despelote | Review
Anunciado em 2023, despelote propunha uma propõe uma experiência bastante particular: acompanhar os dias de Julián, um garoto de oito anos que vive a expectativa da histórica classificação da seleção equatoriana para a Copa do Mundo de 2002 – que seria a primeira vez do país em um Mundial. Quase dois anos depois de anunciado, o título chega nesta quinta-feira, 1º de maio, para PC e consoles.
Ambientado na cidade de Quito, no Equador, no ano de 2001, o título é desenvolvido por Julián Cordero e Sebastián Valbuena, com publicação da Panic, e é quase que uma obra que transita entre o jogo e um documentário interativo. Os detalhes por testar essa experiência de forma antecipada eu trago agora, em mais uma review do Pizza Fria!
Um retrato nostálgico da juventude equatoriana
A proposta narrativa de despelote é construída em torno de momentos cotidianos, e traz uma forte carga autobiográfica e cultural. O jogo mergulha o jogador em ruas e parques de Quito, onde é possível interagir com moradores, escutar diálogos em espanhol, e viver um retrato vívido de um período marcante para o país. A ambientação é realçada pelo uso de fotos reais como texturas e efeitos sonoros gravados no local, o que contribui para o senso de imersão e autenticidade.
A estrutura do game é dividida em episódios que representam dias específicos — em especial, os dias de partidas das Eliminatórias para a Copa do Mundo. A cada avanço, o cenário e a atmosfera se transformam, refletindo a expectativa crescente da população diante da chance inédita de classificação.

Jogabilidade estranha e pouco funcional
Por outro lado, apesar do potencial emocional e histórico da proposta, despelote falha em oferecer uma experiência de gameplay fluida e funcional. A jogabilidade em primeira pessoa é limitada e pouco intuitiva. A bola, que deveria ser o elo de conexão entre o jogador e o mundo — considerando o foco no futebol — acaba se tornando um elemento frustrante. Correr exige o uso do gatilho direito traseiro R2/RT – normal em jogos do gênero, mas todas as demais interações, como chutes e passes são feitos com o analógico direito: empurrando-o para cima para chutar e para baixo para carregar. O controle da bola não é nada realista, não é satisfatório nem prazeroso, resultando em interações mecânicas que mais atrapalham do que envolvem.
Eu entendo: com uma proposta biográfica, e você no controle de uma criança, não é de esperar um controle de bola tão preciso ou mesmo algo envolvente como nos títulos de futebol que dominam o mercado atualmente. Mas como a maior parte dos botões serve apenas para acionar interações específicas com elementos do cenário, quase sempre indicados por marcações brancas, há uma clara sensação de que o potencial não foi bem explorado. Essas interações, em sua maioria, são superficiais, limitando o envolvimento do jogador com o ambiente.

Um documentário interativo com breve duração
Mais do que um jogo tradicional, despelote se apresenta como uma espécie de documentário jogável. A proposta artística é evidente, mas o resultado final compromete o engajamento para quem espera uma experiência interativa mais densa. A curta duração — é possível terminar o game em menos de duas horas — e a ausência de mecânicas envolventes acabam tornando a jornada pouco memorável para os jogadores, especialmente os fãs de futebol que poderiam se interessar pela temática.

Aspectos técnicos e direção de arte
Apesar dos problemas estruturais, é inegável o esforço em representar a cidade de Quito. No entanto, a direção de arte, marcada por uma estética única, com uso de colagens fotográficas nos cenários e um estilo visual que remete a pinturas vivas, me causou um tanto de estranheza, principalmente porque há paletas de cores específicas em cenários, e elementos brancos, sejam objetos ou pessoas, que representam aquilo que pode ser interagido. Por outro lado, o som ambiente foi captado in loco, o que reforça a identidade local e contribui para a imersão sensorial.
Joguei despelote em um Steam Deck – após recomendação dos desenvolvedores, e a performance, em geral, é estável, apesar de ainda contar com pequenas quedas na taxa de quadros. O jogo também conta com legendas em português, tornando a experiência acessível para o público nacional.

Vale a pena comprar despelote?
despelote é uma obra de forte identidade cultural, que se propõe a contar uma história pessoal e significativa por meio dos videogames. Contudo, ao priorizar sua estética documental, o título compromete o gameplay e não entrega uma experiência interativa satisfatória. Com duração breve, controles pouco intuitivos e interações limitadas, o jogo tende a agradar mais como experimento artístico do que como um título voltado ao público tradicional de aventuras narrativas ou fãs de futebol.
despelote foi lançado no dia 1º de maio para PC, via Steam e Epic Games Store, PlayStation 4, PlayStation 5 e Xbox Series X|S. A versão para Nintendo Switch chegará em breve.
*Review elaborada em um Steam Deck, com código fornecido pela Panic.
despelote
BRL 44,99Prós
- Narrativa semi-autobiográfica sensível e bem estruturada.
- Áudio ambiente gravado no local, com vozes em espanhol e boa imersão sonora.
- Legendas em português do Brasil
Contras
- Jogabilidade confusa e pouco funcional, especialmente com a bola.
- Controles mal implementados, com uso estranho do analógico direito.
- Câmera em primeira pessoa compromete a imersão em certos momentos.


