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The Precinct | Review

Desde seu primeiro anúncio, The Precinct gerou expectativas entre os fãs de jogos de mundo aberto e simulação policial. A proposta da Fallen Tree Games, com publicação da Kwalee, era ambiciosa: entregar um sandbox de ação neon-noir ambientado nos anos 1980, que misturasse investigação, patrulhamento e intensa ação de perseguições e tiroteios. Como uma perspectiva invertida dos Grand Theft Auto clássicos, a ideia parecia promissora.

Chegando nesta terça-feira, 13 de maio, para PC e consoles, The Precinct era quase uma promessa de ser um tributo aos filmes policiais clássicos. Testamos a versão de PlayStation 5 Pro e, embora o título ofereça momentos interessantes, sua execução deixa muito a desejar. Os detalhes eu te conto agora, em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Uma trama rasa sob as luzes de néon

Em The Precinct, o jogador encarna Nick Cordell Jr., um policial novato que acaba de sair da academia e é designado para trabalhar nas ruas de Averno City, uma metrópole fictícia localizada na costa leste dos Estados Unidos, nos anos 1980. A cidade é apresentada de forma vibrante e detalhada, com locais variados, desde centros urbanos populosos, até locais industriais.

A trama principal gira em torno da busca de Nick por respostas (de uma pergunta que ele ainda não havia feito) sobre a morte de seu pai, o antigo chefe de polícia de Averno. Um suposto “justiceiro” começa a agir na cidade, chamando a atenção de Nick, e seu envolvimento vai se aprofundando à medida que ele descobre que as coisas podem estar ligadas ao seu passado. Embora o início da narrativa seja intrigante, com uma atmosfera que remete a clássicos como Blade Runner e Miami Vice, o roteiro rapidamente se torna superficial. Não há um desenvolvimento mais profundo do protagonista, muito porque todo o nosso gameplay acontece envolvendo o trabalho de Nick como policial.

The Precinct
Provocações rasas tentam criar alguma dúvida no jogador (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Não há nenhuma relação interpessoal entre personagens para ser explorada fora do ambiente de trabalho, o que dificulta a criação de um vínculo emocional com a história. Além disso, a progressão da trama é linear e pouco envolvente. As missões principais surgem como interrupções dentro do ciclo rotineiro de patrulhamento, e em muitos momentos parecem mais um pretexto para destravar novas armas e veículos do que realmente avançar uma narrativa.

Fora disso: temos um sistema de pistas que se auto completa conforme avançamos nas dinâmicas dos turnos de trabalho, para encontrar os manda-chuvas de gangues que atormentam Averno. Funciona relativamente bem, já que não é um complicador para o jogador. Durante uma abordagem, você pode, aleatoriamente, encontrar alguma pista que será, automaticamente, vinculada a esse criminoso ao fim de cada turno.

The Precinct
Explicação de como funciona o sistema de pistas de The Precinct (Imagem: Divulgação)

Entre patrulhas, abordagens e a frustração do ciclo infinito

A jogabilidade de The Precinct é, sem dúvida, o centro da experiência, mas também onde mais se manifestam seus problemas. O conceito é interessante: um mundo vivo e dinâmico onde o jogador patrulha a cidade, responde a chamados, aborda suspeitos, realiza perseguições e participa de tiroteios.

Existem três formas principais de patrulhamento: a pé, de carro e de helicóptero. Durante o turno de trabalho, vários eventos aleatórios acontecem: de infrações leves, como alguém jogando lixo no chão, a crimes mais graves, como assaltos à mão armada e perseguições. Cada tipo de situação exige uma abordagem específica: aplicar multas, realizar revistas, efetuar prisões ou solicitar reforços.

No papel, tudo é muito interessante, mas na prática, a jogabilidade sofre com uma repetitividade extrema. Os procedimentos de abordagem e prisão seguem um padrão fixo: abordar, checar antecedentes, usar o bafômetro se necessário, aplicar multa ou prender. Essa rotina se repete ininterruptamente, sem grandes variações, tornando a experiência previsível e cansativa.

The Precinct
The Precinct tem um começo interessante, mas que perde o fôlego rapidamente (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Outro ponto de decepção é a inteligência artificial dos personagens. Os suspeitos frequentemente agem de maneira absurda, como tentar se esconder em latas de lixo à vista do jogador ou correr em círculos até serem capturados. Seu parceiro de patrulha, Kelly, mostra-se praticamente inútil, já que pouco contribui em perseguições ou confrontos e raramente oferece algum apoio efetivo.

Conforme o jogador avança, é possível desbloquear novos equipamentos, armas, viaturas e melhorias. Contudo, o ciclo de gameplay não se renova de maneira significativa com essas aquisições. Ainda que novas ferramentas estejam à disposição, a base da jogabilidade permanece idêntica, sem criar novos desafios ou mudanças sensíveis na experiência.

Nem mesmo as pequenas atividades secundárias representam algum respiro ao jogo: há oportunidades para disputarmos rachas e saltar com o veículo de rampas em locais específicos – que esbarram em um dos problemas graves que falarei mais abaixo. A outra atividade secundária é encontrar alguns itens roubados de um museu, que funcionam como uma espécie de colecionável, que auxiliam na solução de um crime maior. Mas, sem um estimulo claro para fazê-las, e com uma indicação visual mínima no mini-mapa, é possível que muitas dessas atividades passem despercebidas por jogadores.

O caos sem controle de Averno City

A cidade de Averno, apesar de visualmente rica, sofre com a dinâmica de eventos aleatórios. Um pequeno acidente de trânsito pode desencadear um caos generalizado, com vários crimes acontecendo ao mesmo tempo, e o jogador se vê obrigado a abandonar uma ocorrência para lidar com outra – ou escolher qual irá priorizar. Essa falta de controle torna o título menos realista e mais frustrante – visto que você pode lidar com apenas um crime por vez, mesmo eles acontecendo um ao lado do outro.

E, pra mim, esse foi um dos principais problemas estruturais do game: o gerenciamento de situações emergenciais. The Precinct não permite que o jogador tenha um mínimo de organização durante uma ocorrência. Quando dois suspeitos estão envolvidos em um crime, é virtualmente impossível lidar com ambos de forma eficiente: se você prende um, o outro possivelmente vai fugir, porque Kelly é um imprestável e você não terá tempo para ir atrás do segundo.

The Precinct
Transito parado! (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

E não adianta ir de carro. A condução de veículos é outro problema. A dirigibilidade é dura e imprecisa, o que torna perseguições de carros mais irritantes do que empolgantes. Se você solicitar uma viatura de apoio, por exemplo, vai presenciar cenas que elas chegam de maneira destrutiva, atropelando tudo e todos para interceptar um suspeito, o que gera situações bizarras e nada verossímeis.

Outro detalhe incômodo é o tratamento das situações de tiroteio. Mesmo sob fogo cerrado, The Precinct, por vezes, exige conter os suspeitos de forma não letal, bastando que o indivíduo levante as mãos e se renda, o que possivelmente beira o absurdo, já que há dois segundos a troca de tiros estava intensa e ele estava por um tiro de morrer. Tentar cumprir esse requisito geralmente leva à morte do jogador – principalmente em crimes cometidos por grupos, onde outros inimigos ainda não se renderam – ou perda de pontos de experiência, caso você mate o suspeito mesmo assim.

Por fim, The Precinct apresenta problemas graves de polimento. Em algumas situações, suspeitos bugavam e ficavam presos sobre seus veículos, impossibilitando a prisão. Também tive alguns softlocks em missões, exigindo reinícios em algumas ocasiões. O sistema de mirar e atirar, com sua câmera top-down um tanto inclinada, é estranho pois você não tem uma mira precisa. Por vezes, é preciso acertar inimigos cinco ou seis vezes para derrubá-los.

The Precinct
Softlock com o suspeito em cima do carro e nenhum policial foi capaz de prendê-lo (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Averno: uma cidade que brilha, mas tropeça

Se há algo que merece destaque em The Precinct, é o seu trabalho de ambientação. Averno City é um cenário visualmente envolvente, com seus becos iluminados por neon, ruas molhadas pela chuva e bairros que respiram a essência dos filmes dos anos 1980. A atenção aos detalhes na arquitetura e na atmosfera é notável.

O ciclo de dia e noite e o sistema dinâmico de clima adicionam uma camada extra de imersão. Ver a cidade mudar sob uma tempestade ou sob o brilho suave da manhã reforça a sensação de estar vivendo em um universo crível.

The Precinct
Toda prisão acaba gerando algum tipo de caos (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

A trilha sonora também é eficiente, apostando em sintetizadores que combinam com a ambientação noir e ajudam a construir o clima da experiência. A dublagem em inglês, embora funcional, não se destaca, mas as legendas em português do Brasil cumprem bem seu papel.

No PlayStation 5 Pro, The Precinct apresentou um desempenho estável durante o teste, sem quedas perceptíveis de frame rate. Contudo, a ausência de modos de qualidade ou desempenho é uma limitação para quem busca ajustes personalizados.

Vale a pena comprar The Precinct?

The Precinct tem uma base conceitual muito interessante e um trabalho artístico digno de elogios. A cidade de Averno é vibrante e cheia de vida, e o início do jogo realmente empolga, com sua ambientação noir, trilha sonora marcante e sensação de imersão.

No entanto, a falta de variedade nas missões, a repetição excessiva de eventos, os problemas de inteligência artificial e os bugs recorrentes acabam comprometendo severamente a experiência. The Precinct parece ter potencial não realizado, e é difícil ignorar a sensação de decepção.

Mesmo proporcionando momentos divertidos, principalmente para quem aprecia exploração livre em mundos abertos, The Precinct é uma experiência frustrante para quem esperava uma evolução natural do conceito de patrulhamento dinâmico.

The Precinct estará disponível nesta terça-feira, 13 de maio, para PC, via Steam e Epic Games StorePlayStation 5 e Xbox Series X|S.

*Review elaborada em um PlayStation 5 Pro, com código fornecido pela Kwalee.

The Precinct

5.8

História

5.0/10

Gráficos e Sons

7.5/10

Gameplay

5.5/10

Extras

5.0/10

Prós

  • Excelente ambientação neon-noir dos anos 1980, rica em detalhes
  • Trilha sonora imersiva que combina perfeitamente com a atmosfera do jogo

Contras

  • Gameplay extremamente repetitivo e sem evolução significativa
  • Inteligência artificial dos NPCs é ineficaz e quebrada
  • Narrativa rasa, sem aprofundamento do protagonista ou envolvimento emocional
  • Dirigibilidade ruim dos veículos e eventos aleatórios mal estruturados no mundo aberto

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.