Empire of Sin | Review
Gangsters são amplamente explorados pela indústria cultural em jogos, filmes, livros, séries e quadrinhos, sendo cada criação muito particular, de acordo com seus respectivos criadores. Porém, o período da Lei Seca, ocorrido nos Estados Unidos em 1920, talvez seja um dos mais explorados e intrigantes. Imagine: em pleno século XX, logo após a Primeira Guerra Mundial, os EUA criam tal lei buscando acabar com o vício em álcool, a corrupção e pobreza e, ao contrário do que esperavam, aumenta-se o nível de embriaguez do povo e pior, a criminalidade.
E é exatamente nesse meio que Empire of Sin, jogo de estratégia em turnos e gerenciamento da Romero Games e da Paradox Interactive lançado para Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One, e PC, via Steam, coloca o jogador, no submundo mafioso de Chicago durante os anos 20, num icônico período histórico. Mas será que o jogo traz todo o glamour e qualidade necessários para recriar esse momento? Veja isso e muito mais em nossa análise!
A Lei Seca dos anos 20
A tal Lei Seca realmente foi real. Em 1919, foi ratificada a 18ª emenda à Constituição americana, que proibia a produção, transporte e venda de bebidas consideradas “intoxicantes”. Com isso, iniciou-se a “Prohibition Era” (Era da Proibição, em português), que abriu precedentes para a implementação da Lei Seca, que entrou em vigor em 1920. Sendo criada para reduzir aspectos como a criminalidade ou o vício, algo enfrentado desde o século XIX, ela teve efeitos contrários. Esse comércio ilegal se tornou lucrativo e, além disso, violento, tendo como principais criminosos o conhecido Al Capone. Pior ainda, a bebida ilegal causou problemas como cegueira, paralisia e até a morte de algumas pessoas. Pior ainda, aumentou o desemprego e a arrecadação do Estado.
Nesse pano de fundo, Empire of Sin nos coloca para assumir o papel de um dos catorze chefes da máfia como Goldie Garneau, Stephanie St. Clair ou o lendário Al Capone. Ao escolher o determinado personagem, você deverá montar erguer um império criminoso, ao ir aumentando sua gangue e seus negócios criminosos, que vão de destilarias ilegais, as “speakeasies”, locais onde as pessoas bebiam escondidas das autoridades, bordéis regados a álcool e prostitutas e outros.
Porém, como em todas as representações de gangsters, em Empire of Sin, para você conseguir subir de vida e sobreviver não será tão simples. Sendo assim, você terá que escolher entre violência, intimidação, sedução e subornos para chegar ao mais alto nível ou a até mesmo sobreviver nessa vida nada fácil.
Começando a vida de gangster em Empire of Sin
Cada um dos personagens selecionáveis conta com habilidades de combate e vantagens, sendo essas suas características únicas e que devem se adequar ao estilo do jogador. Ao jogar, escolhi especificamente Al Capone (que está bem bonitão com seu casaco de pele), que conta com a habilidade de produção de cerveja desde o início do jogo, além de ter como parceiro um aliado de família Italiana, algo que facilita bastante nas trocas comerciais. Porém, como eu disse, cada personagem tem suas características, portanto é bom ficar de olho antes de escolher, pois isso faz uma considerável diferença na campanha.
Após a escolha, Empire of Sin nos coloca dentro de uma Chicago repleta de gangues, prédios aliados ou inimigos, policiais corruptíveis e diversas possibilidades. Basicamente, você pode seguir as missões para conseguir mais lucro e notoriedade e, além disso, pode agir criminosamente ao tomar edifícios inimigos. Ou seja, além de um jogo de estratégia em turnos, temos aqui uma parte voltada ao gerenciamento dos negócios da máfia. Confesso que não achei muito simples a tarefa, e que isso me deu uma boa desanimada. Mas isso piora…
Amigos e rivais
Empire of Sin parece não ter uma forma decente de lidar com os seus rivais de negócios. Sendo assim, por mais que você tente manter gangues aliadas, ao ficar cada vez mais reconhecido ao subires de nível, os outros gangsters irão ficar incomodados, entrando em guerra com você sem maiores motivos a não ser seu crescimento. Isso até faz sentido, mas é um dos pontos que torna a experiência do jogo um tanto quanto frustrante.
Ao contrário do que deveria, as negociações com outros líderes deveriam ser mais bem trabalhadas, mas acabam passando batidas. Isso fica ainda mais explícito ao ver que contratos e pactos formados podem ser diluídos de uma hora pra outra e sem qualquer prejuízo a quem o faça. Será que a ideia de Empire of Sin é mostrar que criminosos não tem palavra? Fica a questão no ar…
Essas discussões sobre negócios ou pactos de paz normalmente são feitas por interesse de outro mafioso. Mas como dito acima, essa parte é frustrante. De imediato, a ideia de dialogar com outros líderes pode ser excitante, mas as possibilidades são limitadas e até mesmo repetitivas. No entanto, não é só nesse ponto que o jogo conta com problemas.
Como ser um gangster na prática
Em Empire of Sin a noção de um dia é passada a cada 12 minutos na vida real. Além disso, o tempo só é pausado quando desejamos ou entramos em conflito, adotando uma perspectiva muito comum aos jogos de estratégia em turnos, com uma visão de cima, menus com habilidades, armas e pontos de ação utilizados, embora ainda seja menos apurado que títulos como Wastelands III ou a franquia XCOM… Ou seja, além de não apresentar nada de novo e ser mais limitado, ainda acontece várias vezes, demorando cerca de 10 minutos, ficando cada vez mais repetitivo. Pior ainda, em alguns momentos, meu personagem errava um tiro ou até mesmo um soco estando ao lado do inimigo. Isso é MUITO IRRITANTE.
A inteligência artificial do jogo é bem fraca. A máquina elabora jogadas completamente idiotas, facilitando demais a vida do jogador. E isso ainda piora com alguns problemas de jogabilidade e bugs visuais. Por exemplo, ao selecionar um personagem para atacar, o botão por vezes some, te obrigando a dar um zoom no inimigo. É estranho e isso poderia ser mais bem trabalhado, pois tal detalhe tira a paciência do jogador e quebra totalmente a imersão.
Já no espaço fora de combate, você deverá circular pela cidade e também deverá gerir os negócios, divididos em quatro tipos de edifício: as speakeasies, locais de fachada para venda e consumo de bebidas; os Bordéis, que rendem uma grana extra para os negócios, sobretudo se você vender bebidas aos clientes; as “fábricas”, local de produção das bebidas alcóolicas ilegais; e os Casinos, onde você também pode ter algum lucro (ou prejuízo, dependendo das circunstâncias). Ambos edifícios contam com níveis de atualização para melhorar aspectos como produção, ambientação ou segurança. Vale citar também o lugar mais importante para os chefões: a safehouse. A máfia é controlada a partir dela, sendo este um local de extrema importância para o jogo.
Empire of Sin apresenta características especificas em cada personagem. No entanto, ao aumentar sua gangue, cada um dos personagens secundários vai recebendo pontos que são distribuídos tal como no protagonista, algo que traz uma enorme diferença na jogabilidade e consequentemente nos conflitos. Sendo assim, cada gangster vai tendo habilidades úteis como cura, precisão, tiros com maior dano, etc. Tudo isso pode ser usado durante as batalhas. Outro ponto que pode ser aprimorado são as armas e coletes, que podem ser coletados nos drops dos inimigos ou até mesmo comprados no mercado negro, aumentando ainda mais o seu poder, que fica mais e mais desequilibrado.
Vale a pena comprar Empire of Sin?
Empire of Sin tem gráficos bonitos. A qualidade dos modelos, dos detalhes de iluminação e a recriação de uma Chicago dos anos 20 é muito bem elaborada, mesmo com animações que não acompanham esse nível de qualidade. O áudio também é agradável, contando com diálogos bem narrados e uma trilha sonora de época bem gostosa de se ouvir, tendo tudo a ver com o ambiente. Porém, os elogios param por aqui. O jogo é repetitivo, e isso acaba desanimando a sua continuidade. As lutas deveriam ser aprimoradas e menos comuns ao longo da aventura. Outro ponto relevante a se ressaltar é a ausência de mais possibilidades de diálogos com outros gangsters, sendo a “diplomacia” entre eles algo pouco explorado.
A ideia de misturar estratégia em turnos e gerenciamento até poderia ser um grande diferencial, mas Empire of Sin não entrega uma boa jogabilidade, algo que compromete a qualidade do trabalho feito pela desenvolvedora para recriar os anos 20. Isso piora com alguns bugs e a constante repetição de conflitos. Se você procura um jogo de estratégia em turnos, sugiro que procure outro, pois a experiência aqui não foi das melhores e nem mesmo a narrativa situada nos anos 20 foi o suficiente para prender minha atenção. E eu bem que estava ansioso pelo jogo, sobretudo após ver seus primeiros trailers…
*Review elaborada em um PC equipado com GeForce RTX com código fornecido pela Paradox Interactive.