Biomutant | Review
Biomutant é um jogo de aventura e mundo aberto desenvolvido pelo estúdio Experiment 101 e publicado pela THQ Nordic. Ele te coloca nas patas de um mutante, criado por você, que encontra um mundo virado ao avesso após retornar para casa de um longo exílio.
Será que ele vale o seu tempo valioso nesse planeta Terra? Vejamos agora, nessa análise do Pizza Fria.
Alucinações
Uma de minhas aventuras mais recentes, caro leitor, me levou ao deserto Rub’ Al-Khali em busca da fabulosa Iram dos Pilares. Como não sou nenhum Nathan Drake, a única coisa que consegui foi uma insolação terrível e uma série de alucinações causadas pelo calor escaldante das areias. Em um desses momentos posso jurar ter visto minhas pôneis mais queridas de um certo programa de televisão descendo dos céus e me entregando um código para um jogo de PS4. Era o tão falado Biomutant.
Como assim, estou inventando? Que absurdo! Mas os meios não importam, leitor inquisidor. O que importa é que a premissa e personagens de Biomutant são tão bizarros que fazem essa minha narrativa parecer um acontecimento qualquer. Eu compreendo que houve um esforço estilístico em tornar os personagens “estranhos”, mas realmente queria reforçar o quão inusitado achei.
E também é interessante notar que a vida, aqui, imita a arte ao pé da letra. O jogo é praticamente um mutante, igual seu protagonista, contendo partes de mecânicas e temas misturadas e fundidas de uma forma tal que o resultado não poderia ser muito diferente do que foi. Confuso? Também fiquei, admito. Mas elaboremos.
A premissa básica de Biomutant é que você é um mutante andarilho, que retorna ao lar e encontra uma região em guerra com várias tribos lutando pelo futuro que acham melhor. Existe uma entidade chamada árvore da vida, que dá balanço ao mundo. Cada tribo tem uma visão sobre o que deve ser feito com ela, e você pode apoiar a que lhe fizer mais sentido. De um lado querem destruir para dar início ao novo ciclo da vida, e de outro querem manter para perpetuar a paz e ordem natural.
O mundo é, visualmente, muito bem construído. A história se passa em um futuro pós-apocalíptico no qual a humanidade se destruiu através de químicos, e uma nova raça de biomutantes evoluiu dos escombros para viver na terra devastada. É uma visão interessante e com um bom potencial de desenvolvimento.
Além disso, Biomutant tem uma pegada muito forte para o lado dos filmes de ação, principalmente os que envolvem artes marciais. O combate é cheio de golpes e movimentos emprestados do Kung-Fu, e muitos elementos visuais e culturais chineses podem ser vistos por seus cenários e personagens. É uma identidade bem única, independente de qual seja o ponto de análise do jogador.
Todo esse estilo, como falei, é passado para as mecânicas de jogo e, principalmente, o combate. As lutas e explorações são repletas de pulos, piruetas e manobras diferentes. Um dos golpes que se pode aprender, por exemplo, é um combo que termina em um piledriver maravilhoso de se ver. Mas, conforme vai notar daqui para frente caro leitor, é algo que parece ser bom, mas não o é de verdade.
O combate em Biomutant é bem estranho, para se dizer o mínimo. Você tem uma grande variedade de armas, mas elas são estranhas de usar, muitas são fracas demais e a câmera e movimentação é desastrosa. É difícil correr e atacar ao mesmo tempo, muitas vezes os golpes não são reconhecidos pelo jogo e a falta de uma mira melhorada atrapalha demais.
É triste notar o potencial desperdiçado aqui. O jogo te dá um leque considerável de opções de luta, habilidades e movimentos, mas a maioria é difícil de usar, não acerta nada ou, simplesmente, não vale a pena. Tal qual é hoje, o único meio de dar um bom dano e não passar raiva é usando armas de longa distância. Ficar perto não compensa pela dificuldade em acertar e a natureza caótica do jogo. Isso faz com que apenas um tipo de build seja realmente prático usar.
Essa ideia de ser um jogo inchado, mas sem profundidade, permeou toda minha experiência com Biomutant. Por exemplo, o criador de personagens é muito bem feito. Você pode escolher diversos atributos diferentes para montar seu personagem de acordo com o que quiser. Você tem opções de raças e classes básicas, mas elas servem apenas como um ponto de partida.
Esse foi um dos grandes positivos para mim. Fãs de RPG vão gostar da customização, e amantes da velha arte de controlar cada detalhe de seus atributos também. Além disso, o jogo conta com um sistema de alinhamento de Luz e Sombras. Isso faz diferença na hora de tomar certas decisões, algumas habilidades específicas que podem ser liberadas e a forma com que alguns personagens o tratam.
Mas, novamente, são conceitos legais mas não tão bem implementados. A impressão que tive nesses aspectos foi que o jogo tentou enfiar o máximo de coisas que podia em suas mecânicas sem se preocupar muito com a forma que elas se integrariam. O resultado final foi uma experiência que, como disse, é um mutante com várias partes de vários jogos que formam um ser bizarro.
Além disso, a performance de Biomutant no PS4 base é terrível. O FPS cai constantemente, o jogo trava e as texturas somem e aparecem do nada. Isso teve um impacto negativo considerável em minha experiência, principalmente em combates mais bombásticos. Não adianta o combate ser bonito de ver se ele trava e fica constantemente nas dezenas de frames.
Sons e visuais
Como falei acima, os visuais são bons. O mundo é verde em vários pontos, dando uma ideia de natureza que domina novamente muito boa. É legal de ver e andar, quando funciona e não trava. Contudo, os cenários são apenas bonitos. As diversas áreas são completamente vazias, e é comum passar um longo tempo sem ver nada acontecendo.
O som deixa bem a desejar. Muitos efeitos são fracos, sem impacto nenhum. Algumas armas soam como se você estivesse batendo nos inimigos com espadas de isopor ou dando tiros com arminhas de água. A música também não é notável, com nada que se prenda a mente.
Boa parte do jogo é narrada, e os personagens falam com sons e barulhos variados. Todos extremamente irritantes. É complicado prestar atenção no diálogo enquanto o narrador fala e o NPC fica fazendo grunhidos e barulhos aleatórios. Um personagem metido a Elvis que aparece no começo do jogo, particularmente, me tirou do sério. A história de Biomutant é maneira, mas não tem como acompanhar quando todo diálogo incomoda desse jeito.
Vale a pena comprar Biomutant?
Biomutant, para mim, foi uma grande oportunidade perdida. O jogo tem vários elementos que, sozinhos, seriam legais. Ele tem muita customização de atributos, de armas, de habilidades, criação de equipamentos, diálogos, isso e aquilo. Mas é tudo tão raso, tão superficial que acaba por não ter impacto algum. E isso me mata por dentro, leitor. Oh céus!
Não exagero ao dizer que, de coração, queria ter tido uma experiência mais positiva com o jogo. Mas os problemas de performance constante, a superficialidade da jogabilidade e os grunhidos extremamente irritantes dos personagens acabou comigo. A ambientação e narração são legais, mas não salva. Então, qual minha opinião final? Se você for mais leniente e feliz que eu, leitor, pode encontrar muito para gostar aqui. Principalmente se for amante dos jogos de mundo aberto com mecânicas de RPG. Mas, infelizmente, não foi meu caso. E por isso não poderei recomendar logo de cara.
Biomutant foi lançado no dia 25 de maio para PlayStation 4, Xbox One e PC, via Steam, Origin, Epic Games Store e GOG.com com preços variando entre R$ 199,00 e R$ 332,45, de acordo com a versão escolhida. No Metacritic, o game contou com apenas 63 pontos na versão avaliada.
*Review elaborada em um PlayStation 4 padrão, com código fornecido pela THQ Nordic.
Biomutant
R$ 199,00+Prós
- Mundo vasto e bonito
- Muitas opções de coisas para fazer
- Muitas mecânicas...
- Legendado em português
Contras
- ... mas todas as mecânicas são rasas e pouco trabalhadas.
- Diversos problemas técnicos
- Grunhidos e sons bem abaixo do adequado
- Combate estranho, muitos golpes passam direto nos inimigos e muitas coisas ao mesmo tempo trava completamente o jogo.
- Acaba por ser muito repetitivo