Marvel’s Avengers | Review

O Marvel Cinematic Universe (MCU) talvez seja o produto do entretenimento mais conhecido na última década, de forma global. A saga dos Vingadores, que teve início em 2008, com o filme Homem de Ferro, teve sua terceira fase concluída em 2019, com Vingadores: Ultimato. O enorme sucesso da franquia nos quadrinhos e nas telonas exigia um jogo de videogame à altura e, por isso, surgiu Marvel’s Avengers.

Revelado em 2017 com o codinome The Avengers Project, o título enfim ganhou forma na E3 2019, quando ganhou o nome oficial e sua primeira data de lançamento. Foi adiado em função da pandemia mundial de COVID-19, mas já está entre nós, tendo sido disponibilizado ao público no último dia 1º de setembro, quando a Deluxe Edition (que continha acesso antecipado) foi lançada.

O Pizza Fria foi um dos veículos que teve a oportunidade de começar nossa própria saga dos Vingadores logo que os servidores ficaram online, e contamos tudo (mesmo!) o que achamos do jogo pra você. Vingadores, avante!

A campanha de Marvel’s Avengers é só o começo!

Se você vai começar a jogar Marvel’s Avengers em busca de uma narrativa já conhecida dos quadrinhos ou dos filmes, é melhor descartar logo de cara essa ideia. O game chega oferecendo uma campanha original, obviamente baseada nos icônicos personagens, mas acrescendo seu toque de originalidade.

Assim, os cinco vingadores originais, Capitão América, Homem de Ferro, Viúva Negra, Thor e Hulk, faziam parte das comemorações do A-Day, um dia criado para celebração dos Vingadores em São Francisco. Toda a narrativa é centrada em Kamala Khan, a Miss Marvel, uma personagem que já existe nas HQs, mas resgatada aos holofotes através do novo jogo.

Kamala Khan é uma verdadeira fã dos Vingadores e, por isso, pode participar de perto do A-Day, já que chegou às finais de um concurso de fanfics. No entanto, durante a celebração, um ataque terrorista causa um enorme estrago na cidade e os Super-Heróis mais poderosos da Terra falharam. Apontados como culpados, eles se separam.

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Kamala Khan, a Ms Marvel, é a personagem principal da campanha de Marvel’s Avengers (Imagem: Divulgação)

Cinco anos se passaram e, como consequência do grave acidente gerado durante o ataque terrorista, surgiram na Terra os Inumanos, humanos que adquiriram poderes variados após serem expostos ao gás Terrigen, que foi liberado durante a explosão. Kamala Khan é uma dessas pessoas afetadas pelo gás.

Com a “aposentadoria” dos Super-Heróis e o Cap. América apontado como morto, a organização AIM (Avançadas Ideias Mecânicas) toma controle da sociedade e promete oferecer uma cura para os poderes. Só que não é bem isso o que eles estão fazendo. Os poderes de Kamala são descobertos e ela precisa fugir, acabando indo justamente para onde a nave dos Vingadores estava. Algo bem clichê, é verdade.

Em busca da Resistência, você acaba encontrando pistas que não esperava, e cruza caminho com alguns Avengers, busca outros e, no fim, deve reuni-los novamente. A história não é excepcional, e nem traz uma narrativa marcante como nos filmes. Mas faz o jogo andar até o final, onde a Square Enix e a Crystal Dynamics prometem que Marvel’s Avengers brilhará: no endgame.

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MODOK é o grande vilão da campanha de Marvel’s Avengers (Imagem: Divulgação)

O Destiny dos Vingadores?

Em 2019, durante a Brasil Game Show, pude assistir à um painel fechado para a imprensa sobre Marvel’s Avengers, em que detalharam muito sobre o que estava por vir. Sai da apresentação com uma clara impressão de que seria um Destiny focado nos Super-Heróis da Marvel. E hoje, depois de ter passado quase 20h imerso nesse universo, chego a conclusão de que minha primeira impressão estava correta.

A campanha de Marvel’s Avengers chama-se Reunião. E isso é até mesmo um pouco auto-explicativo. Seu objetivo é reunir os Vingadores para cumprir uma variedade de missões, sozinho ou online com até quatro jogadores, e fazer tudo aquilo que estamos acostumados em jogos do gênero: viajar para localidades e realizar quests, visando conquistar novos itens e evoluir o personagem.

Então aqui há a nossa primeira decepção. O título não oferece uma história completa em seu modo campanha. Assim como Destiny fez, há somente o fechamento de um ciclo, com o final do jogo nos empurrando para uma continuidade, que será feita por meio de temporadas – que chegarão com novos heróis, missões e mais conteúdo narrativo, ao menos prometidas de forma gratuita.

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Kate Bishop, a Gaviã Arqueira, será a primeira personagem adicional de Marvel’s Avengers (Imagem: Divulgação)

O ponto é que após o término da campanha, você libera algo que o jogo chamada de Iniciativa Avengers. Nela, você pode partir em missões por todo o mundo, com acréscimo narrativo, e também visando evoluir seu personagem, obtendo melhores itens, cumprindo desafios para desbloquear skins e afins. E isso é só. A história original já teve fim e, se você busca mais elementos de história, prepare-se apenas para breves cenas de missões.

É o ideal? Honestamente eu não achei. É obvio que eu já esperava algo nos moldes do que foi entregue e prometido em termos narrativo e de universo em expansão, mas essa deixa para “novos conteúdos em breve” nos passa a impressão de que o jogo precisava de mais tempo de desenvolvimento. E isso talvez fique ainda mais claro quando eu for abordar outros aspectos do game, que falarei mais à frente.

As mecânicas de Marvel’s Avengers

Se Marvel’s Avengers se assemelha muito à Destiny em vários pontos, o gameplay e as mecânicas pegam alguns pontos emprestados do shooter da Bungie, mas também cria sua originalidade.

A primeira mudança brutal é na perspectiva da câmera, que no jogo dos Vingadores é em terceira pessoa. Isso permitiu que os Avengers realizassem mais golpes específicos, cada um com seu próprio estilo. Mas há críticas pontuais a serem feitas, principalmente pelas mecânicas RPGs que foram implementadas.

Os Vingadores, como estamos acostumados a ver nos filmes e ler nas HQs, são muito poderosos. Mas aqui não é bem isso que acontece. Especialmente nas progressões do Hulk e do Thor. Isso porque não faz muito sentido o Hulk bater trocentas vezes em uma máquina para parti-la no meio, ou um inimigo com uma armadura resistir à uma investida com um Mjölnir eletrificado.

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Nas HQs e nos filmes, Thor é poderoso, mas em Marvel’s Avengers isso não quer dizer muita coisa (Imagem: Reprodução)

Eu entendo que existe a necessidade da gameficação. Mas não consigo compreender como Thor, o Avenger original mais poderoso, não ser capaz de destruir inimigos com um único golpe. Ou que o Hulk enfrentando as mesmas dificuldades que a Kamala Khan para destroçar as máquinas da AIM. E a sensação de incredulidade fica mais evidente quando, em cutscenes, eles mostram todo o seu poder e conseguem fazer tais façanhas. Ou seja: com as mecânicas adotadas pelo jogo, há um certo desrespeito com a obra original.

Isso nos leva a falar de outra coisa que me incomodou bastante em Marvel’s Avengers: a progressão. O título oferece quatro níveis de dificuldade, e cada um deles diz como você vai enfrentar suas missões. Ao melhor estilo The Division, os inimigos também tem leveis, que sinalizam o quão apto você está para enfrentá-los. Só que esses leveis são, na verdade, níveis de poder do equipamento. Todo o grind que você faz, é para aprimorar e melhorar seu setup.

Só que não há ganho real nessa progressão. Por mais que você gaste muitas e muitas horas evoluindo seus personagens, os inimigos vão evoluir gradativamente e acompanhar o seu nível de equipamento. A dificuldade das missões, então, servem apenas para equilibrar isso: enquanto a dificuldade mais baixa coloca os inimigos com equipamento mais baixo que o seu, as mais altas elevam o grau de dificuldade.

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A Iniciativa Avengers oferece missões mais difíceis, que devem ser completadas em multiplayer (Imagem: Reprodução)

Dessa forma, a única razão real que você vai ter em Marvel’s Avengers para subir o seu nível de equipamento hoje é para enfrentar fases que exigem setups melhores. Porque, se você jogar com amigos, o nível mais alto será o que vai ser levado em conta pelo jogo. E você pode ficar mais parrudo, conseguir melhores loots, subir o nível do personagem para ganhar pontos de habilidade e distribuir em uma árvore individual para cada um. Mas é só isso.

Há ainda um outro problema: a progressão não é compartilhada com os personagens controlados pela IA. Se você joga no modo single-player, os outros personagens são boots. E eles não ganham EXP para subir de nível. Ou seja, na questão do nível do personagem, você precisará repetir várias fases diferentes para evoluir cada um dos Vingadores. Isso foi uma bola fora e tanto!

Por fim, é preciso falar sobre as boss battles. Apesar de serem criativas, em especial a última, em que você deve usar todos os personagens, o jogo oferece poucas oportunidades do tipo. Para uma campanha relativamente pequena, com muitas cutscenes, fica uma expectativa por mais. É esperar pra ver como Marvel’s Avengers vai evoluir nas temporadas, se trará mais novidades e, consequentemente, mais conteúdo narrativo.

Um gameplay prazeroso, mas que pode ser repetitivo

Eu levei cerca de 12h para concluir a história de Marvel’s Avengers, fazendo algumas missões cooperativas e outras de progressão paralela ao longo da narrativa. A campanha, como disse acima, é centrada em Kamala Khan, e ela é a personagem que você mais controla em todo o jogo. Mas isso não quer dizer que você não vai jogar um pouco com cada um dos Avengers.

O jogo dos Vingadores oferece um gameplay bastante divertido no quesito porradaria. As lutas lembram (de longe) as que foram adotadas em Batman Arkham Knight, com botões de ataque leve, pesado, esquiva e pulo. Há ainda golpes especiais e a distância, que variam de personagem para personagem. Essas mecânicas são semelhantes, mas a individualidade de cada herói é o que chama atenção.

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Cada Vingador tem suas próprias características em Marvel’s Avengers (Imagem: Divulgação)

O meu favorito foi o Thor. O Deus do Trovão, por ter uma energia infinita, não cansa de arremessar o Mjölnir à distância e causar um alto dano com isso. Logo, destinei boa parte das habilidades adquiridas para aprimorar o Martelo. Mas você pode jogar com o Iron Man, e usar feixes de laser para causar danos, ou os braços e pernas elásticas de Kamala Khan.

O problema em relação à isso é que Marvel’s Avengers pode se tornar repetitivo se você se focar no endgame e no grind, uma questão até comum para jogos do gênero. Eu não senti que o jogo foi repetitivo em nenhum momento durante a campanha, pois ela é bem variada na distribuição de qual personagem jogar, além de Kamala. Mas no endgame, com cenários parecidos e combates semelhantes, isso pode ser um grande problema.

Os gráficos de Marvel’s Avengers

Uma enxurrada de críticas ocupou a internet em junho de 2019, logo após a revelação do primeiro trailer do jogo. Muitas delas apontaram o visual dos Vingadores, que apresentavam modelos longe do padrão gráfico que a geração pedia. De lá pra cá, muita coisa mudou e os personagens tiveram os gráficos aprimorados em sua versão final. Eu achei Hulk o mais bem detalhado, mas nenhum deles peca por detalhes em expressões faciais.

E todo o ambiente também ganhou detalhes legais. Os cenários, em sua maioria, são amplos, com muitos detalhes. Mas ainda não são muitas opções disponíveis, e as instalações internas da AIM são bem semelhantes. Sem contar os inimigos, pouco variados e “reciclados”. Além disso, muitas das missões endgame reaproveitam mapas abertos da campanha, então é preciso ter atenção também para este detalhe.

Também é interessante destacar os efeitos visuais dos golpes. Tá que Hulk não destrói os cenários ao arrancar um pedaço de chão, mas as animações chegam a ser bem interessantes, em especial dos golpes especiais.

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Espere encontrar inimigos como estes durante todo o jogo (Imagem: Divulgação)

Complicando a experiência

O grande porém de Marvel’s Avengers está em seu desempenho técnico. Eu joguei em uma GTX 1080, com pré-definição de gráficos no Alto e com monitor ultrawide. O game roda em 60 FPS, mas oferece muitas quedas de desempenho em cenas onde muitas coisas acontecem no tela, chegando a cair pela metade em alguns momentos. Eu, que tenho um costume maior de jogar em consoles, não fiquei muito incomodado com as quedas; até porque 30 FPS é algo comum pra mim, mas sinto que é preciso ressaltar essa questão.

Além desse problema técnico, que não consegue fazer o título de rodar de forma estável, Marvel’s Avengers tem bugs que comprometem a experiência do jogador. Em muitos momentos, principalmente na reta final da campanha, as falas de áudio entravam em inglês, e não em português, como deveria ser. Esse é um bug que já estava presente na beta, nas primeiras missões, mas que se estendeu por outras partes do jogo.

Marvel’s Avengers também “crashou” em algumas ocasiões, sem explicações. O título simplesmente fechava. Comigo foram duas vezes, sendo que em uma delas, eu estava na última parte de uma das missões. Extremamente decepcionante.

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Cenas como essa trazem quedas no FPS de Marvel’s Avengers (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Marvel’s Avengers?

Marvel’s Avengers é uma experiência que me causou sentimentos mistos. Ao mesmo tempo em que eu gostei de jogar a curta campanha, e apreciei o bom trabalho de localização para o nosso idioma, além das boas melhorias gráficas, o gameplay pouco recompensador foi frustrante. É verdade que isso foi deixado bem claro pela produtora desde o começo, e ninguém pode dizer que foi enganado, mas a maior parte da experiência do jogo está focada nas atividades pós-campanha.

Para os mais aficionados no gênero, ou nos próprios Vingadores, há muito o que fazer: conseguir os melhores equipamentos para seus heróis preferidos, evoluí-los até completar a árvore de skills, ou mesmo investir em skins para tirar onda com os amigos no modo online. Cada um terá sua motivação, ou não, para continuar o jogo após a campanha.

Mas se você apenas gosta dos Vingadores, a recomendação é esperar um preço mais camarada e que esses problemas sejam resolvidos com patches e atualizações de conteúdo, que serão gratuitas, segundo a Square Enix. O que nos foi entregue até o momento é um (bom) prólogo do que promete ser uma longa experiência narrativa, que vai se completando com o passar dos meses.

A versão padrão de Marvel’s Avengers foi lançada no dia 4 de setembro para PlayStation 4Xbox One, Stadia e PC, via Steam. Além disso, o título tem versões confirmadas para PlayStation 5 e Xbox Series X, que chegam quando os consoles forem disponibilizados, no final do ano.

*Review elaborada em um PC equipado com GeForce GTX, com código fornecido pela Square Enix.

Marvel's Avengers

R$ 249,90
7.5

História

8.3/10

Gameplay

6.2/10

Gráficos e Sons

8.0/10

Extras

7.3/10

Prós

  • Boa história original
  • Gráficos bonitos
  • Totalmente localizado em PT-BR
  • Gameplay variado com os heróis
  • Promessa de muito conteúdo endgame

Contras

  • Progressão cansativa e pouco recompensadora
  • Mecânicas de RPG não fazem sentido para Thor e Hulk
  • Mapas e inimigos "reciclados"
  • Desempenho problemático

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.