Super Mario 3D All-Stars | Review
Como fazer uma análise sobre Super Mario 3D All-Stars diferente de todas as demais análises? O título é uma coleção que qualquer pessoa com um Nintendo Switch deve ter acompanhado com algum furor durante os últimos meses e, agora já lançado, toma páginas especializadas e ensaios no YouTube. E é por isso que desejo que esta não seja uma análise convencional de Super Mario 3D All-Stars – em vez disso, vou tentar contar minha experiência ao revisitar os jogos de Super Mario com os quais cresci e me marcaram, já que cresci com a Nintendo e nasci em 1985, mesmo ano do lançamento de Super Mario Bros, que completa 35 anos em 2020.
Assim, descubra o que Super Mario 3D All-Stars significa para mim e porque a coleção é importante para todos que jogam videogame – como memória afetiva para nascidos nos 1980s e 1990s. Mesmo se você nunca teve a chance de jogá-los antes, descubra também se Super Mario 64, Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy valem a pena e valem seu tempo hoje em dia.
Índice da análise de Super Mario 3D All-Stars
- Super Mario 3D All-Stars, dos rumores à realidade
- Remasterizados por emulação (especificações)
- Jogos ausentes em Super Mario 3D All-Stars
- Super Mario 64
- Super Mario Sunshine
- Super Mario Galaxy
- Super Mario 3D All-Stars: Vale a pena?
Super Mario 3D All-Stars, dos rumores à realidade
Antes de seguir mais ou menos contando minha experiência jogo a jogo, vamos repassar o contexto e alguns aspectos técnicos obrigatórios.
Certamente a pandemia de Covid-19 atrasou os planos de quase todo mundo e a Nintendo não deve ser exceção. Já se esperava algum tipo de celebração aos 35 anos de Mario, série nascida com Super Mario Bros. para o Nintendinho em 1985, mas acabamos vivenciando uma escassez de anúncios por parte da empresa em 2020. A seca de novidades, salvo Paper Mario: The Origami King em julho, fez os fãs se agarrarem a todo tipo de boato e rumor.
E quando foi mesmo que começaram esses rumores sobre o relançamento de vários jogos tridimensionais de Super Mario?
As primeiras informações vieram dos sítios Eurogamer e VGC lá por março. Sem confirmação, os fãs e a internet especularam a respeito do conteúdo do pacote até que, em setembro, pegando todos de surpresa, a Nintendo apresentou uma Direct sobre o 35º aniversário do encanador e anunciou Super Mario 3D All-Stars para o Nintendo Switch, uma coletânea com os três primeiros títulos tridimensionais – Super Mario 64, Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy.
Super Mario 3D All-Stars foi lançado em 18 de setembro, somente 15 dias depois da Nintendo Direct.
Remasterizados por emulação
A coleção é claramente inspirada no primeiro título Super Mario All-Stars, originalmente lançado para Super Nintendo com todos os jogos principais de plataforma de Super Mario lançados até aquele momento. A única exceção era do então recente Super Mario World. O título trouxe melhorias gráficas e técnicas, corrigindo glitches e alterando a física de alguns dos títulos.
No ciclo de rumores, as vontades dos fãs deram asas à imaginação. Caso tal coleção com jogos tridimensionais existisse, o que veríamos? Será que Super Mario Sunshine receberia melhorias como não ser expulso da fase a cada Shine ou a caçada pelas fatídicas moedas azuis seria repaginada?
Provavelmente Super Mario 64 foi o principal campo fértil:
Uma aguardadíssima nova versão de Super Mario 64? Que tal Super Mario 64 preservando as mecânicas, mas com modelos de personagens de Super Mario Odyssey e cenários refeitos?
Pois Super Mario 3D All-Stars veio e… Com algumas melhorias na resolução e na taxa de quadros por segundo, nenhum dos jogos sofreu alterações em seus modelos e cenários. A maior alteração foi a readaptação dos controles de Nintendo 64, GameCube e Wii para as diferentes opções presentes e possíveis no Nintendo Switch. Fora isso, os jogos são visual e mecanicamente idênticos aos originais.
A esta altura, sabemos que os três jogos estão emulados. A emulação é responsável pelos aprimoramentos, como a troca de algumas texturas por outras melhores (notáveis em Super Mario 64, principalmente na letra M no chapéu de Mario e nos ícones e texto na tela). Apesar de quadros por segundo (qps) continuarem inalterados em relação aos originais, as resoluções aumentaram.
Super Mario 64
- Nintendo 64, 1996
- Resolução de 320×240 pixels em 4:3 (quadrado)
- 30 qps, com algumas quedas e lentidão
- Nintendo Switch
- 960×720 em quaquer modo (seja na doca e portátil) em 4:3 e bordas pretas laterais e verticais
- 30 qps, sem quedas
- melhorias em várias texturas e fontes
Super Mario Sunshine
- Nintendo GameCube, 2002
- Resolução de 480p em 4:3 (quadrado)
- 30 qps, com raras quedas e lentidão
- Nintendo Switch
- atracado na doca, roda em Full HD (1080p), enquanto a resolução dinâmica do modo portátil atinge 720p
- 30qps do original, quedas raras
- aprimorado para o aspecto 16:9, que confere um maior campo de visão
Super Mario Galaxy
- Nintendo Wii, 2007
- Resolução de 480p em 16:9 (quadrado)
- 60 qps, com raras quedas e lentidão
- Nintendo Switch
- atracado na doca, roda em Full HD (1080p), enquanto a resolução dinâmica do modo portátil atinge 720p
- 60qps do original, quedas muito raras
Deixando Super Mario 64 de lado um pouquinho, é impressionante que o Switch – especialmente em modo portátil – consiga emular Super Mario Sunshine, tanto quanto Super Mario Galaxy, com a resolução saltando a 1080p. Antes do lançamento, apostava que os jogos seriam recompilados com o código-fonte adaptado e rodando na nativamente na máquina do Switch. Não foi bem assim e agora abre-se um precedente interessante: ao emular GameCube e Wii, outros jogos destes consoles podem vir por aí, entre eles, Super Mario Galaxy 2, que não integra Super Mario 3D All-Stars.
Jogos ausentes em Super Mario 3D All-Stars
Obviamente a coleção não traz Super Mario Odyssey, lançado para o próprio Switch em 2017. Um a menos.
A mesma Nintendo Direct que anunciou Super Mario 3D All-Stars trouxe a informação que Super Mario 3D World, originalmente lançado para o Wii U em 2013, terá uma edição própria no Switch com conteúdo adicional, Super Mario 3D World + Bowser’s Fury. Portanto, este é outro que fica de fora de Super Mario 3D All-Stars. Aliás, é um dos meus favoritos e em conflito, agora que recentemente joguei os três primeiros consecutivamente.
A ausência mais comentada em Super Mario 3D All-Stars é Super Mario Galaxy 2, uma sequência direta de Super Mario Galaxy lançada em 2010. Ainda elemento de disputa, acredito que o veremos em forma de download pago ou, quem sabe, surpreendentemente gratuito. Espero que tenhamos o jogo de qualquer jeito em algum momento futuro.
Contudo, Super Mario Galaxy 2 não faz parte do pacote de Super Mario 3D All-Stars e pode ser que nunca nem apareça no Switch. O mais estranho é termos uma vinheta sonora retirada de Super Mario Galaxy 2 na tela de abertura de Super Mario 3D All-Stars.
Restam dois que merecem menção: Super Mario 64 DS e Super Mario 3D Land.
Super Mario 64 DS foi lançado para a família de consoles Nintendo DS em 2004 e é considerado um remake, já que conta com novos gráficos e texturas, novos personagens, colecionáveis, um modo multijogador e diversos minigames extras. A história é praticamente a mesma, mas começa com Yoshi como protagonista e Mario, Luigi e Wario são personagens jogáveis que devem ser liberados.
No DS, as texturas são consideravelmente melhores que aquelas de Nintendo 64 e algumas fases foram remodeladas para que apenas o personagem com a habilidade específica pudesse pegar a estrela (são 30 estrelas a mais, totalizando 150). Salvo algumas limitações impostas pelos controles do portátil, Super Mario 64 DS aperfeiçoava o original.
Por outro lado, Super Mario 3D Land é quase uma prévia de Super Mario 3D World em uma versão de bolso, literalmente. Lançado para o Nintendo 3DS em 2011, o título foi meu primeiro jogo no console junto com Pokémon Y. Não sei por qual motivo muitos o esquecem e ignoram sua ausência na coleção, mas claramente deveria estar em Super Mario 3D All-Stars.
De forma resumida, 3D Land, tanto quanto 3D World, foi o responsável por um estilo de fases peculiar e inovador, que – aproveitando o nome dado por desenvolvedores de New Super Lucky’s Tale – agora chamo de plataforma de parquinho. Uma estrutura diferente pelas três dimensões onde cada “sala” ou espaço aberto oferece uma brincadeira diferente. Para mim, o título é o equivalente moderno de Super Mario Bros. 3 e passa uma sensação mais lúdica que os demais.
Ou seja, apesar de acreditar que Super Mario Galaxy 2 chegará em algum momento, a coleção não é necessariamente completa e tem lacunas. Ela contempla os três primeiros jogos Super Mario de plataforma em três dimensões inéditos e lançados para três consoles de mesa (Nintendo 64, GameCube e Wii), deixando de fora a superior reedição Super Mario 64 DS e o inédito Super Mario 3D Land, além de, claro, Super Mario Galaxy 2.
Super Mario 64
O primeiro console que meu irmão e eu ganhamos foi um Super Nintendo em um Natal. A caixa embrulhada em um papel amarelo continha uma versão do Super Nintendo sem cartucho incluído e dois controles – era o fim de jogar videogame na casa dos primos ou com os tios. Uma semana depois, compramos Super Mario World e, em algum momento tempo depois, o cartucho deu defeito e não salvava mais: jogar nos finais de semana era uma motivação quase de speedrunner antes mesmo de termos internet.
Quando surgiram os primeiros anúncios do sucessor, o Nintendo 64, parecia a correção de curso e a evolução natural. Antes de ganharmos um, delirávamos na propaganda de Super Mario 64 em que Mario corria pelos corredores de metal que levam a Hazy Maze Cave. Nunca me acostumei com a câmera próxima que o comercial mostrava, porém o dano estava feito.
Ir à Toys “R” Us significava ver o console à mostra e esperar para jogar ou ver mais um pouquinho do jogo. Enfim o ganhamos em abril de 1997 – e não havia nada igual a Super Mario 64 por aí: a Nintendo fez o primeiro grande jogo de plataforma em 3D e escreveu um verdadeiro manual de como explorar as três dimensões em um videogame.
Muito se fala hoje sobre o legado deixado por The Legend of Zelda: Ocarina of Time, mas até mesmo o jogo lendário (!) foi feito com base na programação de Super Mario 64.
Em 2020, Super Mario 64 é o primeiro jogo selecionável de Super Mario 3D All-Stars. Nesse meio tempo, já tentei apelar à nostalgia jogando com emuladores que rodavam relativamente bem e com algum hack de melhoria. Mas, ao abrir Super Mario 3D All-Stars, parecia mais do que correto: é o jeito ideal de fazer essa viagem de lembranças. Caso nunca tenha experimentado nenhum dos títulos, não se preocupe, provavelmente é melhor experimentá-lo nesta coleção.
Visuais e cenários
A resolução mais alta e as melhorias citadas fazem Super Mario 64 brilhar. Fora isso, não há nada mais para dizer que não soe como um clichê.
Os modelos e cenários, apesar de arcaicos, são funcionais: talvez Mario e outros personagens se destaquem, já que ou são simples sprites, ou são apenas um amontoado de polígonos na forma de Mario, Peach, Toad e Bowser. Esculpir em 3D, afinal, ainda era algo incipiente e o primeiro Toy Story havia estreado a menos de um ano.
Há um certo charme retrô, mas também não dá pra dizer que são cenários bonitos na tendência atual de arte em Low Poly. Aliás, as fases com cores mais simples e com texturas “menos ousadas” parecem melhor preservadas. Tall Tall Mountain, Jolly Roger Bay e Hazy Maze Cave são as que ficaram mias estranhas, parecem sujas e morosas, uma vez que o Nintendo 64 não tinha a potência necessária para exigir tanto de texturas complexas ou realistas.
Nem todas as texturas receberam retoques e a maior resolução expõe alguns truques de otimização de desempenho no Nintendo 64. Estes truques passavam desapercebidos nas pesadas televisões de tubo e deflagram aspectos feios do jogo. Por exemplo, quando a câmera se afasta e Mario está rápido o suficiente para ficar bem longe, Super Mario 64 substitui o modelo por outro de baixa qualidade, algo facilmente perceptível até mesmo no modo portátil.
Por falar em modo portátil, ainda que estejamos falando do jogo com processamento menos exigente em Super Mario 3D All-Stars, Super Mario 64 roda igualmente bem fora da doca. Preferi jogá-lo assim, pois a tela reduzida alivia a defasagem gráfica demasiadamente angular, enquanto o estilo com fases curtas e sem muitos segredos ajuda para pequenas sessões de jogatina.
O jogo como um todo envelheceu bem e mostra porque é o responsável por ser tão influente. A partir do momento que Mario sai do cano verde em frente ao castelo e tudo vai se explicando, você entra na primeira fase através de um quadro: bem vindo a Bob-Omb Battlefield. Se você é um jogador ávido, vai ser fácil notar como como os programadores criaram um verdadeiro campo de experimentação para descobrirem as possibilidades nas três dimensões.
Jogabilidade e controles
Somente Bob-Omb Battlefield poderia ser a primeira fase de uma coletânea como Super Mario 3D All-Stars. Seus criadores devem ter tentado interagir com as mais diferentes forças e variações e fizeram, guardadas as devidas proporções, uma fase de Fall Guys para um único jogador e para um Mario acrobático.
São gangorras, montes, rampas, bolas gigantes rolando… Mario parece repetir a abertura de Indiana Jones. Foi nesse ambiente de novidades que fiquei plenamente perdido da primeira vez que joguei e não sabia bem para onde ir. Na época, antes de perceber o objetivo, perdia o tempo andando no casco da tartaruga como se fosse um skate e em busca das 100 moedas, obrigatórias para uma estrela adicional em todas as fases. Andar pelas primeiras fases de Super Mario 64 é descobrir pequenos brinquedos por todos os cantos.
O parquinho de níveis criativos se expande por quase todas as 15 fases e por mais alguns trechos secretos, como o escorrega atrás do mosaico da princesa Peach. Porém, outras estão obsoletas e são uma pequena tortura, como o tapete sobre “trilhos” de Rainbow Ride.
Ao pressionar o botão – (menos), Super Mario 3D All-Stars mostra uma tela com todos os comandos e com todas as ações que Mario pode executar. Isso se aplica a todos os jogos na coleção. A tradução dos controles originais aos controles do Switch é bem feita e traz algumas inovações, como a adição de rumble ao jogo.
Puristas do controle de Nintendo 64 podem estranhar principalmente os Joy-Con, mas a adaptação é fluída e cada clique é responsivo. Na TV, joguei com o Pro Controller, a melhor e mais confortável opção. A vibração é meio fora de hora às vezes, mas foi um acréscimo positivo.
Um dos problemas é a sensação (reforçada) de que Mario patinar demais. Aceleração e desaceleração requerem certo tempo para nos acostumarmos e, ocasionalmente, Mario fica agarrado em parapeitos e quinas em uma animação de queda e retorno por alguns segundos.
Por fim, ainda considerando que Super Mario 3D All-Stars tem o mesmo Super Mario 64 de 1996 rodando, o pior vilão do jogo é a câmera, um fator que a Nintendo poderia ter se dado ao trabalho de revisar. A câmera era controlada pelos quatro botões amarelos C do Nintendo 64, alternando entre uma posição fixa em Mario ou uma panorâmica.
No Switch, o analógico direito assume este papel e acho que me acostumei demais com jogos modernos, como Super Mario Odyssey, A Hat In Time e New Super Lucky’s Tale, já que sofri por um bom tempo antes de me readaptar. Apesar de nenhum jogo ter a opção de inverter o analógico, vale o lembrete que isso pode feito pelo menu do sistema do console.
Som
O som de Super Mario 64 em Super Mario 3D All-Stars é exatamente o mesmo do jogo de 1996. Dito isso, é bem possível que você se beneficie de um televisor com caixas de som melhores ou fones de ouvidos no modo portátil. Assim, Super Mario 64 soará mais limpo do que jamais soou.
Uma frase controversa e famosa durante a luta contra Bowser foi retirada: apesar de dizer “So long-a, Bowser” com um estereótipo de italiano falando inglês, muitos entendiam algo como “Gay Bowser” e a Nintendo preferiu remover qualquer vestígio de ambiguidade. Por fim, parece existir um certo atraso na coordenação dos efeitos sonoros com algumas ações, causando assincronia, mas acredito que já existissem no Nintendo 64 e são quase imperceptíveis.
Super Mario 64 para mim e para quem nunca o jogou
É difícil explicar algumas sensações, mas abrir Super Mario 64 em Super Mario 3D All-Stars parece o jeito certo de reviver o jogo – não por emuladores em computador. Quando a primeira tela com a carona tridimensional de Mario surge, a nostalgia chega galopante e coloca um sorriso bobo e alegre na cara. Ligar o Nintendo 64 e ver a carona maleável de Mario era algo de outro mundo e, hoje, mesmo depois de tantos anos, foi natural e me senti em casa. Talvez os controles estejam intrinsecamente guardados no cérebro e a memória muscular seja mais persistente do que imaginava.
Tão rápido quanto pude fazê-lo ao mesmo tempo que jogava, pensei em jogos de plataforma e aventura que joguei desde 1996 e tentei associá-los com fundações marcadas por Super Mario 64. A grandeza do castelo e a criatividade de ambientes e situações ainda superam aquelas de muitos jogos posteriores em outras franquias.
Super Mario 64 não envelheceu [tão] mal graças à qualidade arrebatadora do jogo e de sua experimentação criativa. Contudo, é inegável que este é o único presente em Super Mario 3D All-Stars que realmente se beneficiaria de um remake completo – nem que fosse preservando mecânicas, reescrevendo a programação da câmera e trazendo os modelos e o motor gráfico de Super Mario Odyssey. E a experiência seria um pouco mais rica se tivéssemos as edições feitas em Super Mario 64 DS na coletânea, ainda que causasse estranheza da imensa maioria que aproveitou o jogo no Nintendo 64.
Para quem nunca teve a oportunidade de jogar Super Mario 64, a melhor chance de aproveitar o jogo está certamente em Super Mario 3D All-Stars. Talvez não seja uma trajetória das mais fáceis, principalmente em fases que viraram velhas ranzinzas. Talvez você tivesse um PlayStation com Crash ou Spyro, talvez tivesse um Nintendo 64 com Banjo Kazooie mais tarde… Independentemente da situação, tenho certeza de que traçará imediatamente paralelos da influência de Super Mario 64 em outros jogos.
O jogo não é dos mais acessíveis quando colocado contra padrões modernos. Felizmente, algumas opções de controles são configuráveis pelo menu do Switch. E também não adianta acumular vidas, pois o contador reseta a cada reinicialização. Longe de ser um problema, já que ao perder todas você volta ao último ponto salvo. Se fosse um remake, a Nintendo deveria aproveitar a modernidade de Super Mario Odyssey para implementar salvamento automático e retirar o sistema de vidas.
Revisite ou explore pela primeira vez para, respectivamente, lembrar ou descobrir porque Super Mario 64 é tão icônico e importante para os jogos que jogamos hoje; perdoe a ação do tempo ao se lembrar que a Nintendo praticamente escreveu as regras gerais de um jogo de plataforma em três dimensões sem nenhum referencial. Matei a saudade com nostalgia, mas ainda quero um remake.
Super Mario Sunshine
O patinho feio em Super Mario 3D All-Stars é sem sombras de dúvidas Super Mario Sunshine, um dos títulos mais divisivos entre os fãs de Mario. O jogo foi lançado em 2002, no ano seguinte ao lançamento do GameCube, cuja apresentação foi Luigi’s Mansion – pela primeira vez a dobradinha “novo console de mesa e jogo de Mario” não aconteceria. Quando comprei meu GameCube em 2003… Nem cogitei Super Mario Sunshine: só tinha olhos para Metroid Prime.
Os jogos de Gamecube eram difíceis de encontrar e bem caros no Brasil. A locadora tinha poucos títulos e, à medida que me saturava de Metroid Prime, outras prioridades surgiram antes de Super Mario Sunshine, como Super Smash Bros. Melee e The Legend of Zelda: The Wind Waker. Quando o pudemos alugar, jogamos à exaustão e aproveitamos bastante apesar de nunca tê-lo comprado.
Particularmente, fico do lado de quem gosta muito de Super Mario Sunshine, e gosto justamente pela escalada em dificuldade e por apreciar aquele que considero o universo mais coeso de Mario.
Visuais e cenários
Ah, como Super Mario Sunshine tira proveito das melhorias trazidas por Super Mario 3D All-Stars! O efeito miragem graças ao calor fica melhor em alta definição, assim como a ondulação da belíssima água.
A nova resolução e o formato panorâmico fazem o jogo brilhar a quase todo momento. É uma pena que, logo na apresentação, a Ilha Delfino esteja escura por causa da poluição – quem sabe a primeira impressão fosse mais positiva se a ilha fosse mais colorida e vibrante? Aproveitando o ponto fraco, os filmes tiveram parte da tela cortada para se adequarem à proporção 16:9 e foram redimensionados por algum algoritmo de inteligência artificial. Como resultado, ficaram esmaecidos e escuros.
Passado este resmungo, os modelos de cada personagem e cenários são bonitos. É estarrecedor termos a mesma base de 2002 em mãos. Claro, isole as limitações do GameCube e verá que a paleta de cores escolhida, o tamanho do mundo e, principalmente, os gráficos de água são descomunais. O trabalho bem feito é notório pois exemplos deste nível são raros em qualquer época.
Revisitando o jogo após tantos anos em Super Mario 3D All-Stars, o que mais me chamou a atenção foi uma característica que muitos elogiam em Dark Souls: praticamente de qualquer posição no mundo é possível ver outras referências no terreno a lugares que podem ser visitados. Obviamente Super Mario Sunshine não é um jogo de mundo aberto e o próprio GameCube tem exemplos incríveis e melhores com The Legend of Zelda: The Wind Waker e The Legend of Zelda: Twilight Princess. Ainda assim,o escopo é imenso e a atenção aos detalhes transporta o jogador para uma ilha populosa e com atmosfera própria.
Desta vez, o tema tropical engloba todas as fases, consequentemente deixando de lado aquela variedade vista em Super Mario 64, com fase de neve, fase oceânica, etc. Os cenários são maiores e bem verticais, por isso, Mario está ainda mais acrobático. Porém, a Ilha Delfino não suprime a criatividade: dentro de um paraíso tropical, exploramos várias localidades com ares únicos, desde o parque de diversões até o hotel (que lembra O Iluminado), desde um porto até os recifes de corais.
Jogabilidade e controles
Muitos acusaram (e acusam) Super Mario Sunshine de ser diferente pelo fato de Mario estar equipado a bomba de água FLUDD quase o tempo todo. O argumento seria “é como andar numa bicicleta com rodinhas” já que podemos direcionar o jato de água para corrigir e prolongar saltos. Francamente, não sei quão diferente é FLUDD em relação a Cappy de Super Mario Odyssey.
A bugiganga é uma invenção do professor E. Gadd, o responsável pelo Poltergust 3000 que Luigi usa para caçar fantasmas. Mario deve usá-la depois de ser injustamente condenado a limpar a Ilha Delfino da sujeira que teria causado – tudo porque foi confundido com um impostor. Cito em minha análise de Final Fantasy Crystal Chronicles Resmastered Edition a tendência crescente com abordar a questão ambiental – uma pauta global até hoje e uma maneira dos videogames serem bem vistos como novo meio após as polêmicas com violência nos anos 1990.
Seja como for, Mario é ágil e os desafios são os maiores em qualquer um dos jogos 3D da série. Por isso, Super Mario Sunshine é o mais difícil em Super Mario 3D All Stars. Para mim, não há um outro Super Mario mais desafiador – quem sabe não é por isso que muitos se frustraram? No mesmo passo, apenas Super Mario Odyssey consegue oferecer mais liberdade entre a exploração dos mundos e, ainda assim, prefiro a coerência de Super Mario Sunshine.
O grande dilema da Nintendo para Super Mario 3D All-Stars deve ter sido adaptar os botões analógicos L e R do GameCube para o Switch, já que a pressão da água era controlada. A solução foi razoavelmente simples e funcional: com R, Mario fica parado e FLUDD jorra água com força total; com ZR, a intensidade é alta, mas sem parar, permitindo correr e atirar água para todos os lados.
Em certas ocasiões, FLUDD é “roubado” e Mario deve seguir por um curso de obstáculos sem nenhum auxílio. Estas seções são difíceis e devem ser abordadas com paciência. De qualquer forma, o principal problema herdado é a colisão de Mario em alguns objetos, fruto provável da enorme diversidade de formas espalhadas pela ilha. As moedas azuis também mereciam um retoque, já que são extremamente cansativas de garimpar.
Longe de ser perfeita, a câmera está mais refinada que em Super Mario 64 e funciona bem quase sempre. Quando a imperfeição aparece, é fácil ficar desorientado entre paredes ou perder Shadow Mario de vista. Entretanto, é a câmera mais livre de toda série, exceto quando comparado, novamente, com Super Mario Odyssey.
Som
Muito provavelmente, Super Mario Sunshine não será o primeiro a ter a trilha lembrada em Super Mario 3D All-Stars. Isso não é problema, pois os temas são marcantes e o jogo tem ótimas composições. Ainda tirando proveito de sintetizadores, as músicas em formato MIDI são cativantes, mas nem tão criativas como as de Super Mario 64 e sem o charme orquestrado de Super Mario Galaxy.
Contudo, cada tema faz jus ao ambiente da ilha, seja o parque, seja a baía. A melodia da praça central ficará na cabeça por um tempo. É muito interessante de se ouvir ao embarcar no Yoshi e novos instrumentos de percussão entram no ritmo.
Outro trunfo é a quantidade de dublagens presentes em cenas – desde o juiz até Bowser Jr. e Peach. Assim, é o jogo dentro de Super Mario 3D All-Stars com mais falas e cujos personagens têm mais personalidade.
Super Mario Sunshine para mim e para quem nunca o jogou
Assim como Super Mario 64, eu dificilmente teria revisitado Super Mario Sunshine se não fosse por Super Mario 3D All-Stars.
Revisitá-lo mostra que o jogo poderia ter pequenas melhorias (assim como Wind Waker HD teve a missão da Triforce refeita e uma nova vela que dispensava mudar a direção do vento). É fascinante ver como aquele jogo bonito de GameCube tira muito proveito de uma resolução alta – e fica mais bonito.
Como nunca o tive, apesar de tê-lo alugado várias vezes, sempre fiquei com a sensação que corri demais. Agora com Super Mario 3D All-Stars vou levá-lo ao 100% e aproveitando todos os passos, mesmo com a fatídica busca por moedas azuis. Entre os três títulos da coleção, foi facilmente aquele que mais joguei estes dias antes da análise.
Acredito que quem não gostava tanto de Super Mario Sunshine deve aproveitar Super Mario 3D All-Stars para dar uma segunda chance. Quem não o jogou, encontrará uma grande aventura que está degraus acima da dificuldade média de todos os posteriores (Super Mario Galaxy, Super Mario Galaxy 2, Super Mario 3D World e Super Mario Odyssey).
Super Mario Galaxy
Serei mais breve com o terceiro título de Super Mario 3D All-Stars, Super Mario Galaxy. Isso porque foi o que menos joguei e, quando o fiz, fui enlouquecido porque Super Mario Galaxy 2 estava para chegar. A experiência trazia a moda dos controles de movimento aos saltos de Mario e foi uma aventura calma e breve. Como já tinha um Xbox 360 na época, imaginava como Super Mario Galaxy seria caso rodasse em alta definição (assim como The Legend of Zelda: Skyward Sword). Agora eu sei e… é fantástico!
Visuais e cenários
Super Mario 3D All-Stars extrai o máximo de Super Mario Galaxy. Sem um olhar analítico e aproveitando a movimentação, o jogo é facilmente confundido como sendo da geração atual, sobretudo no modo portátil. Super Mario Sunshine é um jogo bonito, mas o cuidado com o pouco poder extra do Wii e o domínio dos desenvolvedores com a tecnologia ajudaram em levar os melhores aspectos artísticos à tona.
Cada fase a se explorar (neste caso, galáxias) são pequenos cenários orbitáveis e com centros de gravidade que parecem ter saído das páginas de O Pequeno Príncipe. Personagens carismáticos em um mundo com cores saturadas e vibrantes contrastam com aqueles do ambiente um pouco mais lavado de Super Mario Sunshine. Existem galáxias de todos os tipos e coloridos, com tarefas distintas a serem resolvidas.
Jogabilidade e controles
Sendo produto da febre de controles de movimentos, Super Mario Galaxy tem o maior choque de controles em relação ao seu original. Super Mario 3D All-Stars bem que tenta e incorpora alguns deles de forma diferente: por exemplo, em vez apontar para a tela, o giroscópio foi aperfeiçoado para ser o cursor. Isso funciona bem a maioria das vezes, mas – no melhor estilo Skyward Sword – é preciso recalibrar o controle constantemente.
Particularmente, preferi jogar com o Pro Controller ou com o suporte de Joy-Con, já que no modo portátil é preciso tocar a tela, deixando tudo mais complicado. Salvo essas considerações, a pancada giratória que Mario tinha no jogo está agora mapeada para o botão Y, facilitando as coisas (e como facilita!). As corridas sobre arraia, entretanto, usufruem dos movimentos e atendem ao básico – mas diria que ainda não rivalizou com a qualidade do Wiimote. Ter a estrelinha na tela o tempo todo para recolher os pedaços de estrelas também é uma pequena distração desnecessária.
No geral, este Mario é o mais lento de Super Mario 3D All-Stars: é fácil ver como não é tão veloz quanto os demais. Contudo, Super Mario Galaxy traz ajustes finos para auxiliar o jogador com saltos mais complicados, algo muito bem vindo já que a câmera é quase sempre travada e andar de cabeça para baixo pelos pequenos planetas e satélites pode ser desorientador. Não raramente você errará um golpe, salto ou bundada graças à perspectiva.
Super Mario Galaxy também leva o título de experiência mais linear em Super Mario 3D All-Stars. A liberdade oferecida a partir de certo ponto de Super Mario Sunshine nunca é alcançada, o que não é um problema, mas pode ser um limitador quando parte da diversão está voltada para a exploração livre de ambientes.
Finalmente, este jogo tem algo a mais: mais poderes e alguns deles novos. O principal deles, para mim, é a roupa de abelha, que apresenta novas possibilidades de jogabilidade ao colar na parede e ter um voo limitado pelo vigor de Mario. No final de contas, Super Mario Galaxy reinventa a fórmula tridimensional da série em um jogo mais fácil, mais linear e, ao mesmo tempo, excelente.
Som
A trilha sonora de Super Mario Galaxy é algo para se experimentar, nem que seja uma única passagem pelo jogo. Pela primeira vez na série, os compositores usaram de uma orquestra sinfônica e atingem a grandiosidade galáctica por meio da música. Quase 30 temas no jogo foram gravados por orquestras com 50 integrantes e como o próprio responsável pela direção musical, Mahito Yokota, diz, a sinfônica dá um “ar mais épico ao jogo”. A trilha é tão boa que fez parte do pacote com um console Nintendo Wii e New Super Mario Bros. Wii em 2011.
Super Mario Galaxy para mim e para quem nunca o jogou
Super Mario Galaxy é o título mais acessível dentro de Super Mario 3D All-Stars para os menos íntimos com jogos ou para aqueles que querem um passeio mais tranquilo. A linearidade do jogo e a câmera fixa na maioria das vezes nunca foram meus maiores agrados, assim como o ritmo mais devagar do jogo.
Ainda assim, vê-lo em alta definição no pacote de Super Mario 3D All-Stars prova como muitas das escolhas de design da Nintendo são atemporais e como conceitos fortes sobrevivem anos e anos sem defasagem. Super Mario Galaxy excede em todos os aspectos e atinge uma demografia maior que um jogo qualquer: visual, sonoro, de jogabilidade e diversão. Qualquer pessoa pode começar a jogá-lo e levá-lo até o final sem sofrer e sem tédio.
Vale a pena comprar Super Mario 3D All-Stars?
Super Mario 3D All-Stars oferece um ótimo valor pelos três jogos que inclui. A coleção seria ainda mais rica caso tivesse opções para alternar entre Super Mario 64 e Super Mario 64 DS, já que o remake portátil é um aprimoramento considerável sobre o original. Já que o tema é Super Mario 64, talvez este seja o único título em Super Mario 3D All-Stars que realmente se beneficiaria de um remake – apesar de todo o carinho, nostalgia e de quão revolucionário foi para a época, queria ver o jogo brilhando nos moldes modernos de Super Mario Odyssey.
Outra inclusão da qual Super Mario 3D All-Stars se beneficiaria seria Super Mario 3D Land. Minha convicção garante que o jogo pertence à coletânea e ficaria incrível em alta definição. Parte de gostar da Nintendo é ter as expectativas bem mais altas que a realidade, essa fantástica máquina de frustrações. Com um catálogo desses e a nostalgia, quem não cresceu jogando Nintendo dificilmente vai entender o apego que seus jogos causam ou o impacto no contexto de cada lançamento.
Super Mario 3D All-Stars traz ainda em seu simples menu a trilha sonora completa de cada integrante da coleção com um total de 175 temas. É uma adição singela e bem-vinda. O tocador é bem enxuto e dá a possibilidade de desligar a tela do Switch para ouvir. Os menus também trazem uma pequena descrição sobre cada jogo, ano de lançamento e outros idiomas. Nenhum está em português.
O fato de os jogos estarem todos emulados me faz pensar se não foi um dos primeiros testes públicos da Nintendo em uma iniciativa maior de trazer jogos de GameCube e Wii para o Switch, nem que seja pela loja em formato digital. Caso a chegada de Super Mario Galaxy 2 se concretize, principalmente como conteúdo gratuito, o valor da coleção é excelente – seja para relembrar, seja para descobrir. Super Mario 64, Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy são recomendações essenciais para qualquer apaixonado por jogos e deveriam ser vivenciados pelo menos uma vez com o olhar atento do que cada um trouxe como inovação para a indústria.
Por fim, para mim, Super Mario 3D All-Stars foi um pouco mais do que nostalgia pelos videogames, mas trouxe lembranças de quando jogava com meu irmão na mesma casa, da compra do Nintendo 64 acompanhados por nosso avô e de nossas idas à locadora com amigos para não só jogar, mas meramente ver Super Mario Sunshine e Super Smash Bros. Melee. Essa parte é da minha história, mas se qualquer jogo é capaz de romper a barreira da tela e provocar memórias duradouras, logo é digno de ser recomendado. Quais são os jogos que te causam isso? Se algum deles estiver em Super Mario 3D All-Stars, corra, pois a Nintendo anunciou que a coletânea só ficará nas prateleiras até março de 2021.
*Review elaborada com código fornecido pela Nintendo.
Super Mario 3D All-Stars
R$ 299,00Prós
- Três dos melhores jogos de plataforma jamais feitos
- Valor da coleção
- Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy brilham em alta definição
- Ótimo desempenho no modo portátil
- Muitas horas de jogo e 480 estrelas (se jogar com Luigi em Galaxy) para pegar
Contras
- Super Mario 64 se beneficiaria de um remake
- Controles de movimento em Super Mario Galaxy poderiam melhorar
- Onde está Super Mario Galaxy 2?
- Onde está Super Mario 3D Land?
- Nenhum dos jogos está em português