Painkiller | Review
O mercado segue cada vez mais interessado em remakes de jogos consagrados. Desta vez, temos entre nós Painkiller, desenvolvido pela Anshar Studios para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Steam, que traz o clássico de 2004 de volta, em um remake cheio de novidades. Se antes, o título ficou marcado para os fãs como um ícone dos “boomer shooters”, jogos onde a história é um mero pano de fundo, sendo o foco total a matança.
Em 2004, o jogo era frenético, brutal e direto ao ponto, quase um Doom, mas com suas particularidades. Porém, será que mais de 20 anos depois, trazer Painkiller de volta foi uma boa ideia? Essa e outras questões serão abordadas nesta análise. Confira!
Enredo? Pra quê?
Painkiller é um boomer shooter, sem roteiro bonitinho, sem muitas firulas. A alma do jogo é a de dilacerar criaturas demoníacas a rodo. Mas, para não dizer que não há nada de narrativa, o título atual nos coloca para escolher entre quatro personagens – Ink, Void, Sol e Roch – que pereceram, mas contam com uma segunda chance no purgatório, sendo guiados pela voz de Metatron, avisando que eles terão de matar tudo o que virá pela frente, tendo como moeda de troca a redenção.
Cada um desses personagens conta com seu próprio pecado, mas o jogo praticamente mal se dá ao trabalho de explicar quais são. A única justificativa dada para a matança é Azazel, um anjo caído que ameaça transformar a Terra em um pandemônio. É isso. Não tem profundidade, graça, tampouco diálogos. Assim, temos uma narrativa rasa e fragmentada, contada por cutscenes genéricas e diálogos que soam deslocados. Portanto, se você quer uma história, ESQUEÇA Painkiller.

Tiro pra todo lado
A obrigação de um remake de Painkiller é a de recriar cenas insanas de ação. Felizmente, neste ponto, o jogo não economiza. Cada nível se torna em uma arena em constante erupção, com demônios aparecendo de tudo o que é canto. Com isso, somos obrigados a atirar praticamente o tempo todo. Contudo, desta vez, somos quatro pessoas contra o resto do inferno, algo que traz uma camada cooperativa para os jogadores. Porém, também é possível jogar solo com bots.
O arsenal do jogo também segue em grande, incluindo clássicos como a Shotgun, a Stake Gun (lança-estacas, ainda deliciosa de usar) e o próprio Painkiller, além das adições como a SMG e o Electrodriver, capazes de causar danos absurdos. Há ainda uma possibilidade de personalização das armas e pequenas melhorias que alteram dano, cadência ou efeitos especiais, mas é algo extremamente superficial.

Olhando assim, Painkiller até parece ser o sonho de qualquer fã de ação retrô. Contudo, a execução varia entre o satisfatório e o repetitivo. O ritmo é insano, é bem verdade, mas logo se transforma em algo repetitivo e totalmente previsível. As nove fases, que são bem divididas em biomas e chefes, se repetem em estrutura e objetivos. Onde o título original mantinha uma sensação de progressão e descoberta, o remake se resume a uma matança sem sentido, deixando bastante a desejar.
Ou seja: Painkiller traz um loop de jogabilidade que consiste em entrar no mapa, matar os inimigos, sobreviver e repetir. E repetir. E repetir mais uma vez… O problema é que o jogo não usa de nenhuma tática para esconder esse ciclo. Os objetivos variam levemente, nos colocando para proteger cargas, encher recipientes com sangue, derrotar chefes, mas tudo se resume à mesma dinâmica de “limpar o mapa”.

Por fim, mesmo sendo crítico ao jogo de uma forma bem explícita, preciso reconhecer que, em alguns momentos, existem lampejos de diversão genuína, sobretudo quando tudo se alinha: o caos, a trilha sonora e o ritmo, com tudo fluindo muito bem. Mas eles são raros. Na maior parte do tempo, Painkiller lembra uma banda de garagem com personalidade, mas ruim.
O modo roguelike
Além da campanha principal, o remake traz o Modo do Anjo Renegado, uma espécie de roguelike onde temos a árdua tarefa de enfrentar arenas procedurais cheias de inimigos e chefes, coletando cartas de tarô para aprimorar algumas habilidades. É uma tentativa válida de dar longevidade ao jogo e, por alguns minutos, até que funciona.
Mas, assim como o resto da experiência, a novidade rapidamente vai se desgastando para nós, jogadores. As arenas carecem de variedade visual, e os bônus obtidos com as cartas raramente mudam a forma de jogar. O resultado que temos é um grind repetitivo e sem sentido. Para um modo que prometia ser o “extra” de Painkiller, capaz de estender o interesse, o Anjo Renegado acaba parecendo mais com um penduricalho, do que com um grande modo.

Mecânicas pouco inventivas
Talvez o maior pecado deste remake seja sua falta de identidade. A Anshar Studios até que tentou equilibrar respeito ao legado com inovação, mas acaba entregando um jogo que não se compromete com nenhum dos dois, o que é bem frustrante. Como fã antigo, senti falta da atmosfera macabra e da sensação de poder quase sobrenatural do original. Já os novos jogadores podem achar tudo sem graça demais, repetitivo e vazio de propósito.
Nem a inclusão do modo cooperativo e das mecânicas de upgrade que tentaram modernizar o pacote tiveram jeito, não tendo profundidade suficiente para realmente prender o público atual. O Painkiller de 2025 é o típico jogo que funciona em curtas doses: divertido por algumas fases, visualmente competente, mas esgotante quando se tenta jogá-lo de maneira mais longa. Uma pena.

Gráficos e sons infernais
Graficamente, Painkiller é competente, mas é só. A Unreal Engine 5, queridinha da nova geração, novamente mostra serviço: os cenários góticos são detalhados, os efeitos de luz e partículas impressionam, e o design dos inimigos é grotesco e criativo o suficiente para manter a identidade da série. O jogo roda bem, com boa fluidez mesmo em situações de caos extremo.
Ainda assim, há inconsistências. Algumas texturas parecem saídas de gerações passadas, e o pós-processamento exagerado às vezes atrapalha a visibilidade, sobretudo em combates cheios de explosões e sangue. O estilo artístico tenta equilibrar o terror sombrio com a estética meio heavy metal clássica da franquia, mas acaba não acertando tão bem assim.

O áudio, por outro lado, é um destaque. As guitarras pesadas e o ritmo acelerado das trilhas sonoras nos empurram para frente, reforçando a sensação de urgência e caos constante. É puro suco de Painkiller nesse aspecto; e também um lembrete de que o som, ao menos, continua sendo uma das melhores partes do título.
Vale a pena jogar Painkiller?
Em última análise, este remake de Painkiller bem que tentou trazer aquela sensação de nostalgia, mas acabou se mostrando apenas inconsistente. A jogabilidade é ágil, barulhenta e cheio de atitude, mas carece de propósito e coesão. Quando funciona, sobretudo nos tiroteios intensos, na trilha sonora empolgante e nas arenas cheias de monstros, lembra o porquê de a série ter marcado época, mesmo que este remake não tenha chegado perto disso.
A tentativa da Anshar Studios de reviver Painkiller é muito corajosa, mas tropeça em quase todos os pecados capitais de mais um remake: falta de foco, excesso de repetição e uma modernização que rouba a alma do original. Ainda assim, há um público para esse tipo de jogo: quem quer apenas desligar o cérebro, ouvir um rock pesado e atirar em demônios por uma tarde. Para esse público, o jogo cumpre o básico, mas nada além disso.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela 3D Realms.
Painkiller
R$ 159,90Prós
- Visual competente e rodando liso na Unreal Engine 5
- Legendas em português brasileiro
- Trilha sonora pesada e nostálgica
Contras
- Falta de enredo e personagens sem qualquer carisma
- Campanha curta e muito repetitiva
- Remake pouco inventivo
- Ausência da identidade sombria e gótica do original
- Coop perde a graça rapidamente


