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Psychonauts 2 | Review

Em um longínquo 2005, a Majesco Entertainment lançou um plataformer ambicioso, com uma história interessante, uma quantidade enorme de personagens carismáticos – dentro de um certo nível de bizarrice – e um level design maravilhoso, cheio de referências à condições sérias de saúde mental. Um assunto delicado tratado de maneira leve e sensível, pela criatividade de seus autores e seus gráficos coloridos e cartunescos. Esse era Psychonauts. Na época, conquistou chegou a conquistar o Game Critics Awards de melhor jogo original na E3 de 2005, mas mesmo com esse sucesso, uma continuação demoraria a vir. Foi somente pelos esforços do diretor do game original, Tim Schafer, que iniciou uma campanha de Crowdfunding para reviver o título.

Logo, com os bons resultados, foi lançado “Psychonauts in the Rhombus of Ruim” O capítulo avulso em VR se tratava de uma narrativa curta, visando preparar terreno para a verdadeira continuação, que enfim chegou. Desenvolvido pela Double Fine Productions e publicada via Xbox Game Studios, Psychonauts 2 estará entre nós dia 25 de agosto! O game chega para Playstation 4 , Xbox One e PC, via Steam, sendo jogável na nova geração através da retrocompatibilidade.

Nós, do Pizza Fria, tivemos o privilégio do acesso antecipado e discutiremos agora, em mais uma resenha, como essa sequência encara o temível teste do tempo, sendo lançada tantos anos depois de seu predecessor.

Uma continuação em todos os sentidos

A história de Psychonauts 2 se inicia logo após os eventos do último título, com um resumo animado nos colocando a par de onde estamos na história.

Novamente estamos em controle de Razputin Aquato, um jovem de uma família de acrobatas dotado de poderes psíquicos, que tem como sonho se tornar um dos Psiconautas – agentes possuidores de tais habilidades – que combatem o crime e ameaças paranormais, além de ajudarem as pessoas a lutar contra seus próprios demônios através da telepatia.

Após seus feitos em aventuras passadas, Raz finalmente conhece o QG dos Psiconautas e entra em um programa de estagiários. Logo nesses primeiros instantes, vemos que Psychonauts 2 veio para ser uma continuação natural e quer ser reconhecida como tal.

Comparado ao primeiro título, Psychonauts 2 se aproveita do universo pré-estabelecido e perde bem menos tempo para nos colocar em ação. O cenário inicial já é repleto de inimigos e nos reintroduz a várias habilidades especiais do nosso protagonista.

O universo do jogo se expande de muitas maneiras e somos apresentados a figuras de grande importância para essa narrativa, como os próprios fundadores dos Psiconautas e um antigo mal que ameaça voltar a ameaçar o mundo, contando com ajuda de um misterioso traidor na organização.

A família de Raz, tão pouco mencionada anteriormente, faz sua aparição e tem participação na jornada, que também envolve descobrir a raiz da maldição que condena todos os Aquatos a morrer na água.

No que se diz respeito à história, essa nova aventura certamente se comporta como uma continuação. A progressão do personagem principal é visível e natural em sua interação com antigos e novos coadjuvantes. Raz aprende várias lições durante o caminho, ilustrando bem o lado inocente de uma criança que não sabe falar com a namorada e tem medo de magoar seus pais, mesmo já salvando o mundo em uma ocasião passada.

O diálogo é genial, não devendo nada ao predecessor, o humor caminha em uma linha bem tênue entre o exagero e o sutil. Em momento algum me senti desinteressado com o caminho trilhado pela narrativa.

É de se notar, claro, que em certos momentos (poucos) nos sentimos esmagados pela história, com pausas desbalanceadas entre nosso acesso ao gameplay de fato. Muitas das missões opcionais envolvem escutar uma quantidade enorme de diálogos, o que alivia é o fato de serem tarefas, como dito, opcionais. Mas na maioria do tempo, a narrativa é tão envolvente que a interrupção não é incomoda.

Explorar, explorar, explorar!

Para mim, o que mais encantava em Psychonauts 1 era a criatividade que existia em cada canto. Felizmente, essa característica está firme e forte na sequência. Enquanto tínhamos apenas dois ou três cenários de mundo aberto no jogo anterior (e apenas um deles grande de verdade), aqui temos uma variedade bem maior de ambientes, que vão desde o quartel do Psiconautas e seus variados cenários até florestas, minas abandonadas e laboratórios secretos.

No entanto, o maior chame de todos continua sendo o mesmo de seu predecessor. As fases que se passam dentro da mente dos personagens. Nesse momento, os desenvolvedores se sentem em casa para criar linguagem visual abstrata, que dialoga com estar dentro dos pensamentos e sonhos de alguém. Esses segmentos são todos muito distintos uns dos outros, variando em estética, sons, objetivos e até mesmo no gameplay em algumas seções.

Seja em um hospital que teve sua identidade combinada com um cassino, um labirinto cheio de dentes e gengivas com um dentista perturbado ou um concurso de culinária, nunca sabemos o que esperar quando abrimos a porta da cabeça de alguém.

A (falta) de organização de cada um desses cenários é perfeitamente construída à imagem e história do proprietário da mente. E, muitas vezes, vencer os desafios daquela fase envolve ajudar o personagem em questão a resolver alguma de suas questões psicológicas.

Psychonauts 2
Raz tem deslumbrantes novos mundos mentais para explorar em Psychonauts 2. (Imagem: Divulgação)

Psychonauts continua impressionando na sutileza e simplicidade em que introduz e discute esses assuntos, ora de forma mais cômica, ora de forma mais séria, mas nunca de forma insensitiva.

Cada mapa é divertidíssimo de se explorar, com vários colecionáveis podendo ser encontrados. Alguns nos ajudam a desenvolver as habilidades de Raz, enquanto outros são meramente colecionáveis. Como não poderia deixar de ser, tem nomes criativos como “bagagens emocionais” – malas de viagem que estão chorando quando nos as encontramos.

Sem dúvida, meus favoritos são os “cofres de memória”, que ao serem achados e abertos nos revelam detalhes sobre a história do dono da mente, em um formato de história em quadrinhos.

Alguns colecionáveis em cada um dos cenários geralmente necessitam de uma habilidade que ainda não temos naquele momento do jogo para serem acessados, o que estimula o jogador a voltar para reexplorar em um ponto futuro, aumentando a capacidade de replay.

Infelizmente, no ponto de maior destaque do jogo, somos vítimas de seu maior problema: o mapa. Embora haja um grande estímulo à exploração não existe qualquer opção de minimapa, forçando o jogador a pausar toda vez que quer checar onde está. E mesmo assim, os mapas são desenhos que não são muito claros quanto à nossa posição atual.

Isso realmente fica frustrante quando estamos explorando uma seção e faltam apenas poucos itens para completarmos nossa coleção daquele cenário. Isso afeta mais os complecionistas, que gostam de passar por cada pixel do jogo. O problema é suavizado pela qualidade dos cenários, bem organizados e distintos entre suas subáreas, evitando confusão em quem quer só uma experiência mais voltada à história, mas não deixa de ser uma qualidade negativa impossível de não ser enxergada.

E o gameplay de Psychonauts 2?

Psychonauts 2 chega em um momento de ressurgência de outras grandes franquias de plataformas. Rachet and Clank: Em Uma Outra Dimensão e Crash Bandicoot 4: It’s About Time, chegaram na história recente e agradaram no balanço entre inovações na jogabilidade e respeito às raízes delas. Isso também acontece com Psychonauts 2.

A forma em que controlamos Raz é a mesma, assim como o combate e a navegação que utiliza de seus vários poderes paranormais. Muitas das habilidades do jogo anterior, como Piromancia e telecinese voltaram, sendo obtidas por nós logo no início da aventura. Outras, novas, como projeção astral e conexão de pensamentos, são obtidas ao longo da narrativa.

Psychonauts 2
A capacidade de usar diferentes habilidades tanto no combate como na exploração continua sendo um ponto alto! (Imagem: Divulgação)

Guiar nosso protagonista é bem satisfatório. Os controles são responsivos e a mobilidade de Raz é bem elevada, em diálogo com sua família de acrobatas. Temos acesso a diversas manobras, como pulos duplos, esquivas, flutuar e escalar paredes. O manejo é fluido e os cenários cuidam de exigir movimentos distintos a todo o tempo, evitando o enjoo e a frustração.

O fato de começarmos a jogar já com mais de uma habilidade destravada afasta imediatamente o tédio do combate ser só mais um button masher, ao ser muito estimulado que usemos a habilidade correta contra cada tipo de inimigo para ter uma vitória mais simples.

Falando em inimigos, a criatividade volta a se mostrar no design deles. Muitos são modelados a partir de sentimentos reais e seus ataques refletem, de maneira figurada, o que eles representam, de acordo com a descrição que nos é passada pelo jogo.

Psychonauts 2
O design dos inimigos ressalta a criatividade dos desenvolvedores (Imagem: Divulgação)

Temos a “dúvida” (a dúvida te atrasa), um monstro gelatinoso que diminui nossa velocidade de locomoção com seus ataques. “Arrependimento” (o arrependimento te pesa), um inimigo voador que tenta nos esmagar com projeteis pesados. A “Má ideia” (más ideias explodem na sua cara), que arremessa lâmpadas explosivas. Entre tantos outros.  

Os poderes de Raz também tem efeitos dentro e fora das lutas. A pirocinese pode queimar inimigos ou obstáculos que escondem colecionáveis, enquanto a conexão mental pode tanto puxar adversários para perto como ligar pensamentos dentro dos cenários para representar novas ideias a quem estamos tentando ajudar, e geram puzzles bem interessantes.

De maneira geral, não há nada de muito complexo na jogabilidade. O combate não chega a ser tedioso, pelo número de habilidades que temos, mas também não é algo digno de nota. A exploração, aqui representada pelos puzzles e a interatividade dos poderes com o cenário, novamente, é o ponto de destaque.

Vale a pena comprar Psychonauts 2?

Se você gostou de Psychonauts 1 e teme que a sequência não seja digna do original, nada tema. A continuação melhorou todos os pontos que já eram bons no jogo anterior. A história é uma jornada de grandes emoções, tanto para quem é jovem quanto para os nem tão jovens que jogaram a primeira edição. Os temas e questões levantadas pelos jogo, combinadas ao visual cartunesco, garantem que a experiência seja plural. É precisamente por isso que considero Psychonauts 1 um jogo que envelheceu tão bem.

Novatos na série podem certamente jogar Psychonauts 2 sem jogar o primeiro. Embora o jogo se identifique firmemente como uma continuação, detalhes impactantes da aventura passada são mencionados e outros, menores, referenciados de alguma maneira. Embora eu considere que valha a pena conhecer o original depois deste.

Aqueles que não gostaram do original precisam ter mais cuidado. Muito do que se via, embora melhorado, continua bem presente na sequência. Mas 16 anos se passaram, talvez seja de bom tom considerar uma segunda chance.

Psychonauts 2 chega na próxima quarta-feira, 25, para Playstation 4 , Xbox One e PC, via Steam, estando disponível para assinantes Xbox Game Pass, tanto em consoles, quanto em dispositivos com Windows 10, a partir do lançamento.

*Review elaborada em um PC equipado com GeForce GTX, com código fornecido pela Microsoft.

Psychonauts 2

9

História

9.0/10

Gráficos e sons

9.0/10

Gameplay

9.0/10

Extras

9.0/10

Prós

  • Criatividade incrível no level design
  • Gameplay fluido e variado
  • História divertida e personagens carismáticos
  • Legendado em PT-BR

Contras

  • Sistema de mapas confuso

João Gabriel Marques

    Jornalista e Videomaker por formação, entusiasta de filmes e jogos por gosto. Gosta de coisas complicadas que explodem o cérebro e de coisas bestas que desligam o mesmo.