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NINJA GAIDEN: Ragebound | Review

A série Ninja Gaiden, desde seu início nos anos 80, sempre foi sinônimo de jogabilidade intensa, exigindo reflexos absurdos, paciência de um monge para lidar com as inevitáveis e numerosas mortes e a dificuldade lendária, (quase) sempre traduzida em desafios justos. A franquia, como muitas, se deslocou para o 3D e, entre acertos e erros, conseguiu manter um pouco da identidade dos originais. 

Mas o momento chegou para quem acha que a série estava no auge em seu início. NINJA GAIDEN: Ragebound, desenvolvido pela The Game Kitchen, resgata o espírito da trilogia clássica, com alguns detalhes modernos. Nos acompanhe enquanto exploramos esse retorno às raízes em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

O novo com o espírito do antigo

Desde o anúncio, NINJA GAIDEN: Ragebound me passou grande empolgação por estar sendo publicado pela Dotemu, que já tem um bom histórico de reviver franquias clássicas com jogos de qualidade, caso de Streets of Rage 4 e Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge

E fico feliz em dizer que temos mais um grande acerto nas mãos. Desde o início do primeiro estágio é possível ver que a jogabilidade mantém o ritmo frenético e recompensa bons reflexos, mas temos algumas inovações.

NINJA GAIDEN: Ragebound
O novo protagonista deve lidar com hordas de inimigos variados que atacam de todos os lados (Imagem: Divulgação)

A primeira e mais evidente é um novo protagonista, Kenji, aprendiz do ninja lendário Ryu Hayabusa (Ryu e Ken, vejam só), que controlamos na maioria dos outros jogos. O inexperiente guerreiro deve lidar com uma invasão de demônios e as manipulações sombrias de figuras poderosas que buscam poder a qualquer custo – o enredo clássico, simples e efetivo desse tipo de aventura. 

Kenji é auxiliado pela kunoichi Kumori, pertencente ao Clã da Aranha Negra, antagonistas recorrentes na franquia. E, além de contribuir no enredo, sua presença também afeta a jogabilidade diretamente.

Ritmo de Ninja 

A jogabilidade de NINJA GAIDEN: Ragebound é direta ao ponto. Uma combinação perfeita de combate constante, com hordas de inimigos a serem cortados e liberdade de cruzar cenários horizontais e verticais se pendurando em plataformas e pegando impulso nas paredes, tudo garantido por um controle muito responsivo. 

Kenji tem acesso a uma katana, que pode usar para atacar inimigos de perto, uma manobra evasiva no chão que permite escapar de dano por um período curto de tempo e o “impulso guilhotina”, um chute aéreo que danifica adversários e, como o nome diz, impulsiona o personagem no ar, permitindo que ele alcance lugares antes indisponíveis. Logo nas primeiras fases, ele adquire a capacidade de atirar kunais e usar outras armas à distância, que gastam uma barra especial.

De longe, a nova mecânica mais empolgante é a “Hípercarga”. Um estado especial em que Kenji fica temporariamente capaz de destruir qualquer adversário com apenas um golpe. Para atingir esse poder, é preciso derrotar inimigos específicos com armas específicas. Aqueles que brilham em azul tem que ser vencidos de perto, com a espada, enquanto os que brilham em rosa, tem que receber o último golpe de longe, com a kunai.

No meio de combates em que todo tipo de criatura está atacando por todos os lados, é fácil trocar os botões e ficar sem a carga, que garantiria derrotar facilmente um adversário resistente que aparece, criado para ser vencido dessa maneira. Um último recurso é sacrificar um pouco da vida para ativar a carga manualmente, mas isso também deixa Kenji parado por alguns segundos, o que, para quem conhece essa franquia é mais do que o suficiente para definir sucesso ou fracasso.

NINJA GAIDEN: Ragebound
Obter a Hípercarga pode fazer toda a diferença entre vitória e derrota. (Imagem: Divulgação)

Ao mesmo tempo que você se sente o melhor jogador do mundo quando corta vários monstros em sequência, parando projeteis com movimentos precisos da katana, desviando de golpes ao manobrar no ar com o “impulso guilhotina” e devastando um gigante com um golpe de hípercarga, também é fácil errar um detalhe que te deixa impotente contra a horda que te cerca.  E isso resume o gameplay frenético e desafiador, mas extremamente voltado à recompensa que se obtém quando o reflexo não falha. 

Kumori se apresenta como um segundo personagem jogável, mas apenas em alguns momentos, em que deve cruzar plataformas em um determinado período de tempo para permitir o prosseguimento de Kenji ou encontrar colecionáveis escondidos. As partes que envolvem a Kunoichi lembram mais puzzles e corridas contra o tempo, mas não são frequentes o suficiente para diminuir a velocidade do jogo.

Os dois protagonistas ainda podem combinar seus poderes em uma técnica devastadora que afeta a tela inteira, mas demora a ser carregada, outra medida equilibrada para não deixar fácil ou difícil demais navegar os cenários.

Infelizmente, o único detalhe que não me agradou completamente foram os chefes. Apesar de existirem confrontos verdadeiramente criativos, que mantêm o espírito do resto da jogabilidade, a grande maioria tem um padrão básico e, por serem bem resistentes, demoram a ser derrotados. 

A combinação de poucos golpes e muita vida acaba por desvirtuar a fórmula tão efetiva do combate rápido que define os estágios. Essa parte do jogo acaba sendo mais um teste de paciência para não se distrair enquanto desvia dos mesmos ataques e causa dano em pequenas parcelas do que um verdadeiro desafio.

Desafio controlado

O que eu escrevi até agora pode animar quem gosta da franquia e está acostumado com um desafio impiedoso, mas os iniciantes também não têm o que temer. NINJA GAIDEN: Ragebound tem diversas opções que auxiliam a ajustar a dificuldade no nível que for mais tolerável a cada jogador. Desde uma seleção de dificuldade mais clássica, até detalhes específicos como altura ganhada por atingir um adversário com o “impulso guilhotina”, duração da “Hípercarga” e o quanto seu personagem é arremessado para trás, após receber dano. Um claro aceno aos irritantes pássaros que derrubavam Ryu das plataformas em abismos de morte instantânea nos clássicos. Também há uma loja dentro do jogo onde podem ser adquiridos “talismãs”, que conferem efeitos passivos positivos.

Essas medidas, alinhadas a poder se mexer no ar ao ser atingido e a presença de checkpoints e itens de recuperação, garante que o jogo não perca a essência do desafio, mas seja muito mais a prova de frustração do que os clássicos. 

NINJA GAIDEN: Ragebound
Além das opções, itens equipáveis também podem alterar o desafio. (Imagem: Reprodução/João Gabriel Marques)

Mas digo que podem ficar aliviados aqueles que têm reflexos de um ninja de verdade e querem mais desafio do que nunca. Cada estágio tem uma nota que reflete o número de mortes, tempo gasto e inimigos vencidos, além de desafios opcionais que simbolizam habilidade derrotar um número específico de adversários grandes, ficar vários segundos no ar enquanto pega impulso em vários monstros voadores, não receber dano do chefe, por exemplo.

Há também estágios secretos, mais desafiadores, que podem ser destravados ao encontrar pergaminhos especiais na campanha normal. Além de um modo difícil que é desbloqueado após zerar da primeira vez, com inimigos mais numerosos, versões fortalecidas de oponentes e armadilhas extras nos cenários.

Se ainda não for o bastante, existem itens equipáveis que enfraquecem o personagem em troca de conferir pontos extras para aumentar a avaliação no fim de cada estágio e cada um varia bastante na limitação imposta, desde sumir com os itens de recuperação até recomeçar o estágio do começo depois de morrer. Esse último é para os verdadeiros mestres, considerando que cada fase tem um tamanho considerável. 

NINJA GAIDEN: Ragebound
As fases tem boa variedade e excelente level design. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar NINJA GAIDEN: Ragebound?

Quem é fã da série, principalmente dos primeiros jogos, ou gosta de um jogo de ação simples e ininterrupto não tem como se arrepender de jogar NINJA GAIDEN: Ragebound. O espírito do desafio e do gameplay acelerado não está só mantido, como aperfeiçoado. A estética está muito bem trabalhada, com trilhas sonoras animadas que complementam cenários imensos com boa variedade de inimigos.

A escolha do pixel art foi bem acertada para resgatar o 2D e as animações estão excelentes, desde todos os movimentos dos protagonistas até inimigos sendo cortados ao meio com o máximo de detalhes que o estilo gráfico permite.

É necessário advertir, obviamente, que exatamente por ser uma homenagem e tanto aos primeiros títulos da série e, jogos antigos em geral que não é para esperar uma história e personagens muito desenvolvidos e nem uma campanha extensa. Oito horas são mais do que o bastante para completar o conteúdo obrigatório. Isso torna o tempo útil do jogo bem dependente do jogador, que decide ou não zerar apenas uma vez.

Mas a proposta claramente é oferecer uma aventura simples e frenética que pode ser rejogada muitas vezes, cumprindo objetivos opcionais e se desafiando conforme a habilidade melhora. E isso é cumprido com maestria. Eu mal posso esperar o que a comunidade de Speedruns vai fazer com esse jogo.

NINJA GAIDEN: Ragebound chega nesta quinta-feira, 31 de julho, para PlayStation 4, PlayStation 5 , Nintendo Switch 1, Nintendo Switch 2 , Xbox One, Xbox Series X|S, e PC, via Steam.

*Review elaborada em uma PC equipado com uma Geforce RTX, com código fornecido pela Dotemu.

NINJA GAIDEN: Ragebound

BRL 73,99
8.1

História

7.0/10

Gameplay

9.5/10

Gráficos e Sons

8.5/10

Extras

7.5/10

Prós

  • Sistema de combate excelente, simples, mas recompensador
  • Level design excelente, com variedade decente
  • Desafio completamente customizável e justo (se você morrer a culpa é toda sua)
  • Trilha sonora e estilo de arte complementam perfeitamente a jogabilidade

Contras

  • Batalhas com a maioria dos chefes é pouca criativa e cansativa

João Gabriel Marques

    Jornalista e Videomaker por formação, entusiasta de filmes e jogos por gosto. Gosta de coisas complicadas que explodem o cérebro e de coisas bestas que desligam o mesmo.