Final Fantasy XVI | Review

Eu tinha uma grande expectativa por Final Fantasy XVI. Primeiro, por ser um jogo original de uma das minhas franquias preferidas. Segundo, por representar uma mudança importante na série, ao se considerar, oficialmente, como um RPG de ação. Logo, minha curiosidade foi sendo saciada aos poucos com as informações que a Square Enix nos dava, apresentando personagens, os summons (que foram chamados de Eikons), detalhes da história e mecânicas de gameplay.

Agora, após mais de 53 horas de gameplay, 100% da história concluída, todas as missões secundárias completas e todas as caçadas concluídas, tenho muito a dizer sobre um jogo que, com certeza, figurará entre os melhores do ano e, porque não dizer, de uma lendária franquia. Vem comigo em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Uma história sobre determinação

Antes de começarmos a falar de fato de Final Fantasy XVI, vou dizer que essa análise será a mais livre de spoilers da narrativa possível, visando preservar a experiência dos jogadores. O game nos leva ao mundo de Valisthea, no papel de Clive Rosfield, o Primeiro Escudo de Rosaria, uma das regiões do jogo. Nosso jovem protagonista ainda adolescente, tem a missão de proteger seu irmão mais novo, Joshua Rosfield, o Dominante da Fênix. Entender esses termos é fundamental para compreensão do título, então darei uma breve explicação sobre tudo isso, em especial, para os fãs da franquia.

Em Final Fantasy XVI, os Dominantes são pessoas que nascem com o poder de incorporar Eikons, que nada mais são do que os populares summons no game. Além deles, há os Portadores, pessoas que possuem a habilidade de conjurar magias, mas que são postas à deriva e escravizadas. No entanto, na terra natal de Clive, há um movimento, de certa forma incentivado pelo seu pai, Elwin Rosfield, o Arquiduque de Rosaria, para que os Portadores ganhem mais direitos e se integrem à sociedade. Tal sentimento, claro, é compartilhado por Clive e Joshua. Afinal, Joshua é o Dominante da Fênix e Clive, como seu Escudo, foi honrado com a habilidade de conjurar fogo.

No entanto, um evento traumático, que parece ter sido inspirado diretamente de Game of Thrones, muda toda a percepção que Clive tinha do mundo. Se o Valisthea só era conhecia a possibilidade de existir um Dominante vivo por elemento, um segundo Dominante de Fogo surge, causa um verdadeiro alvoroço e, enfim, nossa história começa – ou retorna ao ponto de início, já que o Final Fantasy XVI traz um flashback sobre os eventos iniciais nas primeiras horas.

Final Fantasy XVI
Joshua, à esquerda, e Clive (Imagem: Reprodução)

A partir daí, Clive é marcado como um Portador e, por isso, acaba à deriva da sociedade. Mas ele tem algo muito forte que o move: uma determinação para encontrar este segundo Dominante de Fogo, e também as respostas e motivações pelo que aconteceu. Ao longo do jogo, conhecemos personagens importantes para a narrativa, como Cid, o Dominante Elétrico, responsável por invocar Ramuh, e Jill, Dominante de Gelo, e responsável por Shiva.

A história de Final Fantasy XVI também é bem diferente do que já vimos até hoje na série. Ela é, sem sombras de dúvidas, a mais adulta já vista na franquia. Há cenas de nudez e sexo não explícitos, há muito sangue, mortes, e muitas tramas complexas que envolvem política, traições e relacionamentos humanos. Mais uma vez, parece que o time de desenvolvedores buscaram inspirações no blockbuster da HBO. Não que isso seja ruim, afinal, falamos de uma das séries de TV mais vistas e premiada de todos os tempos. Mas fica impossível não fazer associações.

Um ponto importante que merece ser mencionado é que o Final Fantasy XVI usa muito recurso de cutscenes para contar a história. E é muito mesmo, são cenas longas, que às vezes eu até largava o controle para assistir. Não é um problema, longe disso, mas imagino que pode ser um problema para alguns jogadores.

Final Fantasy XVI
Torgal é o lobo que acompanha Clive em suas aventuras (Imagem: Reprodução)

As mecânicas de Final Fantasy XVI

Com esse breve histórico sobre a narrativa, partiremos para falar sobre as mecânicas. E já adianto que elas são muitas! O gameplay de Final Fantasy XVI é o mais completo da franquia até hoje, combinando elementos clássicos de RPG com novos recursos, que deixam o jogo mais dinâmico. A primeira delas é a opção de jogar com “Foco na História” ou “Foco na Ação”. O primeiro é ideal para aqueles que querem curtir a narrativa sem que se tenha que se preocupar com a dificuldade. Já o segundo é voltado para os jogadores mais acostumados aos games de ação, trazendo inimigos ligeiramente mais difíceis. Há uma flexibilidade, pois é possível alterar entre os modos a qualquer momento.

Além disso, ao escolher o Foco na História, o jogador começa com dois Acessórios de Oportunidade. Ao todo, o jogo traz cinco anéis que servem para ajustar a dificuldade, trazendo efeitos diferentes, que vão desde simplificar a execução de combos, até facilitar a esquiva, cura automática ou obter assistência de Torgal, o companheiro lupino de Clive. Na prática, você pode ficar apenas direcionando a câmera e apertando o botão de ataque para lutar que o jogo fará (quase) tudo sozinho. Estes acessórios proporcionam aos jogadores a oportunidade de adaptar a experiência de combate às suas preferências individuais e níveis de habilidade.

Final Fantasy XVI introduz também um novo sistema de companheiros, começando por Torgal, o fiel lobo que acompanha o protagonista na nossa aventura. Apesar de ser controlado pela IA, Torgal pode receber comandos para sincronizar ataques com Clive, curar ou até mesmo usar suas habilidades de faro para apontar a direção certa, caso você se perca, durante os estágios do jogo. Além de Torgal, Clive será acompanhado por diversos outros personagens, todos também controlados pela IA, ao longo da história, cada um contribuindo com suas habilidades únicas para a batalha.

Final Fantasy XVI
Final Fantasy XVI traz várias lições de vida (Imagem: Reprodução)

Falando em batalhas, este é o ponto mais alto de Final Fantasy XVI. Os sistemas de combate e habilidades funcionam muito bem, e a introdução das Habilidades Eikônicas também auxiliam em aumentar ainda mais o nível de estratégia e ação. Ao longo do jogo, Clive aprende outras habilidades, e passa a conseguir conjurar o poder de outros Eikons. Cada uma dessas habilidades tem características únicas, dependendo do Eikon do qual é derivada. Enquanto essas habilidades são poderosas, os jogadores precisarão criar estratégias sobre o melhor momento para usá-las, considerando o tempo de recarga, bem como quais estarão equipadas por vez.

Isso porque, conforme a narrativa de Final Fantasy XVI avança, mais Habilidades Eikônicas são adquiridas, e o jogador precisa escolher. Cada Eikon fornece cinco habilidades diferentes, em uma vasta árvore de habilidades, com poderes e recursos diferentes para cada um. No total, é possível equipar até três Eikons de cada vez, cada um equipado com duas habilidades, totalizando seis. Você pode, por exemplo, equipar uma habilidade de um Eikon em outro. Além disso, cada Eikon concede habilidades que podem ser usados repetidamente sem qualquer tempo de recarga e também aumentam em muito o grau de estratégia no jogo.

No entanto, tamanha a complexidade que o sistema de batalha oferece, há também flexibilidade. Se ficar na dúvida sobre o que escolher e equipar, basta apertar L3 para otimizar os equipamentos, ou R3 para definir quais habilidade são recomendadas. Na árvore de habilidades, é possível redefinir as habilidades adquiridas segurando o Touch Pad, e equipar novas ao segurar L3. Como são apenas seis por vez, recomendo testar ao longo do jogo, conforme adquire novas habilidades Eikônicas, mas aprimorar ao máximo aquelas que você mais se identificar, deixando Clive mais forte.

Final Fantasy XVI
Pausa pra fazer carinho no Torgal (Imagem: Reprodução)

Dito tudo isso, na hora das batalhas, Final Fantasy XVI ainda conta com um um “Limit Break”, que fica disponível em um momento mais avançado no game. Ao ativarmos, usando L3 + R3, Clive aumenta o dano infligido e também começa a regenerar gradualmente o HP. Outro recurso interessante é a Barra de Ímpeto dos inimigos. Ao atacar inimigos poderosos, como chefes, o jogador também diminuí uma barra amarela, embaixo da vida. Quando essa barra cai pela metade, eles ficam mais sucessíveis a dano e, ao esgotar completamente, ficam tontos e vulneráveis. Isso abre uma janela para desferir golpes mais poderosos.

Um dos recursos que mais se destacam em Final Fantasy XVI, no entanto, são as Batalhas de Eikons. Sem entrar em detalhes de como elas acontecem e porquê, mas certamente são um dos pontos chaves da obra. Impulsionadas por momentos chaves do jogo, com trilhas sonoras que fazem jus ao momento, elas realmente passam a sensação de que temos uma poderosa invocação lutando, com danos altíssimos infligidos, mas também uma alta resistência do adversário.

Final Fantasy XVI
Garuda está diferente (Imagem: Reprodução)

Explorando Valisthea

Final Fantasy XVI quebra o modelo de mundo aberto em grandes produções, estabelecido na indústria há alguns anos. Apesar de oferecer enormes áreas exploráveis, o jogo é linear, com possibilidade de irmos e voltarmos em pontos chaves da narrativa, seja em busca de baús não abertos, ou para cumprir missões secundárias. Essas áreas exploráveis são desbloqueadas e contam com viagem rápida, o que é bem útil, e realmente rápido no PlayStation 5.

Tudo isso parte do esconderijo de Cid, que em Final Fantasy XVI, serve como um hub central. É lá que vamos encontrar O Martelo Preto para criar e aprimorar equipamentos, comprar itens na Tenda da Charon ou obter novas informações sobre caçadas – em um ponto intermediário do jogo – e desafios adicionais, seja missões secundárias ou não.

As caçadas, inclusive, são um dos pontos chaves do game. Elas oferecem versões mais difíceis de inimigos que encontramos, além de alguns adversários exclusivos que só podem ser encontrados por ela. E, como o próprio nome diz, não há nenhuma marcação no mapa sobre a localização desses inimigos, cabendo ao jogador ler as informações, processá-las e encontrar os monstros em questão. Pra mim, foi um dos pontos chaves, pois as batalhas são desafiadoras e acrescentam um desafio a mais, além de ótimas oportunidades para ganhar XP.

Final Fantasy XVI
O simpático Nektar é o responsável por gerenciar as caçadas em Final Fantasy XVI (Imagem: Divulgação)

Além disso, é no esconderijo que fica a Pedra Areté, um recurso que vai sendo aprimorado conforme a narrativa avança. E ela é de grande ajuda para os jogadores, pois libera alguns recursos legais: o Salão da Virtude, uma área de treinamento personalizável, ou o Modo Arcade, que permite repetir qualquer fase já concluída, sendo premiado com uma pontuação baseada no seu desempenho, ou mesmo o Reprise de Fase, que é autoexplicativo. Também estão disponíveis as Provações do Cronolito, que são desbloqueados mais tarde no jogo e apresentam um conjunto de desafios onde só podemos usar um Eikon.

As missões secundárias em Final Fantasy XVI também desempenham um papel crucial para adicionar profundidade à Valisthea e os personagens. É cumprindo elas que você vai receber informações mais detalhadas sobre o que está acontecendo no mundo naquele momento da história. Por isso, recomendo sempre que ver um ponto de exclamação verde na sua exploração, checar sobre o que se trata. Além disso, é importante frisar que elas vão se completando, contando uma história conforme concluímos.

As missões secundárias também estão disponíveis nos Aposentos do Clive, através de cartas enviadas ao protagonista. Essas cartas também servem para nos oferecer um vislumbre dos pensamentos e sentimentos do personagem. Em geral, realizar as missões secundárias é uma ótima maneira de se aprofundar nas histórias que compõem o mundo de Final Fantasy XVI, seja com desafios adicionais, mas também com informações adicionais sobre Valisthea e seus habitantes.

Final Fantasy XVI
Jill, Clive e Torgal (Imagem: Reprodução)

Um universo complexo, mas é Final Fantasy!

Final Fantasy XVI pode levantar algumas dúvidas de alguns desavisados sobre “ser ou não” um autêntico jogo da franquia, mas ao jogar, qualquer dúvida que se teve, não existe mais. O título não só é uma ótima adição à linha principal, como também traz de volta muitos elementos clássicos que marcaram uma geração de jogadores em 36 anos de história da franquia.

A começar pelos inimigos. Se prepare para encontrar Goblins, Coeurls, Grifos, Adamantugas, Beemotes, Flan, Ahriman, Bombas e Orcs. Senti falta de Tonberrys e Cactuars, mas ainda assim, me senti representado pelo que vi. Além disso, para nos movermos mais rápido por Valisthea, é possível invocar um Chocobo, a partir da metade – e adquirido através de uma missão secundária – para auxiliar nessa demanda.

Além disso, muitos das magias e armas clássicas da franquia estão presentes. A Excalibur, por exemplo, é uma das espadas que podemos construir n’O Martelo Preto. Shiva ataca com seu tradicional Diamond Dust (Pó de Diamante, em português), enquanto Bahamut usa o seu Gigaflare (Gigaflama, no Brasil) para deixar claro que a qual franquia o game pertece.

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As informações obtidas na história e missões secundárias formam um enorme compêndio na biblioteca do esconderijo (Imagem: Reprodução)

Para nos auxiliar em toda essa vastidão de informações, Final Fantasy XVI conta com dois recursos importantes para os jogadores. O primeiro é Harpocrates, um bibliotecário que cataloga e organiza os segredos de Valisthea enquanto Clive conta as histórias de suas aventuras. Ele adiciona essas informações aos Mil Livros, um compêndio abrangente da lore do jogo, que cobre tudo, desde termos básicos a pessoas importantes, geografia e história. À medida que Clive avança na história, novas informações são constantemente adicionadas – desde que você converse com ele. Também há, nos Aposentos do Clive, o Muro das Memórias, que contém itens de significância na jornada.

Outra adição interessante é a Vivian Novecontos, uma estudiosa e estrategista que explica a Clive o estado atual do reino e fornece informações sobre os personagens. Ela é crucial para entender a política e as várias facções do reino, além de organizar tudo isso em linhas do tempo, tornando a trama muito mais completa – e de fácil entendimento. No que diz respeito a itens colecionáveis, Final Fantasy XVI possui a Orquesta Mecânica, um dispositivo que fornece música de fundo para o esconderijo. A lista de faixas se expande à medida que você encontra ou compra mais faixas, seja por meio de quests da história, lojas ou baús de tesouro.

Final Fantasy XVI
Andar de chocobo é possível em Final Fantasy XVI (Imagem: Divulgação)

Audiovisual e recursos

Final Fantasy XVI traz dois modos gráficos: “Taxa de Quadros” e “Gráficos”. O primeiro mira em até 60 FPS, embora não consiga manter uma estabilidade por muito tempo, enquanto o segundo oferece uma qualidade gráfica em 4K. Eu joguei no modo taxa de quadros e, mesmo com uma variação enorme, em alguns momentos caindo até em cutscenes, achei de uma qualidade grande. No fim, fica a cargo do jogador escolher como vai curtir o mundo de Valisthea.

Em termos de trilha sonora, mais uma vez, um trabalho impecável da Square Enix quanto à franquia. As músicas não são enjoativas e prestam um ótimo serviço para empolgar os jogadores em momentos chaves, ou mesmo para acalmar quando é esse o momento. A dublagem em inglês está excelente, com sincronia labial, e a localização dos textos para português do Brasil está impecável.

Final Fantasy XVI
Detalhes… (Imagem: Reprodução)

Por fim, é importante ressaltar que, ao menos para os platinadores e fãs de desafios, terminar Final Fantasy XVI é só o começo da aventura. O game traz um Novo Jogo+, oferecendo mais ação com o “Modo Final Fantasy”, que é um modo de jogo desafiador, com ajustes nos lugares e na dificuldade dos monstros. E para obter a platina, é preciso terminar o jogo neste modo.

Vale a pena comprar Final Fantasy XVI?

Final Fantasy XVI, seguindo a tradição dos títulos anteriores da série, é um jogo que oferece uma experiência narrativa rica e envolvente. O game traz um sistema de combate robusto com várias mecânicas interessantes, como as Habilidades Eikônicas, além de oferecer várias maneiras para os jogadores personalizarem sua experiência de jogo através dos Acessórios de Oportunidade e do sistema de habilidades.

O título também se destaca por sua atenção aos detalhes no que diz respeito ao mundo e aos personagens. Isso é evidente no sistema de missões secundárias, que dá aos jogadores a chance de aprender mais sobre o mundo de Valisthea e seus habitantes, e nos vários sistemas que permitem aos jogadores explorar a história e a cultura do mundo, como os Mil Livros e a personagem Vivian Novecontos. Além disso, a existência do esconderijo como um hub central para atualizações, novas informações e desafios é uma adição valiosa que contribui para uma experiência mais profunda e personalizada.

Em resumo, Final Fantasy XVI é uma uma adição impressionante à série, com um sistema de combate complexo e aprofundado, uma história rica e personagens bem desenvolvidos, além de uma série de recursos e mecânicas que permitem aos jogadores explorar e se envolver com o mundo do jogo de maneiras significativas. Este é definitivamente um título que os fãs da franquia e jogos de RPG em geral vão querer experimentar.

Final Fantasy XVI será lançado exclusivamente para PlayStation 5 no dia 22 de junho, com versões a partir de R$ 349,90. 

*Review elaborada com código fornecido pela Square Enix.

Final Fantasy XVI

R$ 349,90
10

História

10.0/10

Gráficos e Sons

10.0/10

Gameplay

10.0/10

Extras

10.0/10

Prós

  • Mais uma excelente narrativa para a franquia
  • Mecânicas de combate
  • Muito conteúdo adicional
  • Trilha sonora épica
  • Ótima localização em português

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.