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Life is Strange: Double Exposure | Review

Life is Strange: Double Exposure, o mais novo capítulo da franquia da Square Enix e Deck Nine, traz de volta Max Caulfield, a protagonista que conquistou corações em 2015. Desta vez, Max é mais velha e madura, vivendo como professora de fotografia na Universidade de Caledon. À convite da Square Enix, tive a oportunidade de conferir o título antecipadamente e já até trouxe minhas impressões sobre os primeiros dois capítulos aqui.

Mas toda a minha empolgação com o início da história se foi. Em vez de construir uma sequência que solidifique sua trajetória ou expanda a história de forma significativa, Life is Strange: Double Exposure se perde em escolhas narrativas questionáveis e em falhas técnicas que comprometem a experiência. O resultado? Um título que parece mais um trampolim para o futuro da franquia do que um jogo que se sustenta por si só. As justificativas eu trago agora, em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Um mistério que falha em capturar a essência

A trama de Double Exposure começa promissora, com Max se deparando com a morte de sua amiga Safi, o que a força a redescobrir seus poderes e investigar o que realmente aconteceu. A nova mecânica, que permite alternar entre duas linhas do tempo — uma onde Safi está viva e outra em que ela foi assassinada — se apresenta como o grande trunfo do jogo.

Inicialmente, parece uma evolução que realmente traria as famosas escolhas e consequências, levando o jogador a explorar diferentes cenários e descobrir novas pistas em cada realidade. No entanto, conforme a narrativa avança, fica claro que o foco no mistério de Safi ofusca o desenvolvimento de personagens e a conexão emocional que sempre foi a marca registrada da série.

Life is Strange: Double Exposure
A morte de Safi é o grande mistério de Life is Strange: Double Exposure (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

O grande problema é que, ao focar tanto na resolução desse mistério, Double Exposure sacrifica a profundidade dos personagens. Max, que no jogo original trazia um nível de pessoalidade muito mais intenso, e evoluía conforme suas escolhas, aqui se sente mais como uma investigadora fria, sempre em busca de informações para solucionar o crime.

O game tenta replicar a fórmula de tensão do primeiro título, mas não há a mesma urgência emocional. A relação de Max com Safi, por exemplo, passa longe do mesmo peso que seu vínculo com Chloe, o que faz com que o mistério em torno da morte de Safi não carregue a carga dramática esperada.

Life is Strange: Double Exposure
Nostálgico. (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Escolhas questionáveis e um final decepcionante

Uma das marcas da franquia Life is Strange sempre foi o impacto das escolhas do jogador. Mas, em Double Exposure, essas decisões parecem superficiais e pouco impactantes. Embora existam alguns momentos que oferecem dilemas, a maior parte das escolhas afeta apenas diálogos e interações menores, sem realmente mudar o curso da história de forma significativa.

O ápice disso é o desfecho do jogo. Em vez de proporcionar um final impactante que resolva a trama e feche as pontas soltas, o desfecho de Double Exposure parece mais um gancho para um futuro jogo. Pra mim, isso mostrou que a Square Enix ficou mais interessada em mostrar como vai continuar sua franquia do que em concluir a história deste game de maneira satisfatória.

Life is Strange: Double Exposure
Max tem sua própria Dark Room (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Além disso, decisões específicas da trama levantam dúvidas sobre o direcionamento criativo do jogo. A introdução dos personagens em geral, como Lucas, Vinh e Gwen, apontados como suspeitos, e mesmo Moses, o melhor amigo de Safi, começa de uma forma interessante mas esses personagens acabam servindo mais como ferramentas para o mistério do que como figuras complexas.

A comparação entre as duas linhas do tempo, que poderia ser explorada de forma a aprofundar o desenvolvimento dos personagens, se limita a pequenas variações que afetam superficialmente as interações de Max. Essas escolhas narrativas acabam enfraquecendo a experiência, dando a impressão de que o jogo está mais preocupado em preparar o terreno para uma continuação do que em contar uma história completa e satisfatória.

Life is Strange: Double Exposure
Concordo, Moses (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Falhas técnicas e desempenho inconsistentes

Se a narrativa me fez trazer alguns questionamentos para nossa análise, alguns problemas técnicos de Double Exposure foram ainda mais evidentes e impactaram diretamente o gameplay e a imersão. Tive um problema grave com áudio, que não foi sincronizado adequadamente, e só foi corrigido com ao reiniciar um checkpoint – ao menos não perdi tanto progresso.

Eu optei por jogar boa parte do título com o modo Qualidade, visando focar os gráficos, já que é um estilo de jogo que não interfere tanto ser em 30 FPS ou 60 FPS, ao meu ver. Na minha preview, elogiei a gameplay fluída, que, de fato, é. Mas na sequência, notei pequenas falhas de renderização do cenário, especialmente para um título tão focado na interação entre personagens. Sombras e texturas demoravam para carregar, e assim que a tela de loading era suspensa, conseguia notar alguns pop-ins.

Life is Strange: Double Exposure
Amanda é uma personagem pouco explorada em Life is Strange: Double Exposure (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Por fim, apesar de ser legendado em português – e com uma ótima localização, por sinal – a dublagem em inglês apresentou um problema de sincronia labial. Isso prosseguiu por outras partes do jogo e, por ser um título que se baseia tanto em cutscenes e diálogos para construir sua narrativa, foi algo estranho de se ver.

Mas nem tudo são problemas. Life is Strange: Double Exposure é, indiscutivelmente, o jogo mais belo da franquia até o momento. Desconsiderando os problemas de renderização, os cenários são lindos e cheios de detalhes. A questão é que existe uma limitada variedade de cenários, pois grande parte da ação se desenrola na universidade, em um bar e na residência de Max. Existem algumas outras variações, mas a maior parte do jogo ocorre em cenários já conhecidos. Ao concluir o jogo, confesso que estava esperando uma maior diversidade de ambientes.

Life is Strange: Double Exposure
Life is Strange: Double Exposure é, visualmente, o jogo mais bonito da franquia (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Por outro lado, a personalização em acessibilidade também merece destaque, permitindo uma série de ajustes, como indicadores visuais que mostram se estamos na linha do tempo em que Safi está viva ou morta, cronômetros para decisões importantes, e até confirmações extras para garantir que suas escolhas sejam intencionais.

A mecânica de troca de dimensões: potencial mal explorado

A ideia central de Double Exposure — alternar entre duas realidades — tinha tudo para ser uma adição intrigante à série, mas a execução deixa a desejar. A transição entre as linhas do tempo ocorre de forma aleatória e visível, muitas vezes em frente a outros personagens que não reagem ou sequer questionam as mudanças. Esse detalhe, embora pareça pequeno, por vezes quebra a imersão e a sensação de realismo, chegando a ser hilário. Max, que deveria ser discreta em suas ações, troca de dimensão em locais públicos, na porta do banheiro do bar, ou atrás de um totem da faculdade, o que acaba parecendo um descuido na construção do gameplay.

Life is Strange: Double Exposure
Divagações… (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

A troca de dimensões poderia ter sido uma mecânica mais elaborada, com desafios e consequências que afetassem a forma como Max lida com as informações coletadas em cada linha do tempo. Em vez disso, a mecânica se limita a momentos específicos e pré-determinados, sem grande liberdade para o jogador explorar as duas realidades. Há uma tentativa de criar puzzles que envolvam a alternância de linhas temporais, mas esses enigmas são simples e repetitivos, falhando em proporcionar o desafio e a complexidade que se esperaria de um novo poder.

Vale a pena comprar Life is Strange: Double Exposure?

No fim das contas, Life is Strange: Double Exposure não consegue alcançar o impacto emocional que a série proporcionou, em especial, no primeiro título. Com uma narrativa que mais prepara o caminho para futuros jogos do que fecha arcos narrativos, o título parece incompleto. É evidente que a Square Enix está olhando para o futuro da franquia, mas, neste caso, a abordagem foi mais prejudicial do que benéfica. A ausência de um desfecho marcante, as escolhas narrativas superficiais e os problemas técnicos resultam em um jogo que promete mais do que entrega.

Para os fãs que acompanham a série desde o início, Double Exposure oferece momentos de nostalgia e referências sutis aos eventos do passado, mas não é o suficiente para sustentar o peso da narrativa de Max. Aqueles que esperavam um aprofundamento nas consequências das escolhas feitas em Arcadia Bay ou uma exploração mais complexa das novas mecânicas de poder podem se sentir decepcionados.

Life is Strange tem potencial para encantar e surpreender, e podemos esperar mais, conforme o final do jogo indica. Mas Double Exposure não é o capítulo que marca esse retorno triunfante. Para aqueles que acompanham a trajetória de Max Caulfield desde o início, vale a pena experimentar para matar a saudade e “crescer” junto com a protagonista. Mas, para quem busca uma narrativa fechada e impactante, ou mesmo dar a primeira chance à franquia, minha recomendação é revisitar o título original, que ainda oferecem a melhor versão do que Life is Strange tem a oferecer.

Life is Strange: Double Exposure será lançado nesta terça-feira, 29 de outubro, para Xbox Series X|SPlayStation 5 e PC, via Steam e Windows Store, com uma versão para Nintendo Switch planejada para o futuro.

*Review realizada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Square Enix.

Life is Strange: Double Exposure

BRL 219,90
6.8

História

6.5/10

Gráficos e Sons

7.5/10

Gameplay

6.0/10

Extras

7.0/10

Prós

  • Acessibilidade bem implementada
  • Nostalgia para fãs antigos
  • Boa localização para o público brasileiro
  • Trilha sonora evocativa

Contras

  • Narrativa superficial
  • Problemas técnicos
  • Reutilização de cenários

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.

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