Darkest Dungeon II | Review
Darkest Dungeon II é um jogo de exploração de calabouços com um leve toque roguelike, com elementos de RPG e combates em turno de quatro heróis contra quatro inimigos, desenvolvido e distribuído pela Red Hook Studios. Saindo do acesso antecipado esse ano, o título, que estará disponível para PC, via Steam e Epic Games Store, promete ser uma continuação à altura de seu predecessor, agora que alcança sua versão definitiva.
E aí, será que vale a pena encarar essa jornada? É o que veremos agora, em mais uma análise sobrenatural do Pizza Fria!
À beira da loucura
Ah, que bem vê-lo por aqui, leitor! Desde quando você possui essa quantidade anormal de olhos? Bem vinda, leitora! Você sempre teve tentáculos saindo de suas orelhas? Se estou louco, ou afetado da mente? De forma alguma! Acredito que estou vendo o mundo como realmente é, meu povo. Sucessivas leituras de textos encontrados em uma adorável cidade de pedra do fundo do mar, e várias runs de Darkest Dungeon II abriram minha consciência para novas realidades. É o início de uma nova era.
Mas, falemos do jogo do dia, meus queridos seres do abismo. Segundo minhas fontes, Darkest Dungeon II é a continuação direta de Darkest Dungeon, um jogo de RPG notoriamente difícil e pauleira lançado em 2016. Conhecido por sua estética “lovecraftiana”, sistemas de insanidade e uma dificuldade alta e punitiva, o título conquistou vários, incluindo este que vos escreve, tanto pelo seu desafio viciante quanto por sua identidade visual única.
Eis que, como tudo na vida, temos sua continuação, saindo de um período de acesso antecipado, no qual a desenvolvedora incrementou em cima da fórmula original e seguiu ajustando a experiência de acordo com os feedbacks recebidos dos fãs. Mas, será que o titulo faz o suficiente para sair da sombra de seu antecessor, porém sem perder aquele brilho que o fez ter tanto destaque? Bom, mais ou menos.
Darkest Dungeon II nos coloca no controle de um protagonista sem nome, que é amigo de um senhor agradável, completamente estável e sensato chamado apenas de The Academic. Ele aparece de supetão, uma bela noite, dizendo que horrores além da compreensão humana estão a solta pela terra, os mortos estão levantando da tumba e todos estão enlouquecendo. Tal como nós, aparentemente, previmos em nossos estudos e pesquisas. Interessante.
Após nos dar um resquício de esperança, uma chama viva que colocamos no topo de nossa carruagem, o Academic nos implora que a levemos até o topo de uma montanha que serve de covil e fonte do mal que assola a região. Cabe a nós, portanto, reunir um grupo de quatro heróis e heroínas, subir em nossa carrocinha e sair abrindo caminho em meio a escuridão.
Seguindo a linha de seu predecessor, Darkest Dungeon II conta sua história em pequenos pedaços, salpicados entre os inícios de cada tentativa de chegar até a montanha, quando visitamos certos locais que mostram a história de cada herói e em descrições de itens e afins. Tudo narrado, e com poucos recursos visuais. A mim agrada muito, particularmente, e devo dizer que é mais do que suficiente para criar uma atmosfera opressora, desoladora e , ao mesmo tempo, intrigante o suficiente para nos manter sempre curiosos em descobrir o que a trama jogará em nossa cara em seguida.
Em se tratando de jogabilidade, Darkest Dungeon II é uma mistura de um bom e velho dungeon crawler com uma leve pitada de roguelike. Não sabem o que são estes, caros servos de Cthulhu? Pois eu explico! O primeiro é bem simples, consistindo na experiência de explorar masmorras até encontrar uma saída ou chefão, fazendo ou não paradas para recuperar a vida de seus heróis pelo caminho. Um estilo clássico, existente desde os primórdios dos videojogos. O segundo é uma tendência no mercado hoje em dia, como poderão ver nesse artigo que temos aqui no Pizza.
Nosso objetivo principal é passar por uma série de áreas, que podem variar em ordem de acordo com cada uma de nossas tentativas, até chegar na montanha. Cada uma delas é composta por uma série de retas, pela qual nossa carroça deve passar. Algumas nos farão lutar contra monstros, outras nos farão decidir ajudar ou não aqueles que estão pela estrada, também temos aquelas que permitem conhecermos mais da história de cada herói (liberando mais habilidades no processo), entre muitas outras. Ainda que os eventos pelos quais passamos sejam os mesmos, sua ordem e ocorrência são randomizados.
E, para conseguir encarar os perigos Darkest Dungeon II, precisaremos montar um time de quatro heróis, dentre os nove que o jogo fornece. São únicos, com atributos, habilidades e características que os fazem funcionar de maneiras bem diferentes. Além disso, cada um se dá melhor em determinadas posições, e posicionamento é tudo neste jogo.
O combate se dá por turnos, e cada personagem ocupa uma posição na fileira, mais à esquerda ou direita. Certos heróis possuem habilidades que funcionam apenas, por exemplo, nas duas primeiras colocações mais na linha de frente. Movê-los pode ser complicado, e precisamos ficar ligados com inimigos que possuam habilidades que bagunçam nossa formação. Já outros, como o Jester por exemplo, contam com golpes que os fazem andar facilmente por todos os espaços. Saber como montar um time, e como fazer os heróis trabalharem em sinergia, é essencial para a vitória. Ainda mais em um jogo pauleira como esse.
Mas, quem dera fossem os demônios, cultistas, mortos vivos e aberrações cósmicas nossas únicas preocupações. Além disso, precisamos preocupar com o estado das rodas e armaduras de nossa carroça, enquanto seguimos para a montanha, e a sanidade de nossos bonecos. As primeiras decaem quando passamos por determinados locais, e podem ser consertadas nas estalagens que separam cada zona. A segunda é uma barra que se enche sempre que nossos heróis se estressam, e podem ter consequências catastróficas.
Essa falta de balanço de nossos aventureiros pode ter dois finais: ou se tornam virtuosos, zerando seu estresse e ganhando bônus e vantagens para o grupo, ou tem uma crise, levando debuffs, estressando o time todo e perdendo quase toda a vida. E, sendo esse Darkest Dungeon II, virtudes serão o que menos veremos. É algo que mantém a tensão sempre alta, e nos força a pensar estratégicamente.
Também temos relacionamentos entre os heróis, que pode fazer com que tanto se beneficiem quando um amigo usa uma habilidade quanto sejam atrapalhados quando o mesmo ocorre. Esse sistema não ficou tão interessante, visto que certos heróis são menos agradáveis que os outros, e acabou gerando um ponto de frustração desnecessário para a experiência.
Independente de completarmos ou não nossas jornadas até a montanha, sempre estaremos ganhando velas. Elas são utilizadas para liberar novos personagens, apetrechos para nossa carruagem, melhorias de herói, cosméticos, e muito mais. É um sistema interessante, e garante com que sempre estejamos mais perto do almejado derrotar do grande chefão, mesmo que falhemos e falhemos até chegar lá.
Em suma, o ciclo de jogo de Darkest Dungeon II é bem divertido, ainda que seja um tanto quanto difícil. Apesar de ser justo na maioria do tempo, o fator aleatório do roguelike e a implementação de mecânicas como os relacionamentos entre personagens pode vir a frustrar. Contudo, um pouco de carinho e preparo pode garantir muito sucesso para nossas loucas empreitadas.
Sons e aspectos visuais
Darkest Dungeon II tem visuais bem únicos, tanto nas paletas de cores quanto no design de seus personagens. Construindo em cima do primeiro, o título consegue dar ainda mais vida, ou a falta dela, aos cenários e ação graças à modelos com uma maior quantidade de animações, mais dimensões e uma pegada um pouco mais cel-shaded. Curti bastante.
A trilha sonora é excelente, com músicas sombrias, deprimentes e aterradoras. Justamente do jeito que precisamos para entrar no ritmo da tristeza e da pressão que assola o mundo do jogo. Temos apenas uma voz, que é a do narrador, e ela é divina. Pesada, com presença e bem executada, ela serve para criar uma ambientação que apenas as canções não conseguiriam. Sensacional.
Darkest Dungeon II vale a pena?
Bem, leitores e leitoras, é hora de amarrar nossa análise antes de os corvos venham buscar meus olhos de volta. Se minha insanidade está alta? Imagina, leitora. Bom, Darkest Dungeon II é um jogo que pede bastante de nós, seja durante a aventura enquanto pensamos em qual rota tomar e quais perigos enfrentar, quando estamos lutando contra um sem fim de abominações ou, ainda, quando estamos montando nosso time e aprimorando e selecionando suas habilidades. O título cobra, sem dúvida, mas essa pressão é fundamental para criar o doce gosto da vitória quando conseguimos vencer apesar de todas as adversidades.
O combate é bem divertido e desafiador, e a grande diversidade de personagens e poderes faz com que possamos testar muitas combinações até encontrar a que funciona para nós. Afinal, até um mesmo herói funciona diferente dependendo de quais habilidades e trinkets escolhamos para ele. Ainda assim, o ciclo de andar em linha quase reta até a montanha, lutando pelo caminho, pode se tornar um pouco enjoativo. Piorado, infelizmente, por mecânicas um pouco obtusas como a de relacionamentos.
Ao fim e ao cabo, ainda acho que Darkest Dungeon II é uma experiência boa, válida e essencial. Embora ache que ele teve alguns retrocessos em relação ao primeiro, como a remoção do acampamento e habilidades relacionadas por exemplo (agora temos pausas em estalagens, mas não são a mesma coisa), o título continua tendo o brilho que fez o primeiro ser tão agradável. E, se estiver começando por aqui, verá uma experiência significativamente mais amigável e de fácil aproveitamento. Portanto, consigo recomendar Darkest Dungeon II de duas formas. A primeira, com tranquilidade de saber que agradará fãs do gênero. E a segunda, com pressa pois vejo os homens peixe de R’lyeh correndo atrás de mim novamente.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Red Hook Studios.
Darkest Dungeon 2
R$ 56,99Prós
- Desafiador e divertido em igual medida, na maioria do tempo
- Muito conteúdo para ser liberado
- Legendado em português
- Trilha sonora excepcional, principalmente do narrador
- Boa variedade de heróis, entre habilidades e equipamentos
Contras
- Sistema de relacionamento não ficou muito maneiro
- Alguns pontos parecem ter retrocedido em relação ao anterior