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POSTAL: Brain Damaged – These Sunny Daze | Review

POSTAL é uma franquia que sempre me desperta sentimentos mistos. A trajetória da série é, sem dúvida, curiosa, especialmente quando lembramos de POSTAL 2, que acabou se consolidando como um enorme sucesso e até mesmo como um clássico cult, muito em razão das inúmeras polêmicas em torno de seu lançamento, incluindo a proibição aqui no Brasil. Além disso, há um certo charme na proposta da franquia: uma jornada sem filtros, repleta de violência exagerada e com um protagonista tão politicamente incorreto que, se fosse uma pessoa real, certamente seria cancelado no Twitter (e já no espirito de rebeldia sem filtros do jogo também me recuso a chamar a rede social de X) nos dias de hoje.

No entanto, como já mencionei em minha review de POSTAL 4: No Regerts, o humor da série já não carrega mais o mesmo peso de choque e impacto que outrora teve. Isso levanta uma questão importante: será que os jogos da franquia conseguem se sustentar apenas pela sua essência, sem depender do histórico de polêmicas? No caso de POSTAL 4, infelizmente, minha resposta foi negativa. Porém, há algo diferente que merece destaque em POSTAL: Brain Damaged.

Dessa vez, o jogo busca inovar em sua gameplay, trazendo combates mais intensos e frenéticos, além de introduzir pequenos elementos de puzzle ao longo da aventura, claro, sem jamais perder o espírito irreverente que define a franquia. A grande dúvida é: será que essa nova abordagem faz POSTAL: Brain Damaged se destacar dentro da série?

O Pizza Fria teve acesso ao jogo completo e também à sua nova DLC. Então, pegue um pedaço de pizza, uma xícara de café (de preferência sem açúcar) e me acompanhe em mais uma review antecipada!

Causando o terror nos subúrbios

POSTAL: Brain Damaged começa com o Postal Dude, lendário protagonista da franquia, caindo no sono e mergulhando em um sonho bizarro no qual se vê perdido em uma típica casa dos subúrbios. Logo nos primeiros instantes, ele não perde a chance de ironizar a situação, afirmando que estar naquela vizinhança é o seu verdadeiro pesadelo, antes de começar a explorar o local.

Já nesse ponto fica evidente a principal inspiração do jogo: os clássicos DOOM. O próprio design da casa inicial remete diretamente a um dos mapas de DOOM II, e o título adota também a tradicional mecânica de coletar chaves coloridas — vermelhas, azuis e amarelas — para desbloquear novas áreas.

POSTAL: Brain Damaged
POSTAL: Brain Damaged apresenta de maneira paródica vários elementos de DOOM clássico, algo que funciona bastante na proposta do jogo. (Imagem: Divulgação)

Durante essa exploração inicial, encontramos a primeira arma corpo a corpo: uma pá com motosserra embutida. Em seguida, surge uma pistola com mira automática, claramente uma paródia da arma de Titanfall e admito que fiquei satisfeito em reconhecer a referência. A partir daí, a experiência rapidamente escala para o absurdo: vizinhos enfurecidos passam a atacar o protagonista e o jogo se transforma em um verdadeiro turbilhão de bizarrices que beiram um fever dream. Sinceramente? Era exatamente isso que eu esperava de Brain Damaged.

As referências são o grande destaque

Por incrível que pareça, o senso de humor de qualidade duvidosa e as inúmeras referências que parodiam outros jogos funcionam muito bem em POSTAL: Brain Damaged. Diferente dos títulos originais, que muitas vezes se apoiavam quase exclusivamente na violência extrema, aqui temos uma abordagem que abraça por completo o humor trash. O jogo se sustenta ao levar o jogador para cenários cada vez mais bizarros e confrontos completamente absurdos: desde lutas contra alienígenas até inimigos que flutuam presos a balões e arremessam comida, itens que podem ser consumidos para recuperar HP.

POSTAL: Brain Damaged
O show de referências a outros jogos é um dos grandes acertos do título. (Imagem: Divulgação)

Essa lógica do nonsense é reforçada pelos ambientes recheados de referências, que arrancam boas risadas. Logo no mapa inicial, por exemplo, é possível encontrar NPCs mortos com um triângulo verde sobre a cabeça, uma clara paródia a The Sims. Mais adiante, o jogo surpreende novamente com um mapa inteiro inspirado no primeiro Half-Life.

Como fã de FPS clássicos, reconheci diversas dessas referências — algumas delas tão inesperadas que me fizeram soltar um genuíno “WOW”. Essa sensação de surpresa constante me motivou a explorar cada canto dos cenários em busca de segredos e dos colecionáveis do jogo, representados por cartazes espalhados pelos mapas. Para mim, essas paródias acabaram sendo o ponto alto da experiência, superando até o humor escrachado que sempre foi a base da franquia. Ainda assim, para quem aprecia esse lado mais grosseiro e politicamente incorreto, pode ficar tranquilo: ele continua fortemente presente no jogo.

A jogabilidade é frenética e surpreendentemente tática

Um dos maiores destaques de POSTAL: Brain Damaged é a jogabilidade. O game traz a tradicional perspectiva em primeira pessoa, permitindo que o jogador corra, explore os cenários, utilize ataques corpo a corpo e até chute inimigos como forma de contra-ataque. E, claro, não poderia faltar uma das mecânicas mais icônicas da franquia: a possibilidade de urinar nos cenários, algo que, surpreendentemente, não é apenas uma piada, mas também uma mecânica recorrente e funcional ao longo da aventura.

O arsenal é outro ponto alto. O jogo consegue ser criativo ao mesclar armas inspiradas em clássicos com ideias completamente inusitadas. Temos, por exemplo, a pistola de mira automática já citada e a clássica shotgun retirada diretamente de DOOM. Além disso, algumas armas funcionam como piadas, como o arco que dispara vibradores, sendo essa uma das armas mais poderosas e divertidas de todo o jogo. Pois ela penetra os inimigos com muita intensidade!

POSTAL: Brain Damaged
POSTAL: Brain Damaged apresenta um arsenal variado que mantêm a jogabilidade frenética do começo ao fim. (Imagem: Divulgação)

Outro fator que me surpreendeu positivamente foi a variedade de inimigos. A cada novo cenário, Brain Damaged apresenta criaturas diferentes, exigindo que o jogador adapte sua estratégia. A inspiração em DOOM Eternal fica evidente: não basta atirar sem pensar, é preciso lidar com cada tipo de inimigo da forma correta. Alguns só podem ser vencidos com contra-ataques bem cronometrados, outros exigem reflexos rápidos, e há até situações que envolvem pequenos puzzles integrados ao combate. Em uma das fases, por exemplo, é possível utilizar um arpão acoplado à shotgun para se prender a ganchos espalhados pelo mapa, garantindo uma vantagem aérea sobre inimigos mais poderosos.

Os próprios puzzles presentes nos cenários também agregam à experiência. Eles não são complexos a ponto de quebrar o ritmo, mas oferecem um incentivo extra para que o jogador explore cuidadosamente os ambientes em busca de soluções.

These Sunny Daze

Falando agora sobre a nova expansão de POSTAL: Brain Damaged, intitulada These Sunny Daze, ela me lembrou bastante à clássica DLC de POSTAL 2, Paradise Lost. A proposta é semelhante: uma narrativa completamente absurda que expande em todos os aspectos o que foi apresentado na versão base. Aqui, acompanhamos o protagonista durante suas merecidas férias, mas a tranquilidade dura pouco — o governo decide instaurar uma caça aos ruivos e logo hordas de inimigos passam a persegui-lo, transformando o descanso em mais um banho de caos e piadas inusitadas do Postal Dude.

Como já é tradição, a história não faz o menor sentido e o humor de qualidade duvidosa permanece firme. Contudo, o maior mérito da expansão está na forma como ela expande o jogo base, adicionando novas armas, inimigos e cenários. Entre os destaques do arsenal está uma pistola que dispara cerveja, permitindo usar diferentes “tipos” de munição, como uma versão flamejante ou uma rajada gelada, cada uma alterando o efeito sobre os inimigos. Já os novos mapas incluem uma praia paradisíaca e um imenso hotel para explorar.

Os inimigos também foram um ponto alto da experiência. A expansão não tem medo de mergulhar no nonsense absoluto: entre os adversários estão um Sonic totalmente chapado e até mesmo o famoso meme do Giga Chad. Admito que, sempre que esses personagens surgiam, não consegui segurar a risada.

POSTAL: Brain Damaged
Nada melhor do que perfurar o Giga Chad pra fortalecer a amizade! (Imagem: Divulgação)

No entanto, o que mais me agradou em These Sunny Daze foi o salto no nível de desafio. Enquanto no jogo base, após conquistar armas mais poderosas como a shotgun, o combate podia se tornar previsível e até um pouco trivial, aqui a expansão traz um equilíbrio muito melhor. A variedade de inimigos aumenta, forçando o jogador a enfrentar múltiplos tipos de ameaça simultaneamente, ao mesmo tempo em que puzzles mais elaborados surgem nos cenários, exigindo raciocínio para definir o melhor caminho a seguir. O aspecto de exploração também continua excelente, incentivando a busca por colecionáveis e segredos escondidos, o que torna cada fase mais recompensadora.

Gráficos e trilha sonora

POSTAL: Brain Damaged aposta em um estilo gráfico cartunesco, que se encaixa perfeitamente na proposta paródica do jogo. Essa escolha visual dá liberdade para que o jogo apresenta cenários bem diversificados, que variam desde áreas suburbanas mais comuns até desertos, usinas secretas e ambientes completamente surreais, como ruas destruídas que se curvam no céu, desafiando as leis da realidade.

POSTAL: Brain Damaged
O visual cartunesco combina bastante com a proposta do jogo. (Imagem: Divulgação)

A trilha sonora também merece destaque. Grande parte das faixas é composta por músicas de rock acelerado, que combinam muito bem com a energia caótica das batalhas e reforçam a identidade “tiozão old school” do Postal Dude. Entretanto, neste aspecto senti que faltaram mais trilhas marcantes durante os confrontos intensos com os inimigos, claro, é impossível esperar algo nivel DOOM nesse aspecto, mas para um jogo que se esforçou tanto em ser uma parodia do clássico jogo da Bethesda, eles poderiam ter entregado mais no aspecto sonoro.

Desempenho

O desempenho de POSTAL: Brain Damaged é muito inconsistente. Minha experiência foi em uma RTX 3060 rodando em 1440p. A versão base manteve-se estável acima dos 100 FPS por boa parte do tempo. No entanto, em alguns trechos aleatorios dos cenários, a performance despencou sem motivo aparente, chegando a ficar abaixo dos 30 FPS. Tentei de tudo — reiniciar o jogo, reiniciar o PC e até mesmo reinstalar —, mas nada resolveu o problema. Isso deixa claro que alguns cenários do título precisavam de uma melhor otimização.

Na DLC These Sunny Daze, a situação se mostrou ainda mais problemática. Além da queda de desempenho, ocorreram travamentos constantes de até cinco segundos, que interrompiam a ação e só então o jogo voltava ao normal. Apesar de não serem frequentes a ponto de tornar a experiência injogável, esses problemas técnicos prejudicam bastante a imersão quando acontecem.

Vale a pena jogar POSTAL: Brain Damaged e These Sunny Daze?

POSTAL: Brain Damaged entrega uma evolução significativa dentro da franquia, oferecendo uma jogabilidade frenética, divertida e capaz de manter o jogador entretido do início ao fim. A vasta gama de referências a outros jogos não apenas enriquece a experiência, como também incentiva a exploração dos cenários em busca de segredos e desafios extras, tornando cada fase mais envolvente e recompensadora.

No entanto, os problemas de desempenho na versão para PC são um ponto negativo difícil de ignorar. As quedas bruscas de FPS e os travamentos ocasionais, especialmente na expansão These Sunny Daze, comprometem a fluidez da experiência e deixam claro que ainda há espaço para melhorias na otimização.

Apesar dessas falhas técnicas, POSTAL: Brain Damaged é um título que vai agradar os fãs de longa data da série, já que o jogo entrega tudo o que se espera da franquia e até um pouco mais. Para aqueles que não têm tanto apreço pelo humor característico da saga, ainda assim vale a pena dar uma chance: sua jogabilidade criativa, a variedade de inimigos e o festival de referências são elementos que podem conquistar até quem nunca simpatizou com o Postal Dude e seu senso de humor que estacionou na quinta série.

POSTAL: Brain Damaged – These Sunny Daze foi desenvolvido pela Running With Scissors e chega no dia 9 de setembro para PC, via Steam e GOG.com.

*Review elaborada em um PC equipado com uma Geforce RTX, com chave cedida pela HYPERSTRANGE.

POSTAL: Brain Damaged – These Sunny Daze

BRL 59,99
6.8

História

7.0/10

Gameplay

7.0/10

Gráficos e Sons

7.0/10

Inovação

6.0/10

Prós

  • O grande foco em referenciar outros jogos de maneiras inusitadas e divertidas
  • Armas variadas
  • Cenários que incentivam a exploração
  • Boa variedade de puzzles que complementam o gameplay
  • Legendas em PT-BR

Contras

  • Graves problemas de desempenho no PC
  • O combate no jogo base é fácil demais em alguns trechos
  • Falta de uma trilha sonora marcante pra acompanhar a jogabilidade frenética

Leandro Paiva

Um estudante de jornalismo e o primeiro estagiário do site. Degustador nato de coxinha e pizza fria com ketchup. Amante de RPG, principalmente aqueles em que é possível pescar em vez de fazer a missão principal. Piadista em tempo integral e um grande degustador de café. Defensor de Birds of Prey e da DC em geral nas horas vagas.