Stranger of Paradise Final Fantasy Origin | Review

Final Fantasy é uma das minhas franquias favoritas de todos os tempos. Me recordo de me apaixonar pela série no PS1, com Final Fantasy VII, o que abriu portas para um universo incrível. De lá pra cá, conheci os títulos anteriores, joguei os seguintes, os spin-offs, e até dei uma passada pelo popular MMO da franquia, Final Fantasy XIV Online. Mas nada disso me preparou para a experiência que tive em Stranger of Paradise Final Fantasy Origin.

O mais novo lançamento da franquia, que chega oficialmente nesta sexta, 18, é o Final Fantasy mais diferente que eu já joguei. E isso não é ruim, longe disso. Mas com uma mudança total de foco, mais ainda do que os jogos envolvendo a série Dissidia, o game é o mais ousado que os fãs puderam imaginar. E vou explicar como isso pode dar uma rejuvenescida e trazer ainda mais fãs para uma das mais populares franquias de RPGs japonesas de todos os tempos. Vem comigo em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

“Quando a escuridão engolir o mundo, quatro Guerreiros da Luz surgirão”

Se você é um fã ávido da franquia, já leu essa frase em algum lugar. Mais precisamente em Final Fantasy, lançado em 1987. E falar do primeiro jogo é uma das melhores formas de entender do que se trata Stranger of Paradise Final Fantasy Origin. O primeiro game da franquia é o ponto central para contar a narrativa. Não que seja necessário ter jogado o primeiro jogo, mas a familiaridade que os dois títulos carregam, e o Origin do nome, explicam muitas das questões em aberto.

Vamos começar falando sobre nosso protagonista, o desconhecido Jack. Ele é um cara ranzinza que carrega um cristal de luz, e está obstinado em derrotar o Chaos. Junto com seus companheiros Jed e Ash, que também possuem cristais, ele embarca em uma missão para localizar e destruir esse tal Chaos. Jack não tem um plano de fundo e suas motivações são desconhecidas. Ao menos aqui, ao contrário dos Guerreiros da Luz do primeiro jogo, eles possuem nomes fixos. Em seguida, nossa equipe é expandida com a chegada de Neon e Sophia, duas misteriosas mulheres que se juntam ao grupo, mas que contam com tantos segredos quanto Jack. Mesmo com cinco opções, podemos usar no máximo três personagens por vez.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
Jed, Jack e Ash, os três personagens iniciais de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin (Imagem: Divulgação)

Mas a ligação de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin com FF1 é clara: o reino de Cornélia, a princesa Sarah, a profecia de Lukahn e o espadachim/vilão Garland marcam presenças e compõe a narrativa, além de, claro, o Chaos Shrine, ponto de partida da nossa aventura e icônico lugar do primeiro jogo. Ainda de FF1, o jogo ainda nos leva para uma passagem pela cidade de Provoka e seus inimigos piratas, além de outras supressas que os fãs vão reconhecer.

Mas FF1 não é o único a estar presente em Stranger of Paradise Final Fantasy Origin. Há diversos cenários inspirados em outros jogos da franquia, como o Hallowed Massif, inspirado no Mt. Gagazet, de Final Fantasy X, ou a Flying Fortress, que apesar de ter este nome em FF1, aqui foi inspirada na Tower of Babil, de Final Fantasy IV. Os fãs ainda vão se sentir confortáveis com mais referências da franquia: inimigos populares como Chimera, Cactuar, Tonberry, Coeurl, Bomb e Flan marcam presença, dando aquela sensação de que estamos jogando algo bastante familiar.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
Garland, de Final Fantasy, exerce um papel importante em Stranger of Paradise Final Fantasy Origin (Imagem: Divulgação)

Missões: a razão de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin ser diferente

Por ser um spin-off, o gameplay de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin toma a liberdade de ser bem diferente do que a série principal costuma mostrar. Isso porque o jogo não é um RPG de mundo aberto ou de turnos, mas sim, um jogo de ação hack & slash (com um pé no soulslike), de fases e cenários, em que devemos selecionar para onde vamos. Explico:

Logo no começo de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin, somos apresentados ao World Map, que funciona apenas para selecionar o que faremos a seguir. Cada cenário, geralmente, conta com uma missão principal, esta que traz cutscenes e diálogos que contam a narrativa. Ao participar delas, devemos enfrentar um boss no final do mapa, que normalmente é o ponto alto do desafio e rendem conquistas.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
O mapa de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin conta com diversas missões (Imagem: Divulgação)

Além disso, temos as Side Quests, que são liberadas nos cenários após a conclusão da Main Quest. Essas missões secundárias servem apenas para obtenção de loot, que por sua vez, são fundamentais para evoluir a party. Isso porque Jack e seu grupo não possuem level (níveis). Para evoluir, os jogadores devem aprimorar o sistema de Jobs, que falarei mais abaixo, mas, principalmente, coletar equipamentos melhores e equipá-los/aprimorá-los. Usar equipamentos diferentes, inclusive, altera a aparência dos personagens.

Essa mudança na forma de se apresentar a narrativa, ao menos pra mim, não foi o ideal. Tirando os momentos chaves da história, as demais cutscenes são rasas, e por muitas vezes, o diálogo é meio estúpido, com tentativas de humor forçado, conversas com pouco ou nenhum fundamento. Talvez seja o pelo fato dos objetivos iniciais do Jack serem apenas “eliminar o Chaos”, mas creio que a narrativa poderia ter sido melhor explorada, com cenas expandidas e melhores diretrizes narrativas.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
As cutscenes poderiam ser maiores, e mais bem exploradas em Stranger of Paradise Final Fantasy Origin (Imagem: Divulgação)

O brilho está no combate

Mesmo que a narrativa não atinja o patamar que os fãs esperam de um jogo Final Fantasy, Stranger of Paradise Final Fantasy Origin oferece um verdadeiro deleite no combate. É a melhor parte do jogo, muito divertido e variado, usando e abusando de todos os elementos de jogos de RPG de ação geralmente oferecem, mas indo além, e mesclando com elementos que popularizaram a franquia.

Para começarmos a falar disso, é primordial ressaltar a volta do popular sistema de Jobs da franquia, que são nada mais do que as classes dos personagens. Ausente da linha principal desde Final Fantasy XII: The Zodiac Age, os jogadores podem, de novo, decidir por quais caminhos seguirem, e assim aprimorarem ainda mais os personagens. Ao atingirmos o nível Master em cada Job, podemos iniciar aprimoramos para outra “carreira”. Por exemplo: para desbloquearmos o job Knight, é preciso ser Master em Swordsman e em Swordsfighter. E, através do Knight, podemos abrir Paladin e Void Knight, somados com White Mage e Red Mage, que tem como pré-requisito o desbloqueio e evolução do Job Mage.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
O sistema de Jobs retorna em Stranger of Paradise Final Fantasy Origin (Imagem: Divulgação)

O sistema, por si só, já indica aos jogadores por qual caminho seguir. Você é livre para escolher de acordo com aquilo que está mais familiarizado com a franquia. Se você gosta de tankar, o mais indicado seja evoluir a linha Dragoon ou Berseker, que tem grande poder de ataque e mais HP. Se a proposta for estudar os inimigos e atacar de longe, seguir o caminho Mage pode ser uma boa.

Para auxiliar, Jack pode evoluir dois Jobs simultaneamente, enquanto os outros personagens da party só podem ser equipados com um. A evolução dos jobs não é compartilhada, então não é porque Ash atingiu o nível máximo em Pugilist que Jack também terá. Cada personagem precisa desenvolver seu Job à parte. Para evoluir o Job, é preciso ganhar EXP derrotando monstros e completando as fases, e depois distribuir os Job Points nas Job Trees que o jogo oferece.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
É preciso gastar Job Points para evoluir os Jobs em Stranger of Paradise Final Fantasy Origin (Imagem: Divulgação)

E isso tudo auxilia a tornar o combate do jogo desafiador e divertido. Porque através das Jobs Trees podemos aprender novos combos, comandos e habilidades específicas do Job, que combinadas com tipos específicos de armas, causam grande dano aos inimigos. E todo esse aprendizado é fixo, ou seja, você pode aprender combos de Jobs passados e trazer para os novos. Agora imagina a força que um Void Knight tem ao combinar Knight e Red Mage… È isso que te espera.

E, falando um pouco mais do combate em si, ele é aquele famoso “fácil de aprender, difícil de dominar”. Stranger of Paradise Final Fantasy Origin conta com muitos tutoriais que vão te ensinar praticamente tudo o que você precisa para reinar no jogo: como atacar, combar, se defender, utilizar habilidades especiais, magias, e tudo. Há, inclusive, vídeos apresentando o movimento de cada golpe, para que você saiba exatamente o que fazer, e como fazer.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
Há muitos tutoriais ensinando como lutar em Stranger of Paradise Final Fantasy Origin (Imagem: Divulgação)

Além disso, o combate de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin pode ser considerado bem brutal, principalmente porque Jack possuí a habilidade de finalizar os inimigos. Além da barra de HP, todo inimigo do game tem um break gauge, que quando é zerado, permite que os jogadores finalizem aquela luta naquele momento, bastando apertar O (no PlaStation) ou B (Xbox). Nesse momento, Jack fará um movimento, único para cada inimigo, em que ele transforma o corpo do monstro em cristais vermelhos, quebrando-os em sequência. Quase um fatality.

Para mim, o combate é muito acessível, apesar de não parar o tempo. Você pode trocar de Jobs apertando apenas um botão (▲ no PlayStation e Y no Xbox), já com presets definidos para cada um. Há um botão de habilidade instantânea, configurável para cada Job, além de habilidades específicas, também para cada job, acessíveis no L2/LT. O ataque, e a maioria dos combos, são feitas com direcionais e os botões R1/RB e R2/RT. Por fim, o jogo conta com três níveis de dificuldade: Story, Action e Hard, cada um voltado para um tipo específico de jogador.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
Com três tipos de dificuldade, Stranger of Paradise Final Fantasy Origin é o jogo mais acessível da série (Imagem: Divulgação)

Multiplayer e cross play

Com todo esse potencial no combate, Stranger of Paradise Final Fantasy Origin também fez uma mudança para ser um jogo multiplayer. Joganso solo, os jogadores comandam apenas Jack, e podem dar ordens para os outros dois membros da party serem mais efetivos, atacando mais. Mas, ao jogar com amigos, é possível controlar os outros personagens.

O host será Jack. Já os outros dois jogadores poderão controlar os demais personagens da história. Todo o progresso obtido é compartilhado para todos os jogadores, incluindo o loot e EXP ganhos. Segundo a Square Enix, jogadores dentro da mesma família de consoles podem jogam juntos (PS4 com PS5 e Xbox One com Xbox Series X|S), além de compartilhar o save via nuvem. Dá, inclusive, para mandar o save do PS5 e continuar no PS4, para quem possuí os dois consoles.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
Fiends podem ser bem desafiadores, de acordo com a dificuldade escolhida (Imagem: Divulgação)

Gráficos e detalhes

Se o combate de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin é o grande atrativo do jogo, o mesmo não pode ser dito de sua parte gráfica. Apesar do level design ser ótimo, com fases lineares bem criativas, com alguns puzzles espalhados e loots escondidos, o jogo apresenta alguns sérios problemas de resolução e texturas e, mesmo nas cutscenes, não conta com uma apresentação bonita, sendo curtas, e com baixa qualidade gráfica. Tirando o vídeo de abertura do jogo, com Garland, que traz um nível de detalhamento gráfico bem alto, são poucas as cenas que chamam atenção na sequência do game.

Eu comecei minha experiência no PlayStation 5 jogando no modo “Favor Performance”, que busca atingir os 60 FPS. Nesse modo, ao menos usando uma TV 4K, o jogo teve muita perda de qualidade, rodando em uma resolução baixa, com texturas que pareciam inacabadas. Ao mudar para o modo “Favor Resolution”, mesmo com uma taxa de quadros menores, o jogo rodou melhor, mas ainda repetindo alguns dos problemas citados, em menor escala. Para piorar, há quedas de FPS em ambos os modos, o que pode afastar aqueles que buscam um primor técnico.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
Stranger of Paradise Final Fantasy Origin tem problemas gráficos e de desempenho em seu lançamento (Imagem: Divulgação)

Para piorar, o jogo não conta com nenhum tipo de localização em português. Por algum motivo, depois de Final Fantasy XV, Final Fantasy VII Remake e todos os jogos de Final Fantasy Pixel Remaster terem chegado ao público com legendas em nosso idioma, a ausência aqui é injustificável. Uma tremenda bola fora com os fãs da franquia em países de língua portuguesa. Por fim, aquele “kit PlayStation 5”, com áudio 3D e melhorias específicas do DualSense também passaram longe. O game não conta com nenhum desses atrativos.

Por outro lado, a trilha sonora de Stranger of Paradise Final Fantasy Origin é um espetáculo. Ela conta com algumas músicas clássicas, mas os temas originais são ótimos e realmente marcantes. A música que toca ao selecionar o game no hub do PS5 já é bem empolgante.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin
Garland, é você? (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Stranger of Paradise Final Fantasy Origin?

Eu adorei Stranger of Paradise Final Fantasy Origin, mesmo com os problemas que citei acima. A profundidade do combate é realmente incrível, e torna a experiência de jogo muito prazerosa e viciante. Além disso, se você é um fã da franquia, vai se sentir abraçado, seja pela trilha sonora incrível, pelos fiends populares da série, ou pelos mapas inspirados em locais clássicos dos jogos passados. Os pontos negativos, relacionados à gráficos e desempenho, podem ser solucionados com patches de correções.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin será lançado no dia 18 de março para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC, via Epic Games Store, por R$ 299,90. Quem comprar a versão Deluxe, disponível por R$ 449,50, terá acesso antecipado e poderá jogar a partir do dia 15, além de contar com bônus in-game e o Passe de Temporada, que dará acesso a três DLCs pagas, já confirmadas.

*Review elaborada no PlayStation 5, com código fornecido pela Square Enix.

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin

R$ 299,90
7.8

História

7.0/10

Gameplay

9.5/10

Gráficos e Sons

7.3/10

Desempenho

7.0/10

Extras

8.0/10

Prós

  • Combate espetacular
  • Sistema de Jobs
  • Multiplayer
  • Dificuldade muito acessível
  • Trilha sonora empolgante

Contras

  • Texturas ruins
  • Ausência de PT-BR
  • Sem áudio 3D e melhorias do DualSense
  • Quedas de FPS

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.