PRIM | Review
PRIM é um jogo de aventura point & click no qual os jogadores assumem o papel de Prim, filha da Morte. Após o falecimento de sua mãe, Prim se vê sob a tutela de seu pai sombrio, precisando se adaptar à vida no submundo, rodeada por criaturas das trevas. Em meio a aventuras inusitadas, a jovem também tenta construir um relacionamento saudável com seu pai, uma figura distante.
Prometendo uma jornada sombria e com uma boa dose de humor, será que PRIM entrega uma experiência envolvente e que vale a pena? Descubra agora em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!
Um novo lar no Reino dos mortos
A trama de PRIM tem início com a Morte e sua companheira trocando as últimas palavras em um momento de despedida. Ao perceber que a hora dela chegou, a mãe de Prim pede que o Ceifador assuma a guarda de sua filha, tarefa que ele hesita em aceitar, pois o Reino dos Mortos é um lugar cheio de perigos. No entanto, apesar da inexperiência como pai, ele decide cumprir a promessa.
Logo após essa introdução, conhecemos Prim, uma jovem de espírito rebelde, ainda em luto pela perda da mãe. Ela e seu melhor amigo decidem explorar o porão da casa de sua falecida mãe, em busca de algum objeto que guarde uma lembrança ou talvez um segredo escondido. Acidentalmente, Prim acaba abrindo um portal para o submundo, revelando seu pai, a Morte em pessoa. Ele, então, decide assumir sua responsabilidade e leva Prim para viver com ele no Reino dos Mortos.
Naturalmente, Prim não aceita essa nova realidade de bom grado e entra em conflito com o pai, jurando que tentará escapar. A partir daí, a narrativa se desenrola, com Prim enfrentando o desafio de se adaptar ao novo ambiente do submundo, construindo relações com as estranhas e sombrias criaturas desse mundo e, ao mesmo tempo, tentando encontrar algum tipo de conexão familiar com seu pai.
A narrativa desenvolve muito bem os personagens
A narrativa de PRIM destaca-se pelo desenvolvimento cuidadoso dos personagens e pela maneira como aborda temas profundos, envoltos em um cenário sombrio com toques de humor. Um dos grandes méritos do jogo é conseguir tratar de questões relevantes para o jogador, como luto, adaptação a ambientes desconhecidos e a construção de relações familiares. Embora o enredo se passe no mundo dos mortos, essas temáticas ganham um peso emocional significativo, permitindo que os personagens cresçam e evoluam ao longo da campanha.
Prim, por exemplo, começa a história com um espírito rebelde, resistente a mudanças e avessa a ouvir conselhos alheios. No entanto, conforme a narrativa avança, ela se torna mais receptiva, fortalecendo suas relações com as criaturas e personagens ao seu redor. O game, assim, ilustra bem o conceito de adaptação, mostrando como o submundo, inicialmente hostil para a protagonista, aos poucos se torna um local onde ela pode construir novos laços, e até mesmo um lar.
Outro ponto de destaque é a alternância de perspectivas entre os personagens. Embora grande parte da história seja contada através dos olhos de Prim, o título permite que os jogadores assumam o papel de outros personagens, como o melhor amigo dela, que acredita que Prim está desaparecida. Essa alternância enriquece a narrativa, fornecendo diferentes pontos de vista sobre os acontecimentos e destacando a evolução emocional de cada personagem, seja para o bem ou para o mal.
No entanto, PRIM tem suas falhas na forma como utiliza o sistema de diálogos. Em várias interações, o jogo oferece escolhas que, na prática, acabam não impactando significativamente o rumo das conversas, levando sempre ao mesmo desfecho. Esse aspecto poderia ser melhor explorado, permitindo que as escolhas de diálogo realmente criassem variações nas interações e incentivassem o jogador a refletir sobre suas respostas. Apesar desse ponto negativo, a narrativa ainda se mantém envolvente, com uma atmosfera sombria e reflexiva, enriquecida por objetos interativos espalhados pelos cenários, que oferecem contexto adicional e ajudam a expandir o mundo do jogo.
Uma excelente aventura point & click
No que diz respeito à jogabilidade, PRIM segue o modelo clássico dos jogos de aventura point & click, onde o jogador explora cenários, interage com objetos e conversa com personagens. Ao clicar em objetos, os personagens fazem comentários que muitas vezes servem como pistas para resolver os enigmas. O sistema de inventário também é bastante tradicional, permitindo que o jogador combine itens e os utilize para avançar na história.
Um exemplo claro dessa mecânica ocorre no início do jogo, quando Prim precisa escapar do quarto onde está confinada. Nesse trecho, o jogador deve encontrar uma forma de cortar a teia de uma aranha do submundo, que oferece ajuda. O desafio envolve explorar o ambiente à procura de itens, como uma mini foice e um braço quebrado, que, quando combinados, permitem realizar a tarefa. Esse quebra-cabeça não só requer várias etapas para ser resolvido, mas também oferece uma sensação de progressão lógica, desafiando o jogador a pensar.
O jogo se destaca ainda mais ao introduzir puzzles progressivamente mais complexos. Um exemplo é o momento em que o jogador precisa controlar a aranha para recuperar uma chave para Prim, adicionando novas camadas aos desafios. A variação nos quebra-cabeças e nos personagens jogáveis mantém a campanha sempre interessante, evitando que a experiência se torne monótona.
Uma grandiosa atmosfera gótica e sombria
Os gráficos e a direção artística de PRIM são uma de suas grandes qualidades, claramente inspirados pelo estilo icônico de filmes de Tim Burton e pela estética sombria da Família Addams. O jogo constrói uma atmosfera gótica excepcional, com a arte desenhada a mão inteiramente em preto e branco. Esse estilo artístico não apenas complementa a narrativa, como também amplifica o tom obscuro e misterioso da aventura.
O uso inteligente das sombras é outro ponto alto, sendo uma ferramenta essencial para criar profundidade e destacar o ambiente sombrio apresentado em PRIM. Desde os galhos retorcidos nas florestas até os cantos escuros dos cômodos de pedra e madeira na casa de Prim no submundo, cada detalhe transmite a intenção gótica que o jogo busca. O design dos personagens também reflete esse estilo de forma magistral, com figuras estilizadas que se integram perfeitamente à estética dark e melancólica.
Além disso, um ponto surpreendente em PRIM é a variação de cenários. Embora o jogador explore um ambiente de cada vez, a diversidade visual entre o Reino dos Mortos e o mundo dos vivos é notável, criando um contraste interessante. Os objetos e cenários no submundo muitas vezes apresentam um toque surrealista, desafiando a percepção do jogador sobre o que é real ou ilusório. Esse aspecto se destaca particularmente nos minigames, nos quais o jogador compete contra outro personagem por informações, explorando ainda mais a peculiaridade desses ambientes.
Trilha sonora e desempenho
A trilha sonora de PRIM foi gravada pela renomada Film Orchestra Babelsberg, e sem dúvida é um dos aspectos mais impressionantes do jogo. As composições, que acompanham o jogador ao longo da campanha, são voltadas para criar uma atmosfera de mistério e serenidade, reforçando o tom sombrio e místico durante a exploração. Embora as faixas se tornem um pouco repetitivas na reta final, no geral, a trilha se integra muito bem à experiência do jogo, elevando a ambientação com melodias envolventes.
Outro ponto de destaque é a dublagem, que traz atuações competentes e emocionantes, adicionando profundidade aos personagens. A presença de legendas em português do Brasil também é outro aspecto positivo.
Em relação ao desempenho, minha experiência foi no PC, equipado com uma RTX 3060. O game é super leve, com os FPS chegando aos absurdos 300 FPS na maioria das cenas, mesmo com a resolução em 1440p. Além disso, não tive problemas envolvendo travamentos e nem bugs.
Vale a pena comprar PRIM?
PRIM oferece uma narrativa envolvente, capaz de cativar jogadores ao abordar temas humanos profundos, mesmo em meio a um mundo fantasioso e sombrio. A história, repleta de emoções, humor e personagens cativantes, surpreende ao entregar um arco emocional que ressoa com experiências reais de adaptação, luto e relações familiares. A jogabilidade variada, que oferece novos desafios em cada fase, mantém a experiência cativante.
Embora o título tenha algumas falhas, como a repetição das faixas musicais no final da campanha, a trilha sonora, em sua maior parte, encaixa perfeitamente com os visuais desenhados à mão, criando uma atmosfera impressionante e imersiva. PRIM é um jogo que eu recomendo fortemente para os fãs de aventuras point & click, e sem dúvida se destaca como um dos melhores do gênero.
PRIM foi desenvolvido pela Common Colors, publicado pela Application Systems Heidelberg, e chega nesta quinta-feira, 24, para PC, via Steam.
*Review elaborada em um PC equipado com uma Geforce RTX, com código fornecido pela Application Systems Heidelberg.
PRIM
Prós
- A história é muito boa e faz o jogador refletir sobre vários aspectos da vida como luto e aceitação
- O visual sombrio e gótico é um grande acerto
- Excelentes puzzles que se tornam mais desafiadores ao decorrer da campanha
- Legendas em PT-BR
Contras
- Sistema de escolhas de diálogos que não faz muito sentido
- A trilha sonora se torna repetitiva na reta final