1000xRESIST | Review
1000xRESIST é um jogo narrativo, daquele estilo thriller (thriller all night) desenvolvido pela sunset visitor 斜陽過客 e publicado pela Fellow Traveller. Nele, acompanhamos a jornada de uma mulher chamada Watcher que, após realizar sua função de observadora de eventos do passado, descobre certas verdades que abalam seu frágil, frágil mundinho.
E aí, será que vale a pena saber no que isso dá? É o que veremos agora, em mais uma história contada pelo Pizza Fria.
Nunca conheça sua deusa
Estava passando pelo centro de Night City, chooms, quando ouvi uma música familiar. Ainda que pudesse correr o risco de estar indo, figurativamente, para o abraço de uma sereia cibernética, decidi ver no que dava e apostar na sorte. Afinal, queridos e queridas, de que se vale a vida em 2077 se não a colocarmos em risco uma vez ou outra, não é mesmo? Além do mais, não comprei esses braços cibernéticos bolados por nada.
Contudo, até que tirei a sorte grande. O que pensei ser um chamado sobrenatural era, na verdade, uma propaganda para o jojinho que trago para a mesa hoje: 1000xRESIST. Que nome, não é mesmo? Tal como as perigosas ruas da cidade que nunca dorme, o título se passa em um futuro distópico, mas surpreendentemente limpo e ordeiro, no qual uma doença desconhecida ceifou quase toda a humanidade.
Eu realmente gosto de títulos desse tipo, principalmente quando pegam uma estética mais futurista e menos dilapidada que o normal. Afinal, é só sacudir uma árvore para caírem 100¹²³ jogos apocalípticos, com zumbis e desastres. Portanto, um sopro de novidade é bem vindo. Mas, será que é um sopro agradável? Afinal, jogos narrativos não costumam se apoiar em nada além da força de suas tramas para nos cativar. Bom, é o que veremos agora.
História
1000xRESIST se passa em um mundo no qual a humanidade foi aniquilada após a chegada de uma raça alienígena chamada de occupants. Contrariando a norma, eles não abduziram vacas ou explodiram pessoas com raios gamma. Na verdade, uma doença misteriosa, que fazia as pessoas chorarem até a morte, foi a responsável por deixar nosso planeta despovoado. Ou quase, visto que uma garota Iris conseguiu sobreviver e, de quebra, se tornar imortal. Que achado!
Após mil anos de tédio, nossa amiga conseguiu (através da CIÊNCIA) criar uma sociedade em pequena escala composta apenas por clones de si mesma. E, de quebra, ensinou a todas as chamadas sisters que ela era uma divindade chamada ALLMOTHER. Que moça humilde, não é mesmo? O jogo começa quando controlamos uma dessas clones, chamada Watcher, que possui o papel de revisitar as memórias da vida de Iris até o ponto em que ela se tornou imortal.
Não irei contar mais que isso para não estragar a surpresa, mas devo admitir que a trama de 1000xRESIST me prendeu do começo até o final. Muitas surpresas e reviravoltas aparecem, tal como o motivo de Iris ser imune a tal doença e suas “filhas não”, além da exploração de temas sensíveis e complexos como o senso do eu, a devoção ao divino, ao choque de conhecermos de perto o que adoramos de longe, e outras coisas mais.
Tudo é mostrado com um senso de estilo fascinante, e de tal forma que ficamos fisgados com facilidade. Além disso, é interessante observar a jornada de Watcher, e como ela entra em conflito constante consigo mesma, com o que acredita, com o que acha que deveria acreditar e como os sentimentos que surgem a influenciam. Esse tipo de “gancho” é essencial em jogos do estilo, e 1000xRESIST manda muito bem nesse quesito.
Outra coisa interessante é que o jogo consegue passar um ar de estranheza, mas quase normal, de uma forma bem legal. A sociedade criada por Iris é ordeira demais, perfeita demais, e existe uma sensação constante de que o perigo e a desgraça estão logo na esquina. Isso fica ainda mais claro quando conversamos com os diversos personagens, entre os capítulos, e percebemos o quanto são diferentes em sua alienação.
O único chato de 1000xRESIST, nesse caso, ocorre quando precisamos encontrar essas pessoas para falar. O hub no qual andamos entre as partes principais da história é meio confuso de se navegar, e a falta de um mapa atrapalha. Também estranhei a ausência de um log para reler textos passados e um glossário completo contando mais sobre esse mundo e seus habitantes. Por fim, o jogo não ter legendas em português arrebenta com a compreensão para quem não entende a língua da rainha.
Jogabilidade
Dado o fato de ser narrativa, a jogabilidade de 1000xRESIST se resume a acompanhar os eventos que ocorrem nas memórias de Iris, com um “entre missões” na colônia que as clones vivem. Contudo, o game consegue inovar com um sistema bem interessante para observarmos os acontecimentos da vida da ALLMOTHER, dando uma boa ajuda na hora de o diferenciar dos demais.
Watcher tem o poder de alternar entre memórias, como se fossem “cenas”, para observar eventos de diferentes perspectivas e poder liberar novos caminhos. Por exemplo, uma porta fechada no presente 1 pode estar aberta no passado 2, e por aí vai. Podemos pular de um para o outro livremente, sem carregamentos nem travadas na tela. Achei bem legal.
Fora isso, podemos nos atirar entre pontos em determinados momentos do jogo, como se fossem “ganchos”. Achei uma adição muito por “obrigação”, pouco trazendo de novo ou adicionando de divertido a coisa. Se melhor explorada, talvez, poderia dar mais um aumento na vida útil do título. De todo modo, a jogabilidade é suficiente, e as possibilidades de escolhas em determinadas partes do jogo levam para uma boa quantidade de finais.
Sons e visuais
1000xRESIST tem visuais muito bonitos, com um estilo cel shaded que me agradou bastante. Além disso, a construção de seus cenários, e a criatividade com que alguns são manipulados e trabalhados, me agradou demais. As cores também são boas, e temos uma boa variedade de cenários. De negativo, achei apenas estranho as bocas das personagens não se mexerem.
A trilha sonora de 1000xRESIST é sensacional, com músicas poderosas que fazem as cenas mais tensas acertarem o jogador com ainda mais força. Isso, aliado à algumas performances de voz bem interessantes, fazem com que o jogo seja um espetáculo audiovisual, dotado de uma personalidade bem única e facilmente distinguível dos demais.
Vale a pena comprar 1000xRESIST?
Chegou a hora, clones da Pizza. Será que 1000xRESIST vale a pena? Será que compensa acompanhar as tribulações e lamentações de um clone em busca da verdade sobre aquela que a deu a vida e tudo em que acredita? Bom, vamos fazer um balanço geral de tudo que falamos até o momento e ver se chegamos em um consenso sobre essa parada.
1000xRESIST tem uma trama muito boa, e que nos prende durante toda a duração com facilidade. Isso é essencial em jogos do estilo. Além disso, temos personagens multifacetados e interessantes, representados com primor pelo departamento audiovisual, e uma mecânica maneira de mudança de linha temporal. De negativo, queria um mapa para orientar na cidade, algumas facilidades que são comuns em outros títulos do gênero e uma legenda em português.
Ao fim e ao cabo, 1000xRESIST é um jogo fácil de recomendar para qualquer um quer curta o gênero, ou a temática que ele explora. Bonito e impactante, estou certo de que os deixará presos na cadeira, muitas vezes na beirada dela, do começo ao fim. Contudo, ele não pode ser tão bem aproveitado sem um domínio considerável da língua inglesa.
1000xRESIST chega nesta quinta-feira, 9 de maio, para Nintendo Switch e PC, via Steam, GOG.com e Epic Games Store.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Fellow Traveller.
1000xRESIST
Prós
- Trama que nos prende do começo ao fim
- Personagens profundos e cheios de conflitos
- Visual muito bonito, com criatividade para explorar diversos estilos e ideias
- Trilha sonora sensacional
- Sistema de mudança de linha temporal é bem engenhoso
Contras
- Andar na cidade, entre capítulos, é mais confuso do que deveria
- Precisa ser legendado em português
- Senti falta de algumas facilidades presentes em outros do gênero