Fading Afternoon | Review

Fading Afternoon é um beat’em up, conhecido na sabedoria popular como jogo de porradinha, misturado com elementos de RPG e uma história porreta desenvolvido por yeo e publicado pelo mesmo junto da IndieArk. O título nos coloca no topete e barba mal feita de um yakuza de meia idade, recém liberto do xilindró em um mundo que o vê como uma relíquia de dias passados.

E aí, será que vale a pena acompanhar esse conto? É o que veremos agora, em mais uma análise do Pizza Fria!

Lanterna dos Afogados

Poucas coisas afetam um ser vivo, doces leitores e leitoras, tanto quanto a certeza de uma calamidade iminente. Seja ela oriunda de acontecimentos além de nosso controle, do tempo, de doenças ou infligidas por terceiros. Sejam elas causadas por males mais mundanos como os tão temidos boletos, faturas de cartão de crédito ou falta de papel higiênico em momentos sensíveis.

Mas nada, crianças do verão, é tão inevitável nem tão destrutível quanto a idade. O tempo chega para todos nós, e não há vivalma tão habilidosa que consiga se esquivar do doce abraço da morte quando ela decidi vir cobrar. Começo mórbido, não é? Nem tanto, se pararmos para pensar. A certeza de que as coisas um dia acabam pode despertar em nós o amor pelo presente, e por viver ao máximo com o que nos foi dado. Carpe Diem, como diziam os poetas mortos.

Decidi começar com essas viagens pois pensei que cairiam como uma luva em nosso joguenho da vez, Fading Afternoon. Embora o título seja um beat’em up, tanto sua história quanto suas mecânicas giram em torno dessa noção de que tudo tem um fim, eventualmente, não importa o quanto tentemos. Ainda que nos doa pensar, é uma preocupação, e revelação, que teremos de encarar mais hora, menos hora. Agora, para aliviar o clima, quero que lembrem de coisas engraçadas e fofas, tal qual Wrestlequest.

Fading Afternoon
Pense em como chegou até aqui, camarada. (Imagem: Divulgação)

Fading Afternoon nos coloca no controle de Seiji Maruyama, um yakuza (não aquele yakuza que estamos pensando) de meia idade que acaba de deixar o xilindró após um bom tempo vendo o sol nascer quadrado. Lançado de volta em uma realidade bem diferente da qual imaginava, onde a família que faz parte já não tem a força de outrora, nosso personagem decide lutar para tentar fazer com que tudo volte aos moldes da velha era. Mas, no fim das contas, será que vale mesmo a pena?

Será que Seiji faz parte dessa nova realidade? Será que ele estará aqui para aproveitar as glórias pelas quais luta agora? Será que vale a pena gastar o tempo que lhe resta, se é que resta algum, buscando reacender uma vela que já está quase no toco? Essa é uma das perguntas que permeia toda a trama, e seus múltiplos finais.

Fading Afternoon possui uma história bem interessante e pesada, com temáticas que nos acertam como um tijolo na face. Além disso, o título consegue se ajustar bem para acompanhar o jogador, mudando acontecimentos e interações conforme nossas ações, e o tempo, passa. Eu achei isso fascinante, principalmente em um jogo de beat’em up indie feito esse. Sem dúvida, é um dos responsáveis por elevar a experiência a patamares que ela não chegaria de outra maneira.

Fading Afternoon
A hora chega para todos nós. (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade de Fading Afternoon é divida nas pancadarias e na exploração, em 2D, dos cenários e da cidade na qual o jogo se passa. Além da trocação honesta de tapas, podemos brincar com minigames, comprar uma casa e carro para locomover mais rápido, trocar roupas, comprar armas para nos dar aquela vantagem na hora da doideira e decidir, sabendo ou não, que rumo nossa trama vai tomar.

Comecemos pela primeira parte. O jogo é um beat’up, no sentido de que andamos da esquerda para a direita soltando a mão na orelha de qualquer gangster que olhar torto em nossa direção. Temos botões para ataque, defesa, contra-ataque (quebrando o braço e tirando o coitado que tomar de combate) e agarres realizados quando algum malandro chegar perto demais. Tudo muito bem animado, com fluidez e esmero.

O problema é que o combate é muito pesado, lento e confuso. Ao menos em minha experiência. É muito fácil levar pancadas sem nem saber, ou desviar quando precisamos ser rápidos. Inimigos com garrafas, por exemplo, foram a desgraça de minha existência com Fading Afternoon. Uma pena, visto que quando as coisas estão sob controle é bem legal trocar tapa com a galera.

O jogo possui uma mecânica de dias que se passam, afetando tanto o que podemos fazer quanto a vida total de Seiji. Ser derrubado em uma luta significa que perdemos tempo, algo que não podemos nos dar o luxo de deixar acontecer. Essa é uma das várias mecânicas que o jogo explica de maneira superficial, ou nem explica.

Fading Afternoon
Vish, quebrou. (Imagem: Divulgação)

Esse foi um dos meus maiores problemas com Fading Afternoon. É muito confuso saber o que temos que fazer, quando e onde. Vejam, eu não peço que o título nos guie pela mão. Mas uma pequena indicação seria legal. Logo após a introdução, nada nos aponta claramente para o fato que precisamos começar guerras em territórios para dominá-los. Ou que precisamos liberar o shaitei, matá-lo e depois conversar com um NPC nas zonas que capturamos para deixá-las protegidas.

Ou o que fica onde no mapa, para não perdermos tempo andando de um lado para o outro a toa vendo os dias passarem. Ou como resolver algumas missões. Em certa feita, meu chefe me mandou invadir um trem para matar um cara, ao lado de um camarada. Fui até a estação, achei o cara, e nada aconteceu. Nem como conversar eu tinha. Voltei para casa, e no dia seguinte Seiji perde o dedo e, com isso, um pedaço de sua pequena vida máxima. Isso é uma pena, porque muitas das missões envolvem uma pancadaria geral cheia de gente que é divertida toda vida.

Isso é um acontecimento comum em Fading Afternoon, infelizmente. Novamente, segredos e mecânicas que devemos descobrir sempre são bem vindos. Os títulos mais recentes da série Zelda não me deixam mentir. Agora, quando isso se traduz em confusão, chances perdidas e necessidade constante de reiniciar a história o resultado não pode ser nada além de frustração. E, para jogar sal na ferida, o título é cheio de pequenas ações e detalhes que sopram vida em seus personagens e localidades. Algo assim deve ser exibido, e não o contrário.

Fading Afternoon
Vem tranquilo. (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais

Fading Afternoon tem gráficos pixelizados bem legais, muito bem coloridos e animados. A cidade parece viva, e tudo tem um jeitão velha guarda maravilhoso. Um ponto que incomodou, entretanto, é na resolução dos pixels e, principalmente, das fontes. Seja em português ou inglês, elas ficam um pouco quadriculadas demais, dificultando a leitura.

O departamento de som é algo que eu poderia descrever em duas palavras, mas isso resultaria em um puxão de orelha de nossos editores por conta da linguagem. Então, digo apenas que é espetacular. Cada trilha sonora melhor que a outra, puxando para um lado do jazz que foi um doce escutar. Essa, inclusive, é uma que valeria a pena comprar para ouvir no carro, em uma noite de garoa fina. Que ambientação!

Fading Afternoon
Hora de ir falar minha nota pra galera. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Fading Afternoon?

Ah, meninos e meninas, aqui vamos nós outra vez. Tentar resumir uma experiência inteira em pequenos pontos. Bom, vamos que vamos. Como podem ter notado, minha experiência com Fading Afternoon foi cheia de emoções e tribulações, com recomeços de dentes cerrados, mas sem abrir mão de experimentar o que o título tinha a oferecer.

O jogo tem uma história muito boa, bem ambientada e que aproxima a vida de yakuza de uma maneira que não vemos sempre, focando no fim de uma era e nada dificuldade da velha guarda em se adaptar com o novo. O título é cheio de pequenas coisinhas para dar ainda mais vida ao cenário, seja no que podemos fazer na cidade ou com o personagem. Somando a trilha sonora porreta, e temos um resultado bem interessante.

O problema maior fica por conta da jogabilidade meio pesada, por vezes frustrante, somado a uma necessidade de manter o jogador no escuro, quase como se quisesse esconder tudo de legal que o título tem a oferecer por trás de um véu de confusão e instruções dadas pela metade. O que, em minha opinião, é um desserviço enorme.

Contudo, nada disso me desmotivou de jogador Fading Afternoon e buscar alguns de seus finais. Ainda que eu tenha largado mão em alguns momentos, principalmente após levar garrafadas na mente, sempre voltei no final. Eu sinto que jogadores que não conseguirem se adaptar a essas particularidades terão dificuldade em acompanhar o conto de Seiji até o final, o que é uma pena. De toda forma, há muito o que se aproveitar aqui, contanto que estejamos dispostos a lidar com esses pontos menos agradáveis da experiência.

Fading Afternoon está disponível somente para PC, via Steam.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela IndieArk.

Fading Afternoon

R$ 59,99
7.8

História

9.0/10

Gameplay

6.0/10

Gráficos e Sons

8.0/10

Extras

8.0/10

Prós

  • História cativante aborda bem o tema do fim de uma era e de uma vida
  • Trilha sonora espetacular
  • Muitos cuidados com a ambientação da trama, da cidade e seus personagens. Seja por ações ou reações.
  • Vários finais diferentes
  • Bem legendado para nossa língua

Contras

  • Combate agarrado pode ser bem frustrante
  • O jogo não explica tudo que tem, nos deixando perdidos e escondendo muito de sua beleza
  • Muito fácil falhar em missões por não saber direito o que fazer para dar continuidade a elas
  • Resolução dificulta ler algumas coisas, além de fazer os modelos parecerem menos detalhados do que realmente são

Matheus Jenevain

    Redator de idade não especificada e habilidade excepcional (segundo o próprio, acredite se quiser). Curte Metroidvanias, RPGs e jogos de luta. Reza toda noite, intensamente, para receber um remake de God Hand. Nunca foi atendido.