Anima: Gate of Memories I & II Remaster | Review
Anima: Gate of Memories I & II Remaster é a versão remasterizada de dois RPGs bastante peculiares. Após horas jogando ambos os títulos, admito que tenho uma visão bem conflitante a respeito dessas aventuras, que são caóticas, para dizer o mínimo. De forma simplificada, os jogos me remeteram a outro título que gerou bastante polêmica algum tempo atrás: Lost Soul Aside.
Ambos os jogos entregam uma experiência que me deixou com um sentimento muito similar: a sensação de que existem boas ideias aqui, mas executadas da pior maneira possível. Sendo assim, para compreender melhor essas impressões, convido você a me acompanhar em mais uma review do Pizza Fria!
Uma jornada pouco cativante e que se perde em meio ao seu pouco potencial
Anima: Gate of Memories I & II Remaster apresenta uma narrativa que poderia ter sido bem mais aprofundada. Controlamos a Bearer, uma caçadora de demônios que, após enfrentar uma criatura poderosa, acaba sendo obrigada a se aliar a ela para enfrentar uma ameaça ainda maior. Isso faz com que, ao longo da narrativa, ambos os personagens desenvolvam uma dinâmica claramente antagônica.
Esse aspecto poderia ter funcionado, mas nenhum dos protagonistas é realmente cativante de se acompanhar. Seus objetivos raramente parecem interessantes, e os diálogos presentes na campanha são de qualidade bastante questionável, com o demônio fazendo comentários grosseiros sobre a protagonista e ela respondendo de forma debochada. Além disso, a dublagem do título não ajuda: é inconsistente, pouco natural e acaba distraindo bastante durante os trechos focados em conversas.

O primeiro jogo apresenta uma campanha com escolhas que permitem alcançar diferentes finais, mas nenhum deles realmente fornece uma sensação de conclusão satisfatória.
É nesse ponto que entra Anima: Gate of Memories 2, que, apesar de inicialmente passar a impressão de ser uma sequência, funciona muito mais como uma expansão do primeiro jogo, apresentando a perspectiva de outro personagem da campanha principal. Assim, todas as mecânicas abordadas nesta review se aplicam igualmente aos dois títulos.
Embora acrescente contexto ao universo de Anima, o jogo acaba repetindo os mesmos problemas narrativos da obra original e, infelizmente, consegue ser ainda menos interessante que a história principal. A única vantagem clara é que essa nova campanha abandona a dinâmica de companheiros em jornada, o que significa menos diálogos fracos ao longo da aventura.
Explorando um mundo colorido, mas sem muita vida
Em Anima: Gate of Memories I & II Remaster, os protagonistas estão presos em uma torre com diversas portas que levam a diferentes cenários. Na própria torre, podemos explorar em busca de informações que expandem a lore do game e encontrar segredos, como armas escondidas e documentos. Quanto às portas que conduzem a outros locais, a estrutura funciona da seguinte forma: encontramos uma porta acessível que nos leva a um novo mapa, exploramos, derrotamos inimigos e, eventualmente, chegamos a algum puzzle de plataforma, seguido pelo chefe da área.

A exploração do jogo tem seus momentos, especialmente em alguns cenários de campos abertos e bem coloridos, onde enfrentamos inimigos consideravelmente desafiadores e encontramos armas e itens ocultos. Entretanto, há uma grande inconsistência nesse aspecto. Enquanto alguns ambientes oferecem certa liberdade para explorar, outros são extremamente lineares, passando a sensação de que estamos apenas caminhando em linha reta até o próximo chefe.
Puzzles de plataforma surpreendentemente criativos
Um dos aspectos que mais me surpreendeu em Anima: Gate of Memories I & II Remaster foi a qualidade dos trechos de puzzles envolvendo plataformas, que são bem desenvolvidos e inseridos de forma natural no ritmo da campanha. A maioria deles exige que o jogador mova algum objeto para um ponto específico e, em seguida, avance por uma sequência de saltos e agarrões em locais predeterminados.
O que realmente se destaca nesses momentos é que o jogo adota uma filosofia de design semelhante à de Nier Replicant, alterando a perspectiva da câmera conforme o tipo de desafio que está sendo proposto. Essa mudança não só adiciona tensão às seções de plataforma, como também garante variedade ao longo da jornada, evitando aquela sensação de repetição que esse tipo de puzzle costuma gerar.

Além disso, Anima: Gate of Memories I & II Remaster introduz alguns desses desafios de forma inesperada durante batalhas contra chefes, o que torna esses confrontos particularmente memoráveis. Há, inclusive, uma sequência em que precisamos executar movimentos de plataforma de maneira furtiva, lembrando muito os trechos de pesadelo do Espantalho em Batman: Arkham Asylum.
Um sistema de batalha variado, mas pouco funcional
O sistema de batalha em Anima: Gate of Memories I & II Remaster segue a linha hack and slash, mas com a adição de uma barra de stamina que busca tornar os combates um pouco mais táticos. Embora essa seja uma ideia interessante na teoria, na prática, ela não funciona tão bem, sobretudo pelo quão pouco responsivos os golpes são no jogo. Os protagonistas podem executar ataques com espada, lançar magias e até realizar combos utilizando diversas habilidades. Entretanto, nenhuma dessas ações funciona de maneira consistente, o que deixa o combate bastante engessado.

Meu maior problema em Anima: Gate of Memories I & II Remaster foi com o sistema de esquiva, especialmente em trechos com múltiplos inimigos na tela. Muitas vezes parecia que a personagem só esquivava quando “decidia” responder, ignorando completamente comandos precisos feitos no momento certo. Acredito que esse seja um problema herdado da versão original do game, que também apresentava problemas semelhantes, embora de forma ainda mais frequente.
Ainda assim, nem tudo é negativo no sistema de combate. O jogo conta com um sistema de habilidades que permite aos jogadores liberar novos golpes e montar seus próprios combos. Isso garante uma boa dose de liberdade para criar sequências que podem priorizar ataques fortes, fracos ou até um uso mais intensivo de magias. Além disso, o título também dispõe de um conjunto de habilidades passivas que aumentam atributos dos personagens, como HP, stamina e até mesmo o potencial de algumas armas, tornando-as mais poderosas.
As batalhas contra chefes são o grande ponto forte
O grande destaque de Anima: Gate of Memories I & II Remaster são as batalhas contra chefes. Elas são bem variadas em termos de mecânicas, e cada confronto precisa ser abordado de uma maneira específica. Alguns inimigos exigem ataques diretos e rápidos; outros demandam que os jogadores decorem a coreografia de seus movimentos para identificar o melhor momento de reagir; e há ainda chefes que adicionam surpresas. Um exemplo disso é um confronto em que a perspectiva da câmera muda completamente no meio da luta, alterando também o ritmo do combate e exigindo que o jogador se adapte rapidamente.

Embora esses encontros não alcancem o nível de dificuldade de um soulslike, alguns deles realmente colocam à prova as habilidades do jogador, apresentando uma curva de aprendizagem perceptível. Claro que, se os comandos de ataque e esquiva funcionassem como deveriam na maior parte do tempo, esses embates seriam consideravelmente mais tranquilos, mas, infelizmente, essa limitação faz parte dos desafios que o jogador terá de enfrentar.
Gráficos e trilha sonora
Apesar de ser uma versão remasterizada, Anima: Gate of Memories I & II Remaster não impressiona visualmente. Seus gráficos adotam um estilo cartunesco, mas sem muitos detalhes nos personagens e ambientes. Além disso, a iluminação dos cenários também deixa a desejar, resultando em áreas sem profundidade visual, que mais parecem uma combinação de texturas colocadas lado a lado para formar o cenário. Existem algumas exceções, como as arenas das batalhas contra chefes, e a impressão geral é de que o maior esforço na criação de ambientes foi direcionado justamente para esses momentos.

A trilha sonora é outro elemento que decepciona bastante. Composta majoritariamente por músicas instrumentais de fantasia, ela tenta conferir um tom épico à aventura, mas raramente consegue se destacar ou criar identidade própria.
Desempenho
Minha experiência foi em um PC equipado com uma RTX 3060. O jogo apresentou ótimo desempenho: com resolução em 1440p e gráficos no máximo, o título se manteve acima dos 100 FPS na maior parte do tempo, sem qualquer problema de travamentos ou quedas perceptíveis de performance.
Vale a pena comprar Anima: Gate of Memories I&II Remaster?
Anima: Gate of Memories I & II Remaster é uma grande bagunça. Com uma narrativa e personagens pouco interessantes, o jogo falha completamente em manter a atenção e o interesse do jogador ao longo de toda a jornada, resultando em uma experiência esquecível. Existem, sim, alguns pontos fortes, mas eles vêm sempre acompanhados de problemas que impedem o título de atingir seu verdadeiro potencial. O exemplo mais evidente disso é o sistema de combate, que, embora variado e customizável, acaba sendo limitado pelos comandos pouco responsivos durante as lutas.
O único aspecto realmente positivo de Anima: Gate of Memories I & II Remaster são as batalhas contra chefes, que entregam confrontos desafiadores e visualmente marcantes. Portanto, embora Anima: Gate of Memories seja um jogo que eu não recomendo, acredito que ainda exista uma parcela do público que possa se interessar pelas boas lutas contra bosses e, nesse quesito, eles não irão se decepcionar.
Anima: Gate of Memories I & II Remaster
Anima: Gate of Memories I&II Remaster foi desenvolvido pela Anima Project e lançado no dia 7 de novembro para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Steam e Epic Games Store. Uma versão para Nintendo Switch 2 também está confirmada e chegará em 2026.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Anima Publishing.
Anima: Gate of Memories I & II Remaster
BRL 73,99Prós
- Um bom sistema de desbloqueio de habilidades com vastas opções de customizações de combos e ataques
- Boas batalhas contra chefes
- Alguns cenários tem uma exploração recompensadora
- Bons puzzles e trechos de plataforma
- Legendas em PT-BR
Contras
- A história é esquecível
- Os comandos em combate nem sempre funcionam como deveriam
- Os visuais do jogo são datados
- A trilha sonora poderia ser melhor


