culminação escavadora” de toda a expertise da Nintendo criando o que ela sabe criar de melhor: jogos de plataforma de seus mascotes.
Agora, ela sanou uma injustiça: trouxe Donkey Kong em três dimensões em sua obra quintessencial. E fez isso mostrando a face que faltava, em alto e bom som, que diferentemente de Mario e Zelda, Donkey Kong deve apelar para um ritmo tribal de jogabilidade, que a destruição é absurdamente divertida sem ser violenta.
Se Link constrói, DK desmonta o universo com criatividade. Se Mario salta como um acrobata, DK se transforma em animais imponentes para superar obstáculos.
Com DK no papel dos músculos e Pauline no papel do coração e da voz, Donkey Kong Bananza é encantador do início ao fim, uma força destrutiva da natureza que confere transformação, protagonismo e renovação ao gorila mais amado dos jogos.
Desta vez, Donkey Kong bate no peito e mostra que o palco é dele. E que a destruição pode ser tão criativa quanto a construção.
Donkey Kong Bananza foi lançado exclusivamente para Nintendo Switch 2 no dia 17 de julho de 2025.
*Review elaborada com código fornecido pela Nintendo.
Donkey Kong Bananza
BRL 439,90Prós
- Destruição criativa como mecânica central - e divertida demais.
- Fases amplas, verticais e cheias de colecionáveis.
- "Bananza" com poderes animais é viciante e imprevisível.
- Trilha sonora carismática e dublagem em português cativante.
- Mapa tridimensional e level design que são referência para o gênero.
Contras
- Câmera sofre em ambientes muito fechados ou caóticos.
- Multiplayer é limitado e voltado para público mais casual.


