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Gaucho and the Grassland | Review

Com o enorme sucesso de Mullet MadJack, confesso que fiquei curioso para conferir Gaucho and the Grassland, mesmo não sendo exatamente um entusiasta do gênero de fazenda e crafting. No jogo da Epopeia Games, lançado para PC via Steam, a premissa me chamava atenção: um protagonista inspirado na figura do gaúcho sul-americano, cenários que remetem aos pampas e um toque de fantasia folclórica para temperar a jornada.

Essa promessa de misturar elementos de exploração, ajuda comunitária e customização de fazenda parecia interessante, especialmente sob uma ótica cultural pouco explorada nos games. Com tudo isso em mente, montei no meu cavalo digital e parti rumo às campinas. O resultado da viagem, porém, foi bem diferente do que eu esperava… Sendo assim, confira a review a seguir sobre o Gaucho and the Grassland!

Uma história simples e sem graça

A história de Gaucho and the Grassland começa com uma premissa que até poderia render algo cativante: um protagonista cansado da vida urbana decide retornar às suas raízes no interior do Rio Grande do Sul, sendo magicamente transformado em um gaúcho lendário após herdar o chapéu do pai e as terras de seu pai. Teoricamente, parece o ponto de partida ideal para uma jornada emocionante, repleta de simbologia e descobertas pessoais. Na prática, porém, o enredo se desenvolve rasamente, sem explorar a fundo os elementos culturais que poderiam torná-lo único. A fantasia do gaúcho mítico se perde em diálogos sem brilho e uma progressão narrativa previsível, onde a motivação do personagem é raramente sentida de forma genuína.

A estrutura da história também contribui para essa sensação de superficialidade. Nem os personagens secundários salvam. Apesar de visualmente distintos, eles não passam de meros ganchos para missões. Portanto, não há histórias pessoais marcantes, nem construção de laços com o protagonista. Até mesmo os momentos que envolvem os guardiões, que deveriam carregar algum peso mítico ou emocional, acabam funcionando somente como checkpoints estéticos. No fim das contas, a narrativa de Gaucho and the Grassland parece mais uma colagem de boas ideias mal desenvolvidas do que uma história minimamente coesa e memorável.

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Um mundo bem diferente, pena que sem graça. (Imagem: Divulgação)

Jogabilidade repetitiva e sem desafios

Eu sou muito fã de jogos brasileiros, sobretudo pelo cenário aqui ser pouco propício, e a galera conseguir criar coisas realmente grandiosas. Por conta disso, pensei que Gaucho and the Grassland traria um bom pedaço da história dos gaúchos e, de certa forma, das próprias criaturas do folclore brasileiro. Porém, a coisa foi um bocado decepcionante. Eu explico… Logo nas primeiras horas, fica claro que o jogo aposta em uma estrutura cíclica e previsível. A fórmula se repete sempre: você chega em uma nova região, descobre haver um labirinto central protegido por um monstro e, antes de qualquer ação mais ampla, é obrigado a completar pelo menos sete tarefas para auxiliar os moradores locais.

Tudo parece um bom pretexto para criar conexões com os personagens e explorar o cenário, mas o resultado é desanimador. As missões, em sua maioria, soam como obrigações banais. Cada tarefa parece existir somente para preencher os espaços vagos, o que é bem entediante. Além disso, a história é completamente sem sal, algo que acaba tirando um pouco da profundidade de Gaucho and the Grassland.

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Tarefas são muito banais. (Imagem: Divulgação)

Em Gaucho and the Grassland, a sensação é de estar preso em um eterno simulador de tarefas simplistas. Você não se sente um herói mítico nem um gaúcho nos pampas. Você se sente um estagiário do campo, incumbido de resolver pepinos que ninguém quis assumir. As atividades não evoluem, não progridem no nível de complexidade e nem são acompanhadas de uma narrativa envolvente. Cada missão parece um eco da anterior, com pequenas variações estéticas e nenhum real desafio. A estrutura engessada de “ajude sete pessoas e desbloqueie o labirinto” se repete sempre, não tendo uma melhora nas coisas.

Um dos exemplos mais frustrantes de Gaucho and the Grassland envolve Cusco, o cachorro companheiro do protagonista. Há uma missão recorrente em que ele precisa cavar buracos para encontrar bilhetes perdidos. Parece legal, mas a execução é desastrosa. A animação é lenta e, como tudo no jogo, acaba sendo repetitiva. Com isso, toda a minha animação de jogar se esvaiu. Entendo que existe a proposta é a de ser um cozy game, mas nem isso justifica o marasmo presente aqui.

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As tarefas são pouco recompensadoras. (Imagem: Divulgação)

Um mundo de papelão

Ao olhar para o visual de Gaucho and the Grassland e sua proposta inicial, é natural esperar que o game ofereça uma experiência de fazenda robusta, com cultivo, gerenciamento de recursos, expansão de território e cuidado com os animais. Só que, infelizmente, tudo isso está lá só de enfeite. O sistema de crafting e coleta até aparece com frequência nas tarefas, mas não existe uma lógica de progressão que valorize o investimento do jogador nesse aspecto. Construir galpões, trazer animais para o celeiro ou decorar sua fazenda acaba sendo algo quase simbólico, com impacto mínimo ou inexistente na gameplay principal. Não tem sensação de recompensa em nada disso.

Você pode até se animar um pouco com a ideia de personalizar sua base, plantar, coletar recursos e cuidar da terra, mas o jogo não oferece nenhum estímulo real para isso. Não há retorno prático, nem estético significativo. É como se o jogo mostrasse que tem um sistema de fazenda aqui, mas logo em seguida mudasse radicalmente, mostrando que não precisamos nos importar com ele. Ou seja, o que era para ser o coração do gênero é deixado de lado, e o que sobra é um conjunto de possibilidades pouco exploradas, sem profundidade ou recompensa. Para quem esperava mergulhar em uma experiência de farming, é um grande banho de água fria.

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Os gráficos até que são agradáveis. (Imagem: Divulgação)

Esse desencontro entre expectativa e realidade gera uma frustração que se acumula a cada missão genérica. Você entra no jogo achando que vai viver o cotidiano de um gaúcho herdeiro de tradições e terras, mas sai com a sensação de que foi convocado para uma colônia de férias.

Um vislumbre de brilho… tarde demais

Apesar de tantos tropeços, Gaucho and the Grassland até tenta entregar algo divertido, só que faz isso tarde demais. As seções finais, quando você finalmente pode acessar os labirintos e confrontar os monstros, mudam bastante a estética do jogo. As regiões dos guardiões são muito mais vivas, psicodélicas e visualmente estimulantes, quase como se outro time de design tivesse assumido o projeto de última hora. A trilha sonora também brilha mais nesses momentos, criando uma ambientação mais tensa, típica de chefões. De fato, o clímax sonoro da sequência final é um dos poucos momentos em que o jogo realmente tenta emocionar. Pena que o gameplay ainda não acompanha a mesma intensidade…

O problema é que esse sopro de criatividade vem depois de horas de tarefas repetitivas e exploração sem graça. Quando o jogo finalmente mostra que poderia ter sido mais ousado, você já está cansado de pedir para o Cusco cavar ou de correr atrás de galinhas perdidas. É como se o brilho tivesse ficado guardado para um momento que já não consegue mais apagar o gosto morno do percurso.

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Os personagens não tem muita profundidade, infelizmente. (Imagem: Divulgação)

Outro ponto que poderia ter sido melhor aproveitado são os personagens. Embora visualmente distintos e com personalidades caricatas, eles não conseguem passar carisma ou criar vínculo com o jogador. São meros pontos de entrega de missão, desprovidos de qualquer profundidade, sem diálogos marcantes ou histórias que ampliem o universo de Gaucho and the Grassland . Eles parecem existir somente para cumprir tabela, e isso enfraquece ainda mais a construção do mundo, que já é rasa por si só. E olha, isso é desanimador.

Vale a pena jogar Gaucho and the Grassland?

Gaucho and the Grassland é um jogo que até carrega boas ideias, mas não consegue executá-las de maneira convincente. A ambientação inspirada na cultura dos pampas sul-americanos, a proposta de misturar crafting com aventura e a tentativa de trazer um herói folclórico para o centro da narrativa poderiam render uma experiência incrível, ressaltando parte da cultura brasileira. No entanto, o resultado final é um jogo sem fôlego, que insiste em na repetição de tarefas simples e deixa suas melhores mecânicas de lado.

A trilha sonora, o visual dos labirintos e a movimentação suave com o cavalo até tentam segurar as pontas, mas não são suficientes para compensar uma estrutura de jogo que parece ter sido montada às pressas. O resultado é um título que não sabe bem o que quer ser: não é um bom simulador de fazenda, não é uma aventura empolgante, e tampouco um sandbox relaxante. Fica no meio do caminho e acaba tropeçando nos próprios estribos.

Se a sua ideia é passar algumas horinhas em uma experiência simples e sem grandes pretensões, talvez Gaucho and the Grassland funcione como um passatempo ok, sobretudo por ser um jogo brasileiro e ter um bocadinho de nossa cultura. Mas se você procura profundidade, polimento e algo que realmente te envolva, melhor deixar esse chapéu no armário e buscar outra fazenda para cuidar…

*Review feita em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Epopeia Games.

Gaucho and the Grassland

R$ 50,99
5.9

História

5.0/10

Jogabilidade

6.0/10

Gráficos e sons

7.0/10

Extras

5.5/10

Prós

  • Trilha sonora agradável
  • Ambientação e gráficos culturalmente interessantes

Contras

  • Narrativa rasa e repetitiva
  • Missões genéricas, repetitivas e cansativas
  • Falta de profundidade no sistema de fazenda
  • Ausência de desafio e evolução

Álvaro Saluan

Completamente apaixonado por videogames, escreve e pesquisa sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte. Vai dos jogos de esporte aos RPGs tranquilamente, admirando cada experiência. Seu maior ídolo dos jogos é Hideo Kojima.