Voice of Cards: The Isle Dragon Roars | Review
Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é um RPG com elementos de jogos de cartas lançado no dia 28 de outubro de 2021 para Nintendo Switch, PlayStation 4 e PC, via Steam. O título conta com a ambiciosa proposta de apresentar uma jornada de aventureiros em um grandioso mundo feito com cartas. Embora em uma primeira vista, eu tenha pensado que essa combinação seria algo fora da caixa demais, tudo fez sentido quando notei o envolvimento de Yoko Taro no projeto. Para os leitores que não o conhecem, ele é o criador de obras-primas como Nier Automata e Nier Replicant.
Taro conseguiu grande destaque no mundo dos games por entregar obras cheias de sentimento e que apresentaram uma jogabilidade inovadora. Além disso, em Nier Automata, meu título favorito dele, temos uma história cheia de filosofia e questionamentos existenciais, que me fizeram pensar sobre esse jogo por semanas, mesmo após finaliza-lo. Assim sendo, logo criei grandes expectativas em relação a Voice of Cards, pois, uma mente tão criativa como a de Yoko, com certeza entregaria outra obra genial. Portanto, será que foi esse mesmo o caso? Confira em mais uma review do Pizza Fria!
Um começo intrigante e promissor
Voice of Cards: The Isle Dragon Roars começa colocando o jogador no controle de três grandes guerreiros. Este primeiro momento serve para introduzir os jogadores as mecânicas principais do game. Assim, temos um narrador ao fundo que vai explicando os conceitos básicos daquele mundo, e também apresenta os personagens que estamos no controle inicialmente. Neste primeiro momento, eu já fiquei intrigado com a forma única que a narrativa era contada, pois, diferente de games tradicionais, aqui temos a simulação de um RPG de mesa.
Portanto, todos os diálogos e ações que executamos são falados pelo narrador, sendo que até ele mesmo questiona algumas ações que executamos. Em um primeiro momento, o caminho que seguimos é reto, pois estamos indo em direção a um castelo nos apresentar para a rainha. Quando chegamos lá, a primeira grande decepção do game já chega… os personagens iniciais não são os que controlaremos durante a campanha. Esta foi a primeira de muitas decepções que eu tive durante a jornada, pois, ao contrário destes três personagens iniciais, o “grande” herói do jogo não demonstra metade do carisma dos personagens iniciais.
A grande missão
Assim que chegamos no castelo, assumimos o controle do protagonista. Logo, nos apresentamos para a rainha, damos um nome para o personagem e recebemos a missão de matar um dragão que está aterrorizando a região. Portanto, o herói e seu companheiro, uma criatura chamada Mar, partem nesta aventura, sendo que pelo caminho recrutaremos outros guerreiros para se juntar a nós.
Embora a jornada pareça algo nobre, na verdade, ela é motivada apenas por dinheiro, pois, a rainha prometeu uma grande recompensa para o aventureiro que matar a grande fera. Assim sendo, durante a jornada iremos nos deparar com outros personagens que também estão em busca desse objetivo. Existem segmentos que até teremos que lutar contra eles, situações estás que são interessantes.
Personagens com pouco carisma e um mundo sem sal
Um dos grandes problemas de Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é em relação ao carisma dos personagens. Pois, como dito anteriormente, o jogo simula um RPG de mesa. Assim sendo, não temos uma dublagem única para cada personagem, sendo que tudo que eles falam é o narrador quem interpreta. Este elemento quebra totalmente a imersão do game, e faz com que os heróis simplesmente não transmitam carisma suficiente para que o jogador se importe com eles.
Além disso, as motivações dos personagens não convencem e não possuem profundidade o suficiente para cativar. Por estamos falando de uma obra de Yoko Taro, era esperado grandes personagens com motivações cheias de reviravoltas e plot twists, como acontece em games anteriores do criador. Entretanto, em Voice of Cards, o sentimento que tive é que os personagens “competem” pra ver quem tem a motivação mais rasa. Pois, quando a grande motivação da maioria dos NPCs e do herói principal é apenas matar um dragão por dinheiro e não temos nenhum desenvolvimento em relação às motivações, o que faz com os personagens não transmitam uma evolução ao decorrer da aventura.
Um dos grandes pontos de Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é que teríamos um mundo todo feito de cartas. Está proposta inédita me causou certa desconfiança inicialmente, pois eu tinha minhas dúvidas que um mundo construído dessa forma poderia transmitir vida e imersão. Infelizmente, eu estava certo nesse aspecto, pois Voice of Cards possui uma das ambientações mais sem vida que eu já experienciei em um game. Portanto, durante a jornada podemos controlar um peão em um tabuleiro de cartas, sendo que encontraremos cidades, pessoas para interagir e até mesmo tesouros ao longo do caminho. O grande problema é que o título exagera na repetição desses cenários e personagens, onde exploramos várias cidades que são simplesmente iguais.
Além disso, para piorar, durante toda a minha jornada no game, não teve um sequer momento que a narrativa apresentou elementos profundos. Portanto, o ritmo que temos aqui se resume em irmos para frente até chegarmos no nosso objetivo final, o que acaba sendo algo muito simples. O título até apresenta algumas escolhas durante os diálogos, entretanto, este elemento acaba não fazendo nenhuma diferença na história.
Combate e progressão de personagem
Ao decorrer do game, iremos nos deparar com diversos confrontos contra criaturas e outros personagens. O título usa o sistema de combates por turnos, sendo que devemos usar habilidades para zerar a vida dos inimigos. Logo, durante uma batalha, podemos selecionar entre 3 habilidades que cada herói da nossa equipe possui e lutar usando ataques variados e até mesmo skills especiais, entretanto, elas irão custar um joia, que aqui representa a barra de habilidade. Logo, ao esgotarmos as joias, não será possível usar skills mais poderosas até o fim do turno.
Voice of Cards: The Isle Dragon Roars apresenta uma grande variedade de lutas durante a aventura, entretanto, a variação apresentada aqui é mínima. Por mais que os heróis progridam de nível a cada confronto, nunca sentimos uma real progressão em relação as suas habilidades. Pois, todos os combates se desenvolvem da mesma maneira, selecionamos uma habilidade, a carta executa o golpe, o número da vida do inimigo desce e o narrador faz um comentário. Este ciclo se repete durante todo o jogo e depois de um tempo, fica cansativo.
A estética do jogo é bonita e bem elaborada. (Imagem: Divulgação)
Além disso, Voice of Cards: The Isle Dragon Roars não apresenta um desafio em nenhum momento. Portanto, ao decorrer da jornada, não tive que me preocupar em executar os golpes de maneira correta, pois, independente da ação que os personagens tomassem, as chances deles morrerem era praticamente nula. Logo, só teve um segmento que os meus heróis morreram, e foi porque este momento era pré-determinado.
Uma ambientação repetitiva, mas com uma estética única
A estética de Voice of Cards: The Isle Dragon Roars me agradou. Os personagens representados nas cartas possuem um visual interessante e alguns deles conseguem transmitir o mínimo de carisma. Este aspecto fica em destaque nos heróis que assumimos no início do game, e na rainha que encontramos antes de iniciar a jornada. Além disso, o visual de algumas localidades que adentraremos no título consegue apresentar alguns elementos únicos. Para exemplificar, temos o castelo, que ao explorarmos, encontraremos guardas, súditos, cada um deles tendo um visual único, o que causa uma primeira impressão de individualidade, entretanto, tudo desmorona ao interagirmos com eles e notamos os diálogos simplistas.
Embora Voice of Cards: The Isle Dragon Roars apresente visuais interessantes, ele logo cai na repetição novamente. Pois, os NPCs que encontraremos nas cidades não possuem variação visual o suficiente para imergir o jogador a ponto dele perceber a individualidade. Assim sendo, a obra faz um reaproveitamento exagerado de personagens, o que causa sempre a impressão de já termos passado por tal lugar ou ter interagido com aquele personagem, mesmo que os heróis estejam visitando um lugar inédito.
Trilha sonora
O ponto mais forte de Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é a sua trilha sonora. Temos o retorno de Keiichi Okabe, compositor renomado pelo seu trabalho nos games Nier. Logo, neste aspecto o game não deixa a desejar. Temos músicas épicas entrando em ação nos momentos de confrontos e de exploração, sendo que elas conseguem transmitir sentimento, mesmo quando os personagens não conseguem. Este foi um fator curioso durante a minha experiência, pois, eu achei algumas das batalhas no título épicas não porque elas eram emocionantes ou únicas, mas, porque a trilha sonora em ação era incrível. Além disso, o jogo consegue entregar uma boa variação de faixas e que se encaixam com o contexto que são apresentadas.
Desempenho
Minha experiência com o game foi no PlayStation 4. Voice of Cards: The Isle Dragon Roars não é um título exigente no aspecto gráfico. Durante nossa aventura teremos apenas um tabuleiro com cartas para explorar, e todas as interações serão por meio dos cards. Logo, o jogo se mantém fluido durante toda a campanha e não tive nenhum problema de travamento ou crashes. Entretanto, o título apresenta algumas telas de carregamento muito demoradas em situações que não fazem sentido algum.
Por exemplo, em determinado momento entrei em uma cidade e o loading foi rápido. Porém, ao avançar mais na história, retornei para aquela mesma localidade e o tempo de carregamento foi mais que o dobro, chegando em quase dois minutos. Está situação aconteceu algumas vezes durante minha jogatina e não consegui encontrar uma razão para este ocorrido.
Vale a pena comprar Voice of Cards: The Isle Dragon Roars?
Voice of Cards: The Isle Dragon Roars foi um game que “prometeu algo único” e acabou “entregando uma aventura mais do mesmo”. Embora grande parte da decepção no game possa ser gerada pelo hype criado em cima da reputação de seu criador, fica evidente que o título acaba não entregando pontos básicos que uma jornada RPG deveria proporcionar.
Portanto, temos uma aventura com personagens nem um pouco memoráveis e que não evoluem como heróis ao decorrer da jornada, o que faz com que não seja possível sentir empatia por eles. Além disso, o título se prende demais em sua proposta básica de matar uma criatura por dinheiro e não desenvolve a relação dos protagonistas. Além disso, o mundo presente no jogo não consegue transmitir vida, pois a obra repete demais o visual das cidades e dos NPCs que interagimos.
Por fim, Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é um game que tentou entregar algo inovador, mas acabou caindo na armadilha da simplicidade ao não desenvolvedor os personagens, o mundo e nem mesmo a história, sendo que o único aspecto que realmente é único e se destaca é a trilha sonora. Eu recomendo o jogo para os jogadores que querem uma jornada simples e que emula um RPG de mesa, entretanto, os playes que esperam algo grandioso como os títulos anteriores de Yoko Taro, podem se decepcionar.
*Review elaborada em um PlayStation 4, com código fornecido pela Square Enix.