Bases para automobilismo virtual: Logitech de entrada, Direct Drive artesanal ou de marca
Se você já passou mais de cinco minutos em qualquer comunidade de automobilismo virtual, sabe que a conversa sempre cai no mesmo ponto: “vale a pena trocar de base/volante?”. A resposta quase nunca é simples, porque a base o volante não servem apenas para virar o carro. Elas definem como você sente o pneu perdendo aderência, quanto detalhe chega nas suas mãos, o quanto dá para ser consistente por horas e até o quanto você vai se divertir em jogos diferentes, indo de simuladores mais exigentes, como Assetto Corsa Competizione e iRacing, até experiências mais acessíveis e híbridas.
Neste artigo, vamos separar o assunto em três categorias costumeiramente abordadas pelos pilotos no Brasil, que abordam as bases/volantes de entrada da Logitech (G29, G920 e G923), as bases Direct Drive artesanais criadas com motor de hoverboard (um mundo à parte, como pode ser visto aqui) e, por fim, os Direct Drive “de marca”, com destaque para opções populares como Moza e alternativas mais baratas e eficiente como PXN, além de outros ecossistemas que orbitam esse segmento.

Em cada uma, vamos destrinchar o que muda na prática e listar pontos positivos e negativos para você decidir com mais clareza qual caminho faz sentido para você preparar seu cockpit e partir para as corridas virtuais!
Bases para automobilismo virtual: qual comprar?
Logitech G29, G920 e G923: o “primeiro volante sério” de muita gente
A família Logitech G29/G920/G923 virou praticamente o padrão de entrada porque combina quatro coisas que pesam demais: disponibilidade, compatibilidade e um pacote “pronto para usar” com pedais incluídos, por um preço bem em conta, chegando a até R$ 1300,00 na atualidade. Em geral, você liga, configura a rotação e a força no aplicativo dedicado da marca no PC ou no console e pronto… já está correndo!
Além disso, as bases da Logitech são do tipo que aguentam anos de uso, tem mercado de reposição e tem uma infinidade de tutoriais sobre ajuste de força, zonas mortas, mods e manutenção. Aliás, falando de mods, é possível trocar o volante, aprimorar os pedais de aceleração, freio e embreagem, além de várias outras coisas.
O que os três Logitech têm em comum (na sensação e no uso)
Esses Logitech são volantes com force feedback baseado em engrenagens (gears). Isso significa que o motor transmite força para o aro por um conjunto mecânico que tende a gerar duas características bem marcantes: um “denteado” perceptível (principalmente em efeitos de baixa amplitude) e um certo ruído mecânico. Para quem está saindo do controle, ainda assim é um salto absurdo, porque você finalmente passa a sentir o carro em vez de apenas “adivinhar” quais serão suas reações a cada curva.
No dia a dia, eles também têm um ponto forte importante: são extremamente amigáveis para começar. Você não precisa montar uma estrutura reforçada, não precisa se preocupar com torque muito alto e, com ajustes corretos, dá para extrair bastante consistência. Você pode montá-los até mesmo na mesa de trabalho, algo que o suporte das bases permite com muita facilidade.
G29 vs G920: diferenças práticas
- Compatibilidade: tradicionalmente, G29 é a escolha “mais natural” para ecossistema PlayStation + PC, enquanto o G920 foca em Xbox + PC. Para quem joga no PC, os dois funcionam bem — o que muda mais é o lado “console”.
- Botões e layout: o G29 costuma oferecer um conjunto de botões mais conveniente para menus em jogos no PlayStation, enquanto o G920 tem um layout mais alinhado ao padrão do Xbox. Na prática, isso afeta menos a pilotagem e mais a facilidade de navegar sem teclado.
- Shifter: ambos aceitam o câmbio H da Logitech como acessório, e aqui entra um ponto: para quem gosta de carros mais antigos, drift, rally ou só quer mais imersão, a possibilidade de usar câmbio e embreagem ajuda muito.
E o G923, o que muda de verdade?
O G923 tenta vender a ideia de uma sensação mais refinada e recursos extras (dependendo do jogo/plataforma), com destaque para uma camada adicional de feedback e ajustes. Segundo a Logitech, esse volante de entrada vem com a nova tecnologia TRUEFORCE, que se conecta diretamente aos mecanismos da física e do áudio do jogo, traduzindo detalhes realistas em hápticos precisos e de alta fidelidade.
Porém, na prática, o salto de qualidade não costuma ser da mesma proporção que a troca de um G920 para um Direct Drive, por exemplo. É mais um “polimento” da experiência dentro da mesma filosofia de produto: robusto, acessível e amplamente compatível. Portanto, não espere uma grandiosa atualização neste modelo.
Como esses volantes se comportam em jogos diferentes
- Em simuladores mais detalhistas, o limitador costuma ser a capacidade de entregar microdetalhes de maneira suave. Dá para sentir o básico muito bem (peso do volante, transferências, perda de aderência), mas nem sempre dá para “ler” o limite do pneu com a mesma precisão de bases superiores.
- Em jogos mais arcade/híbridos, eles são ótimos porque você mantém imersão sem depender de uma calibração perfeita. E o torque “moderado” costuma ser mais confortável para sessões longas.
Pontos positivos
- Custo de entrada: geralmente já vem com pedais e vem pronto para instalar, sendo algo muito prático de se fazer.
- Compatibilidade e suporte: comunidade gigante, perfis prontos, tutoriais e peças/mods.
- Durabilidade: é comum ver unidades com anos de uso ainda firmes. Um exemplo clássico dos fóruns é o G27, que constantemente é citado como um volante que aguenta bastante pancada.
- Boa porta de entrada: ensina técnica e consistência sem exigir cockpit grande e caro.
Pontos negativos
- Feedback menos suave: o denteado das engrenagens aparece constantemente, especialmente com força alta. Após você jogar em um Direct Drive, a sensação ainda fica muito mais nítida.
- Menos detalhe fino: microinformações do pneu e da pista chegam mais “filtradas”.
- Ruído: dependendo do ambiente, pode incomodar (principalmente à noite).
- Pedais básicos: funcionam, mas muita gente sente falta de mais precisão (especialmente no freio) sem mods.
- Facil e configurar: os modelos são compatíveis com o G HUB, aplicativo da Logitech, facilitando o processo de configuração.
Direct Drive artesanal com motor de hoverboard: potência e criatividade, mas com alguns “poréns”
Aqui a conversa muda completamente. O termo Direct Drive significa, em essência, que o volante está ligado diretamente ao motor (sem correias ou engrenagens no meio). Isso tende a trazer dois ganhos enormes: resposta imediata e riqueza de detalhes. Só que, no mundo artesanal usando motor de hoverboard, você entra num território que mistura eletrônica, mecânica, firmware, segurança e, claro, variabilidade de qualidade entre projetos.
Essa categoria cresceu porque muita gente viu a chance de alcançar uma sensação próxima de equipamentos caros gastando muito menos, especialmente quando o projeto é bem executado. Mas “bem executado” aqui é a frase-chave. Afinal de contas, para ter uma base desse tipo, você precisa entender o básico de seu funcionamento, pois alguns problemas podem surgir, sobretudo pelo fato de alguns vendedores fazerem uma produção artesanal demais. Acredite, já passei por isso e tive que aprender na marra. Felizmente, existem muitos fóruns e pessoas dispostas a se ajudarem, algo que acabou me salvando.

O que você ganha quando o DD artesanal dá certo
- Torque e autoridade: mesmo sem ir a extremos, um DD bem montado passa uma sensação de “força real” no volante, aquela resistência que muda conforme o carro, a velocidade e a carga nos pneus. É realmente um grande salto diante dos modelos de entrada da Logitech.
- Detalhe de pista: zebra, ondulação, perda progressiva de aderência… tudo tende a ficar mais legível e sentido durante as corridas.
- Resposta rápida: o volante “fala” com você sem atraso perceptível, o que ajuda no controle de correções, drift e situações de susto.
O que pode dar errado (e por que isso importa)
Diferente de um produto de prateleira, um DD artesanal pode variar muito em:
- Qualidade do firmware/controle: um controle mal ajustado pode gerar oscilações, “cogging” (sensação de travamento magnético), ruído e até comportamento instável. Além disso, você precisa entender o básico de aplicativos como o FFBeast e outros, que são essenciais para que a base responda perfeitamente aos comandos.
- Acabamento mecânico: folgas, fixação, eixo, rolamentos e acoplamento fazem enorme diferença na sensação e na segurança. Em alguns casos, peças importantes podem estar mal posicionadas, gerando problemas difíceis de serem percebidos. Por exemplo, se o imã do encoder girar junto do eixo da base/volante, você precisará arrumar um jeito de mantê-lo firme para que a direção não seja comprometida.
- Elétrica e segurança: fontes inadequadas, aterramento ruim, cabos mal dimensionados e ausência de proteções podem ser perigosos.
- Configuração e tempo: não é incomum gastar horas (ou dias) ajustando para ficar “redondo”. Embora a qualidade de jogo melhore bastante, ele não é totalmente um plug and play como muitos imaginam.
Além disso, Direct Drive com torque alto não é brinquedo. Mesmo em bases comerciais, recomenda-se cuidado. No artesanal, esse cuidado precisa ser dobrado: botão de emergência (kill switch), fixação sólida e limites de torque configurados não são luxo, são parte do básico. Qualquer movimento muito brusco do volante pode acabar gerando lesões nas mãos, o que é pode ser um problemão.

Para quem faz sentido
- Para quem tem tempo e gosta de montar, ajustar e aprender tudo do seu próprio jeito.
- Para quem aceita que o “custo” inclui tempo e tentativa/erro, além de dinheiro, claro. Afinal de contas, muitas das peças são importadas da China.
- Para quem quer desempenho acima do nível de entrada sem pagar o preço cheio de um ecossistema comercial.
Pontos positivos
- Custo-benefício potencial: quando bem feito, entrega força e detalhe muito acima de gear-driven.
- Personalização: dá para adaptar aro, botões, quick release, torque e perfis.
- Aprendizado: para quem curte, é um projeto completo (mecânica + eletrônica + sim).
- Evolução modular: você pode ir melhorando partes do conjunto aos poucos.
Pontos negativos
- Variabilidade: não existe um padrão; dois projetos podem ser mundos diferentes. Tudo depende dos materiais, motores, hardware e software utilizados.
- Tempo e complexidade: exige pesquisa, ajustes finos e manutenção.
- Risco e segurança: sem boas práticas, pode ser perigoso e causar danos (equipamento e pessoa).
- Suporte e garantia: geralmente dependem de comunidade, do montador ou do próprio usuário.
Direct Drive de marcas como Moza, PXN e outras: o DD pronto para jogar, com ecossistema e caminho de upgrade
Se o artesanal é a rota da criatividade (e do risco), o Direct Drive de marca é a rota da previsibilidade: você compra uma base, instala o software, atualiza firmware e segue um conjunto de recomendações do fabricante e da comunidade. Aqui entram marcas como a PXN (que tive a oportunidade de testar o PXN VD10 durante a BGS) e a Moza (atualmente possuo o modelo R9 da marca), que cresceram muito no sim racing e também tentam disputar o mercado pelo preço, entregando alguns modelos abaixo dos R$ 5000,00.
O que define um DD de marca no uso real
- Consistência de entrega: você costuma ter uma curva de força mais controlada, menos instabilidade e um comportamento mais padronizado e totalmente configurável.
- Ecossistema: a base conversa com aros, cubos, pedais e acessórios do mesmo fabricante (e, às vezes, de terceiros).
- Software e perfis: é comum encontrar perfis prontos por jogo e atualizações que refinam a resposta. Sobre os softwares, eles apresentam muito mais opções do que os modelos da Logitech e os DDs de hoverboard. Com bons aplicativos, as configurações ficam extremamente mais fáceis e customizáveis para o gosto de cada piloto ou pilota.
- Acabamento e segurança: suporte mais claro para fixação, proteção elétrica, temperatura e limites. Tudo é pensado antes do modelo ser lançado. Além disso, é comum que tanto os aplicativos como o próprio firmware das bases sejam constantemente atualizados de maneira bem prática.
Onde a Moza costuma se destacar (conceito geral)
A Moza ganhou espaço por oferecer bases DD em diferentes faixas, com boa construção, variedade de aros e um ecossistema que tenta equilibrar preço e “cara de equipamento premium”. Em geral, é o tipo de marca que atrai quem quer migrar do Logitech e já entrar num patamar de força e detalhe que muda a forma de pilotar, sem ter que montar um laboratório em casa. Aliás, vale ressaltar também que a Logitech vem trazendo alguns modelos Direct Drive mais em conta, mas ainda mais caros que as duas marcas mencionadas aqui.
E a PXN, onde entra nessa história?
A PXN, que tem a Cellfy como revendedora autorizada no Brasil, é lembrada com frequência por aqui por contar com ótimas opções com preços mais em conta. Dependendo do produto específico, ela pode atender quem quer sair do controle e entrar no mundo dos DDs gastando um pouco menos.
Mas é importante ter clareza de expectativa em alguns modelos de Direct Drive mais baratos: algumas soluções mais baratas priorizam preço e compatibilidade acima de refinamento máximo de force feedback, algo medido pelos Nm (Newton-metro, uma unidade usada para medir torque ou momento de força. Não é o caso do PXN VD10, por exemplo, mas é importante mencionar isso. A comparação aqui não é para “desmerecer”, e sim para deixar claro que, no automobilismo virtual, a diferença de sensação costuma acompanhar a diferença de engenharia e de ecossistema.

Portanto, não espere a potência e a precisão de um volante de 10 Nm em um volante de 2 ou 3 Nm. Aliás, também não pense que um volante de 20 Nm vai te transformar em um Lewis Hamilton, já que mais força pode dificultar o processo ao invés de aprimorar sua jogatina.
Outros Direct Drive e ecossistemas (Fanatec, Thrustmaster e companhia)
Além de Moza e PXN, existem outras marcas fortes no segmento Direct Drive e semi-pro (incluindo opções muito conhecidas entre entusiastas). A lógica geral é parecida: quanto mais maduro o ecossistema, mais fácil (e caro) é achar:
- aros específicos (GT, Fórmula, rally),
- quick release mais prático,
- pedais com célula de carga (load cell) e ajuste fino,
- bases com torque variado,
- e suporte/integração com jogos.
O ponto é que, ao entrar num ecossistema, você também está escolhendo um “caminho de upgrades”. Às vezes, o melhor negócio não é só a base, mas o conjunto de possibilidades ao redor dela.

Pontos positivos
- Experiência pronta e previsível: instala, atualiza, configura e corre.
- Detalhe e suavidade: o salto em informação e resposta costuma ser claro vs Logitech.
- Ecossistema e upgrades: mais opções de aros, pedais e acessórios compatíveis.
- Suporte e garantia: em geral, você tem documentação e uma trilha de solução de problemas.
Pontos negativos
- Preço de entrada maior: mesmo as opções “acessíveis” podem exigir investimento alto.
- Efeito “bola de neve”: base puxa aro melhor, que puxa pedal melhor, que puxa cockpit… e por aí vai.
- Dependência de software/ecossistema: às vezes, atualizações e compatibilidades viram parte da rotina. Ainda assim, é menos pior do que usar o FFBeast, acredite.
- Necessidade de um cockpit mais robusto: DDs podem ser extremamente fortes e, com isso, as mesas ou cockpits mais fracos podem não dar conta, exigindo algo mais robusto.

Comparativo direto: afinal, qual categoria faz mais sentido para você?
- Se você está começando ou quer algo sem dor de cabeça: Os Logitech G29/G920/G923 continuam muito fortes. São confiáveis, fáceis de vender depois e entregam uma experiência consistente. É a opção “pé no chão” para aprender técnica, entender ajustes e decidir seu próximo passo.
- Se você quer o máximo de performance por investimento e gosta de mexer: O DD artesanal com motor de hoverboard pode ser incrível quando bem feito, mas exige cuidado e maturidade técnica (ou alguém confiável para montar). Aqui, o custo não é só dinheiro: é tempo, pesquisa e responsabilidade.
- Se você quer Direct Drive com previsibilidade e um caminho de upgrades claro: Moza e outros DD de marca fazem muito sentido. Você paga mais, mas recebe um pacote mais padronizado, com software e ecossistema, além de uma experiência que costuma “subir o nível” em detalhe e controle — principalmente em simuladores mais exigentes.
Checklist rápido antes de decidir (vale para qualquer compra)
- Seu cockpit aguenta? Mesa flexível e cadeira rodando no chão certamente te deixarão estressado e desconfortável para jogar em Direct Drives mais fortes.
- Você joga mais o quê? Simuladores exigentes se beneficiam mais dos Direct Drives (artesanais ou de marcas), que conseguem traduzir melhor as sensações do carro e da pista.
- Você quer praticidade ou projeto? Artesanal é puro projeto, paciência e muitas configurações. Já os DDs de marca e os Logitech são práticos: é só ligar, mexer em uma coisa ou outra e jogar.
- Pedais importam tanto quanto base: freio consistente muda tempo de volta mais do que muita gente imagina. Com isso, é importante focar em melhorias para além da base.
- Planeje o upgrade: às vezes, um conjunto equilibrado (base + pedais melhores) rende mais do que “torque alto com pedais fracos”. Como foi dito anteriormente, ter mais Nm não te tornará o Lewis Hamilton!
Agora é com você!
Em resumo, a escolha do volante para automobilismo virtual passa menos por “qual é o melhor” e mais por entender em que momento você está como piloto virtual e quanto está disposto a investir em dinheiro, tempo e estrutura.
Os volantes Logitech G29, G920 e G923 seguem como portas de entrada sólidas, confiáveis e equilibradas para quem busca simplicidade e aprendizado consistente. Os Direct Drive artesanais com motor de hoverboard representam um salto expressivo em força e detalhamento, mas exigem envolvimento técnico, atenção à segurança e tolerância a ajustes constantes. Já os Direct Drive de marcas como Moza, PXN e outros fabricantes consolidados oferecem uma experiência mais refinada, previsível e integrada, ao custo de um investimento maior e de um ecossistema que tende a puxar upgrades.
No fim, o melhor volante é aquele que se encaixa no seu espaço, no seu orçamento e, principalmente, no jeito como você quer vivenciar o sim racing — seja como hobby casual, paixão técnica ou busca constante por desempenho e realismo.

