Turnip Boy Robs a Bank | Review
Turnip Boy Robs a Bank é a sequência igualmente bizarra e encantadora de Turnip Boy Commits Tax Evasion (2022). Os desenvolvedores da Snoozy Kazoo deram um passo ousado ao testar águas em outro gênero, passando de uma aventura em estilo top-down similar a alguns títulos de Zelda para um tiroteio rogue-lite, mantendo os visuais charmosos e o humor bobo e sem nexo que fizeram do primeiro jogo um clássico cult.
O entretido game do garoto nabo (tentando) roubar o banco repetidas vezes foi publicado pela Graffiti Games para Nintendo Switch, ecosistema Microsoft (Xbox One, Xbox Series S|X e Windows, com função Play Anywhere) e para PC, via Steam, Epic Games Store, Humble Store e itch.io. Além disso, o jogo faz parte do acervo Xbox Game Pass desde seu lançamento, em janeiro deste ano.
Turnip Boy Robs a Bank
[alerta de spoiler do final de Turnip Boy Commits Tax Evasion]
Após o apocalipse humano de Turnip Boy Commits Tax Evasion, que resulta num planeta dominado por frutas e legumes com letramento torpe sobre o que as pessoas faziam, Turnip Boy se junta à Gangue dos Pickles como assaltante de banco. Ao contrário de seu antecessor, Turnip Boy Robs a Bank é um jogo de ação com elementos de rogue-lite e de shoot ‘em up – vou falar quais e em detalhes mais abaixo.
Neste tiroteio criativo visto de cima para baixo, você joga como o titular Turnip Boy (ao qual me refiro como “garoto nabo” às vezes), que, após descobrir negócios obscuros em seu banco local, decide roubá-lo e dar uma lição no proprietário corrupto.
Para resumir, o ciclo de jogabilidade é mais ou menos assim: o jogo se desenrola como uma missão repetível na qual você saqueia o banco e evita a polícia que aparece depois de um certo tempo para expulsá-lo. Pense nas tentativas de fuga do Submundo em Hades. Mas é um assalto a banco e, em vez de ser o filho do deus da morte, você é um nabo. A cada jogada, você se aprofunda mais pelos cofres e salas, comprando novas armas e upgrades entre as corridas.
No começo, a ideia é obter o máximo de dinheiro possível durante três minutos. Quando o tempo termina, a polícia chega e inunda o edifício de inimigos, enquanto o jogador direciona o garoto nabo para a rota de fuga. Demore muito e Stinky, o dono, vai liberar gás suficiente para matar qualquer legume que esteja nas dependências. Entre os assaltos a bancos, você compra itens no quartel general da sua gangue com o dinheiro roubado que dão mais saúde, garantem mais tempo para o assalto e oferecem armas melhores.
Dá até pra entrar em sites da “dark web” para comprar explosivos ou lasers que abrem cofres superseguros. Caso Turnip Boy morra durante o roubo, sua fatia fica menor. E com um detalhe: a ordem de muitas das salas da fortificação são sorteadas a cada tentativa, ou seja, o jogo gera a fase proceduralmente.
A história continua perfeitamente do primeiro jogo, adicionando mais peças ao quebra-cabeça da situação familiar de Turnip Boy, enquanto deixa espaço para um possível terceiro título. O jogo é preenchido com uma variedade de personagens temáticos de vegetais e frutas, cada um contribuindo para o humor que é uma característica da série.
O humor sem sentido, aliás, está ainda melhor. As falas dos personagens são hiperbólicas enquanto muitas das missões secundárias são sátiras com filtro da quitanda com referências a filmes, como Scarface e Edukators, ou à realidade, como a subversão artística de Banksy.
Hotline Miami da feira da fruta
Coloque no liquidificador um nabo, meio shoot ‘em up veloz e uns três elementos de rogue-lite para servir uma batida com ação desenfreada conhecida como Turnip Boy Robs a Bank.
O primeiro ingrediente importado da gama light dos rogue-likes é a geração procedural de parte do cenário. A planta principal do banco se mantém a mesma entre visitas, mas, passe por uma porta e a sala que estava do outro lado vai mudar. Já que a sala é diferente, os personagens e suas demandas também são. Isto significa que cada tentativa de assalto pode apresentar um layout diferente, aumentando muito o fator replay de Turnip Boy Robs a Bank, já que proporciona imprevisibilidade ao desafio.
O recomeço do jogo com a morte do protagonista vem logo depois – com uma pegada menos punitiva, claro. Se Turnip Boy escapar, todas as pedras preciosas, assim como os objetos de valor, são convertidas em dinheiro. Mas caso ele morra durante o assalto, recebemos apenas um corte dos espólios. O game não é brutalmente difícil e ainda por cima oferece opções de acessibilidade que não travam conquistas para facilitar a jogatina. Mesmo assim morri uma vez ou outra pela ganância de forçar alguns segundos de roubalheira a mais e, por isso, jogadores devem ser cautelosos e estratégicos para evitar perdas nos “lucros”.
Para fechar o tempero light de “rogue”, temos a progressão, pois, entre os assaltos, a base conta com itens à venda e personagens que trazem e preservam objetos. Alguns deles oferecem melhorias permanentes para saúde, dano de combate e de armas de fogo separadamente, além de mais tempo para a incursão, entre outras. Não só isso: volte com armas especiais deixadas pelos capangas ou pelos policiais e troque-as para subir níveis no arsenal e abrir opções, como katanas e lança-mísseis.
Esses elementos juntos criam uma experiência de jogo que é desafiadora e recicla o ambiente a cada jogada com características típicas dos rogue-likes. A combinação deles dá uma certa profundidade e complexidade a Turnip Boy Robs a Bank, que premia o jogador no controle com frequência.
Partindo para a estrutura da receita que vem dos shoot ‘em ups, o controle do nabinho é simples como o twin-stick shooter: ande com o analógico da esquerda, escolha a direção e atire com o analógico direito. Dá pra usar os gatilhos ou remapear para os botões, mas a pontaria é muito mais rápida desse jeito e, sim, muitas partes e salas de chefes vão exigir habilidade e reflexos.
Desta forma, Turnip Boy Robs a Bank se distancia do ritmo mais bucólico e tranquilo de Turnip Boy Commits Tax Evasion ao se transformar numa espécie de run-n-gun agitado. Uma mudança de estilo surpreendente e radical, mas eficaz.
A variedade de armas disponíveis, desde um gizão (sim, um giz de cera gigante!) até um cacto em vaso que dispara espinhos como se fosse uma metralhadora, mostra a criatividade engraçada do jogo (não me julgue!). As configurações de acessibilidade no menu principal, principalmente o “Modo Deus” e o dano adicional, não anulam as conquistas e tornam a ação agradável para todos os tipos de jogadores.
No entanto, o jogo tem suas falhas. As tarefas que dão recompensas, geralmente na forma de chapéus cosméticos, são frustrantes às vezes devido à obscuridade de algumas ações e da natureza aleatória do mapa procedural. Frequentemente você se depara com a lição feita e todos os critérios prontos para completar uma missão, mas fica à mercê da sorte para que uma sala específica apareça. Para um jogo curto, envolver tanta tentativa e erro prejudica a harmonia da experiência geral, especialmente quando o azar assume a direção e tudo parece demorar mais do que devia.
Apesar desse contratempo com os deuses dos dados, Turnip Boy Robs a Bank brilha em seu humor, mecânicas sólidas e jogabilidade deliciosa. Os gráficos, renderizados em pixel art 2D fofa comum em jogos indie, são agradáveis aos olhos, e a dificuldade do jogo é bem equilibrada com os auxílios disponíveis. A escolha de mostrar o jogo numa tela 4:3 com bordas é curiosa e adiciona uma sensação retrô aos visuais.
Embora a trilha sonora seja empolgante e combine com a ação, eu joguei alternando entre podcasts e no mudo. Não por culpa dos temas musicais, mas mais pelo estilo do game, que exige repetição e aceita mergulhos em pequenas sessões de jogatina, por isso, preferi “dividir” meu tempo. Mas fique com uma amostra dos chiptunes eletrizantes compostos por Yukon (James Currier) para Turnip Boy Robs a Bank.
Vale a pena jogar Turnip Boy Robs a Bank?
Em termos de valor, o preço atual está ligeiramente alto, mas o jogo está disponível no Game Pass. Se futuras promoções forem similares às do primeiro jogo, em breve veremos Turnip Boy Robs a Bank por cerca de R$ 20. Com auxílios, a conclusão é relativamente fácil, embora ainda leve cerca de 6 horas – sem ajuda e buscando tudo, umas 10.
Ainda que estejamos falando de um jogo indie desenvolvido por apenas seis pessoas, é difícil entender por que falta localização, dado que Turnip Boy Commits Tax Evasion está em português do Brasil.
Turnip Boy Robs a Bank é uma jornada simples, mas envolvente no gênero, dando continuidade ao humor e às divertidas historietas do primeiro jogo. Pode não revolucionar, contudo oferece entretenimento de sobra e ação divertida para os jogadores. Evite o jogo caso sinta que a fórmula rogue-lite está esgotada; saiba, porém, que se trata de um jogo pensado em “diversão por diversão” emulando um gênero e com sátiras espalhadas, não de um game hostil ou com pretensão de ser hardcore.
A incerteza na aleatoriedade dos níveis para concluir certas missões é um tanto sacal, um incômodo demorado que não prejudica a experiência geral, que está centrada no humor bobo e eficaz de suas sátiras a jogos e filmes de ação, missões envolventes (ainda que algumas sejam confusas) e jogabilidade criativa tornam Turnip Boy Robs a Bank digno de ser jogado e o colocam um degrau acima de seu antecessor. Ele não se leva nada a sério e isso faz parte de seu charme.
Turnip Boy Robs a Bank está disponível para PC, via Steam, Epic Games Store e Microsoft Store, Nintendo Switch, Xbox Series X|S, Xbox One, Xbox Game Pass e PC Game Pass.
*Review elaborada no Xbox Series S, com código fornecido pela Graffiti Games.