Soul Hackers 2 | Review

Soul Hackers 2 é um JRPG de combate em turnos, com uma pegada cyber-futurista meio punk, desenvolvido pela ATLUS e publicada pela SEGA. O jogo nos coloca nos saltos de Ringo, uma agente da inteligência artificial suprema AION com a adorável missão de salvar o mundo de um desastre categoria 666B: Destruição Total de proporções bíblicas.

Será que essa aventura será digna de nossos cyberminutos, cyberleitor? É o que veremos agora, em mais uma análise do Pizza Fria!

Androides sonham com demônios elétricos?

A modernidade é uma coisa de outro mundo, leitores. Tudo se conecta com tudo, a internet está em todos os lugares, dispositivos e interações que podemos imaginar. Era algo que nunca imaginei que poderia acontecer, e agora parece tão normal. Pensava nisso enquanto lia o livro Count Zero de Wesley Gibson, criador do clássico cyberpunk Neuromancer. Aliás, recomendo a leitura para todos. É um livro basilar do gênero, e uma experiência fascinante no geral.

Tendo isso em mente, decidi por entrar nesse novo universo. Aproveitei a depressão convenientemente criada pelo drone que me acertou na cabeça, quando analisei o espetacular, Midnight Fight Express e instalei um microchip de ponta. Prometeram uma melhoria em meus atributos de inteligência, melhor coordenação motora e habilidade. A promessa de, finalmente, parar de jogar tudo no fácil. É a nova era, minhas caras!

Mas essa alegria, como tudo na vida, durou pouco tempo. Estava passeando tranquilo pelo cyberespaço quando vi um grande aviso vermelho, seguido de um conjunto de letras e números e um flash de luz. Acordei, um tempo depois, totalmente avariado no chão de casa. Depois que me levantei, e xinguei um bocado, decidi digitar o código que vi na Steam. Eis que apareceu, então, nosso videojogo da vez: Soul Hackers 2.

Soul Hackers 2
Minha cara quando acordo de uma cyberviagem, cara. (Imagem: Divulgação)

Soul Hackers 2, quem diria. Sou um grande fã da série Shin Megami Tensei, e de todas suas ramificações. A mais famosa, de longe, é a série Persona, atualmente em sua quinta edição principal. Mas, a saga mãe vai muito além disso. Temos, por exemplo, Demon Survivor – uma série de RPG tático. E, também, Soul Hackers, que é um título em turnos com uma pegada mais cibernética.

Essa entrada, na verdade, é a quinta na linha Hackers, sendo precedida por Soul Hackers, os dois jogos da série Raidou Kuzunoha e Devil Summoner. Contudo, podem ficar despreocupados leitores queridos. Para entender o que rola em Soul Hackers 2 não é necessário nenhum conhecimento prévio. Claro, jogadores de longa data irão compreender muitas pequenas referências em armas, NPCs e alguns demônios. Mas, não impacta na compreensão geral.

A história se passa em uma Tokyo futurista, alguns anos a nossa frente, toda neon e cyberpunk. A humanidade atingiu um platô tecnológico, no qual poucas coisas novas entram em cena. Contudo, algo errado não está certo, e uma sociedade secreta pretende destruir geral. Para impedir isso, uma superinteligência cria duas agentes, Ringo e Figue, e as envia para a cidade com a missão de impedir a treta toda.

Soul Hackers 2
Ringo é a protagonista da vez em Soul Hackers 2. (Imagem: Divulgação)

Somos apresentados a novos personagens conforme a trama de Soul Hackers 2 se desenrola, todos bem únicos e interessantes. Eu curti bastante o estilão do jogo, tanto na estética quanto na premissa. Ainda que essa vibe de “sociedade secreta quer destruir geral” seja quase que uma tradição nos RPGs da série SMT, a pegada cyberpunk e tecnológica da coisa ajuda a se destacar.

No mais, o jogo se foca bastante na relação entre os personagens e suas evoluções pessoais. Tal como em sua série irmã Persona, Soul Hackers 2 coloca uma ênfase no crescimento de cada personagem, tanto em narrativa como em mecânica. Temos o esquema de Soul Links, que representa os vínculos entre Ringo e cada um dos outros membros da equipe: Arrow, Milady e Saizo. Cada personagem tem uma dungeon própria, chamada Soul Matrix, que é expandida conforme esses níveis aumentam.

Explorar os diversos mapas, e a própria Soul Matrix, define boa parte da experiência do título. Uma pena, no caso, que cada cenário seja tão repetitivo e curto. Não consigo contar a quantidade de vezes que tive que ficar passando entre túneis de metrô e plataformas cibernéticas, cada uma idêntica à anterior. Que deselegante, Soul Hackers 2.

Me lembra uma música do Nine Inch Nails chamada “Everyday is Exactly the Same”. Me senti na mesma vibe do compositor, prevendo o futuro dos mapas com o simples fato de saber que tudo é sempre o mesmo. Pelo menos podemos encontrar nossos demônios nesses corredores, ganhando itens ou novos recrutas. É uma boa recompensa para todo vai e vem que temos de fazer nesses cenários.

Soul Hackers 2
O poder da amizade é real. (Imagem: Divulgação)

Mas papear e passear não são as únicas obrigações de nossa querida Ringo. Como todo bom e velho Shin Megami Tensei, a fusão e obtenção de demônios é um dos grandes focos. Para aqueles que não conhecem, a série aproxima do tema mais como uma versão sombria de Pokemon do que qualquer outra coisa. Temos vários demônios com habilidades e atributos específicos que podem ser criados ou obtidos e equipados pelo jogador. Além disso, podemos fundir uns com os outros para obter versões cada vez mais fortes. Divino, não?

Essa força obtida por meios, digamos, esotéricos pode ser aplicada combatendo outros demônios que infestam as diversas localidades do jogo. Todos os inimigos podem ser vistos no mapa, e atacados por nossa protagonista com uma espada. Encostar em um inimigo após derrubá-lo dessa forma faz com que comecemos com vantagem no combate. Ele se dá em turnos, naquele estilo clássico de JRPG, e funciona muito bem. As tretas são frenéticas, os menus são estilosos e o jogo cobra, principalmente em dificuldades altas, uma boa noção tática para saber quando atacar e usar buffs ou debuffs.

Além disso, focar em fraquezas dos inimigos faz com que tenhamos a oportunidade de realizar um Sabbath ( não do Ozzy, infelizmente), no qual Ringo usa um ataque forte que ataca toda oposição ao mesmo tempo. A última parte de Soul Hackers 2 lida com as missões secundárias, das quais temos uma quantidade considerável. Elas nos dão muito o que fazer, e rendem recompensas que vão desde novos demônios para fundir até novas habilidades para utilizar ou oportunidades para aumentar o soul link de nossa turminha do barulho. As missões são simples e fáceis, e adicionam uma boa quantidade de variedade e sobrevida ao título.

Soul Hackers 2
O bom e velho estilo de turnos que amamos e adoramos. (Imagem: Divulgação)

Gráficos e Sons

Soul Hackers 2 tem um visual bem maneiro, com um bom uso de cores e um estilo bem dentro da estética cyber. Os personagens são muito bem modelados, com muita personalidade e individualidade. Os demônios, também. Cada qual diferente do outro, mesmo com uma quantidade considerável dos danadinhos para recrutarmos e utilizarmos. Uma pena, infelizmente, que os cenários não sejam tão bem-cuidados. Mas, ao fim e ao cabo, tudo funciona bem.

O departamento sonoro também entrega. As vozes são muito bem feitas, os sons de combate são potentes e a trilha sonora é simplesmente sensacional. É de se notar que, em via de regra, todos os jogos da série Tensei tenham músicas de qualidade, e fico feliz de que Soul Hackers 2 mantenha a tradição andando. Entregando com qualidade, como sempre.

Soul Hackers 2
O visual de Soul Hackers 2 é filé. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Soul Hackers 2?

Rápido, leitor. Consegui recuperar, momentaneamente, o controle de meu córtex cerebral. Falemos, então, sobre minha opinião de Soul Hackers 2. Vamos começar com o que puxa a experiência para baixo. Os mapas comuns são pequenos, e temos que ver muitas telas de carregamento entre eles. Além disso, as dungeons são muito lineares, sem vida e repetitivas. Como o jogo nos faz ir e vir por elas entre missões principais e secundárias, esse fato acaba por tornar a experiência enfadonha com o tempo.

Já pelo lado positivo, temos um jogo com uma pegada cyberpunk com um estilo e visuais únicos, personagens bem construídos e atuados, um sistema de combate em turnos bem legal e uma variedade enorme de conteúdo entre a boa trama, as missões secundárias e todo o esquema de fusão de demônios. Eu realmente curti tudo que vi aqui, e acho que é uma continuação digna para essa série que estava, a tanto tempo, parada.

Ao fim e ao cabo, Soul Hackers 2 entrega, e muito, o que promete. A trama é boa, temos tudo que vem sendo refinado a cada novo lançamento da saga Shin Megami Tensei e o título tem o potencial de agradar tanto os novatos da série quanto os velhos de guerra, como eu. O lance dos mapas repetitivos e telas de carregamentos podem encher um pouco a paciência, mas o conjunto da obra compensa com folga. Recomendo fortemente.

Soul Hackers 2 foi lançado no dia 26 de agosto e está disponível para PlayStation 5Xbox Series X|SPlayStation 4Xbox One e PC, via Steam. No Metacritic, o game conta com uma média de 69 pontos na versão avaliada.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela ATLUS.

Soul Hackers 2

R$ 299,90
8.8

História

9.0/10

Jogabilidade

9.0/10

Graficos e Sons

8.0/10

Extras

9.0/10

Prós

  • História intrigante
  • Estilo visual e trilha sonora
  • Muito conteúdo, seja com completar o demon compendium ou com as missões secundárias
  • Combate em turnos redondinho agradável
  • Mais Soul Hackers, finalmente

Contras

  • Muita repetição de cenários
  • Mapas pequenos, fazendo com que tenhamos que ver muitas telas de transição
  • Sem localização em PT-BR

Matheus Jenevain

Redator de idade não especificada e habilidade excepcional (segundo o próprio, acredite se quiser). Curte Metroidvanias, RPGs e jogos de luta. Reza toda noite, intensamente, para receber um remake de God Hand. Nunca foi atendido.