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Soulstice | Review

Soulstice é um hack and slash, no estilo spectacle fighter (pensem naquela vibe Devil May Cry), de ação e aventura desenvolvido pela Reply Game Studios e publicado pela Modus Games. O jogo nos coloca no controle de Briar, uma guerreira com poderes vindos da corrupção de seres do outro mundo e da união de sua alma e da falecida irmã.

Será que valerá nosso investimento do bem mais precioso que temos: nossa capacidade de passar raiva com combos quebrados no último momento? É o que veremos agora, em mais uma review do Pizza Fria!

A outra fantasminha camarada

Mais um dia e mais uma luta, leitores e leitoras do meu coração. Mais uma prova cabal de que a vida em sociedade é algo complexo e que demanda uma quantidade de paciência tal que poderia fazer com que cada um de nós fosse levado aos céus nos braços de mil anjos por nossa bondade. O horror, o horror. Vejam, por exemplo, um dos nossos maiores nemesis da existência moderna: o vizinho.

Certa vez, ouvi um sábio que vivia em um barril dizer que “se vizinhos fossem bons, Zeus não teria inventado os muros”. Ou, em termos de jovens descolados, “não haveria senhas no wi-fi”. Cada dia é uma novidade, cada novidade uma nova mensagem nervosa a ser enviada pelos grupos de todos os aplicativos de mensagens que possuímos. Ah, mas vejam bem, meus caros: quando os astros se alinham, algo bom pode sair daí.

Recentemente, percebi que a casa ao lado havia sido ocupada por novos habitantes. Um pouco… peculiares, devo dizer. Contudo, pareciam chiques. Até contavam com a ajuda de um mordomo! Curiosamente parecido com o monstro de Frankenstein, aliás. Enfim, pouco tempo depois, recebi a visita de um dos habitantes daquela casa, um simpático fantasminha fã dos videojogos, como nós. Além disso, trazia consigo o jogo que iremos conversar no papo de hoje: Soulstice.

Soulstice
Uma fantasiminha camarada. (Imagem: Divulgação)

Comecemos pelas fofocas. Soulstice conta as desventuras de Briar e Lute, duas irmãs da pesada. Elas são enviadas para uma cidade totalmente arruínada por uma fenda gigantesca que apareceu no céu. Além de diminuir consideravelmente o valor do IPTU local, essa catástrofe fez com que um exército de espíritos, monstros e outras personalidades desagradáveis tomassem conta do lugar.

Parece complicado? De fato. Mas as irmãs tem uma carta na manga: elas são o que se chama, naquele mundo, de quimera. A união de duas almas em um só corpo. No caso, Briar segue viva e forte, enquanto Lute se torna um espírito que está sempre nos ombros da irmã. Isso, inclusive, se transporta para as mecânicas do jogo, como veremos a frente.

Soulstice segue contando as desventuras das irmãs em sua missão, bem como os motivos para o surgimento da fenda nos céus e a luta de Briar para não ser consumida pelo seu lado corrompido, um risco constante e que pode transformá-la em um dos monstros que combate. Como verão mais adiante, o título bebe muito, muito mesmo de outras fontes. A ponto de afogar, quase. Tanto que, nesse caso, o conflito de Briar e a forma que ela anda entre o excesso e poder e a humanidade é o mesmo que vemos um um mangá das antigas chamado Claymore. Mantenham isso em mente.

Soulstice
Briar é a irmã focada em ataques brutos. (Imagem: Divulgação)

Passemos para a jogabilidade. Muito se falou sobre Soulstice ser inspirado por Devil May Cry, e isso é verdade. Afinal, todos os jogos desse estilo de combate onde o estilo com o qual aplicamos tapas na orelha de demônios vale tanto quanto o dano que causamos tiveram alguma inspiração do clássico da Capcom. Ultra Age , que já vimos por aqui, é um bom exemplo disso.

Mas Soulstice tem sua própria pegada com essa mecânica. Por exemplo, durante as lutas controlamos tanto Briar, para ataques diretos, quanto Lute, para contra ataques. A irmã espectral tem um botão apenas para si, que utilizamos para realizar ações que vão de para uma lança atirada por algum camarada ousado até congelar um inimigo gigante no lugar para que possamos sair da área de alcance de seus socões.

Eu achei isso sensacional, e faz com que os combates tenham um ar de velocidade e atenção diferenciados. Os prompts para darmos os counters aparecem a todo momento, e combates com a árvore de habilidades de Lute mais desenvolvida mostram como tudo pode ficar caótico, com combos e monstros voando por todo o lado e projéteis sendo lançados e parados no ar. Achei sensacional.

Soulstice
Sinergia pura. (Imagem: Divulgação)

Mas, mandar bem no estilo e misturar os combos e golpes também tem seu valor. Nossas heroínas possuem uma barra de sinergia, que aumenta conforme causamos mil confusões, e diminuí quando apanhamos. Quando chega ao máximo, podemos utilizar finalizadores mais fortes nos combos, ou mandar Briar soltar a louca e ganhar um boost considerável no dano, mas que zera a sinergia quando acaba. Ou, se utilizado com a vida muito baixa, que a faz atacar todos os inimigos automaticamente, mas nos obriga a passar por um mini game para evitar que ela pire demais e acabe morrendo. Boa integração da história com a jogabilidade. Fino.

Além disso, Lute pode utilizar duas auras que são essenciais tanto para o combate quanto para a exploração. Cada uma, azul ou vermelha, permite que certos elementos do cenário sejam destruídos, e que determinados inimigos se tornem vulneráveis ao dano. Isso é bem legal, ainda que não vejamos tanto mais em jogos hoje em dia. Por vezes é chato, quando enfrentamos inimigos de ambas as cores, incluindo os malditos voadores com raios laser, mas no geral é uma experiência positiva.

O resto de nosso tempo é passado explorando as fases, divididas por missões. Além das tretas, podemos explorar os cenários em busca dos cristais que são utilizados para melhorar as habilidades de nossas chegadas, missões secretas para ganhar upgrades de vida ou força das barreiras (onde já vimos isso antes) e conversar com um NPC que serve como expositor do mundo e vendedor. Isso seria melhor se as localidades não fossem tão repetitivas e sem vida, ou escuras. Mal posso contar quantas vezes passei por corredores, vilas e esgotos iguais. Que horror.

Soulstice
Inimigo azul, azul barreira. (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais

Bom, leitora. Não vou esconder que o visual é de Soulstice é bem aquém do que eu esperava. Os gráficos não são de todo ruins, e algumas vistas são impressionantes. Mas, a semelhança geral dos lugares que vamos suga toda beleza que poderiam ter. Além disso, o design de personagens e inimigos é realmente derivativo. Como disse, Claymore e Berserk, também, foram transplantados quase que diretamente, me pareceu.

Temos um personagem que é muito parecido com o mano Guts, por exemplo. Já Briar lembra muito a claymore Clare, inclusive na sua forma transformada. Inclusive nos olhos de gato e na boca gigante. Ou na vibe de “se usar muito do poder, guerreira, vai se tornar um ser desperto que deverá ser destruído”. Havia potencial para algo mais em Soulstice, mas infelizmente a inspiração acabou sendo aplicada em uma quantidade um pouco excessiva.

Já a sonoplastia é ok. Os sons são limpos, os barulhos de combate dão impacto aos golpes e a música trabalha bem para poder aumentar e descer o ritmo da ação conforme necessário. Às vozes não são nada demais, mas pelo menos prestam bem para o estilo do jogo e para sua atmosfera. E temos legendas em português, e bem feitas! Glória.

Soulstice
Algumas vistas são excelentes. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Soulstice?

E então, leitor, Soulstice vale a pena? Bom, irei dizer-lhe o mesmo que falei para o mordomo e a pequena mãozinha decepada que apareceram em minha casa, ao saberem que o fantasma estava aqui: vocês são reais? Ou são as alucinações causadas pelo consumo de doses cavalares jujubas de minhoquinhas ácidas, novamente?

Que seja. Bom, Soulstice não é um jogo que excede em gráficos, nem por sua construção, nem pelos designs de personagens ou monstros. Tudo parece ter sido transplantado de outra inspiração, e os cenários são repetitivos e sem vida. Isso, inclusive, contribui para parecer que algumas missões são enormes quando não o são. Passar por 3232 corredores e becos iguais faz isso com um cidadão, afinal.

Por outro lado, o combate é the tops. Rápido, caótico e precisando que aprendamos como usar as habilidades de Briar, as armas que temos e as habilidades de contra-ataque de Lute de maneira adequada se quisermos ir adiante. Principalmente, devo dizer, nas dificuldades mais altas. Somado ao uso de mecânicas tanto para exploração quanto pancadaria, podemos dizer que jogar nunca se torna chato. Ao menos, não rapidamente.

Ao fim e ao cabo, sua opinião de Soulstice vai depender de dois fatores: se você curte jogos do tipo (ou quer ver como é), e se pode lidar com os aspectos visuais pouco originais ou repetitivos. Eu cá acho que, de fato, valeria. Soulstice é o jogo perfeito para mostrarmos como o gênero funciona, sem ser uma experiência mais pauleira como Devil May Cry. Ou, se já forem fãs, as mecânicas de combate e a sinergia entre as irmãs pode ser um bom sopro de ar novo na praça. Seja como for, recomendo.

Soulstice foi lançado no dia 20 de setembro e está disponível para PlayStation 5, PC, via Steam, e Xbox Series X|S. O preço varia de acordo com a versão.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Modus Games.

Soulstice

+ R$ 75,49
7.8

História

7.0/10

Gráficos e sons

7.5/10

Jogabilidade

9.0/10

Extras

7.5/10

Prós

  • Combate divertido
  • A forma como inseriram Lute na jogabilidade foi sensacional
  • Bons sistemas de progressão de habilidades
  • O esquema de sinergia como benefício para finalizadores especiais ou o modo de fúria foi uma boa sacada

Contras

  • Visual genérico demais
  • A câmera pode ser meio rebelde, as vezes
  • Cenários repetitivos fazem o jogo parecer mais chato do que é, em alguns momentos

Matheus Jenevain

    Redator de idade não especificada e habilidade excepcional (segundo o próprio, acredite se quiser). Curte Metroidvanias, RPGs e jogos de luta. Reza toda noite, intensamente, para receber um remake de God Hand. Nunca foi atendido.