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Automobilismo virtual: bases Direct Drive caseiras? Entenda o assunto!

O automobilismo virtual vem em uma crescente no mercado brasileiro. No entanto, ter volantes, ou melhor, bases Direct Drive (DD) não é nada barato. Por conta disso, muitos jogadores acabam optando por modelos de entrada como os Logitech G29, PXN e por aí vai. Só que existem mais possibilidades de se ter uma base Direct Drive de qualidade, mas sem gastar rios de dinheiro. Bem, pelo menos é isso que Fábio Rodrigues, um dos vários jogadores brasileiros que montam seus próprios kits, vem mostrando atualmente nos grupos de automobilismo virtual. Ele é dono do canal FULL METAL 3D, e mostra todos os detalhes da montagem por lá.

Segundo ele, através dos motores brushless, ou seja, sem escovas, é possível montar um volante Direct Drive potente, silencioso, preciso e… barato. No Brasil e nessas comunidades, a galera conhece esse motor mesmo como motor de hoverboard, e não é à toa: todo mundo compra o brinquedinho só para arrancar o motor de dentro e começar a brincadeira. Porque, sim, com ele (e o software mágico de algum desenvolvedor, provavelmente russo), dá para fazer um volante caseiro que deixa muito equipamento mais caro no chinelo. Mas como!? Confira abaixo e vamos entender juntos do que se trata esta novidade com jeitinho brasileiro, mas de altíssimo nível.

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Esse é a base com o volante já pronta – e estilizada. (Imagem: Fábio Rodrigues)

Direct Drive com motor de hoverboard? É isso mesmo?

É isso aí. Por incrível que pareça, esse brinquedo traz consigo um motor bem interessante, que entrega bastante potência, sobretudo se comparado a um modesto G29. Para você ter uma ideia, esses motores podem ter um torque de até 15 Nm (Newtons-metro, medida utilizada para a potência do volante) que, convenhamos, não se acha por aí sem deixar o rim como garantia, algo que podemos perceber ao ver os preços surreais de modelos da Moza, Fanatec, Simagic, dentre outras marcas.

Pois bem, esses pequenos notáveis são eficientes, bem mais silenciosos do que os escovados, e muito mais precisos. E o mais doido? Poucos jogadores ainda o conhecem. Porém, felizmente, diversos canais de comunicação sobre a temática estão surgindo, seja no Facebook, Telegram ou até mesmo no WhatsApp. Aliás, foi em uma dessas que acabei conhecendo o Fábio, que foi um dos poucos a oferecer um projeto sem cobrar um altíssimo valor e que, além disso, topou me explicar mais detalhes sobre a construção de uma base Direct Drive em seus mínimos detalhes. Enquanto escrevo este texto, estou implorando para ele concluir logo a minha, tamanha minha ansiedade.

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O motor já usinado e com as devidas modificações. (Imagem: Fábio Rodrigues)

Mas voltando ao que importa… O Fábio estava me explicando que esses tipos de motores estão por todo lado: tornos mecânicos, patinetes elétricos, ferramentas manuais, carros elétricos, bikes e, claro, nos hoverboards. Só que, em vez de sair deslizando por aí, o negócio aqui é usar esse motor para criar um volante que rivaliza fácil com modelos acima dos R$ 10.000,00. É inacreditável, não é mesmo!? Pois é. Mas pelo que pude entender ao assistir diversos vídeos e conversar com outros “web-engenheiros-mecânicos”, a coisa realmente é real. Inclusive, alguns deles meio que criaram lojas para tais modelos, cobrando preços que não ficam longe das grandes marcas. Enfim, são escolhas…

Mas afinal de contas, como isso funciona?

Para entender isso, você, caro leitor ou leitora, precisa primeiro entender a diferença básica entre motor escovado e o motor brushless. Escovado? Moleza: dois fios, uma fase, liga no positivo e negativo, e pronto! Tá girando. Quer inverter o giro? Inverte os fios. Quer controlar a velocidade? Aí entra o tal do PWM. Mas esse papo já é mais fundo e aqui não é o Telecurso 2000. Essa explicação já basta para nos dar uma noção.

Agora, o brushless já é mais “evoluído”: ele conta com três fios e três fases. Mas, ainda me pergunto como patavinas faz esse trem girar? Pois bem, as fases são energizadas em sequência. Isso gera um campo magnético giratório que faz o rotor rodar suavemente. Só que, para isso funcionar, você vai precisar de uma placa de controle. E é aí que entra a famosa ODESC 4.2, usada justamente para fazer esses volantes “caseiros”. Sendo assim, abaixo, o Fábio conseguiu compilar de uma maneira bem simples e direta do que é preciso para montar um DD caseiro (coisa que eu sequer tive coragem de tentar, confesso):

  • Um motor brushless (hoverboard é o mais usado);
  • Uma placa ODESC V4.2 (pra controlar tudo);
  • Um encoder (pra dizer à placa onde o motor está);
  • Um resistor de frenagem (porque o motor gera energia ao frear, e se você não dissipa, tudo pode explodir);
  • Uma ventoinha boa (pra refrigerar o motor — e aqui, por favor, não economize!).

Agora, é só ligar tudo seguindo os diagramas, que você pode achar na internet, jogar o código do desenvolvedor russo na placa, abrir o jogo e… pronto! Bem, mais ou menos isso, né… Quando ele fala, parece até fácil, mas não é bem assim. Afinal de contas, é possível que nas primeiras tentativas dê algum probleminha que você não vai resolver. E, se assim como o Fábio, você é um cara que decidiu montar isso porque não quer gastar e não tem grana para comprar um DD de marca, você vai precisar da comunidade! Por sorte, como eu disse antes, a galera se ajuda demais. Tem grupo, fórum, canal, grupo no Telegram… é só procurar e socializar.

Compatibilidade com jogos no PC e consoles?

Funciona com a maioria dos jogos como Assetto Corsa Competizione, Automobilista 2, e por aí vai. Segundo o Fábio, até no GTA V ele já conseguiu fazer um de seus modelos funcionarem. O cara tem uma paciência tão grande para me explicar, que até escreveu um texto para me orientar nesta jornada. Na verdade, só faltou ele desenhar tudo para mim, tamanha a sua calma.

Outra pergunta feita constantemente nos grupos é se esses DDs funcionam em consoles. E a resposta é sim. Porém, precisa de um adaptador chamado GIMX, que emula um volante da Logitech. Resumindo, ele é um software que roda num Arduino, e ele faz seu PC se disfarçar de G29 para o console. Ou seja, é o famoso jeitinho brasileiro, a verdadeira gambiarra, mas que dá certo. No meu caso, jogarei mais no PC, o que não irá fazer tanta falta.

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A qualidade da imagem não está tão boa, mas esse é o Fábio executando os testes finais. (Imagem: Fábio Rodrigues)

“Mas afinal de contas, ele é melhor que meu G29?”

Pois é, essa foi exatamente a pergunta que fiz ao Fábio quando começamos a conversar. E ele foi bem sincero, dizendo exatamente assim: “Cara, esquece. Não tem comparação. Seu G29, G923, G27, G25… são brinquedos perto de um DD. Aqui o papo é outro. Estamos falando de torque bruto, precisão cirúrgica. Se quiser comparar, compare com um Fanatec de mais de dez mil. Estética e acabamento? Aí vai depender se você é Da Vinci ou o Chaves na hora de montar”. Ou seja, o que ele afirmou aí, é comum de se ler nas comunidades. Porém, existem diversos fatores que podem mudar a composição do DD.

E é aí que chegamos no assunto que deixa todo mundo curioso. Quanto custa um Direct Drive feito desta forma? Bem, segundo o próprio Fábio e minhas pequisas, é possível montar um volante decente com uns R$ 1.000,00. Porém, você também pode optar por gastar mais, claro. Aí o limite é o céu — ou o saldo do seu cartão. Em outras ocasiões, por exemplo, acabei vendo pessoas comprarem servo motores por mais de R$ 2.000,00 só para montar um volante dos sonhos. Porém, além do preço, muitos reclamam que um modelo desses, mais robusto, chega a pesar quase 13 kgs. Aí complica, né!? No caso dos motores brushless, eles acabam ficando mais leves, dependendo da técnica aplicada na criação.

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O Fábio optou por colocar um pequeno visor com a temperatura do motor. Isso é essencial, pois se a base esquentar demais, a direção pode ficar meio “emborrachada”, apresentando folgas, até o motor acabar queimando. Por conta disso, é essencial que a temperatura do motor não ultrapasse os 80º. (Imagem: Fábio Rodrigues)

E como configura o Direct Drive?

O FFBeast Wheel, disponível em versão gratuita e paga, é uma solução DIY para quem quer montar um volante Direct Drive com custo reduzido e boa qualidade de resposta no force feedback. Ele utiliza placas controladoras compatíveis com motores brushless, como os de hoverboard, baseado em firmware open-source que emula um volante reconhecido pelo PC via USB.

As principais configurações do FFBeast incluem o ajuste de torque máximo, suavização do force feedback, filtros de vibração (a maioria deles paga) e controle de temperatura do motor. Tudo isso é feito por meio de uma interface gráfica, geralmente via navegador, onde o usuário também pode calibrar o centro do volante e testar o encoder. É possível configurar limites para evitar sobrecarga no motor e personalizar a curva de resposta para cada simulador.

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A tela de configurações do FFBeast é mais ou menos essa, permitindo total customização da base. (Imagem: Divulgação)

E então, vale a pena ter um Direct Drive caseirão?

Se você curte simulação de verdade, e não tem grana para gastar em um DD comercial, mas tem coragem, tempo e vontade de aprender (ou de comprar pronto, como no meu caso), vale demais. Você aprende sobre eletrônica, motores, códigos, engenharia e ainda termina com um volante que entrega mais do que muito equipamento famoso por aí. E o principal: é seu. Montado por você, do seu jeito, com o suor da sua cara e a paciência de quem sabe que o barato pode sim ser muito, muito melhor que o caro.

Então larga o controle, sai do sofá e mete a mão na solda. Porque montar um volante DD com motor de hoverboard é, sem dúvida, um dos melhores rolês que a galera dos simuladores pode fazer hoje em dia, sobretudo se quer ter uma dirigibilidade mais precisa. Aliás, muitos falam bastante sobre a precisão presente nestes modelos, que acaba sendo muito útil para corrigir as famosas “traseiradas”. E, em breve, vou conseguir falar com conhecimento de causa se o Fábio e a comunidade realmente estão certos.

Agora, se você quer saber em detalhes sobre como esses modelos funcionam diante dos jogos, fiquem ligados que, em breve, trarei uma análise detalhada aqui, no Pizza Fria!

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.