System Shock Remake | Review
System Shock é um remake do título homônimo, solto no mundo no longínquo ano de 1994, desenvolvido pela Nightdive Studios e publicado pela Prime Matter. Nele, tomamos o controle de um hacker que se encontra perdido em uma estação espacial desolada. Como toda desgraça pouca é bobagem, ela também está sobre o controle de uma I.A homicida e enlouquecida que tem por objetivo fazer com que todos os humanos sejam robotizados ou vaporizados. Sensacional.
E aí, será que System Shock vale nosso tempo e recursos limitados? É o que veremos agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria.
Choque no sistema
Tecnologia, leitoras e leitores. Uma coisa maravilhosa, de fato, que tornou nossa vida muito mais simples e prática. Acesso rápido e prático à informação quando quisermos, contato instantâneo com pessoas de qualquer lugar do mundo. Análises do Pizza Fria no momento do lançamento. Enfim, um universo de maravilhas que nossos antepassados jamais pensariam.
Foi pensando nisso que decidi adquirir, recentemente, um daqueles relógios smart com diversas funções, inclusive uma assistente virtual. Monitoramento de frequência cardíaca, de qualidade do sono e tudo mais. Imaginem minha surpresa quando percebi que a inteligência contida em meu relógio estava realmente avançada, e quase real.
De uma hora para outra, meu reloginho esperto começou a me dar ordens e, caso eu não as cumprisse, começou a me dar choques. E também passou a me chamar de inseto. Que beleza. Uma de suas ordens foi a de jogar e analisar System Shock, o remake do jogo de mesmo título lançado em 1994 e influente até hoje, sendo utilizado como inspiração para uma série de obras diferentes.
Por exemplo, quem curte Bioshock está aproveitando de um título que bebeu muito da fonte do nosso queridinho da vez. Dead Space ? Mesma coisa. Prey, Dishonored ou qualquer outro título da Arkane Studios? Pode contar que tem um dedinho de System Shock ali. Enfim, isso mostra o quanto foi influente e importante para a história dos videojogos como um todo. Mas, será que a experiência -ainda que refeita- se sustenta nesse belo ano de 2023? É o que veremos agora.
A trama de System Shock começa de maneira bem simples. Nós somos o hacker, um cara super legal com habilidade de quebrar códigos que decidiu invadir os servidores de uma grande companhia para roubar segredos. Após sermos pegos no pulo, um executivo da dita cuja nos dá uma escolha: ou retiramos as travas éticas de SHODAN, uma I.A que comanda uma estação espacial chamada Citadel, em troca de anistia e um implante neural maneiro, ou então iremos ver o sol nascer quadrado por muito tempo. Adivinha qual escolhemos?
Contudo, a próxima coisa que sabemos é que acabamos de acordar na ala médica da Citadel, que se encontra estranhamente vazia. Após andar um pouco entendemos o motivo: SHODAN, sem nenhum controle emocional, deu a louca e começou a matar toda a tripulação da estação, e transformar os menos sortudos em ciborgues. Começa aí, então, nossa corrida para conseguir fugir de lá mantendo todas nossas partes orgânicas intactas.
Dado o fato que a maioria dos humanos que vemos já estão mortos, ou robotizados e tentando nos matar, a maioria da exposição da trama de System Shock é feita através de logs de áudio ou chamadas. Inclusive, o original foi o criador dessa tendência que perdura até os dias de hoje. Quem nunca jogou algo que possui como colecionável uma mensagem de voz, fita ou coisa assim? Ainda assim, o universo criado pelo título é interessante e nos compele, e SHODAN é uma vilã simplesmente sensacional. Não falarei muito aqui, mas quando jogarem verão que não é exagero quando a colocam entre a lista dos melhores malvados e malvadas da indústria.
Passemos para a gameplay, como diriam nossos amigos anglófonos. System Shock é, superficialmente, um jogo de primeira pessoa com elementos de sobrevivência. No primeiro caso, porque experimentamos o universo desse ponto de vista, seja para controlar ou lutar. E no segundo, porque sempre estamos com poucos recursos e precisamos pensar com carinho em cada munição e item que gastamos.
Citadel não é um lugar amigável, e a SHODAN realmente nos odeia. Portanto, espere encontrar todo tipo de criatura amigável querendo nos dar o doce, doce abraço da morte. Ciborgues meio humanos, robôs assassinos, pequenos carrinhos explosivos, mutantes, mutantes voadores, radiação, fogo. Quase tudo quer nos matar, de um jeito ou de outro. Realmente radiante.
Mas também podemos nos defender através do uso de uma série de armas diferentes, passando de contato físico até raios de energia ou o bom e velho chumbo grosso. Temos pistolas, rifles, granadas, chaves de fenda, pistolas de raio que recarregam com energia, enfim. O arsenal é variado, e sempre há uma forma prática de dar cabo na oposição. O problema é que eles são muitos, nós somos apenas um e a carne macia de um ser humano não protege nem uma fração do que faz a chapa de ferro no peito de um robô. Que coisa.
Enquanto não estivermos lutando para sobreviver ficaremos explorando a estação, em busca de sobreviventes, equipamentos e chaves para acessar outras partes do lugar. Ah, e destruindo câmeras e núcleos de processamento, que diminuem o controle da I.A naquela zona e liberam portas com itens especiais. Como uma magnum, por exemplo. Explorar é divertido, e os corredores baixos causam uma sensação claustrofóbica capaz de gerar uma tensão palpável.
System Shock foi fiel em sua representação do original nestes aspectos. Um pouco demais até, devo dizer. Por exemplo, o título segue a mentalidade noventista de nos dar uma pequena direção, e deixar rolar. Sabemos que precisamos fugir, ouvimos uma pessoa dar vagas direções e o caminho que seguimos até o objetivo é por nossa conta.
Isso é bem divertido, e descobrir segredos e passagens é demais. Contudo, é fácil demais se perder e ficar sem saber, o que é potencializado pelo fato dos cenários serem muito parecidos e do mapa mostrar apenas a geografia geral, mas sem pormenores ou muitos marcadores. Eu imagino que alguns estejam prontos para me chamar de casual e outras coisas delicadas, mas vejam bem: eu sou a favor de deixar o jogador se virar, e não ficar buzinando de minuto em minuto que a saída fica para lá ou para cá. Mas, é preciso pensar que ficar totalmente perdido por horas, andando pelos mesmos corredores vazio, não desce tão redondo assi,.
Por fim, notei que, embora seja suportado, System Shock não se dá bem com controles. Usando mouse e teclado precisamos lidar apenas com uma interface obtusa e antiquada, que nos obriga a tomar mais ações do que o devido para realizar o básico. Mas, usando a manete tudo fica mais difícil, principalmente pelo fato de termos de usar o analógico direito como mouse improvisado. Funciona, mas não é o ideal.
Outro ponto baixo, para mim pelo menos, são as seções no ciberespaço. Nelas, System Shock se transforma em uma espécie de simulador de nave, no qual nos mexemos livremente nos eixos e precisamos destruir vírus e outras coisas enquanto vamos atrás de um alvo. É legal da primeira vez, mas os controles são estranhos, as seções são chatas e repetitivas, e creio que acabam por aparecer mais do que deveriam.
Sons e Visuais
System Shock consegui reproduzir os visuais, tanto de cenários quanto inimigos, de maneira muito fiel. E, ainda, dando um retoque para ser moderno o suficiente para parecer novo, mas não tanto que ficasse descolado do original. Sejam nos setores mais cyber da espaçonave, ou nos inimigos, tudo aqui casa bem com a temática e trabalha, e muito, na manutenção e construção da atmosfera.
A trilha sonora também ficou excelente, com músicas impactantes capazes de nos deixar com os cabelos em pé nos momentos mais tensos e isolados. Podemos até saber que não há perigo, mas a música é tão envolvente que ficamos atentos mesmo assim. Além disso, as vozes foram muito bem feitas, principalmente da SHODAN. Li que chamaram a atriz original, e o trabalho ficou excelente.
Vale a pena comprar System Shock?
É chegada a hora, caros leitores e caras leitoras. Façamos uma análise, e direi minha opinião sobre esse belo remake de System Shock. Ou, ao menos, o máximo que puder sem que me relógio exploda em forma de protesto. De cara, posso dizer que fãs do original irão aprovar. O jogo está muito fiel, e realmente parece que transpuseram o clássico de 1994 para um corpo mais moderno. Explorar é uma beleza, a trama compele e o título possui uma atmosfera de dar inveja. Além disso, SHODAN continua sendo uma das melhores vilãs de todos os tempos.
Por outro lado, algumas coisas realmente sugam a alegria do jogador. É fácil demais ficar perdido e sem saber o que fazer, o que não é aliviado pela interface confusa e pela falta de direção geral. Além disso, quem jogar com um controle tradicional irá passar certa raiva, e as seções de ciberespaço jogadas aqui e ali fazem mais para derrubar a experiência do que para deixá-la variada.
Contudo, apesar dessas pequenas chateações, ainda me sinto confortável para recomendar System Shock. Não obstante o fato de que eu apreciava o original, o remake fez o suficiente para trazer a experiência para os dias de hoje, com o suficiente de melhorias para manter tudo funcionando sem perder sua essência. Algumas coisas poderiam ter sido mais redondas? Certamente. Mas, de toda forma, a aventura ainda é valida, e SHODAN ainda é um deleite de se enfrentar.
System Shock será lançado na próxima terça-feira, 30, para PC, via GOG.com, Epic Games Store e Steam. Versões para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X|S estão previstas, e serão disponibilizadas em data posterior.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Prime Matter.
System Shock
R$ 199,00Prós
- História bem contada, com uma ótima atmosfera
- Sempre mantendo o clima de tensão, no qual sobreviver depende de muita cautela e preparo
- SHODAN segue sendo uma ótima vilã
- Boas opções de customização de dificuldade
- Explorar é muito divertido
Contras
- Jogar no controle é complicado
- Muito fácil se perder e ficar sem saber o que fazer
- Partes no ciberespaço são enfadonhas