Sifu | Review
Com o passar dos anos é comum vermos gêneros famosos de filmes e jogos sumirem, não porque falharam, mas o tempo passa e o gosto das pessoas muda. Um gênero de jogos que acabou ficando preso no passado é o beat’em up. Jogos beat’em up foram muito famosos nos anos 80 e 90, na época de ouro dos arcades, isso porque sair andando e batendo em criminosos tinha seu valor na época. Entretanto esse tipo de jogo acabou estagnado e nunca tivemos uma grande evolução da fórmula, exceto alguns poucos casos isolados de jogos que tentaram reinventar a fórmula e falharam, e Sifu é mais uma dessas tentativas.
E falando de um caso parecido, mas agora de filmes que ficaram presos no passado, os filmes de artes marciais também tiveram seu espaço, com clássicos estrelando Bruce Lee em filmes como “Jogo Mortal”, ou o “Vôo do Dragão”. Seja com Jackie Chan, ou até mesmo Van Damme com o famoso “O Grande Dragão Branco”, ou em inglês “Bloodsport”, esse que acabou inspirando ondas de jogos de luta nos anos 90 como Mortal Kombat.
Enfim, sempre que um gênero, seja de qualquer coisa, fica parado no tempo, as pessoas sentem falta, sentem uma certa nostalgia, mas sempre com uma esperança de surgir algo novo que reacenda aquele sentimento do passado. E Sifu, surge em 2022 para preencher esse espaço que os amantes de jogos beat’em up e os fãs de filmes de artes marciais tem, reimaginando alguns conceitos, mas principalmente trazendo uma nova cara para um gênero tão conservador.
Quer saber o que achei de Sifu? Vem comigo em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!
O que é Sifu?
Sifu é um jogo complicado de descrever e de classificar em um gênero, mas podemos dizer que ele é um beat’em up em terceira pessoa. Isso porque seu único objetivo é passar das fases batendo nos mais variados tipos de inimigos utilizando do seu complexo sistema de combate e sua criatividade. O jogo foi desenvolvido e publicado pelo estúdio Sloclap para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC, via Epic Games Store.
O enredo do jogo é bastante clichê e pouco desenvolvido, mas cumpre o propósito e, de certa forma, é um pouco nostálgico para os amantes de filmes de luta. O jogo conta a história de um protagonista sem nome, que pode ser tanto do sexo masculino quanto feminino, em busca de vingança contra os responsáveis pela morte de seu pai e seu Sifu, ou Shifu (师傅), que significa uma pessoa sábia ou um mestre. O protagonista presencia essa morte ainda criança o que o traumatiza de formas absurdas, porém após longos oito anos de treinamento e planejamento de vingança, o jogo começa.
A estrutura do jogo
Antes de qualquer coisa é importante explicar como o jogo funciona, visto que Sifu é um jogo bastante diferente. O jogo possui no total 5 grandes fases que devem ser jogadas em ordem na primeira jogatina, onde em cada uma delas o jogador deverá enfrentar diversos inimigos e um chefe no final, chefes esses que são os responsáveis pela morte de seu pai.
A estrutura das fases é bastante simples, o jogador deve andar e derrotar inimigos no caminho até chegar no chefe final da fase. Porém, cada fase é bastante distinta uma da outra, apresentando tipos de inimigos diferentes, com estilos de luta diferentes, armas diferentes e etc.
Conforme o jogador avança, haverão diversos itens úteis que auxiliarão em sua vingança, itens esses que são armazenados em um quadro de informações, porém todos os itens coletados aqui são permanentes, e são mantidos até mesmo caso o jogador morra ou decida reiniciar a fase.
Entre os itens encontrados nas fases, existem os clássicos documentos que contam um pouco mais da história do jogo, informações e dicas para derrotar inimigos, mas principalmente existem itens que ajudam na progressão, seja chaves ou cartões de acesso para abrir portas antes trancadas que servem como atalhos para chegar no chefe final mais rápido e facilitar um pouco cada fase, ou até mesmo desbloquear segredos e coletáveis no jogo.
Estes itens podem ser encontrados em todas as fases, por exemplo você pode encontrar uma chave para um atalho da primeira fase, somente na última fase, isso incentiva o jogador a voltar em fases anteriores para desbloquear itens novos, atalhos e etc.
Atalhos em Sifu são bastante importantes, pois o jogador começa cada uma das fases com a menor idade que ele conseguiu terminar a fase anterior, ou seja se você terminou uma fase com 30 anos e depois refez ela e terminou com 26 anos, o jogo armazena essa menor idade para iniciar a próxima fase, isso exceto a primeira obviamente. E é por isso que é tão importante re-jogar fases passadas.
Fora essa progressão dada pelo quadro de informações, o jogo também permite que você evolua seu personagem de outras formas, seja desbloqueando golpes novos, desbloqueando habilidades passivas e etc.
Quantos anos você irá demorar pra dominar o Kung Fu ?
O sistema de envelhecimento de Sifunão é nada complexo, ele funciona como se fosse um número limite de “vidas” até o número máximo de 74 anos. O jogador começa o jogo com 20 anos de idade, e a cada morte essa idade pode ser aumentada caso o jogador decida ressuscitar. Essa mecânica de envelhecer funciona com dois números diferentes. Que são a idade em si e o contador de mortes.
A idade, como sugere o nome, indica quantos anos tem atualmente o personagem, e o contador de mortes representa quantos anos irão ser adicionados caso o jogador morra. Por exemplo, se você estiver com o contador em 3, por morrer três vezes seguidas, na próxima morte você irá “perder” três anos de vida. Entretanto é possível diminuir o valor do contador derrotando os inimigos mais fortes do jogo, como chefes, mini chefes ou apenas alguns capangas mais fortes do que o comum.
Conforme a idade do personagem vai aumentando, o jogador irá receber alguns prós e contras, o principal deles é o fato de quanto mais velho você ficar, menos vida máxima você terá, porém mais dano irá causar, afinal o personagem fica mais experiente, porém com menos saúde.
Quando o jogador morre, ele tem três opções: ressuscitar envelhecendo o valor do seu contador de mortes, reiniciar a fase com a idade que você começou ela ou comprar alguns golpes novos na árvore de habilidades, essa que vou explicar mais pra frente.
Morrer, ou falhar, em Sifu é algo bastante comum, e você irá sim morrer inúmeras vezes até aprender como derrotar um chefe, ou um inimigo que está te assolando, porém gerenciar a idade do personagem e dominar o sistema de combate é a chave aqui.
O combate
A Sloclap, já tinha se provado um estúdio que entende como fazer um bom combate, em seu antigo jogo, Absolver. Entretanto é em Sifu que podemos dizer que os desenvolvedores dominaram esse tipo de sistema. Esse sistema de luta em Sifu é o grande protagonista do jogo, e é aqui que o jogo brilha de verdade. O jogador pode utilizar de socos fracos e fortes que intercalados e espaçados, apresentam golpes diferentes. Por exemplo, dois socos fracos, esperar um segundo e dar um soco forte é um golpe diferente.
A diferença entre esses golpes se dá principalmente no dano causado na postura do inimigo. A postura em Sifu, funciona basicamente como uma segunda vida do inimigo, que vai enchendo a cada golpe desferido nele, golpes fracos são mais rápidos, mas causam menos dano na postura, e golpes fortes são mais lentos, mas causam mais dano na barra de postura. Após quebrar a postura do inimigo o jogador pode finalizá-lo instantaneamente, porém quanto menos vida o inimigo tem, mais dano à postura ele receberá.
Em Sifu, não existem itens de cura, aqui a melhor defesa é a agressividade, pois a única maneira de recuperar a barra de vida é derrotando inimigos, seja finalizando eles após quebrar sua postura, ou apenas derrotando eles normalmente.
Fora os golpes e combos básicos, o jogador pode usar do analógico esquerdo para usar alguns golpes diferentes também, como por exemplo, usar o analógico para baixo e para cima junto de um golpe forte, o personagem usa uma rasteira no inimigo. Outro golpe utilizando do analógico esquerdo é colocar duas vezes para frente e um soco forte ou fraco, permite que o personagem avance rapidamente com um soco ou chute.
Fora esses combos envolvendo comandos simples, o combate também tem dois tipos de esquiva, que vou apelidar aqui de esquiva “curta” e esquiva “longa”. A Esquiva “longa”, funciona como uma esquiva padrão dos jogos, muito parecida com a esquiva de jogos souls like, onde você desvia do golpe, mas após a esquiva você fica longe do inimigo. Já a esquiva “curta”, ela serve para você desviar dos golpes, mas permanecer no mesmo lugar, por exemplo, você pode desviar de uma rasteira apenas levantando a perna ao invés de se esquivar para longe, ou apenas abaixar a cabeça para um golpe. Essa esquiva é bastante complicada de dominar no jogo, mas ela permite que o jogador contra ataque o inimigo.
Além de tudo isso, o jogo também possui um recurso chamado “barra de foco”, que permite que o jogador paralise o tempo por alguns segundos para usar um golpe preciso e poderoso no inimigo, como um golpe no olho ou uma rasteira mais poderosa para derrubá-lo. Os golpes envolvendo foco, podem ser usados em qualquer momento da luta, inclusive no meio dos golpes dos inimigos.
Outro fator muito importante no combate do jogo é o arsenal de armas disponível, aqui você terá à sua disposição tanto bastões, garrafas, vassouras, canos, tijolos, facas e etc. Entretanto, o importante aqui é que as armas de impacto como bastões e canos causam mais danos à postura do inimigo e armas cortantes causam mais dano na vida do inimigo.
Além desses comandos principais, que já estão disponíveis desde o início do jogo, há também a possibilidade de desbloquear golpes novos e habilidades passivas que podem te ajudar no combate.
A árvore de habilidades do jogo é um pouco diferente dos outros jogos, pois você deve comprar a habilidade com o “XP” adquirido, entretanto caso você morra ou decida jogar uma fase anterior, essa habilidade não estará mais disponível. Entretanto é possível adquirir essas habilidade de forma permanente comprando ela cinco vezes extras, para só aí ter de forma definitiva esse golpe.
Diferente dos golpes novos, as habilidades passivas só podem ser desbloqueadas através de um totem encontrado nas fases, e entre essas habilidades existem alguns upgrades bastante importantes, como aumento de postura, maior durabilidade de armas, mais vida e etc. Porém caso você decida reiniciar a fase, essas habilidades serão perdidas. Então a única maneira de mantê-las consigo é terminando a fase após desbloqueá-las.
Após encontrar um desses totens, você pode escolher apenas uma habilidade por totem, porém existem três tipos de recursos que você pode usar para desbloquear essas habilidades. Esses recursos são a sua idade, seu XP, e sua pontuação naquela fase.
Habilidades que usam de idade, não gastam nada para desbloqueá-las porém elas exigem uma idade mínima para poder comprá-las.
Já as habilidades de pontuação da fase, exigem que você tenha adquirido uma certa pontuação naquela específica fase, essa pontuação é adquirida através do combate do jogo, utilizando de combos e evitando tomar dano.
O terceiro recurso é o XP do personagem, que como o nome sugere é adquirido após derrotar os inimigos, porém fique atento pois o XP também é usado para desbloquear golpes novos, como dito anteriormente.
A experiência vem com a idade e com a repetição!
Sifu, além de ser um beat’em up, pode ser consideram um “Character Action Game”, um subgênero de jogos como Devil May Cry 5, Darksiders ou Sekiro: Shadows die Twice. Esses jogos tem várias coisas em comum, mas a principal delas é um foco maior no sistema de combate onde a principal progressão é o aprendizado desse sistema, seja em combos novos ou golpes novos. Então no jogo apesar de existirem formas de evoluir seu personagem, a principal ainda é a progressão no jogo e aprendendo o combate.
Sifu é um jogo bastante difícil, e essa dificuldade só vai ser amenizada com o aprendizado do jogador, seja do combate, dos inimigos e dos padrões de golpes dos chefes, algo muito semelhante à jogos soulslike. E como todo bom jogo que apela para dificuldade, a repetição é algo fundamental. E toda essa repetição e treinamento, é incentivado pelo próprio jogo na presença de um “modo treino”, muito parecido com o que encontramos em jogos de luta em geral.
Dominar os combos, golpes e os padrões dos inimigos é algo extremamente recompensador em Sifu, e é perceptível essa evolução tanto que o jogador em dado momento se encontra “fluindo como a água” no combate do jogo, como um sábio mestre nos ensinou. E todo esse treinamento, repetição, tentativa e erro do jogo “simula” o aprendizado de uma arte marcial, e é por isso que o combate de Sifu é tão incrível.
Entretanto como nem tudo são flores, Sifu é um jogo extremamente inacessível, isso por conta da sua altíssima dificuldade. O jogo apesar de possuir um sistema de combate incrível, a trajetória até conseguir dominá-lo vai ser bastante frustrante. O jogo não possuí níveis de dificuldade, o que pode afastar ainda mais jogadores que procuram uma experiência mais tranquila, ou que possuem algum tipo de deficiência, visto que o jogo também não há nenhum tipo de acessibilidade. Então apesar de Sifu ser um jogo extremamente competente naquilo que ele propõe, e a sua falta de acessibilidade pode, e vai, afastar muitas pessoas de ser divertir, e principalmente frustrar várias pessoas.
Toda arte marcial é uma arte !
O jogo, por tratar de temas como a cultura chinesa e Kung Fu, pega muito emprestado dessa estética oriental. E é importante dizer que Sifu é lindíssimo, apesar de não ter gráficos ultra realistas, a direção de arte acerta em cheio em toda parte estética e artística do jogo. Isso tudo é perceptível pelos diversos ambientes diferentes que o jogador irá passar durante a jornada (principalmente a fase do museu). Todo esse vislumbre visual é incentivado ao jogador com a presença do modo foto, que é bastante completo, possuindo diversos filtros e opções de customização para aqueles que gostam dessa parte.
Por falar da parte artística do jogo, vale ressaltar que o jogo se passa na China, porém no lançamento do jogo não há a disponibilidade de uma dublagem em chinês, mas os desenvolvedores já confirmaram que irão adicionar essa opção em atualizações futuras.
Outro fator importante, que é importante ressaltar, é que, apesar do jogo possuir um combate bastante crível e próximo da realidade, Sifu possuí elementos que envolvem a fantasia também, porém nada muito absurdo como pessoas voando, como o clássico filme “O Tigre e o Dragão”. O apelo “sobrenatural” do jogo envolve muito mais a parte estética e a arte do jogo em si, para criar momentos inesquecíveis visualmente.
Vale a pena comprar Sifu?
Sifu é um jogo incrível, porém extremamente desafiador e as vezes até frustrante. Porém, estudar e entender esse incrível sistema de combate para derrotar os chefes é algo extremamente recompensador. Isso tudo somado ao fato de ser um novo ar para jogos beat’em up, torna toda a experiência em algo único e fora do padrão da indústria de jogos atual. Sifu é um jogo feito por um estúdio pequeno e extremamente talentoso, que conseguiu criar uma experiência de “treinar” uma arte marcial em um videogame, por um preço extremamente acessível por um jogo dessa qualidade.
E caso você tenha interesse na questão técnica, não tenho muito o que dizer sobre, pois não presenciei nenhum bug ou problema de performance como quedas de quadros durante as mais de 20 horas de jogo, isso rodando o jogo em um Playstation 4 base.
Sifu chega nesta terça-feira, 8, para PlayStation 4 e PlayStation 5, além de PC, via Epic Games Store. Compradores da Edição Deluxe já podem jogar o jogo a partir de hoje, com o acesso antecipado.
*Review elaborada em um Playstation 4 Slim, com código fornecido pela Sloclap.
Sifu
+ R$ 75,99
Prós
- Sistema de combate
- História
- Arte e estética
- Performance
- Localizado em PT-BR
Contras
- Dificuldade
- Quantidade de fases
- Falta de tutoriais relevantes
- Pouco acessível
