Quantum Error | Review

No universo dos games, os desenvolvedores têm um poder único: o de moldar mundos e universos inteiros, desafiando fronteiras do conhecido e do desconhecido. Em jogos futuristas, o desconhecido se torna ainda mais evidente. Essa é a proposta de Quantum Error, jogo que nos leva para um futuro não muito distante, abordando avanços consideráveis na tecnologia humana, como fazer longas viagens pelo espaço.

Esta imensidão de possibilidades já foi explorada em vários títulos de terror, principalmente por não existir nenhum compromisso com a realidade que conhecemos hoje. Historicamente, obras audiovisuais e literárias utilizam o futuro, e o espaço desconhecido, como catalisador de emoções profundas, desde o temor ao fascínio. Como não se emocionar com Interestelar, ou se assustar com o final de Apollo 18? No universo gamer, essa exploração ganha uma camada adicional de interatividade, envolvendo o jogador em uma experiência imersiva e, muitas vezes, perturbadora.

E foi através dessa liberdade poética que Quantum Error, um jogo de horror cósmico que oferece uma história e narrativa intrigante, surgiu. Desenvolvido pela TeamKill Media, um estúdio formado por quatro irmãos, o jogo nos traz uma história de um Terra futurista, onde horrores cósmicos nos assombram. Quer saber o que achei do game? A resposta eu trago agora, em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

A primeira parte de uma trilogia


Quantum Error chega com a promessa de ser a primeira parte de uma trilogia de jogos que serão lançados pela TeamKill Media no futuro. Como dito acima, o jogo nos leva para um futuro onde as Nações Unidas da América (uma versão diferente dos Estados Unidos) integrou elementos de inteligência artificial à vida cotidiana. Nós assumimos o papel de Jacob Thomas, um capitão do corpo de bombeiros de San Francisco (Califórnia), que é enviado para Monad Quantum Research Facility, uma instalação localizada próximo da costa da Califórnia, com a missão de resgatar funcionários após o local ser envolvido em chamas e entrar em full lockdown.

A história que contei acima é a base do jogo, mas ela demora a começar a acontecer. No começo de Quantum Error, uma sequência de cutscenes nos contam um pouco sobre como o mundo evoluiu, passando por uma linha temporal vasta. Isso porque a história base se passa no ano de 2109, mas as cenas começam em 2077, na órbita da estação espacial de Júpiter, quando um objeto desconhecido é descoberta e acaba chegando à Terra.

Quantum Error
Jacob Thomas é o personagem principal de Quantum Error (Imagem: Divulgação)

Nosso protagonista, Jacob, era um operador da Monad em 2099, a empresa de tecnologia mais poderosa do mundo, mas durante uma operação em um ataque terrorista em que ele é o responsável pelo resgate, seu irmão acaba morto e ele deixa a empresa. Anos se passaram e, agora focado em salvar pessoas, ele se torna um bombeiro.

Acontece que, a missão que Jacob e sua equipe são enviados na Monad, o que inicialmente parecia apenas um resgate, se transforma em algo aterrorizante. Antes de entrar em lockdown, o local é fechado sob uma ordem: não deixem testemunhas. O problema é que Jacob não vai se entregar tão facilmente e, quanto mais andares ele desce na estação em busca de refúgio, mais a situação fica complexa, presenciando viagens interestelares, inimigos bizarros e inexplicáveis, que fazem parte desse cenário de horror cósmico.

Quantum Error
A perspectiva de visão em primeira pessoa é a principal de Quantum Error, mas é possível alternar para duas visões da câmera em terceira pessoa (Imagem: Divulgação)

Dito isso, Quantum Error utiliza técnicas de narrativa cinematográfica para contar sua história, indo e voltando no futuro, viajando entre planetas e, claro, colocando Jacob no centro de tudo. Há uma evolução na história, que é até interessante. O problema do game é outro, que vou detalhar a partir de agora.

Um gameplay que poderia ser bem melhor

Quantum Error é um jogo de tiro em primeira pessoa, mas que também pode ser jogado com câmera em terceira pessoa, com visão pelo ombro direito ou esquerdo do personagem, simplesmente ao apertar o touchpad do DualSense. O começo do jogo apresenta um tutorial bem morno, onde enfrentamos alguns dos terroristas que citei acima – para o combate – e um outro tutorial, onde aprendemos técnicas de bombeiro, como arrombar uma porta, abrir passagem e evitar ser consumido pelo fogo quando a temperatura de uma sala está muito alta, que a fumaça é tóxica e causa dano, entre outros. A partir daí, o jogo começa.

O problema é que game até traz ideias interessantes para o gameplay, mas que acabam mal executadas. Explico: boa parte das missões iniciais, ao menos até desbloquearmos uma arma de fogo, devem ser executadas em modo stealth, sem sermos visto para não entrarmos em combate. Somos fracos e não temos equipamentos equivalentes. Eu até me questionei porque não era possível pegar armas e munições de inimigos derrotados, mas há uma explicação narrativa para isso.

Quantum Error
O machado é um importante recurso no jogo, presente desde os primeiros momentos no complexo (Imagem: Divulgação)

O problema desse início de Quantum Error, e que se estende por quase todo gameplay, é que a inteligência artificial dos inimigos humanos que enfrentamos é uma das coisas mais bizarras que já vi. Os caras conseguem te escutar ou enxergar atrás de portas, e eles simplesmente atiram… nas portas! Isso poderia até ser relevado, mas a situação escala para mais coisas estranhas à medida que você avança.

Como explicado, nossa missão principal no complexo era ser um bombeiro, então algumas das atividades que vamos realizar incluem apagar chamas, entrar em salas com altas temperaturas e, claro, salvar quem ainda pode ser salvo. Só que isso funciona muito mal. Por vezes precisamos remover sobreviventes que estão incapacitados de andar, e a sensação disso é horrível. Embora faça um sentido você pegar alguém deitado pelos ombros e ser obrigado a andar agachado de costas, a execução disso não foi ideal, e é algo que careceu de um alerta do tipo “olha, isso não tá legal”.

Quantum Error
Que que é isso, maluco? (Imagem: Divulgação)

Por outro lado, há até uma mecânica interessante de soprar o microfone do DualSense para realizar procedimentos de reanimação cardiopulmonar em vítimas que inalaram muita fumaça, mas a verdade é que até isso funciona mal. É preciso dar um baita sopro, longo e constante, para que o recurso funcione. Lógico que há uma alternativa de simplesmente apertar um botão, o que quebra um pouco a imersão, mas está lá para quem não quer ou não tem fôlego suficiente para soprar por muito tempo.

Fora isso, Quantum Error ainda apresenta falhas básicas em mecânicas “simples” de um shooter em primeira pessoa, e a principal delas é a mira. Por vezes, eu mirava em inimigos e os tiros não acertavam, isso com uma distância por vezes até muito curta, e com o indicativo de que a mira estava no lugar certo. E quando junta um tiro errado com a IA dos inimigos, que por vezes sequer percebem que estavam sendo atacados, tudo fica ainda mais estranho. Às vezes, um inimigo mais distante nota sua presença, mas aquele que estava sendo atacado demora a reagir.

Quantum Error
As mecânicas shooter de Quantum Error são bem falhas (Imagem: Divulgação)

Mesmo assim, Quantum Error conta com uma variedade interessantes de armas, que vão desde pistolas comuns até metralhadoras e lança-mísseis, que podem ser personalizadas em cores e também aprimoradas. Jacob mesmo também pode ganhar melhorias em elementos como saúde, oxigênio, stamina, entre outros. Dentro da narrativa do jogo, são elementos que fazem sentido e, neste ponto, não há nada a questionar.

Gráficos e sons que também decepcionam

Um dos pontos mais aguardados de Quantum Error, impulsionados durante a campanha de marketing pré-lançamento, era o visual do jogo, que prometia gráficos de última geração, movidos pela Unreal Engine 5. No entanto, o que vemos no jogo é um visual estranho, com desfoque de movimento pífio e gráficos que parecem ter sofrido um enorme downgrade se comparados ao último trailer de gameplay do jogo.

Veja bem: eu não sou um cara tão exigente quando se trata de visuais. Mas o que temos em Quantum Error é algo que é preciso chamar atenção. Sem opção de configuração gráfica em qualidade ou desempenho, algo que se tornou padrão no PlayStation 5, o jogo roda com um visual bem diferente na prática, seja rodando com uma resolução mais baixa, seja no detalhamento de personagens e ambientes.

Quantum Error
Texturas mal acabadas e que não carregam adequadamente estão presentes em Quantum Error (Imagem: Reprodução)

Além disso, temos alguns pop-ins na tela, que também soam estranhos. A transição em cutscenes e gameplay é, por vezes, brusca demais e que conectam pouco com a história. Na cena da foto acima, por exemplo, Normandy, uma importante personagem do jogo, estava falando e, quando acaba a cena, ela desaparece e está em outro local, um tanto distante de onde aconteceu a reunião. Outros problemas residem em animações que deveriam mais simplórias, mas também passam uma sensação de que foi feita pela metade. Apagar chamas e cortar paredes é algo que causa um estranhamento visual, pois nos dá uma sensação que foi algo instantâneo.

Pra finalizar, Quantum Error não conta com nenhuma legenda em português do Brasil, o que dificulta o entendimento da história. Parte de algumas conversas in-game não estão legendas em inglês, o que pode dificultar a compreensão de quem somente lê o idioma. E a fonte do jogo, meio futurista, é um tanto quanto estranha e, apesar de casar bem com a proposta do game, poderia ser mais simples. Isso facilitaria a leitura. Também não há qualquer opção de acessibilidade que permita alterar tamanho da fonte.

Um exemplo da câmera em terceira pessoa, e de um bug visual (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Quantum Error?

Quantum Error prometia muito, mas deixou a desejar em vários aspectos. Tanto o gameplay quanto os gráficos, que eram pontos altamente aguardados, apresentaram falhas que podem comprometer a experiência do jogador. As mecânicas de jogo, inteligência artificial dos inimigos e até a representação visual não alcançaram o nível que se esperava e foi demonstrado nos trailers.

Entretanto, para os entusiastas de histórias futuristas e de horror cósmico, Quantum Error pode oferecer momentos intrigantes, com uma narrativa que tenta se aprofundar em um futuro distópico e nas emoções humanas diante do desconhecido. A variedade de armas e as mecânicas relacionadas ao protagonista são elementos positivos que podem engajar alguns jogadores, embora nem sempre sejam bem executadas.

Assim, Quantum Error pode não ser a escolha ideal para quem busca uma experiência polida e sem falhas técnicas. No entanto, para aqueles dispostos a superar seus defeitos em busca de uma história promissora, e considerando que este é o primeiro jogo de uma trilogia, pode valer a pena dar uma chance. Mas é essencial ajustar as expectativas e estar ciente dos problemas apresentados no jogo antes de realizar a compra.

Quantum Error será lançado para PlayStation 5 nesta terça-feira, 31, e está disponível na PlayStation Store por R$ 299,90. Uma versão para Xbox Series X|S está em desenvolvimento, embora não tenha recebido data até o momento.

*Review elaborada com código fornecido pela TeamKill Media.

Quantum Error

R$ 299,90
5.8

História

7.5/10

Gráficos e Sons

5.5/10

Gameplay

5.0/10

Extras

5.0/10

Prós

  • Narrativa intrigante e envolvente em um universo futurista
  • Variedade de armas e opções de customização

Contras

  • Gráficos abaixo das expectativas e promessas de marketing
  • Inteligência artificial dos inimigos problemática
  • Falta de legenda em português do Brasil e problemas com as legendas em inglês
  • Falhas em mecânicas básicas de shooter em primeira pessoa
  • Sensação de que várias animações e elementos visuais foram finalizados de forma apressada

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.