Little Goody Two Shoes | Review

Little Goody Two Shoes é um jogo de terror, com elementos de simulador de encontros e sobrevivência, desenvolvido pela AstralShift e distribuído pela Square Enix Collective. O título nos coloca nos bondosos sapatinhos gastos de Elise, uma jovem que vive em uma pobre vila nas montanhas, sonhando com dias melhores e uma vida de luxo e conforto. Nossa amiga sacrificaria qualquer coisa para isso, aliás! Ah, se ela soubesse o que vem pela frente.

E aí, será que vale a pena acompanhar esse conto? É o que veremos agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!

Sapatinhos na medida

Sejam bem-vindos, leitores e leitoras, ao momento de magia e alegria do Pizza Fria. Até rimou! Sentem-se e prestem atenção, pois hoje é dia de contar uma bela história de fadas moderna, cheia de amor, amizade, sonhos e diversão. E fome, bruxas, florestas amaldiçoadas e corvos que tentam jantar os olhos de qualquer pobre coitado que passe pela frente. Ah, a clássica literatura popular, não é mesmo?

Lembro de ter lido, em algum lugar, que muitos dos contos de fadas que conhecemos eram bem mais pesados em suas versões originais, principalmente aqueles que datam de muito antigamente e passaram de boca em boca ao longo das gerações. Ou, ainda, aquelas criadas por autores mais contemporâneos. A Pequena Sereia é um bom exemplo disso, principalmente ao comparar a versão de Christian Andersen com aquela que todos vimos na famosa animação de 1989.

E por quê estou falando isso? É muito simples, gente bonita. Nosso jogo da vez, Little Goody Two Shoes (nenhuma relação com o conto da mocinha sem sapatos), tem toda essa pegada de conto de fadas, mas com uma subversão que não deixaria nada a dever para essas histórias que comentei com vocês aqui. E tudo, ainda, apresentado com uma cara de anime dos anos noventa. Porquê é claro, não é mesmo?

Little Goody Two Shoes
Tem até castelo em Little Goody Two Shoes, minha gente. (Imagem: Divulgação)

A história de Little Goody Two Shoes acompanham a vida sofrida, ainda que não pareça, de Elise, uma moça que vive em um pequeno vilarejo nas montanhas. Seus dias são uma luta constante contra a fome, trabalhando da melhor maneira que consegue para poder, ao menos, forrar o estômago e se manter aquecida durante as noites frias. Uma vida sem glamour, de fato, e nossa garota sabe disso. Não é a toa, então, que sonhe todo dia em se tornar rica e poderosa, para meter o pé da miséria em que vive sem nunca mais olhar para trás.

Um dia, ao mexer no jardim de casa, ela encontra um par de sapatinhos vermelhos. Que sorte, não é mesmo? Mas, como nos contos de fada que falei acima, nada acontece por acaso em Little Goody Two Shoes. Essa coincidência acaba por desencadear uma cadeia de eventos tal que fará Elise lidar com muito mais do que sua vidinha mais ou menos, e sim com bruxas, monstros e algum mal que vive na floresta.

Devo dizer, leitores e leitoras, que a narrativa do jogo foi um dos pontos altos pra mim. Primeiro, que a dissonância entre os momentos mais “de fadas” com os “de horror” ajudam a dar aquele ar estranho e incômodo ao jogo, que acaba o fazendo nos causar uma fascinação ainda maior. Como falarei em frente, temos momentos divididos ao longo do dia, e passar de uma tarde leve para a noite aterrorizante é bom demais. Bote dez finais diferentes no meio disso, e não faltarão voltas e reviravoltas para nos fisgar.

Little Goody Two Shoes
Ai, que sofrência. (Imagem: Divulgação)

Jogabilidade

A jogabilidade de Little Goody Two Shoes se divide em dois grandes momentos: durante o dia, enquanto Elise interage com outros personagens e trabalha para não morrer de fome, e a noite, enquanto explora a floresta e outros pesadelos. O título possui um esquema de passagem de tempo, que divide cada dia em “pedaços” que podemos usar para realizar determinadas tarefas, ou ver eventos.

Cada dia gasta um ponto de alimento, e se deixarmos eles zerarem é fim de jogo. Além disso, certas ações durante esse período podem fazer os moradores suspeitarem de que nossa amiga é uma bruxa. Suspeita acima do limite também acaba com a diversão. São mecânicas bem simples, implementadas de uma forma que não dificulta nem eleva a experiência, a meu ver.

Durante o dia, precisamos trabalhar para ganhar o dinheiro para o pão de cada dia, e o suco para evitar que nossa heroína fique maluca de vez. Cada tarefa que podemos desempenhar é representada através de um minigame simples, que muitas vezes se resume a um jogo de apertar o botão dentro de um ritmo, subir e descer em uma reta para pegar ovos de galinha, apertar o botão certo para cortar madeira, essas coisas.

Em um primeiro momento, eles até que são divertidos. Mas, conforme avança, Little Goody Two Shoes acaba fazendo com que se tornem um tanto quanto enfadonhos. O que é uma pena, porque isso derruba um pouco a graça das partes do jogo que se passam na vila, de dia. Ver o efeito dos acontecimentos, e acompanhar como tudo se desenrola, é muito divertido. Complementa bem a ideia de que o lugar vive uma vida dupla, por se dizer.

Como citei acima, as mecânicas de sobrevivência são bem básicas, se resumindo a gerenciar o que comer e o dinheiro para ter sempre alimento. Não senti que deixaram a coisa com um sentimento de urgência e sobrevivência, sendo no máximo pequenas irritações. Uma pena, pois poderiam ter sido melhor aproveitadas para deixar o título ainda mais tenso.

Little Goody Two Shoes
Temos vários minigames disponíveis em Little Goody Two Shoes. (Imagem: Divulgação)

Little Goody Two Shoes também possui um componente de romance, que é bem realizado, com cenas legais e que trabalha para deixar certas batidas da trama ainda mais impactantes. Elise pode se envolver com algumas pretendentes, ao longo de sua aventura, e aquela que conquistar seu afeto também afeta os finais que podemos encontrar.

Durante a noite, exploramos a floresta assombrada e os pesadelos da heroína. Essas são as melhores sessões do título, com quebra-cabeças interessantes, mudanças nas dinâmicas de jogo e uma série de desenvolvimentos narrativos que nos deixam ansiosos para descobrir o que vai acontecer depois. De fato, por muito tempo joguei apenas para ver o que rolaria nessas partes.

Por fim, algumas vezes parecia que Little Goody Two Shoes se tratava de dois jogos diferentes, e creio que essa fosse mesmo a ideia. Assim como Elise transita entre o dia de sua vida sem sal, que se torna cada vez mais desgraçada, a noite a joga em situações e correrias que fazem ela sentir como se estivesse vivendo em outra realidade. Esse choque ajuda na construção da ambientação e atmosfera da parada.

Little Goody Two Shoes
Deu ruim, sai voada! (Imagem: Divulgação)

Sons e visuais em Little Goody Two Shoes

Little Goody Two Shoes possui visuais muito bonitos, com aquela estética de conto de fadas, misturado com chibi, que ajuda a criar uma atmosfera e um estilo visual bem únicos. Isso se torna ainda mais evidente durante as partes que envolvem terror, capazes de passar sensações negativas e desesperadoras mesmo com essa cara tão colorida e fofinha. Além disso, temos animações em estilo de anime dos anos 90, de bonecos, e mais ainda. Sensacional!

A trilha sonora também é excelente, principalmente nas partes que utilizam canções com vocais. Atenção especial para aquelas trilhas utilizadas nas sessões noturnas, que conseguem criar um elemento de suspense e uma atmosfera tão densa a ponto de podermos cortar com a faquinha de manteiga para passar no pão. Chique demais.

Little Goody Two Shoes
Lembrando os melhores das décadas passadas. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Little Goody Two Shoes?

Lá vamos nós, leitores e leitoras, para a parte final de nosso livro. Se não me engano, é nesse momento que serei devorado ou amaldiçoado por alguma coisa como forma de punição por minhas críticas e comentários salgados sobre as coisas da vida. Bom, que seja. Mais importante que meu destino imediato, falemos sobre os lados bons e ruins de nosso joguenho do dia.

De um lado, Little Goody Two Shoes apresenta uma trama com um jeitão de conto de fadas, mas com uma temática bem mais pesada do que aparenta, um terror cirurgicamente utilizado, bons visuais e um ciclo de jogo interessante, principalmente na noite. Além disso, é muito bonito de se ver e ouvir. Do lado negativo, os minigames que vemos ao longo do dia acabam se tornando repetitivos, e algumas mecânicas pouco exploradas não adicionam muito ao pacote, parecendo apenas perfumaria. O jogo também não é localizado em nosso idioma.

Mas, ao fim e ao cabo, bem que gostei um bocado de Little Goody Two Shoes, sabem? A narrativa me fisgou, e acompanhar as loucuras da vida de Elise, principalmente no terror, fez com que a experiência fosse agradável de cabo a rabo. Pequenos tropeços aqui e acolá não mudam o fato de que o jogo entrega, e é uma boa pedida para fãs do estilo.

Little Goody Two Shoes será lançado nesta terça-feira, 31 de outubro, para PC, via Steam, Xbox Series X|S, Nintendo Switch e PlayStation 5.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Square Enix.

Little Goody Two Shoes

R$ 90,90
8.8

História

9.5/10

Jogabilidade

8.0/10

Sons e Visuais

9.5/10

Extras

8.0/10

Prós

  • Narrativa interessante e envolvente
  • Justaposição do dia e da noite, junto com a cara fofa e o terror, deixa o jogo com ares bizarros e envolventes
  • Romance competente e bem amarrado na narrativa
  • Elise é uma protagonista bem legal
  • Aspecto audiovisual espetacular

Contras

  • Minigames repetem muito, ao longo dos dias
  • Algumas mecânicas, como de sobrevivência e tempo, poderiam ser melhor exploradas
  • Sem textos em Português do Brasil.

Matheus Jenevain

Redator de idade não especificada e habilidade excepcional (segundo o próprio, acredite se quiser). Curte Metroidvanias, RPGs e jogos de luta. Reza toda noite, intensamente, para receber um remake de God Hand. Nunca foi atendido.