Chained Echoes: Ashes of Elrant | Review
Quase três anos depois do seu lançamento original, Chained Echoes continua sendo um dos JRPGs que mais me marcaram nos últimos anos. E isso não é exagero. Com narrativa bem amarrada, combate estratégico e uma direção de arte que remete aos tempos de ouro do Super Nintendo e do PlayStation 1, o título de Matthias Linda conquistou um espaço especial entre os fãs do gênero — inclusive este que vos escreve. Você pode conferir minha review aqui!
Agora, com Ashes of Elrant, DLC lançada hoje como o capítulo extra dessa jornada, a proposta é revisitar Valandis pouco antes do fim da história original. Uma espécie de epílogo antecipado, que mergulha mais fundo na mitologia daquele mundo, apresenta uma nova região, mais de 40 inimigos inéditos, novos sistemas de progressão e um novo personagem jogável. Mas será que esse retorno justifica a viagem? É essa resposta que eu trago agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!
Um novo chamado antes do adeus
Diferente do que acontece em muitas expansões, Ashes of Elrant não se passa após os eventos finais de Chained Echoes, mas sim imediatamente antes do confronto final do jogo base. Ao receberem um pedido de socorro vindo de uma região até então desconhecida, os Crimson Wings embarcam em uma missão que logo toma proporções muito maiores. A partir daí, somos levados para Elrant: uma terra isolada, presa entre dimensões, que guarda segredos antigos sobre a Order Of Leonar e sobre o passado de Lenne.
Narrativamente, o conteúdo não tenta reescrever a história ou resolver pontas soltas. A estrutura é clara: estamos diante de uma missão paralela, com foco em desenvolver o mundo e aprofundar relações já estabelecidas. Ainda assim, há espaço para revelações interessantes, especialmente ligadas aos mistérios do passado de Valandis e ao surgimento do Harbinger. É um conteúdo pensado para quem já conhece o universo e tem interesse em explorá-lo com mais calma, ou até mesmo para quem está jogando pela primeira vez.
Embora a estrutura seja bem amarrada e respeite o tom do jogo original, é inegável que o impacto emocional é menor. A própria DLC limita seus avanços para não entrar em conflito com o desfecho da campanha principal, o que enfraquece o senso de urgência visto na reta final da campanha principal. Ainda assim, a ambientação de Elrant, a forma como os eventos se conectam à narrativa maior e o carisma do novo personagem, o misterioso White Wolf, fazem com que a história funcione dentro da proposta.

Exploração digna dos Crimson Wings
Se a narrativa é mais contida, a exploração dá um show à parte. Elrant é uma região cheia de áreas interconectadas, com biomas variados que incluem desde florestas de cogumelos gigantes, pântanos sombrios, desertos, torres-prisão e vilarejos com algumas estruturas excêntricas. Como na história principal, dá aquela vontade de completar cada quadro da Reward Board, caçar cada baú e enfrentar todos os superbosses escondidos por ali.
Um dos sistemas que mais gostei foi a introdução das Pools of Power, nada mais do que pontos espalhados pelo mapa que aumentam atributos como ataque e defesa de forma permanente, servindo como um “nível opcional” que recompensa quem explora com atenção. Aliado a isso, o novo sistema de talentos desbloqueáveis, que utiliza pontos obtidos nas batalhas, permite adaptar sua equipe com melhorias específicas tanto para combate quanto para exploração.
Assim como no original, a ausência de marcadores explícitos no mapa e o foco em pistas dadas por NPCs reforçam o sentimento de descoberta. E, embora o conteúdo principal da DLC dure cerca de 10 horas, completar tudo pode facilmente dobrar esse tempo, especialmente se você for do tipo que precisa “limpar” cada área antes de seguir em frente.

Combate estratégico, mas com tropeços
O sistema de combate de Chained Echoes segue sendo um dos pontos altos da experiência. Turnos bem definidos, uso inteligente do Overdrive e liberdade para montar times variados continuam presentes. A sensação de estar constantemente “otimizando” cada decisão é algo que o jogo sempre entregou bem, e a DLC mantém essa base sólida.
No entanto, algumas escolhas novas mexem no equilíbrio. O sistema de talentos permite personalizações interessantes, mas rapidamente se torna superficial. Por aqui, desbloqueei tudo com certa facilidade e sobrou ponto. Além disso, os cristais agora são dropados com qualidade e tamanho fixos, o que simplifica o crafting, mas também limita as possibilidades de combinação e construção de builds diferenciadas.

Outro ponto que poderia ter sido mais polido é a curva de dificuldade. Os inimigos comuns são simples demais, especialmente se você já vem de um save avançado do jogo base, enquanto os chefes exigem mais preparação. Essa disparidade não chega a comprometer a experiência, mas exige ajustes constantes no ritmo de progressão.
Por fim, o White Wolf, novo personagem, é uma adição sólida ao grupo. Com um estilo baseado em ataques físicos e um sistema de “mordida”, ele se encaixa bem em diversas composições e tem carisma de sobra. Pena que sua introdução na história tenha sido rápida e apenas na DLC. Acredito que, caso ele tivesse sido incluído desde o início, certamente poderia ter se tornado um dos destaques narrativos do game.
Mini-games e escavações nem tão gloriosas
Além do já conhecido minigame de pesca, que funciona bem como pausa entre as lutas, Ashes of Elrant introduz um sistema de escavação usado para encontrar novos emblemas de classe. E é aqui que está, na minha opinião, o ponto mais fraco da expansão.
Enquanto os emblemas do jogo base eram conquistados após batalhas intensas contra minibosses únicos, aqui você precisa usar um radar pouco intuitivo para cavar aleatoriamente em áreas amplas, sem garantia de sucesso. O processo é demorado, baseado em sorte, e quebra completamente o ritmo da exploração. Ainda assim, há boas surpresas escondidas no mapa, segredos curiosos e interações bem-humoradas com os NPCs. A cidade de Elrant, em particular, é um dos pontos mais criativos visualmente, com elementos quase surreais que misturam tecnologia, religião e tradições tribais.

Visual deslumbrante e trilha encantadora
Visualmente, a DLC mantém o alto padrão já conhecido. A pixel art continua belíssima, com cenários ricos em detalhes, efeitos sutis e animações suaves. Mesmo em resoluções maiores, o jogo não perde o charme. A variedade de ambientes dá um respiro visual constante, o que ajuda bastante em uma expansão que convida à exploração intensa. O charme pra mim, no entanto, está no Steam Deck. Parece o jogo perfeito para o portátil da Valve.
A trilha sonora, mais uma vez, é um espetáculo à parte. As novas faixas se encaixam perfeitamente no clima de mistério e descoberta, com destaque para a nova música de combate padrão, que rivaliza com os melhores temas do jogo base. Cada ambiente tem sua própria identidade sonora, reforçando a imersão de forma orgânica.
O grande problema da DLC, assim como do jogo base, segue sendo a ausência de localização em português do Brasil. Com um conteúdo tão interessante e vasto, é uma pena que não esteja localizado para o nosso idioma.
Vale a pena comprar Chained Echoes: Ashes of Elrant?
Sendo direto: sim, especialmente se Chained Echoes foi, para você, mais do que só um bom jogo. Se você terminou a campanha principal com aquela sensação de “quero mais”, Ashes of Elrant entrega exatamente isso: mais do que já era bom. A expansão respeita a identidade do original, aprofunda a lore de forma inteligente e convida o jogador a mergulhar novamente em um mundo que ainda tem histórias a contar.
Claro, há limitações: a narrativa é contida, a progressão perdeu parte da complexidade, e alguns sistemas novos não funcionam tão bem quanto poderiam. Mas os acertos na ambientação, no combate, na música e na exploração compensam as falhas. E também está em um preço bem acessível. Ashes of Elrant pode não reinventar Chained Echoes, mas reafirma por que ele se tornou um clássico moderno. E, para quem ainda ouve os ecos daquela jornada, esse é um reencontro mais do que bem-vindo.
Chained Echoes: Ashes of Elrant chegou nesta quinta-feira, 7 de agosto, para PC, via Steam, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch.
*Review feita em um Steam Deck, com código fornecido pela Deck13.
Chained Echoes: Ashes of Elrant
BRL 32,99Prós
- Expansão coesa com a campanha principal
- Ambientação variada e recompensadora de explorar
- White Wolf é uma boa adição ao elenco
- Pixel art e trilha sonora de alto nível
Contras
- Narrativa com menor impacto
- Minigame de escavação frustrante
- Progressão simplificada reduz a profundidade
- Sem legendas em PT-BR


