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DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake | Review

Revisitar os primórdios de uma série tão influente quanto Dragon Quest nunca é uma tarefa simples. Mais do que remakes, a trilogia HD-2D da Square Enix funciona como uma espécie de cápsula temporal, recriando aventuras essenciais para a história dos JRPGs com um esmero que mistura nostalgia e modernidade.

Depois do lançamento de Dragon Quest III HD-2D Remake (veja aqui minha review!) no ano passado, era natural que o público esperasse os capítulos seguintes – ou anteriores, dependendo da ordem cronológica – para fechar o ciclo da “Trilogia de Erdrick”. Agora, com DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake, a Square finalmente completa esse arco narrativo que marcou gerações.

Com gráficos deslumbrantes, trilha orquestrada, novas cenas e diversas melhorias de jogabilidade, os remakes de Dragon Quest I e Dragon Quest II entregam experiências tanto familiares quanto renovadas. Ao mesmo tempo, levantam questões importantes sobre decisões de lançamento, reciclagem de assets e, infelizmente, a já costumeira ausência de localização em português do Brasil. E como joguei tudo intercalando PC e Steam Deck – graças ao salvamento em nuvem da Steam, que facilita absurdamente a vida –, pude perceber como essas reimaginações funcionam em diferentes contextos e ritmos.

A seguir, compartilho minhas impressões detalhadas sobre cada um dos jogos, suas conexões, suas mudanças, seus acertos e seus tropeços.

Dragon Quest I – Onde tudo começou

Lançado originalmente em 1986, Dragon Quest I é uma aventura surpreendentemente simples se comparada aos padrões modernos – mas é justamente essa simplicidade que faz o remake HD-2D brilhar. A história segue o herói descendente de Erdrick em Alefgard, numa jornada solitária para derrotar o Dragonlord. No entanto, ao contrário da versão do NES, aqui tudo é apresentado com mais contexto, ritmo e emoção.

O remake não reescreve o enredo, mas o expande com novas cenas, diálogos dublados, introduções mais coerentes e cutscenes que aproximam o jogador do mundo e dos personagens. A clássica busca pela Princesa Gwaelin, antes opcional e quase desconectada da progressão, agora se integra de forma natural ao enredo principal. O herói ainda é um personagem silencioso, mas sua trajetória ganha pequenos momentos de charme que faltavam no original.

DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake
Partiu! (Imagem: Divulgação)

O que mais chama atenção é o cuidado em conectar DQ I ao restante da trilogia, estabelecendo pontes temáticas com DQ II e referências que amarram o universo Erdrick de maneira muito mais elegante. Ao mesmo tempo, Alefgard é retratada com uma riqueza visual inédita. Vilarejos reluzem ao pôr do sol, masmorras ganham profundidade e vida, e o mapa – o mesmo visto no final de Dragon Quest III HD-2D Remake – surge agora transformado num diorama HD-2D belíssimo, detalhado e cheio de personalidade.

É inevitável sentir que, para quem jogou o remake do III recentemente, existe uma certa sensação de familiaridade excessiva: as cidades, rotas e estruturas se repetem porque o mundo realmente é o mesmo. Mas narrativamente, essa familiaridade reforça a continuidade da saga e dá coesão à jornada.

Dragon Quest II – O crescimento da lenda

Cem anos se passam e chegamos a Dragon Quest II, o capítulo responsável por expandir tudo o que o primeiro jogo estabeleceu: mais personagens, mais reinos, mais conflitos e uma escala mais épica. E no remake HD-2D, essa expansão é amplificada por novos personagens, cenas inéditas, diálogos reescritos e até uma adição importante na party.

Se no original acompanhávamos três herdeiros de Erdrick – o príncipe de Midenhall, o príncipe de Cannock e a princesa de Moonbrooke – o remake apresenta também a Princesa de Cannock, uma personagem nunca jogável antes, mas que agora se integra de forma natural ao grupo. Ela adiciona variedade nas batalhas, dinamiza as conversas e reforça o núcleo emocional da história. Não é só “mais um membro”: ela se encaixa tematicamente na tragédia que desencadeia o enredo, especialmente com o ataque a Moonbrooke.

DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake
O trio de protagonistas originais (Imagem: Divulgação)

Hargon, o vilão que deseja semear caos no mundo, ganha mais presença, mais cenas e mais peso narrativo. Os reinos devastados, a busca pelos emblemas e a própria travessia pelos mares rendem momentos muito mais envolventes do que no original de 1987.

Aqui, sim, a sensação é de um JRPG clássico da era 16-bits, reimaginado com todas as ferramentas narrativas modernas. DQ II tem ritmo melhor, combate mais estratégico, personagens mais interessantes e uma estrutura narrativa mais completa. Se DQ I brilha pela essência, DQ II brilha pela expansão.

Fiel às raízes, refinada pelo tempo

A jogabilidade dos remakes mantém a base original: combate por turnos, encontros aleatórios, exploração de cidades e masmorras, inventário limitado e foco em progressão por nível. Mas várias melhorias tornam tudo mais ágil e prazeroso sem sacrificar a nostalgia.

Os remakes incluem batalhas contra grupos de inimigos já no primeiro jogo – algo impossível na versão clássica. Isso deixa o combate em DQ I muito mais envolvente, mas também mais difícil. Para compensar, o herói recebe habilidades novas, Pergaminhos e Insígnias que adicionam golpes especiais, magias inéditas e até efeitos de buff e debuff.

DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake
A aventura solo de Dragon Quest I é um tanto desafiadora (Imagem: Divulgação)

Essas adições modernizam completamente o sistema e fazem DQ I deixar de ser um RPG “de um botão só”. Ainda há momentos de injustiça – especialmente quando monstros conseguem agir duas vezes e aplicam status debilitantes –, mas o conjunto é mais equilibrado do que no original.

Já em Dragon Quest II, com três (e depois quatro) personagens, montar estratégias fica mais divertido. A divisão natural de papéis – guerreiro, híbrido, maga e suporte – cria batalhas que exigem planejamento. A adição de habilidades novas via Pergaminhos e o aumento do repertório de magias ajudam a manter o combate fresco até o fim.

Os remakes incluem:

  • Salvamento automático e manual a qualquer hora
  • Aceleração de batalhas e auto-battle
  • Indicadores no mapa e bússola para próximo objetivo
  • Opções de dificuldade ajustáveis, inclusive modo mais fácil
  • Melhorias no inventário e menus contextuais
  • Transições rápidas e tempos de loading mínimos

Tudo isso deixa a experiência mais fluida, mais acessível e menos punitiva. Quem quiser algo próximo ao NES pode desativar quase todas as conveniências e jogar no modo padrão; quem quiser só reviver a história pode usar modos mais fáceis e acelerar encontros repetitivos. Essas opções mostram carinho pelos dois públicos: veteranos e novos jogadores.

DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake
DRAGON QUEST HD-2D Remake traz diversas melhorias de gameplay (Imagem: Divulgação)

Entre o charme do HD-2D e a sensação de déjà vu

Visualmente, DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake não tenta reinventar nada do que Dragon Quest III HD-2D Remake já tinha estabelecido no ano passado. E, depois de jogar os três, fica difícil chamar isso de evolução. O pacote parece seguir exatamente a mesma direção artística, o mesmo tipo de iluminação, a mesma forma de construir cenários em diorama e até a mesma “cadência” de animações em batalhas e na exploração. O resultado continua muito bonito, claro, mas é uma beleza que já não surpreende do mesmo jeito.

Essa sensação vem do quanto os jogos compartilham estrutura e recursos. Em DQ I, isso é especialmente evidente, porque Alefgard é o mesmo mundo que aparece em DQIII, então você revisita regiões, contornos do mapa-múndi, cidades e referências visuais que parecem familiares demais para quem acabou de fechar o remake anterior.

Mesmo em DQ II, que abre mais o mapa e trabalha com outros reinos, dá para notar como muitos elementos seguem o mesmo “kit”: efeitos de magia, partículas, interface, alguns sprites de inimigos clássicos e até pequenas escolhas de composição de cena. É aquela unidade estética de trilogia, só que com um lado colateral: em alguns momentos, a impressão é menos “jogo novo” e mais “continuação direta construída com a mesma caixa de ferramentas”.

Ainda assim, o HD-2D continua sendo um encaixe perfeito para Dragon Quest. Os sprites preservam o DNA do traço do Toriyama, os cenários têm profundidade e textura, e o mundo ganha vida com detalhes simples, como variações de clima e iluminação em determinadas áreas. A diferença é que agora esse encanto vem mais da consistência e do carinho na execução do que do impacto de novidade.

No áudio, a trilha segue a tradição da franquia: temas clássicos, melodias marcantes, pouca ou nenhuma tentativa de inovação. E, sinceramente, não precisava mesmo. O forte aqui é a identidade, aquela assinatura musical que acompanha a série há décadas e que imediatamente coloca o jogador dentro desse clima de aventura. Os arranjos orquestrados elevam bastante a experiência, principalmente nos temas de mapa-múndi e nas músicas de cidades e castelos, que ganham um peso quase “cerimonial”. Em contrapartida, por serem temas tão conhecidos e reaproveitados dentro da franquia, é justo pontuar que há momentos em que a trilha funciona mais como conforto do que como surpresa.

Brilhando no PC e no Steam Deck

Tecnicamente, DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake é impecável. No PC, o jogo roda suave como seda, mantendo os 60 FPS sem esforço em praticamente qualquer hardware moderno. No meu caso, a experiência foi completamente estável, sem quedas de desempenho, sem stutter e sem travamentos.

No Steam Deck, o jogo é praticamente perfeito:

  • 60 FPS constantes
  • ótimo consumo de bateria
  • carregamentos rápidos
  • visual impecável mesmo na tela menor
  • Steam Cloud funcionando perfeitamente

A possibilidade de alternar entre PC e portátil torna a progressão muito mais fluida e confortável. Começar uma quest no desktop e terminar uma dungeon na cama virou rotina.

O tropeço que a Square insiste em repetir

Se existe um ponto negativo que realmente pesa, é este: o jogo não possui tradução para português do Brasil. Em 2025, isso já é injustificável. A comunidade brasileira de JRPGs é gigantesca, apaixonada e extremamente engajada. E a ausência de PT-BR afasta novos jogadores, principalmente em títulos clássicos que dependem fortemente de leitura.

É frustrante ver a Square traduzir outros remakes – Final Fantasy Pixel Remaster, por exemplo – e ignorar a franquia Dragon Quest. Seria o momento perfeito para aproximar o público brasileiro de uma série tão histórica, mas a oportunidade foi desperdiçada.

Vale a pena comprar DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake?

A resposta curta é: sim, vale, mas com alguns asteriscos importantes. O pacote entrega as versões definitivas de dois dos JRPGs mais importantes da história, atualizados com inteligência, respeito ao material original e melhorias de qualidade de vida que tornam a experiência muito mais fluida e agradável do que nos lançamentos clássicos. As adições narrativas funcionam, a jogabilidade foi refinada sem descaracterizar a essência e o desempenho técnico é praticamente irretocável, tanto no PC quanto no Steam Deck.

Por outro lado, é impossível ignorar que este é um lançamento que aposta mais na consolidação do que na reinvenção. Visualmente, quem jogou Dragon Quest III HD-2D Remake recentemente vai sentir a familiaridade constante dos assets e da direção artística. A ausência de localização em português do Brasil continua sendo um erro difícil de defender, especialmente para uma franquia tão dependente de texto. E, particularmente, a decisão de lançar a trilogia de forma fragmentada ainda deixa a sensação de que esse conjunto poderia ter sido mais impactante se tivesse chegado como um pacote completo desde o início.

Ainda assim, o saldo é extremamente positivo. DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake não tenta ser algo que não é: ele assume seu papel de preservar, celebrar e tornar acessível um legado fundamental dos RPGs japoneses. Para fãs da série, é praticamente obrigatório. Para quem nunca teve contato com os jogos clássicos, é uma porta de entrada segura, elegante e bem cuidada. Mesmo com seus tropeços, é um lançamento que honra o nome Dragon Quest e reforça por que essas histórias continuam relevantes quase quatro décadas depois.

Dragon Quest I & II HD-2D Remake chegou no dia 30 de outubro de 2025 para Nintendo Switch 2, Nintendo SwitchPlayStation 5Xbox Series X|S e PC, via Steam e Microsoft Store.

*Review elaborada em um Steam Deck OLED e em um PC equipado com GeForce RTX, com código fornecido pela Square Enix.

DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake

BRL 249,90
8.4

História

8.3/10

Gráficos e Sons

8.8/10

Gameplay

8.5/10

Extras

8.0/10

Prós

  • Visual HD-2D continua belíssimo e consistente
  • Expansões narrativas bem implementadas, especialmente em DQ II
  • Melhorias de gameplay que modernizam a experiência sem descaracterizar
  • Combate mais estratégico e menos engessado que nos originais
  • Performance excelente no PC e no Steam Deck

Contras

  • Ausência de localização em português do Brasil
  • Sensação constante de déjà vu para quem jogou DQ III recentemente
  • Pouca evolução visual em relação ao remake anterior

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.