Forspoken | Review
Ainda antes do lançamento do PlayStation 5, em 2020, a Square Enix revelou o RPG Project Athia, que posteriormente viria ser chamado de Forspoken. Anunciado em junho de 2020, e com lançamento agendado para a próxima terça, 24, para PlayStation 5 e PC, o game nos coloca no papel de Frey Holland, uma nova iorquina que é tele transportada, sem grandes explicações, para Athia, um outro planeta, e que vive um grande atraso tecnológico.
Desenvolvido pela Luminous Productions, um estúdio interno da Square Enix, Forspoken acabou se envolvendo em polêmicas antes do lançamento. A primeira foi com as exigências recomendadas de hardware para rodar em um PC, que marcam uma GeForce RTX 3070, uma placa vendida por quase R$ 4 mil no Brasil. A última polêmica envolveu grandes portais internacionais em games, que não receberam cópias de review com antecedência, prática comum no mercado, o que levou jornalistas a levantarem questionamentos sobre o estado do game.
Longe de toda essa polêmica, o Pizza Fria teve acesso à uma cópia do jogo, para PlayStation 5, e eu te conto tudo o que achei sobre o título agora, em mais uma analise antecipada do nosso site!
Uma confusa história sobre magia
Forspoken nos coloca no papel de Frey Holland, uma mulher que foi abandonada pela mãe ao nascer, e encontrada por populares no Holland Tunnel, um dos dois túneis abaixo do Rio Hudson, que conecta a ilha de Manhattan, parte da cidade de Nova Iorque, com Jersey City, uma cidade no estado de Nova Jersey. Veio daí o sobrenome da nossa protagonista, afinal, aos 21 anos, ela não havia recebido nenhuma informação sobre suas origens biológicas.
E Forspoken já começa com nossa protagonista no tribunal, recebendo uma nova chance da juíza, após cometer mais um delito. Após ser liberada, sob a condição de cumprir uma pena social, conhecemos um pouco sobre a vida de Frey em Nova Iorque, até que temos contato com um bracelete mágico, e somos transportados para Athia.
Este bracelete mágico se comunica diretamente com Frey, e a protagonista o chama de Algema no jogo, pois não consegue se desvincular dele. Por mais curioso que essas informações possam parecer, ficamos mais da metade do jogo “no escuro”, sem entender o porque estamos em Athia e o nosso papel naquela região. O começo da narrativa é bem confuso, vago, e as coisas só começam a se encaixar de fato a partir do Capítulo 7, que é mais da metade do jogo – são 12, ao todo. Até lá, uma dose sombria de dúvidas, já que boa parte da motivação que temos para continuar passa pelo gameplay, e não pela história.
Isso acontece porque Forspoken é sim um jogo curto. Outra informação vazada, antes do lançamento, apontava que o jogo teria entre 6 a 10 horas para ser concluído. Eu levei 16h30, sendo que do meio pra frente, passei a não explorar tanto o mapa e, sim, a focar nas missões principais. Falarei mais sobre isso adiante, mas é importante saber que eu acredito que, sim, dependendo da dificuldade jogada e do foco do jogador, o game pode ser concluído com muito menos tempo do que eu levei.
Do meio do jogo pra frente, as explicações que Forspoken nos oferece em termos de roteiro são aceitáveis, mas algumas das dúvidas que temos ainda ficam sem resposta. Particularmente, eu até apreciei em determinado momento, quando nos é oferecida uma escolha e, a depender do que você decidir, os créditos sobem. Mas certamente não é o final verdadeiro, que passa pela outra escolha – a qual não revelarei, por conta do embargo.
Dito isso, creio que a narrativa do jogo acabou mal desenvolvida. A história em si não é ruim, mas a forma como ela é contada, deixando as principais revelações apenas para a reta final, sim. O começo de Forspoken é muito morno em termos narrativos, e boa parte da progressão se escora no gameplay. Que começo a falar agora.
Um gameplay mágico interessante
Depois de chegarmos em Athia, e ganharmos controle de Frey após uma série de eventos e cutscenes, podemos enfim começar a jogar Forspoken e explorar o novo local. O gameplay do título é centrado em dois pilares, principalmente: o parkour arcano, e o combate mágico. Enquanto a primeira opção é mais voltada para a exploração do mapa, o segundo é, obviamente, para os duelos. Vamos começar a falar sobre o parkour.
Explorar Athia é uma das coisas mais divertidas em Forspoken. Nossa protagonista adquire poderes capazes de escalar e saltar por grandes distâncias, assim como cair de lugares mais altos. Lógico que não significa que você vai pular de um precipício e sair ileso, mas Frey é capaz de aguentar algumas quedas, muito por conta da relação que construímos com o Algema, uma espécie de Mimir (God of War) para a protagonista, com a diferença de que só ela consegue conversar com ele.
Se no começo temos atividades mais “básicas” relacionadas ao parkour arcano, do meio pra frente o jogo também expande mais essas possibilidades, nos oferecendo mais coisas para fazer, como, por exemplo, andar sob a água como se estivéssemos em um skate, lançar uma guia de tele transporte e até nos locomovermos livremente pelo cenário por um curto tempo, ao ativar uma habilidade especial. Andar por Athia é uma atividade bastante interessante.
Já o combate é um dos pontos mistos do jogo. Ele tem mais altos do que baixos, é verdade, mas passa muito também das escolhas narrativas. Isso porque praticamente até a metade do jogo, só temos disponível o combate à longa distância, e uma lista bem limitada de magias. Dali em diante, a protagonista consegue aprender novos tipos de magia, inclusive um eficiente combate em curta distância, o que melhora consideravelmente a experiência, principalmente em momentos onde somos atacados por diversos inimigos.
Falando sobre magias, há uma enorme lista de possibilidades para aprender, e aprimorar, em Forspoken. Elas são divididas em quatro grupos, que são adquiridos a medida que a narrativa avança, e como um bom RPG, são fortes e fracas entre si. Uma magia é mais eficiente contra um tipo de inimigo, enquanto outra é pouco eficiente. Clássico do gênero.
O meu problema com o sistema de aprimoramento de magias de Forspoken é que, para chegar ao máximo, é um processo longo e, convenhamos, um tanto inútil. Por mais que tenhamos mais de 50 tipos de magias diferentes, sendo que algumas são versões aprimoradas de outras, aprender a maioria delas não é necessário para terminar o jogo. Por ter uma história curta, e missões secundárias que também não agregam tanto à narrativa, a sensação que tive é que o título oferece conteúdo, mas pouco efetivo. Tirando o grupo de magias principal, nenhum outro eu evolui mais que 50%. E isso não foi necessário para chegar ao fim do game, pois a progressão do título funciona de uma forma bem única.
Para subir de nível em Forspoken, os jogadores devem realizar algumas atividades. Além de missões principais e Tarefas, que são as missões secundárias do jogo, também podemos explorar o mapa, abrir baús (alguns com uma trava por meio de um puzzle), desbloquear pontos de viagem rápido, resolver dungeons em busca de equipamentos melhores, explorar monumentos, que nos garante melhorias em atributos, tirar fotos, como parte de uma missão secundária, e até explorar um pouco do passado da região. Há ainda Mutantes para serem derrotados, o que apresenta um desafio extra, em especial, após o término da história.
Mas isso também me pareceu meio inexplorado. Um dos sistemas do jogo é que a Frey pinta runas em suas unhas para ganhar magias mais fortes. As que eu escolhi no começo do jogo me acompanharam até o fim, mesmo podendo mudá-las ao longo do gameplay. Além disso, os equipamentos me pareceram um pouco iguais, e tirando alguns que você adquire mais para o fim do jogo, a evolução e aprimoramento deles também parece não melhorar tanto o jogo.
Outro ponto é que, assim como o sistema de magias de Forspoken, o mapa é muito maior do que precisava ser. Ao término da campanha, eu tinha muitas áreas ainda inexploradas, que Frey não conhece durante a história principal. Pelo tamanho de magias, e do mapa, me passou a sensação de que o game teve muito conteúdo cortado. Uma pena.
Gráficos controversos, mas aceitáveis
Forspoken, antes mesmo de ser lançado, recebeu críticas por um suposto downgrade gráfico, ao ser comparado os trailers promocionais e a demo. Esse downgrade existe e é evidente, ao menos no PlayStation 5. Detalhes foram cortados, e o mapa perdeu bastante vida.
Mas de uma forma geral, ainda é um jogo bem bonito. Eu joguei metade do game no modo Desempenho, com a taxa de atualização de 120hz ativa, e o jogo trouxe uma experiência bastante fluída, porém, não tão bela, com algumas cenas e texturas bem estranhas. A segunda metade eu joguei no modo Ray Tracing, também com os 120hz ativos, e eu achei bem melhor. Apesar de ter algumas quedas de framerate em alguns pontos, o jogo é bem mais bonito nesse modo, e o desempenho não ficou tão ruim. Não tenho equipamento para analisar tecnicamente, mas me pareceu rodar acima de 30 FPS, com essas configurações.
O que pesa contra nos gráficos Forspoken é a “reciclagem” de ambientes. Os refúgios são praticamente idênticos, tanto externamente quanto internamente, assim como torres de viagem rápida e boa parte das dungeons, que tem tamanhos diferentes. No entanto, os biomas de Athia são diversificados, o que ajuda a equilibrar e pesar a favor.
Outro fator que me incomodou no game foram os bosses. Um dos exemplos é que o penúltimo chefe, pra mim, foi mais difícil que o boss final. De uma forma geral, os bosses são pouco criativos, e tirando as batalhas chave do jogo, enfrentamos inimigos com pouca criatividade em sua aparência. Há alguns bosses mais criativos perdidos pelo mapa, mas de uma forma geral, é preciso explorar mais para encontrá-los.
Localização e trilha sonora
Forspoken chega ao mercado com textos em português do Brasil, e quatro opções de áudio, mas nenhuma em português. Não é um problema, dado o histórico da Square Enix com o Brasil, o fato de termos jogos localizados, mesmo que em texto, podemos considerar uma vitória. Inclusive, a localização é muito bem feita, com piadas localizadas e diálogos interessantes – principalmente entre Frey e Algema.
A trilha sonora, apesar de não ser muito diversificada, cumpre bem seu papel. Ela não é memorável, mas funciona bem ao entregar emoção, animação e adrenalina nos momentos necessários.
Vale a pena comprar Forspoken?
Pontuado tudo isso acima, Forspoken é um jogo mediano e com um imenso potencial desperdiçado. Não que seja um jogo ruim, longe disso, mas a forma como a história foi contada e o tamanho do mapa e da árvore de magias, relacionada ao tempo que se leva para terminar a campanha, me passou muito a impressão de que tivemos conteúdo cortado do produto final. O ponto alto do jogo é a exploração e o parkour arcano, bem como o combate mágico, em especial após desbloquearmos outros tipos de magias. Uma pena que isso só acontece do meio pra frente, o que limita bem a experiência do jogador quanto à diversos recursos do jogo.
Creio que aqueles que complecionistas, que buscam explorar cada canto do mapa, devem ter uma experiência diferente, já que há muitas atividades secundárias no jogo, mas que agregam pouco – ou quase nada – à narrativa. Há muito a se explorar e a se fazer, porém, sem muito propósito. No fim, a sugestão que eu deixo para os jogadores que tem dúvida sobre o que pensar de Forspoken é para baixar e jogar a demo. Pra mim, o ponto alto do título é o gameplay, que é oferecido em sua melhor parte na demo. Se você gostar, creio que vai apreciar a obra completa.
Forspoken será lançado no dia 24 de janeiro de 2023 para PlayStation 5 e PC, via Steam, Epic Games Store e Microsoft Store.
*Review elaborado no PlayStation 5, com código fornecido pela Square Enix.