Death Stranding 2: On the Beach | Review
Esperei muito por este jogo. Hideo Kojima e suas obras são acontecimentos enormes em minha vida. Com a chegada de Death Stranding 2: On the Beach, game exclusivo para PlayStation 5, esperei por muitas coisas e, incrivelmente, Kojima conseguiu me surpreender de formas que eu sentia falta nos jogos que joguei anteriormente (com exceção de The Alters, um baita jogão lançado neste ano). Esta análise traz consigo uma série de considerações sobre qualidade técnica, jogabilidade, gráficos e outras coisas, mas também traz diversas considerações que vão muito além.
O principal ponto, a meu ver, diz respeito a sua narrativa e a ideia das conexões feitas em um novo mundo pós-apocalíptico, algo que Kojima faz questão de nos trazer, com um olhar entre passado, presente e futuro. Com uma forma leve, um bocado insana em alguns momentos, mas sempre muito original, nosso lendário Kojima consegue trazer uma infinidade de referências da literatura mundial, da história global, da cultura pop e até mesmo de seus jogos anteriores, uma marca conhecida pelos fãs como as “kojimices”. Enfim, há muita coisa a ser dita sobre Death Stranding 2: On the Beach. Nesta análise antecipada, trarei todos os detalhes, mas sem spoilers! Confira a seguir!
Uma história de perdas, luto e recuperação
Muitas coisas da narrativa de Death Stranding 2: On the Beach já foram mostradas em takes dos trailers. Porém, só falarei mesmo do princípio, para NÃO DAR SPOILERS. Dando continuidade ao primeiro jogo, somos novamente convidados a mergulhar em um mundo devastado, onde a linha entre o real e o sobrenatural continua cada vez mais tênue, com diversas mudanças acontecendo no mundo. Ambientado principalmente na Austrália, Death Stranding 2: On the Beach se passa onze meses após os eventos do primeiro jogo, levando novamente Sam Porter Bridges a uma nova e angustiante missão: reconectar a humanidade e enfrentar uma ameaça que pode significar a extinção definitiva da espécie.
O mundo vive em um isolamento total, e nosso objetivo aqui é o de conectar a Austrália a Rede Quiral, uma espécie de internet ligada ao sobrenatural. O país da Oceania se tornou um novo palco para a luta entre os vivos, os mortos e inúmeras forças que estão além da compreensão humana. Enquanto Sam e seus velhos e novos companheiros atravessam desertos, montanhas enormes e diversas cidades em ruínas, Death Stranding 2: On the Beach explora de maneira ainda mais profunda e desafiadora os temas de isolamento, reconexão e sobrevivência, aprimorando boa parte do que foi visto em Death Stranding, em todos os sentidos.

Diante dessa busca pela conexão do mundo, uma das perguntas centrais da história é angustiante e provocadora: “Deveríamos ter nos conectado?”. Essa reflexão surge como resultado direto dos acontecimentos anteriores, questionando as consequências reais da reconstrução das conexões humanas por meio da Rede Quiral. Assim, a narrativa de Kojima nos convida a pensar sobre os limites da comunicação, da solidariedade e dos efeitos colaterais de tentar unir o que o mundo parece ter separado por motivos que vão além de qualquer entendimento após os eventos catastróficos do Death Stranding, em que milhões de pessoas morreram, mudando totalmente a dinâmica do mundo.
A pandemia e a mente de Hideo Kojima
A escolha de Kojima pelas questões tratadas em Death Stranding 2: On the Beach veio durante o período da pandemia da COVID-19. Isso é afirmado por ele mesmo, que havia iniciado o projeto deste jogo em 2020, mas foi obrigado a reformular o roteiro por conta de diversas limitações, como o isolamento social e diversas questões globais afetaram diretamente como nós mesmos nos conectávamos uns com os outros. Assim, Kojima reescreveu toda a história do zero para refletir as experiências humanas reais de desconexão, medo coletivo e a necessidade de restabelecer laços sociais num contexto tenso de incertezas e riscos constantes.
Essa escolha narrativa, ousada e fortemente marcada pelo contexto pandêmico, dá a Death Stranding 2 um caráter ainda mais existencialista e reflexivo, algo que já era bem perceptível no primeiro jogo. Assim como o primeiro jogo dialogava com a solidão e a esperança de recomeço, Death Stranding 2: On the Beach expande a discussão, apresentando dilemas morais sobre até que ponto o ser humano deve intervir na ordem natural das coisas para restaurar conexões ou criar novas. Com isso, o que é vivido em jogo vai bem além do mero entretenimento, não se limitando a mecânicas de entrega ou combate. Portanto, Death Stranding 2 é uma grande reflexão sobre os desafios da convivência humana em tempos difíceis.

Em minha modesta opinião, Hideo Kojima consegue acertar novamente na escolha de atores e em toda a maneira como a trama é desenrolada, tendo plots incríveis e cenas de tirar o fôlego, lembrando de combates insanos da franquia Metal Gear. Ele inclusive faz referências, em alguns momentos, ao seu último jogo com a Konami, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain. Talvez com um tom de ironia, ou mostrando o que essa franquia incrível poderia ter sido se a Konami não tivesse o demitido. Enfim, Death Stranding 2: On the Beach é um jogo sensível e divertido, mostrando o que uma boa narrativa consegue fazer, misturando uma série de referências do mundo.
Um mundo aberto mais dinâmico e desafiador
A estrutura de mundo aberto de Death Stranding 2 permanece como um dos pilares fundamentais da jogabilidade. Desta vez, a ação se passa principalmente na Austrália e no México, oferecendo cenários diversos, vastos e com biomas variados. Com isso, Sam Porter Bridges, que embarca em uma nova expedição com a DHV Magalhães (uma clara referência aos seus Metal Gears) e sua equipe, buscando conectar comunidades isoladas por meio da Rede Quiral. A liberdade de exploração é ainda mais ampla, nos permitindo traçar rotas alternativas, enfrentar desafios naturais do terreno e encontrar formas criativas de concluir nossas inúmeras entregas.
O ambiente apresentado em Death Stranding 2: On the Beach é ainda mais vivo, algo que achei incrível, sobretudo por trazer diversos eventos climáticos como terremotos, tempestades de areia, enchentes e outras catástrofes naturais que alteram bastante o terreno em tempo real. Com isso, temos que nos adaptar aos desafios que vão acontecendo com o tempo, sendo esta questão da jogabilidade diretamente ligada ao caos do mundo atual, os efeitos climáticos do consumo humano. Além disso, novas áreas anteriormente inacessíveis podem ser abertas após esses eventos, ampliando o mapa e revelando novas oportunidades de exploração e conexão, que dão uma sobrevida interessante ao jogo.

Veículos, transportes e estruturas também foram aprimorados
Uma das grandes novidades apresentadas em Death Stranding 2 é o novo sistema de veículos. Agora, poderemos acessar diferentes tipos de transporte logo nas primeiras horas de jogo, algo que foi bem criticado no título original. Além disso, os veículos podem ser ainda mais personalizados, tendo uma variedade de melhorias, incluindo baterias adicionais para maior autonomia, torres de armas para defesa, compartimentos extras para carga e muito mais.
Já o sistema de construção, um dos grandes marcos trazidos pela franquia, também foi expandido. Além de reconstruir estradas e pontes, agora poderemos também recuperar um sistema de monotrilhos que conecta as colônias distantes. Essa infraestrutura permite transportar grandes quantidades de carga de forma rápida, oferecendo uma nova dimensão logística ao gameplay. Com as estradas e monotrilhos servindo para transportar cargas e até mesmo nosso protagonista, vale ressaltar também que a própria DHV Magalhães serve como uma plataforma de viagem rápida, mudando assim a dinâmica de viagem observada no primeiro jogo, o que é excelente.

Combates estão reformulados e surge uma “árvore de aprimoramentos”
Enquanto o primeiro Death Stranding tinha um foco muito maior em evasão e stealth, nos fazendo evitar ao máximo o combate, sobretudo por conta dos riscos de obliteração ao matar os inimigos e não os descartar da maneira correta, Death Stranding 2: On the Beach já nos incentiva a lutar, oferecendo um sistema mais robusto e variado, com muitas armas e opções. Ou seja, agora Sam pode optar, sem medo de obliterações, por confrontos diretos contra inimigos humanos, robôs e criaturas sobrenaturais. Mas, tal como em Metal Gear, é possível e bem útil até, usar a furtividade para evitar detecções, já que os inimigos estão mais espertos.
Sobre as armas e ferramentas apresentadas neste novo título, Kojima nos deu um verdadeiro arsenal de oportunidades. Além das armas convencionais, Sam agora conta com dispositivos que podem atrair ou distrair inimigos, criando novas oportunidades para emboscadas ou fugas rápidas, lembrando… sim, Metal Gear. Outro detalhe relevante diz respeito a nossa interação com os ambientes de forma mais tática, utilizando obstáculos naturais ao longo dos combates com muitos inimigos. Por fim, o ciclo de dia e noite, uma mecânica bem interessante, influencia totalmente o comportamento dos inimigos. Durante a noite, por exemplo, as EPs se tornam mais agressivas, nos exigindo mais cautela.

Uma grande novidade de Death Stranding 2: On the Beach, é o Automated Porter Assistant System (APAS), que funciona como uma espécie de árvore de habilidades para nosso amado portador. Com ela, podemos escolher entre três categorias para aprimorar Sam: combate, furtividade e serviços de entrega. Cada ação realizada por nós contribui para o desenvolvimento das habilidades, que se mostraram bem úteis. Portanto, quanto mais entregas realizadas, melhor será a capacidade de Sam em carregar cargas pesadas ou manter o equilíbrio em terrenos difíceis. O mesmo vale para as habilidades de combate e furtividade, que evoluem conforme encaramos novos desafios.
Por último, mas não menos importante, a customização de Sam está muito mais profunda em Death Stranding 2: On the Beach. Nosso protagonista agora pode melhorar seus equipamentos com módulos adicionais, além de Kojima trazer novamente um aspecto conhecido de Metal Gear, em que podemos desbloquear diferentes tipos de trajes, que servem para camuflagens ou vantagens contra alguns inimigos, bem como ferramentas, pingentes e outros apetrechos que nos oferecem vantagens específicas para cada tipo de missão. Com essa série de novidades, Kojima consegue reformular a jogabilidade de Death Stranding 2 sem perder de vista a proposta do jogo.

Novos inimigos e alguns velhos conhecidos
A variedade de inimigos foi significativamente ampliada e refinada em Death Stranding 2, trazendo desafios distintos que exigem estratégias variadas por parte dos jogadores. Os MULAs, conhecidos do primeiro jogo, continuam sendo humanos obcecados por cargas, mas agora um pouquinho mais espertos, com patrulhas coordenadas, câmeras de vigilância e veículos de perseguição. No entanto, agora eles usam armas não letais de longo alcance e criam emboscadas que exigem que o jogador escolha entre confrontos diretos, evasão ou o uso de distrações táticas. Já adianto que não é fácil lutar com muitos inimigos, já que Sam pode perder seus itens caso seja morto.
Já os robôs, se é que posso chamá-los assim, são uma das principais novidades e representam um perigo extra na jornada de Sam. Com blindagem reforçada e grande resistência a ataques convencionais, eles exigem o uso de armamentos pesados, explosivos ou golpes elétricos. Suas rotinas de patrulha são mais previsíveis, mas a força e a capacidade de causar dano em área os tornam inimigos letais, sobretudo em bando. Eles estão frequentemente posicionados para proteger zonas estratégicas ou caçar sobreviventes em áreas específicas do mapa, exigindo abordagem mais cuidadosa.

Por último, as EPs, ou Entidades de Praia, permanecem como as ameaças mais imprevisíveis e aterrorizantes, com comportamento ainda mais errático e agressivo durante a noite. Suas novas habilidades, divididas em novas categorias de EPs, incluem camuflagem e ataques que manipulam o ambiente ao redor, criando emboscadas que desafiam a percepção do jogador. O ciclo de dia e noite influencia diretamente a frequência e o comportamento desses inimigos, exigindo constante adaptação. O jogo reforça a importância de analisar o terreno e escolher bem os equipamentos antes de se aventurar em regiões dominadas por cada tipo de ameaça. No entanto, se estivermos motorizados, é bem fácil evitá-las.
Com os aprimoramentos nos MULAs e nas EPs, bem como na adição de robôs insanos, Death Stranding 2 amplia as ameaças do primeiro, nos obrigando a considerar diferentes tipos de armamentos para lidar com cada uma dessas situações, sendo este mais um detalhes a ser levado em conta ao longo das entregas. Com isso, Kojima traz um bocado a mais de ação para um jogo que era criticado por alguns como um jogo de pouca ação.

Vamos falar de qualidade audiovisual?
Como uma amiga havia comentado, “Kojima inventou os gráficos 2.0”. E não é exagero… Death Stranding 2: On the Beach, traz o que pode ser considerado como o ápice gráfico desta geração. O motor gráfico, Decima, o mesmo utilizado no primeiro título, está ainda mais incrível, trazendo visuais ainda mais bonitos e realistas, algo que traz ainda mais profundidade para as loucuras narrativas de Hideo Kojima. Em muitas cenas, conseguimos perceber o grau de detalhamento e entrega dos atores envolvidos no projeto, fazendo de Death Stranding 2 como algo bem próximo a um filme. É legal demais poder ver isso e jogar em um PS5 sem ter preocupações com queda de frames ou bugs. O jogo está perfeitinho.
E está tão redondo, que a dublagem original do jogo também está excelente, mantendo o nível de cuidado do primeiro título. Falando nisso, preciso destacar também o show que a dublagem em português brasileiro apresenta, tornando toda a experiência de Death Stranding 2 em algo ainda muito mais acessível para o público brasileiro. Além disso, os efeitos sonoros como tiros de armas, barulhos de animais e outros detalhes foram muito bem produzidos, complementando assim todo esse ambiente vivo e caótico de um mundo dividido, mas cheio de esperança.

Vale a pena jogar Death Stranding 2: On the Beach?
Sendo bem sincero, Death Stranding 2: On the Beach é um dos jogos mais impactantes que tive o prazer de experimentar nos últimos anos, confirmando a primazia narrativa e técnica de Hideo Kojima que, mais uma vez, conseguiu entregar uma obra de arte que vai muito além de um simples produto de entretenimento. Death Stranding 2 é uma verdadeira experiência sensorial e emocional que conversa diretamente conosco e o mundo ao nosso redor, desafiando nossas percepções sobre conexão, isolamento e o verdadeiro significado de reconstruir laços em tempos difíceis. E tudo isso em mais de 50 horas intensas de jogo.
Desde os primeiros momentos, fica extremamente nítido para nós, jogadores e jogadoras, que cada detalhe do jogo foi muito bem pensado, desde a sua narrativa profundamente intensa e reflexiva, até as mecânicas aprimoradas e apresentadas que, desta vez, oferecem ainda mais liberdade, dinamismo e possibilidades estratégicas para passar pela adversidades deste mundo que vive entre os vivos e os mortos. Aliás, o único problema que vi em Death Stranding 2, que nem é mesmo um problema, mas uma sensação, foi a facilidade de fugir de lutas contra EPs, algo que poderia ser um pouco mais dificultado, nos obrigando a pensar melhor antes de agir. Fora esse detalhe ínfimo, tudo está impecável!
O que mais me impressionou nesta aventura foi a capacidade que Kojima tem de olhar para o mundo real e, a partir disso, construir universos que dialogam diretamente com as nossas emoções mais humanas. Felizmente, em Death Stranding 2, essa habilidade atinge um novo patamar, ainda mais aproximado das questões globais de uma humanidade cada vez mais exposta a uma possível extinção. A história, fortemente marcada pelas vivências e pelos medos coletivos da pandemia da COVID-19, não apenas emociona, mas também provoca uma reflexão importante sobre os rumos da humanidade, sobre como nos conectamos e como lidamos com a solidão, o luto e a luta para recomeçar.
Além disso, todos os elementos técnicos do jogo se unem para reforçar a grandiosidade da experiência, que não se resume apenas aos aspectos narrativos. O salto gráfico, o aprimoramento das mecânicas de combate, a ampliação das possibilidades logísticas e o cuidado com a ambientação total do jogo tornam cada segundo de gameplay um espetáculo à parte. E mesmo com toda a densidade emocional que a história carrega, Death Stranding 2: On the Beach consegue ser leve, divertido e incrivelmente criativo em vários momentos, mantendo aquele humor sutil e as famosas “kojimices” que nós, fãs, tanto amamos e esperamos.
No fim das contas, a sensação que fica é a de que estamos diante de uma obra que marca não apenas esta geração de consoles, mas também um novo capítulo na carreira de Hideo Kojima e na história dos videogames como um grande meio de expressão artística. Por fim, Death Stranding 2: On the Beach é mais do que um jogo: é uma jornada sobre humanidade, escolhas e a eterna busca por conexão em um mundo que insiste em nos dividir e vale a pena ser jogado por todas e todos, sendo uma excelente fuga de títulos competitivos e/ou estressantes.
Muito obrigado, Hideo Kojima, por me proporcionar mais uma aventura inesquecível. Termino Death Stranding 2 com um calor no coração e com um pouquinho de esperança de um futuro melhor graças a você.
*Review elaborada na versão de Playstation 5, com código fornecido pela PlayStation.
Death Stranding 2: On the Beach
R$ 349,90Prós
- Uma história profunda, emocionante e cheia de desafios
- Muito bem localizado para português brasileiro
- Novo sistema de combate aumenta a emoção do jogo
- Mundo aberto ainda mais vivo e dinâmico, com eventos em tempo real
- Evolução significativa nas mecânicas de entrega e construção
Contras
- Fugir das EPs está mais fácil