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Avowed | Review

Desde que tive acesso a um videogame, me apaixonei por jogos de RPG. No entanto, foi na geração do Xbox 360 que esse se tornou de fato meu gênero favorito, e assim permanece até hoje. Mas por que estou contando essa história? Porque um dos grandes protagonistas dessa jornada foi Fallout: New Vegas, um RPG que me marcou profundamente. Desde então, a Obsidian Entertainment sempre esteve no meu radar, pois eu queria mais daquela experiência, daquela narrativa e daquela qualidade que a equipe conseguiu entregar.

Por isso, estava tão ansioso para Avowed, o novo RPG da Obsidian, um jogo em primeira pessoa nos moldes de Fallout e The Elder Scrolls, ambientado no mesmo universo de Pillars of Eternity. Para mim, essa combinação era a receita para um novo clássico, como New Vegas. Foi então que, a convite da Obsidian e da Xbox Brasil, nós do Pizza Fria tivemos a oportunidade de jogar antecipadamente e explorar as Terras Férteis para descobrir se Avowed realmente entrega tudo o que promete. Vem com a gente em mais uma análise antecipada!

A História

Acredito que Avowed dispensa apresentações quanto ao seu funcionamento geral. Trata-se de um RPG de fantasia que pode ser jogado em primeira ou terceira pessoa, focado em combate e exploração. Por isso, vou direto ao que considero um dos seus pontos forte: a história.

Em Avowed, você começa criando seu personagem em um sistema de customização relativamente simples, mas funcional, afinal, não verá muito seu avatar durante a jornada. Seu personagem nasceu com uma anomalia no rosto – uma casca de árvore, um coral, guelras ou outras opções disponíveis. Essa peculiaridade o tornou alvo de preconceito e isolamento, sendo visto como uma aberração por muitos.

No entanto, o Imperador de Aedyr enxergou em você algo valioso – lealdade, honra ou um potencial inexplorado. O que exatamente, não sabemos. Mas o fato é que você foi nomeado Porta-Voz do Imperador e enviado às Terras Férteis para investigar uma praga misteriosa que levanta os mortos e faz com que a natureza se volte contra os habitantes. Essa região, conhecida por seu povo rebelde e resistente, vem sendo alvo de domínio por Aedyr, que tenta estabelecer uma base e um representante local.

Essa é a premissa de Avowed: uma missão aparentemente simples de investigação, que, como em todo bom RPG, se transforma em uma jornada épica repleta de reviravoltas, personagens marcantes e vilões memoráveis.

Avowed
Imagem: Divulgação

Narrativa

Sabemos que história e narrativa são duas coisas diferentes e que a qualidade de uma não necessariamente acompanha a qualidade da outra. Quem nunca jogou um game com uma premissa interessante, mas cujo desenrolar deixou a desejar, seja pelo final decepcionante, personagens pouco desenvolvidos ou outros fatores?

Mas a narrativa de Avowed se sustenta? A resposta é: depende. Isso porque vários elementos compõem uma boa narrativa, e, enquanto Avowed acerta em alguns aspectos, tropeça em outros e, em certos pontos, deixa bastante a desejar. A premissa da história é envolvente, e, aliada à excelente direção de arte, consegue prender facilmente qualquer fã de RPG.

Sem entrar em spoilers, o que posso dizer é que, muitas vezes, a resolução das missões e dos arcos narrativos é previsível. O mistério pode ser desvendado muito antes da conclusão, ou a motivação de certos personagens se torna óbvia, já que seguem arquétipos genéricos que vimos inúmeras vezes em outros jogos.

Quando falamos de RPGs – especialmente os da Obsidian –, esperamos escolhas complexas que realmente afetem o desenrolar da história, a forma como os personagens percebem o protagonista e como o mundo reage às ações do jogador. Infelizmente, nesse sentido, Avowed deixa a desejar. As opções de diálogo são limitadas e, quando existem, caem no extremo de “8 ou 80”: ou você é um maníaco do mal ou um maníaco do bem.

Avowed
Imagem: Divulgação

Por exemplo, imagine uma situação hipotética (que não está no jogo) em que você deve escolher entre expulsar todas as crianças da cidade para salvá-la ou matar todas as crianças doentes para impedir a propagação de uma doença. Esse tipo de escolha exagerada chega a ser caricato, lembrando um pouco o sistema de Infamous, que, diga-se de passagem, também era bastante simplista.

Falando agora dos personagens, esse é um ponto mais complexo de abordar. Os quatro companheiros principais que acompanham o protagonista em Avowed são bem escritos e desenvolvidos, cada um com uma extensa linha de missões para explorar melhor seu passado, motivações e sonhos. De fato, esses personagens são muito bem construídos e se complementam. Um exemplo é Kai, um brutamontes com a cabeça no lugar, que sabe sempre o que dizer e quando falar. Ele representa o lado mais humano da narrativa, se preocupando com as pessoas e o mundo ao seu redor, fugindo do estereótipo do guerreiro irritado e sanguinário.

Por outro lado, os personagens secundários de Avowed deixam a desejar. Praticamente nenhum se destaca ao longo das dezenas de missões que completei, e isso inclui também os antagonistas. Sem entrar em muitos spoilers, a principal antagonista do jogo é o clichê máximo do vilão genérico: ela é má simplesmente porque sim.

Embora tenha destacado os problemas da narrativa, é importante ressaltar que a história principal de Avowed ainda é um ponto forte. Apesar de recorrer a alguns clichês e soar cafona em certos momentos, ela consegue ser envolvente, trazendo perguntas, dilemas e situações interessantes que raramente vemos em RPGs. A investigação da Praga das Terras Férteis se torna um diferencial, já que poucos RPGs apostam em um foco investigativo em vez da clássica jornada heroica contra o mal.

Avowed
Imagem: Divulgação

Combate

O combate de Avowed me decepcionou um pouco. Embora eu já esperasse algo simples, com maior foco na narrativa e no mundo, não imaginava que fosse tão simplificado. O jogo oferece uma boa variedade de armas, incluindo espadas, machados, varinhas mágicas, pistolas, arcos e flechas, entre outras. No entanto, essa diversidade não é bem aproveitada pelo sistema de builds e pela árvore de habilidades.

A personalização do personagem é um aspecto essencial em RPGs, e, nesse sentido, Avowed acabou sendo um dos pontos que mais me frustrou. Durante toda a minha jornada, senti que meu personagem não estava progredindo de forma satisfatória. A maioria das habilidades da árvore de progressão não parecia tão útil, já que grande parte delas são apenas bônus passivos. As poucas habilidades ativas realmente relevantes para o combate são limitadas e, para ser sincero, pouco empolgantes.

Avowed
Imagem: Divulgação

Isso, somado ao fato de que os inimigos em Avowed possuem muita vida e demoram para morrer, torna o combate bastante frustrante, na minha opinião. Afinal, é cansativo passar 20 minutos em uma arena enfrentando esqueletos do mesmo nível que o seu personagem e que praticamente não recebem dano. No entanto, acredito que esse aspecto seja proposital, já que, no geral, o título coloca o jogador para lutar contra poucos inimigos ao mesmo tempo. Em vez de enfrentar 20 esqueletos fracos, você enfrentará três mais fortes. Não é necessariamente algo bom ou ruim, mas, para mim, foi um ponto negativo.

Apesar disso, o combate de Avowed é bonito, fluido e satisfatório. A sensação ao acertar os inimigos, lançar magias e executar finalizações é bastante prazerosa. O que torna essa questão ainda mais frustrante, já que um sistema de combate tão gostoso de jogar poderia ter uma variedade melhor.

Vale ressaltar que joguei Avowed inteiro focando meu personagem na árvore de Mago. Talvez, ao explorar outras classes, a experiência seja mais interessante.

Exploração e Mundo

O mundo de Avowed é, sem dúvida, o ponto mais forte do jogo – e também o que mais gostei. Visualmente, ele é deslumbrante, principalmente por conta da direção de arte, que considero uma das melhores em um videogame nos últimos anos. A estética de fantasia, com grande foco na natureza, florestas exuberantes, cogumelos e fungos de cores vibrantes, destoa bastante do que estamos acostumados a ver em outros jogos do gênero.

Além disso, os mapas são bem distintos entre si. Avowed apresenta quatro grandes áreas, cada uma com biomas e temáticas únicas. Cada mapa possui uma boa variedade de conteúdo, incluindo colecionáveis, locais interessantes para explorar, puzzles, mistérios e itens para coletar.

Apesar do tamanho das áreas, a locomoção é bastante tranquila, já que o jogo oferece uma boa quantidade de pontos de teleporte espalhados pelo mapa. Isso facilita bastante a vida dos jogadores mais preguiçosos – como eu – que não querem gastar horas apenas caminhando pelo mundo.

Avowed
Imagem: Divulgação

Vale a pena comprar Avowed?

Avowed é um jogo que pode frustrar os fãs mais exigentes de RPGs, especialmente aqueles que esperam algo à altura dos melhores trabalhos da Obsidian Entertainment. Sua narrativa tem momentos interessantes, mas falha ao entregar reviravoltas e escolhas realmente impactantes. O combate, apesar de visualmente satisfatório, carece de profundidade e pode se tornar repetitivo. Além disso, a progressão do personagem não incentiva a experimentação e as missões secundárias raramente surpreendem.

No entanto, se o que você busca é um RPG acessível, com um mundo visualmente impressionante e exploração recompensadora, Avowed pode ser uma opção válida. Seu foco em combate direto e coleta de itens pode agradar jogadores que não se importam tanto com complexidade narrativa ou sistemas de RPG profundos.

No fim das contas, Avowed não é um desastre, mas também não é o grande RPG que eu esperava. Ele se posiciona como um jogo mediano, oferecendo entretenimento sólido sem se destacar em nenhum aspecto específico.

Avowed estreia nesta quinta-feira, 13, em acesso antecipado para os compradores da Premium Edition no PC, via Steam, Microsoft Store e Battle.net, além de Xbox Series X|S. A versão Padrão chega na próxima terça-feira, 18 de fevereiro. Para fãs da Obsidian e do gênero, pode valer a pena conferir pelo Game Pass, onde o game pode ser acessado sem custo adicional, mas comprar a versão completa pelo preço cheio exige considerar bem suas expectativas.

*Review elaborada em um PC equipado com uma Geforce RTX, com código fornecido pela Xbox Game Studios.

Avowed

BRL 349,00
7.4

História

6.5/10

Gráficos e Sons

8.7/10

Gameplay

7.3/10

Extras

7.0/10

Prós

  • Direção de arte linda e diferente
  • Combate divertido
  • Personagens principais são carismáticos e interessantes
  • É um bom RPG para quem não gosta de RPG

Contras

  • Combate com pouca diversidade
  • Narrativa clichê
  • Pouca variedade para montar builds
  • Sistema de loot bastante simples
  • Inimigos "esponja de dano"

Matheus Feldmann

Game Designer de formação, preservador de jogos antigos, amante de MMORPG's, Jogos de Luta, jogos indies e RPG's em geral. Também assumo o posto de maior defensor de jogos ruins, especialmente Daikatana.