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Pokémon Legends: Z-A – Nintendo Switch 2 Edition | Review

Quando Pokémon Legends: Arceus foi lançado em 2022, muita gente acreditou que aquele seria o início de uma nova era para a franquia. O formato de mundo semiaberto, o ritmo de exploração e a mistura de ação em tempo real com batalhas tradicionais mostravam que a Game Freak finalmente estava disposta a reinventar a fórmula. Três anos depois, Pokémon Legends: Z-A chega com uma proposta diferente: em vez de expandir horizontes, o jogo decide comprimir tudo em um único cenário: Lumiose City, a cidade símbolo de Pokémon X & Y.

Mas a grande questão é: será que essa escolha ousada de limitar a aventura a um único ambiente foi realmente bem-sucedida? Durante minhas mais de 40 horas jogando a versão para Nintendo Switch 2, percebi que Z-A tenta equilibrar nostalgia, experimentação e modernidade. O resultado é um título divertido e instigante, mas que também carrega uma série de decisões questionáveis que acabam pesando ao longo da jornada. Os detalhes eu trago agora, em mais uma review do Pizza Fria!

Uma cidade que nunca dorme

A narrativa de Pokémon Legends: Z-A começa de forma inusitada, mas logo se mostra mais simples do que aparenta. Diferente da maioria dos jogos da série, não somos um jovem que deixa sua cidade natal para se tornar um mestre Pokémon. Aqui, chegamos em Lumiose City sem saber quem somos, o que estamos fazendo ali ou por que fomos parar naquele lugar. Não há contexto inicial, não há mentores, ou nem mesmo um clássico rival.

Em pouco tempo, somos colocados diante da escolha do Pokémon inicial. Sem cerimônia, sem grandes justificativas, e de repente, somos praticamente “o escolhido”. Essa ascensão meteórica é um dos primeiros sinais de como Z-A flerta com uma narrativa mais fragmentada e até confusa. Passamos de um estranho perdido a um treinador lendário em questão de horas, e a história assume que isso é natural.

A trama gira em torno do Z-A Royale, um torneio oficial de Lumiose City que reúne os melhores treinadores para disputar posições em um ranking que vai da letra Z até a A. Cada classificação representa um degrau rumo ao topo, e a progressão do jogador está diretamente ligada a esses duelos. Durante o dia, exploramos a cidade e capturamos Pokémons nas chamadas Wild Zones, enquanto à noite participamos das Battle Zones, arenas onde os combates com outros treinadores acontecem e conquistamos os Challenger Tickets, itens que permitem desafiar aqueles que vão nos permitir subir no ranking.

Pokémon Legends: Z-A
Taunie é responsável por introduzir boa parte das mecânicas de Pokémon Legends: Z-A (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

O problema é que, apesar da estrutura parecer interessante no papel, a narrativa de Z-A frequentemente tropeça nas próprias ambições. A história tenta inserir temas “maduros” e inesperados, como menções a empréstimos com agiotas, uso excessivo de redes sociais e até problemas financeiros dentro da cidade, algo completamente fora do padrão da franquia. Esses elementos, embora curiosos, soam deslocados dentro do universo colorido e simbólico de Pokémon.

Lumiose City funciona como um grande palco para a trama, mas nunca saímos dela durante toda a jornada. Essa decisão de limitar o jogo a uma única cidade é ousada, e até inédita na franquia, mas também faz com que a narrativa pareça repetitiva e sem senso de progresso geográfico. Mesmo com alguns pontos de interesse, a cidade não muda drasticamente, e o enredo acaba se sustentando mais nos torneios do que em uma verdadeira jornada.

Apesar disso, há lampejos de boas ideias. As missões relacionadas aos Rogue Mega Evolution, Pokémons selvagens que conseguem megaevoluir sem o uso da pedra correspondente, trazem uma camada de mistério que dá fôlego à história. Esses momentos funcionam quase como batalhas contra chefes de RPGs clássicos, com Pokémons mais poderosos, barras de vida estendidas e estratégias diferenciadas. Infelizmente, são momentos isolados em um enredo que, no geral, carece de ritmo e profundidade.

Pokémon Legends: Z-A
Fui ofendido? (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Entre Wild Zones e batalhas: o peso da repetição

No aspecto de gameplay, Pokémon Legends: Z-A mantém parte das evoluções introduzidas em Arceus, mas com algumas mudanças que tentam modernizar a experiência. O sistema de combate segue em tempo real. Lançamos o Pokémon diretamente no ambiente e controlamos livremente, usando as habilidades específicas de cada Pokémon. Em batalhas contra Pokémon selvagens, ainda precisamos desviar nosso personagem de ataques, pois ser atingido por golpes dá tela preta e nos leva para o Poké Center mais próximo.

Esse sistema dá um ritmo muito mais dinâmico às batalhas. É possível errar um golpe por posicionamento incorreto ou por distância, e isso faz com que cada confronto seja mais ativo e tenso. A primeira vez que enfrentei um Rogue Mega Evolution, senti aquela mistura de empolgação e desespero típicas de chefes de RPG de ação, somada à boa trilha sonora. Algo que raramente senti em um jogo da franquia…

No entanto, nem tudo funciona com a mesma precisão. Embora o combate seja divertido, ele tende a se tornar repetitivo com o passar do tempo. Os Pokémons selvagens não apresentam muita variedade de comportamento, e as batalhas contra treinadores acabam se resumindo a variações do mesmo padrão. O jogo tenta compensar isso com o sistema de rankings, mas o excesso de lutas semelhantes faz com que essa progressão perca o brilho.

Pokémon Legends: Z-A
Atalho! (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Outro ponto que me chamou atenção foi o tutorial excessivamente longo. Nas minhas primeiras quatro horas de jogo, praticamente tudo que fiz foi seguir instruções sobre captura, batalhas, centros Pokémon e o funcionamento do Z-A Royale. Essa introdução detalhada é ótima para quem nunca tocou em um título da franquia, mas se torna cansativa para veteranos que já dominam essas mecânicas.

Em compensação, o jogo oferece uma boa variedade de missões secundárias, embora nem todas sejam inspiradas. Algumas são divertidas, como as de investigação ou de perseguição de Pokémons, enquanto outras soam forçadas, como a missão em que precisei ajudar uma garçonete a descobrir o melhor uso de sobras de comida, apenas para descobrir que o verdadeiro objetivo era batalhar com ela. Esse tipo de estrutura se repete com frequência: qualquer conflito, por menor que seja, é resolvido em uma batalha Pokémon.

Apesar das inconsistências, Z-A introduz um sistema de progressão interessante: o Mabel’s Research. À medida que realizamos tarefas secundárias, capturamos Pokémons específicos e cumprimos desafios, subimos de nível dentro dessa pesquisa, desbloqueando recompensas úteis, desde TMs até a cobiçada Master Ball, obtida apenas no nível 49. Esse sistema lembra o Research Tasks de Arceus, mas com foco em incentivos práticos para o combate.

No fim, o gameplay de Pokémon Legends: Z-A é uma mistura de boas ideias com execução irregular. A ação em tempo real traz fôlego à franquia, mas a falta de variedade nos desafios e a repetição das missões enfraquecem o impacto geral da experiência.

Pokémon Legends: Z-A
Vai mais uma batalha Pokémon aí? (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Lumiose brilha, mas sem deslumbrar

É aqui que a diferença entre o Nintendo Switch original e o Switch 2 realmente aparece. Em termos técnicos, o jogo roda de forma muito mais estável, com taxa de quadros próxima dos 60 FPS e tempos de carregamento bem reduzidos. As animações dos Pokémons são fluidas e o sistema de luz e sombra é mais consistente, especialmente durante batalhas noturnas nas Battle Zones.

No entanto, mesmo com essa melhoria de performance, é impossível ignorar que Pokémon Legends: Z-A fica aquém do potencial gráfico do Switch 2. Os modelos dos Pokémons estão bonitos, é verdade, mas os cenários de Lumiose City são extremamente repetitivos. Prédios idênticos, texturas genéricas e pouca diversidade visual (alô, janelinhas iguais!) tornam a cidade cansativa de explorar.

A própria verticalidade do mapa, que poderia ser um dos pontos altos, é mal aproveitada. Sim, podemos subir em telhados e alcançar novas áreas, mas raramente encontramos recompensas relevantes por explorar esses lugares. O design parece existir apenas por existir, sem propósito narrativo ou mecânico. É curioso perceber como Z-A é um jogo que tenta parecer grandioso dentro de um espaço limitado, mas esbarra em limitações estéticas que o impedem de brilhar.

Pokémon Legends: Z-A
Janelas falsas, bugs visuais… Z-A decepciona graficamente (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Outro ponto negativo é a ausência de localização em português, algo difícil de justificar em 2025, considerando que a Nintendo vem localizando outros títulos exclusivos. Isso é especialmente frustrante para o público brasileiro, que há anos pede uma localização digna para os jogos da série principal, e só recebemos em títulos mobile.

Ainda assim, é justo reconhecer que o desempenho técnico do jogo é sólido. Não encontrei bugs graves, travamentos ou quedas bruscas de frame rate. A trilha sonora, por sua vez, mantém o padrão de qualidade da franquia, com novas composições que mesclam temas urbanos e arranjos orquestrados. As músicas de batalha, em especial, são vibrantes e ajudam a sustentar o ritmo do gameplay.

Pokémon Legends: Z-A
Será que é bom? (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Mega Evoluções, velhos rostos e novas tentativas

Uma das coisas que mais me surpreendeu em Pokémon Legends: Z-A foi a quantidade de conteúdo secundário disponível. Mesmo sem sair de Lumiose City, o jogo tenta oferecer variedade através de 20 Wild Zones diferentes, liberadas gradualmente conforme avanço na história. Cada zona possui biomas distintos, ainda que visualmente parecidos, e Pokémons de tipos variados, o que incentiva a captura e a construção de times equilibrados.

Além disso, o título resgata com carinho o trio clássico de iniciais, Charmander, Squirtle e Bulbasaur, disponíveis através de missões secundárias. Foi nostálgico reencontrá-los em um contexto moderno e vê-los inseridos de forma orgânica na história.

Pokémon Legends: Z-A
Olá, velhos amigos (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

As Mega Evoluções voltam a ser protagonistas, tanto nas batalhas quanto no enredo. No início, é empolgante ver os Pokémons assumindo formas poderosas e visualmente impressionantes, mas, conforme a campanha avança, a presença constante de Mega Evoluídos se torna excessiva. Em determinado ponto, praticamente todos os treinadores de alto nível usam Mega Pokémons, e as batalhas passam a depender mais de resistência do que de estratégia.

Ainda assim, o sistema de Rogue Mega Evolution é um dos melhores acertos do jogo. Enfrentar esses Pokémons sem treinador, com comportamento agressivo e mecânicas de chefe, oferece alguns dos combates mais intensos da campanha. É nesses momentos que Z-A mostra seu potencial como um verdadeiro RPG de ação dentro do universo Pokémon.

Pokémon Legends: Z-A
Forte! (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Por outro lado, a estrutura de progressão do ranking Z-A Royale poderia ser mais bem aproveitada. A ideia de subir degrau por degrau é boa, mas o jogo corta caminhos em determinados pontos, fazendo com que a curva de dificuldade varie de forma estranha. Em vez de enfrentar 26 desafiantes, por exemplo, há momentos em que o enredo nos “promove” automaticamente, quebrando o senso de conquista.

Apesar dessas inconsistências, Pokémon Legends: Z-A oferece uma duração considerável. A campanha principal pode facilmente ultrapassar 40 horas, com mais de 100 missões secundárias e eventos opcionais espalhados por Lumiose City. Há também o modo foto, pequenas interações sociais e a possibilidade de personalizar o treinador com roupas e acessórios, ainda que o sistema de customização não seja tão robusto quanto em Scarlet & Violet.

Pokémon Legends: Z-A
Tomando um cafézinho com meu Charizard (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Vale a pena jogar Pokémon Legends: Z-A – Nintendo Switch 2 Edition?

Depois de mais de quarenta horas em Lumiose City, saio de Pokémon Legends: Z-A – Nintendo Switch 2 Edition com sentimentos mistos. É um jogo que ousa, mas nem sempre acerta. Tenta modernizar a fórmula da franquia, mas tropeça em decisões que limitam sua própria ambição.

O combate em tempo real é um passo na direção certa: dinâmico e envolvente e empolgante. A presença dos Rogue Mega Evolution dá nova vida às batalhas e oferece momentos genuinamente desafiadores. A performance estável no Switch 2 também mostra que a Game Freak finalmente aprendeu a otimizar seu motor gráfico, entregando um jogo tecnicamente sólido.

Por outro lado, a narrativa irregular, a repetição das missões e a falta de variedade de cenários impedem Z-A de atingir o mesmo impacto que Legends: Arceus teve em sua época. A ausência de localização em português é outro ponto que pesa, principalmente em um momento em que a Nintendo tenta se aproximar cada vez mais do público brasileiro.

Ainda assim, Pokémon Legends: Z-A consegue ser divertido e até viciante. Subir de ranking, capturar novos Pokémons e enfrentar os Mega Evoluídos continuam sendo atividades gratificantes, mesmo quando a repetição começa a cansar. É aquele tipo de jogo que não revoluciona a franquia, mas mantém o legado vivo, com pequenas inovações que certamente servirão de base para o futuro da série.

Em resumo, Z-A é um bom jogo Pokémon, mas não o grande salto que muitos esperavam. É um título que se apoia mais na nostalgia e na experimentação do que na consistência, e que provavelmente dividirá opiniões entre os fãs. Para mim, ele foi uma experiência sólida, com altos e baixos, mas que, como todo Pokémon, ainda consegue despertar aquele sentimento de descoberta que a franquia sempre proporcionou.

Pokémon Legends: Z-A está disponível em versões a partir de R$ 349,00 para Nintendo Switch 1 e 2, através da Nintendo eShop. O game estreou no dia 16 de outubro.

*Review elaborada no Nintendo Switch 2, com código fornecido pela Nintendo.

Pokémon Legends: Z-A – Nintendo Switch 2 Edition

BRL 439,90
7.5

História

7.0/10

Gráficos e Sons

7.5/10

Gameplay

8.0/10

Extras

7.5/10

Prós

  • Combate em tempo real
  • Boa performance no Switch 2
  • Rogue Mega Evolutions oferecem batalhas intensas e desafiadoras
  • Sistema Mabel’s Research
  • Trilha sonora marcante

Contras

  • Narrativa mal ritmada
  • Ambientação limitada apenas a Lumiose City
  • Missões e combates repetitivos
  • Visual artístico pobre e cenários reciclados
  • Sem legenda em português do Brasil

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.