Kingdom Come: Deliverance – Royal Edition | Review
Kingdom Come: Deliverance – Royal Edition é um RPG em primeira pessoa, ambientado na Bohemia do século XV, desenvolvido pela Warhorse Studios e distribuído pela mesma junto da PLAION. Nele, somos colocados nas botas sujas e poeirentas de Henry, um rapaz tranquilo e encrenqueiro que vê seu frágil mundinho desabar após sua vila ser invadida pelo exército de Sigismund, meio irmão do então monarca daquelas terras.
E aí, será que vale a pena entrarmos nesse túnel do tempo? É o que veremos agora, em mais uma análise lendária do Pizza Fria!
Essa foi de tirar o elmo
Kingdom Come: Deliverance, cavaleiros e cavaleiras da pizza redonda, foi uma das minhas maiores histórias de amor e ódio de 2018. O jogo já havia sido lançado com pompa e promessa, mas alguns aspectos mais técnicos e de design me fizeram desanimar ao longo do tempo. A ponto de, só em 2024, ano de nosso senhor Sephiroth, eu dar mais uma chance ao título.
Outra coisa que me chamou a atenção, além dessa versão ofertar uma experiência mais refinada e com todo o conteúdo já lançado, foi de que havia a expectativa de poder curtir toda a aventura de Henry diretamente em nossas mãos, pela graça e glória do Nintendo Switch nervosão. O mundo do jogo é bem extenso, com muitas mecânicas em funcionamento ao mesmo tempo e um mundo sem carregamentos entre áreas. Ports de jogos desse tipo não são nada fáceis de se fazer, principalmente em se tratando de consoles que funcionem em modo de mão
Mas, fora isso, também achei que valia dar mais uma chance para esse quase romance medieval, lotados de cavaleiros, donzelas, guerras e consumo desenfreado de cerveja quente. Ah, os velhos (velhos) tempos, não é mesmo? Além disso, a pegada mais atenciosa para o lado histórico da coisa também valida uma segunda opinião, não é mesmo?

História
Kingdom Come: Deliverance nos coloca no controle de Henry, um humilde jovem (com cara de velho), filho de um ferreiro na cidade de Skalitz. A vida ia boa para nosso chegado. Ele tinha uma amada, uma profissão pela frente, saía para beber com os rapazes e, de quebra, ainda tempo de dar uma treinada na arte das espadas. Mas, como alegria de pobre dura pouco, isso logo iria acabar.
Um belo dia, os exércitos de um rei oposto ao que nosso chegado servia invade a cidade e coloca todos na ponta da espada. Henry perde tudo naquele dia, além de sua família e de uma espada que o pai havia forjado para o senhor da vila em que vivia. Decidido a reencontrar a espada e vingar a morte dos pais, nosso garoto sai pelo mundo em uma grande aventura. Ah, quase uma novela de cavalaria!
A trama de Kingdom Come: Deliverance é bem legal, remontando muito ao que poderíamos ver em livros que abordam o estilo. O mais legal, aqui, é a atenção dada pela desenvolvedora aos aspectos históricos e culturais da sociedade da Bohemia na época. Temos diversas notas explicando várias facetas da sociedade, um cuidado com roupas, falas, profissões e coisas do tipo. Evidentemente que foram tomadas liberdades. Afinal, não seria muito simples um reles plebeu subir como Henry eventualmente faz. Mas, de todo modo, ficou chique.
Um último ponto, também interessante, é que o título também questiona, ao mostrar que havia cultura e avanço na época, a ideia de que o século XV seria uma chamada “idade das trevas”. Parte eurocentrismo, parte reflexo do pensamento iluminista, essa definição realmente não ajuda a representar de maneira correta tudo que se descobria e realizava naqueles anos. Se tiverem interesse, sábios e sábias, é um tema interessante de se pesquisar.

Jogabilidade
As aventuras de Henry em Kingdom Come: Deliverance se passam de uma perspectiva em primeira pessoa, pela qual interagimos e percebemos o mundo a nossa volta. Como todo bom RPG não linear, podemos zanzar por todo o mapa – bem extenso – realizando uma série de atividades e cumprindo missões primárias ou secundárias. Até aí, nada de novo.
A grande inovação do título é a forma como ele constrói e apresenta suas mecânicas em volta da premissa do século e de como seria um jovem daquela época. Quer um exemplo? Henry começa o jogo analfabeto, sendo uma das sidequests levá-lo até um escriba para aprender a ler. Habilidade essa que, em algumas missões, pode levar a resoluções mais rápidas e menos sangrentas até.
Não é só nisso que nosso garoto é inapto, entretanto. Coisas simples como lutar, colher ervas, ter fôlego e até cavalgar são um grande desafio. De fato, por vezes até surpreenda que Henry consiga colocar um pé após o outro para andar em frente. Ainda que isso seja meio chato no começo, ver o crescimento das habilidades de nosso protagonista é algo bem legal.
Aliás, essas diferentes skills são outro ponto maneiro de Kingdom Come: Deliverance. Como visto em jogos mais antigos da série Elder Scrolls, como Oblivion, podemos melhorar uma série de ações através da repetição. Quer correr mais? Basta correr muito para criar mais fôlego. Precisa aprender a usar a espada melhor? Saia dando espadadas! Seja pela prática, seja pelo treinamento pago, sempre há algo para se aprimorar. O título conta com muita coisa para aprendermos, envolvendo até alquimia, cavalaria, caça e habilidade de treinar e ordenar cães.

O combate de Kingdom Come: Deliverance é muito louco no começo, mas até que se torna bem interessante conforme Henry se aperfeiçoa e aprende novas técnicas. Nele, selecionamos um entre 5 lados para dar um corte com a espada. Podemos segurar um botão para atacar, e selecionar qual lado acertar com o analógico. Movimentos como combos, fintas e estocadas também valem. O sistema é maneiro, mas seu uso é bem complexo no começo. O que, somado com a falta de jeito de Henry, pode vir a dar uma certa raiva.
Outro ponto interessante está em como nosso personagem se molda e interage com terceiros. Henry pode até ter um carisma alto, mas se apresentar para a nobreza sujo de terra e barro não vai ajudar em nada. Vai, na real, diminuir seus atributos. Contudo, tentar intimidar alguém quando se está dos pés até a cabeça coberto em sangue dos outros é bem mais fácil. Essas nuances são sensacionais.
Fora isso, alguns outros pontos atrapalham o esquema. Por todas suas mecânicas boas, Kingdom Come: Deliverance insiste em algumas que foram criadas para nos torturar e enlouquecer. Por exemplo, a de arrombar fechaduras pede certa destreza e controle que simplesmente não há como ser obtido, tal como é feito. Fora isso, o jogo tem um carregamento lento. Mas, devo dizer que ele funcionou bem demais de um ponto de vista técnico, sem bugs, crashes ou nenhum erro grave. Realmente impressionante.

Sons e visuais
Kingdom Come: Deliverance possui uma direção visual bem interessante, ainda que conte com texturas e modelos um pouco ultrapassados. Contudo, o que ganha muitos pontos para o título, ao menos em minha opinião, é sua atenção aos detalhes e pequenas coisas necessárias para criar uma atmosfera bem encorpada, facilitando muito a imersão do jogador. Embora eu não seja especialista para julgar, lembro de ter lido que a exatidão histórica foi um dos objetivos mais almejados e divulgados pela desenvolvedora.
A parte sonora também me agradou bastante, tanto dos efeitos quanto às vozes de personagens. Além disso, as músicas tocadas nas cidades são bem animadas e características do tipo de realidade que o jogo retrata, nos fazendo lembrar bastante daqueles filmes de cavaleiros de antigamente.

Vale a pena comprar Kingdom Come: Deliverance?
É tempo, ladies e lords. Será que Kingdom Come: Deliverance vale nosso suado dinheiro? E será que essa versão caiu como uma luva, ou como uma pedra, no nosso querido Switch? Bom, vamos recapitular tudo que vimos até o momento para tentar chegar à resposta dessa questão que nos assombra desde quando começaram a ler essa review.
Do lado dos sorrisos, Kingdom Come: Deliverance entrega uma boa experiência de RPG, principalmente pelas mecânicas e habilidades, ambientada em uma visão bem legal da vida no século XV. A atenção aos detalhes, tanto em visual quanto nas particularidades da interação jogador e jogo, também caiu muito bem. Das lágrimas, cito que o jogo é demorado a carregar, possui certa complexidade em mecânicas que podem afastar alguns jogadores e ficou devendo aquela legenda para a galera.
Ao fim e ao cabo, acredito que Kingdom Come: Deliverance seja um jogo muito bom, principalmente agora que podemos jogar onde quisermos sem maiores problemas. Ele tem conteúdo de sobra, bem executado, para nos manter grudados na tela por muito tempo. Ainda que ele seja menos receptivo que outros títulos do gênero, como Skyrim por exemplo, ainda reforço que vale a pena a experiência. Recomendadíssimo.
Kingdom Come: Deliverance – Royal Edition foi lançado para Nintendo Swtich no dia 15 de março de 2024, e está disponível por R$ 249,00 na Nintendo eShop. O game também está disponível para PlayStation 4, Xbox One, e PC, via Steam e Epic Games Store.
*Review elaborada no Nintendo Switch, com código fornecido pela PLAION.
Kingdom Come: Deliverance
BRL 249Prós
- Atenção aos detalhes históricos, dadas as liberdades, incrementam tanto visual quanto jogabilidade
- É muito legal ver o Henry se desenvolvendo, nos recompensando em melhoria por tudo que fazemos. A verdadeira jornada do herói
- Muito conteúdo para se explorar
- Funciona muito bem no Switch, inclusive no modo portátil
- Boa atmosfera facilita a imersão do jogador
Contras
- Algumas mecânicas, como de arrombar fechaduras, são uma tristeza
- Alguns carregamentos são mais lentos do que deveriam
- Faltou a legenda em PT-BR